Vocês sabiam que o ingrediente secreto do sexo é o amor?
Após dirigir os excelentes Anticristo (2009) e Melancolia
(2011), o extraordinário cineasta Lars Von Trier chega aos cinemas de
todo mundo com a parte final da sua "Trilogia da Depressão", Ninfomaníaca.
Divido em dois volumes, o drama é conduzido com uma delicadeza fora do comum,
misturada com um falso lirismo. Feito para chocar, o aguardado e polêmico
trabalho do mais famoso cineasta dinamarquês de todos os tempos, é uma pequena
obra-prima que será alvo de discussões durante longos anos.
Nesse primeiro volume, somos surpreendidos com o inusitado
encontro entre Seligman (Stellan Skarsgård) e Joe (Charlotte Gainsbourg). O primeiro, um homem simples e inteligente
que adora conversar sobre pescaria. A segunda, sofrera uma agressão misteriosa
e aceita desabafar toda sua história até aquele momento. Joe é viciada em sexo
e ao longo de anos se viu em situações constrangedoras desde a perda da
virgindade até os dias atuais. Conforme conta sua história para Seligman, os
dois personagens começam a discutir a sexualidade, e a verdadeira face de uma sociedade
que preza pelo desejo, com diversas comparações com o cotidiano humano.
Uma grande tela preta permanece durante um longo período logo
no início da projeção, ao som da chuva caindo, deixando o espectador paralisado
com o inusitado. Já sabíamos que estávamos prestes a assistir mais um show
deste polêmico cineasta ganhador da Palma de Cannes no ano de 2000 com o filme Dançando
no Escuro. Passando pela polifonia de Bach e as analogias improváveis
entre o sexo e a matemática, representada pelo famoso teorema de Fibonacci, o
cineasta de 57 anos explora o mundo da sexualidade de uma maneira tão radical
que até Alfred Kinsey ficaria de olhos esbugalhados.
A narrativa é feita de maneira abarcante se sustentando em
cima das opiniões de Seligman sobre as situações que passara Joe. Esse bate-bola
é tão pungente aos olhos de Joe que o sarcasmo toma conta rapidamente da
situação, levando o público a diversos risos entre um raciocínio e outro. A protagonista,
vista em duas fases nessa primeira parte, consegue ser forte o suficiente para
enfrentar todo aquele drama que passara, relatando todos os detalhes com uma
forte dor e desespero.
Os coadjuvantes que aparecem neste volume, alguns atores
famosos só vão aparecer no volume dois como o Willem Dafoe (L), contribuem cada
qual no seu quadrado para ajudar a contar essa história. Em relação a isso, vale
mencionar que a personagem de Uma Thurman, Mrs. H, é um dos grandes destaques
da fita. Desesperada e humilhada, parte para o confronto de maneira tão
incisiva que acaba provocando na personagem principal um complexo conflito.
Outro destaque é Jerome (interpretado por Shia Lebouf) que aparece em duas
fases na vida de Joe. Seguro e com um baita entendimento de seu personagem, o
ator californiano, famoso por sua presença em Transformers, tem uma
cena de penetração que vai dar o que falar, principalmente pela maneira como
foi filmada.
Von Trier é assim mesmo! Gosta de provocar o público a todo
instante com suas ideias. Dessa vez abordando a sexualidade não tem medo dela
ser vista de maneira aberta, nua, sem cortes, a cada instante gerando um
constrangimento aos mais puritanos. Arrogante e debochado, o roteiro (assinado pelo
próprio criador do Dogma 95) consegue reunir um conjunto de ações envolventes
além de diálogos para lá de antológicos que deixam o público fascinado por essa
história. Não deixem de conferir esse trabalho impecável que mais parece uma
poesia picante. Bravo!