Falando sobre a descoberta de um passado e as profundezas da
melancolia dos relacionamentos, o diretor português Miguel Gomes (Aquele
querido mês de agosto) apresenta seu novo e corajoso trabalho, Tabu.
Com tamanha ousadia e uma estética que impressiona os olhos mais rígidos, o
realizador português, que iniciou sua longa carreira no cinema como crítico,
apresentou este belo trabalho no último Festival do Rio.
A história é dividida em arcos dramáticos, com prólogo, duas
partes e um Epílogo. Conhecemos primeiro Dona Aurora, uma idosa temperamental
que divide o andar de um prédio em Lisboa com uma mulher nascida em Cabo Verde
e uma outra vizinha de bom coração. Quando há o falecimento da primeira
personagem apresentada, as outras duas descobrem segredos do passado dela como
uma história de amor vivida no continente africano.
O grande destaque do filme é a direção - praticamente
impecável - do cineasta português. Consegue com muita simplicidade encontrar o
tom certo de cada diálogo, cada plano sequência, cada momento de emoção que o
filme se propõe. A estética eleva a qualidade do trabalho que deve ser elogiado
por público e crítica. O plano em preto e branco é algo de destaque mostrando a
coragem do diretor de produzir um filme tão longe dos padrões comerciais.
Escrito por Miguel Gomes e Mariana Ricardo, o roteiro percorre
um passado também de Portugal. A própria nostalgia do império africano perdido em
citações de livros antigos se mostra como sendo a juventude dos tempos atuais. Esse
contraponto é deveras interessante e pode ser utilizado como ferramenta de
estudo por estudiosos da área de sociologia, psicologia e antropologia.
Taxado como um projeto Cult, o longa deve fugir dos grandes
cinemas aqui no Brasil. Uma pena. Por isso, como no teatro, o boca a boca pode
ser a única solução para quebrar esse tabu de que filmes de artes não podem ser
um bom divertimento.