Eleito como melhor filme estrangeiro do último Festival de
Gramado, o documentário Repare Bem - oitavo trabalho como
diretora da atriz mais brasileira de Portugal, Maria de Medeiros (O
Xangô
de Baker Street) – empurra o público para dentro de um debate
inteligentes sobre mudanças repentinas de
governo forçadas, narradas pelos olhos e memórias de quem viveu assiduamente
essa época terrível que atingiu governos sul-americanos em décadas passadas. De
maneira delicada e muito real, a luta contra a ditadura mais uma vez é
apresentada nas telonas em forma de documentário.
O ótimo trabalho de Medeiros conta a história de uma família
que por meio de depoimentos vívidos relembram os duros tempos da ditadura
brasileira e chilena. Assim, conhecemos a história de Eduardo Crispim, o
Bacuri, militante durante a ditadura militar no Brasil. Os relatos são emocionantes e detalhistas.
As histórias de terror contadas através dos abusos da polícia nos tempos da
ditadura ganham contornos poderosos na voz e memória da ex-militante Denise
Crispim.
Os depoimentos das duas protagonistas, mãe e filha, são de
arrasar o coração. Conviveram com duas ditaduras terríveis em dois governos
militares sul americanos. Imaginem uma mãe com uma filha pequena tendo que
viver com agressões e situações desumanas para tentar sobreviver em meio caos e
um mundo que desaba mais a cada dia. Nômades, viajaram o planeta em busca de
proteção e um pouco de paz, fato que nunca as distanciou da vontade tamanha de
viverem em sua verdadeira pátria, o Brasil.
O espectador precisa estar preparado e ter um coração forte,
os depoimentos são intensos e comovem facilmente o público. Mesmo quem não
viveu naqueles tempos de luta armada no Brasil consegue encontrar pontos de
interessante para discutir assim que a sessão acabar. Principalmente nas
sequências que possuem uma argumentação muito bem fundamentada pelos envolvidos
com as situações de guerrilha da época.
A cada relato, o público faz um exercício saudável de tentar
recriar o filme em sua cabeça, usando como mecanismos imaginativos as falas
enternecedoras dos personagens. O trabalho não deixa de ser uma busca por
respostas sobre o que de fato aconteceu com bacuri e tantos outros militantes
brasileiros que sumiram tentando fazer do Brasil um país mais livre.