Escrito e dirigido pelo jovem talento francês Alice
Winocour, Augustine tinha tudo para ser somente um filme angustiante,
próprio para quem tem estômago forte. Mesmo abusando de extremismo, em cenas
complexas, a estreante em longa metragem consegue o mérito de explorar as
melhores características da sua dupla de protagonista - o experiente Vincent
Lindon (A Criança da Meia-Noite) e a quase desconhecida Soko (As
Melhores Amigas, 2006) – transformando este trabalho em um fenomenal
retrato da medicina experimental.
Ambientado no final do século XIX, Augustine mostra a vida e
os difíceis estudos do professor Charcot (Lindon), que trabalha no prestigiado
Hospital Pitié-Salpêtriere. Dedicando a vida a resolver os problemas duvidosos
da medicina, acompanhamos seu mais novo estudo, a histeria. Entre muitos testes
e experimentos, a jovem Augustine (Soko), torna-se sua cobaia favorita e o
professor passa de objeto de estudo para objeto do seu desejo.
As impactantes sequências ocorridas durante os experimentos
executados pelo protagonista chocam parte do público. As mãos seguras da
diretora conseguem capturar todas as emoções e reações dos envolvidos nessas
cenas, fazendo o contraponto entre tensão e realidade. A sensibilidade
encontrada pela diretora, em meio aos angustiantes episódios de experimentos é
a chave do sucesso desse belo trabalho.
Os protagonistas, em seus respectivos papéis complicados,
valorizam o roteiro até a última linha. A relação apresentada e que muda a todo
instante – entre médico e paciente – joga o espectador em um interessante jogo com
ar misterioso deixando o desfecho em aberto, o que faz o público ficar com os
olhos atentos para não perder nenhum detalhe. Uma das grandes características
das produções francesas é essa: prender a atenção do espectador com histórias
ricas em emoção.
Não precisa ter sangue frio, nem estômago de aço. Há
sofrimento e cenas difíceis mas como abordado nos parágrafos anteriores o filme
é muito mais que isso. A elegância da dor de maneira raramente vista no cinema
transforma essa produção num prato cheio para todo tipo de cinéfilo. Bravo!