O filme ganhador do prêmio de melhor roteiro no último
Festival de Cannes chegou aos cinemas na semana passada (13) causando grande
euforia nos cinéfilos que não puderam conferir suas exibições na Mostra
Internacional de Cinema de SP deste ano. A verdadeira identidade de uma China
perdida em suas desilusões emocionais é o foco deste belo e violento trabalho de
Jia Zhang-Ke (que dirigiu o excelente Em Busca da Vida (2006). Em pouco
mais de duas horas de fita, entramos em um quebra-cabeça social modelado
primorosamente por Zhang-Ke (que assina também o roteiro). A qualidade no modo
de contar essa história transforma Um Toque de Pecado em um dos
melhores filmes do ano.
Quatro histórias, quatro dramas com desfechos violentos. Um
mineiro indignado (Wu Jiang) que luta contra a corrupção massiva dos líderes do
vilarejo onde reside. Um homem frio e calculista que regressa para seu lar com
sua mobilete de poucas cilindradas na véspera de ano novo e começa uma reflexão
macabra em relação às infinitas possibilidades de se viver da violência. Uma linda
jovem que se envolve com um homem casado sendo levada ao limite da loucura
quando é assediada por um cliente imbecil. E por fim, um jovem (quase adolescente)
trabalhador fabril salta de trabalho em trabalho à procura de uma vida melhor.
Os visões dessas histórias são extremamente pessimistas mas não deixa de ser
uma crítica ao que ocorre longe dos holofotes da mídia quando o assunto é o
desenvolvimento do Dragão.
Passado nos tempos atuais, os costumes e tradições chineses
são incorporados com grande maestria pelo diretor. Detalhistas como sempre, os cineastas
orientais sabem como prender a atenção do público em poucos minutos de
projeção. Entre uma sequência e outra, somos testemunhas de belas imagens que
lembram a abertura do famoso seriado de David Lynch, Twin Peaks. Os atores
passam uma verdade absurda em seus gestos e ações, destaque para Wu Jiang e seu
personagem Dahai que deve ficar na mente de muita gente durante algum tempo.
A história pode parecer um pouco confusa para alguns. São diversas
tramas e elementos tendo apenas o objetivo de mostrar uma China que está
escondida. O roteiro é o principal destaque do filme e não tenham dúvidas: Vão
ter dezenas de cineastas norte-americanos querendo produzir um remake deste
belo projeto. A questão é saber se temos a mesma sensibilidade que os nossos
amigos do oriente. Essa afirmativa chega de encontro como uma crítica ao ‘novo Oldboy’
feito pelo Spike Lee que se
torna uma verdadeira incógnita cinéfila.
A busca para entender o pecado é transportada das telas para
as cadeiras do cinema. O oásis da prosperidade chega com um toque de pecado
para cada uma dessas melancólicas e perdidas almas. Violento, sangrento, e
certas vezes angustiante, são elementos que transformam Um Toque de Pecado em um
trabalho que certamente Quentin Tarantino aplaudiria de pé, e quem sabe, você
também.