Os créditos iniciais subindo com o fundo de uma espécie de
tapete colorido juntamente com uma música instrumental insinuante já era um
sinal de que estávamos prestes a conhecer um filme nacional diferente e que
pode ser o precursor da nova geração de filmes do gênero suspense. Dirigido
pelo bom cineasta Marco Dutra, Quando eu era Vivo possui uma
narrativa lenta e muito detalhista, pecando apenas por uma certa falta de
sentido nos desfechos de alguns personagens. Mesmo assim, da maneira como foi
filmado, a produção acerta em cheio ao conseguir manter os olhos do espectador sob
atenção máxima durante toda a projeção. É um ótimo trabalho de direção.
Nessa misteriosa trama, conhecemos José Matos Jr. (Marat
Descartes), um homem com olhar e atitudes recônditas que volta para casa depois
de anos morando com sua ex-mulher. Recebido pelo pai (Antonio Fagundes), de
maneira distante, aos poucos vamos descobrindo o passado dessa família que por
anos esconderam segredos ligados ao ocultismo. O longa-metragem, que já gerava
bastante burburinho nas rodinhas cinéfilas aqui do sudeste, vai e volta em sua
linha temporal. Esse artifício faz com que o público tente adivinhar a todo
instante o destino de cada um dos interessantes personagens. O público se sente
dentro daquela casa que gera calafrios.
O roteiro é muito interessante. Conseguimos, enfim, um
suspense que não se complica nas entrelinhas dos diálogos ou cenas mal
encaixadas. O grande mérito do filme é esse, sem dúvidas. Mas alguns detalhes
com os desfechos de certos personagens, que não serão explorados neste texto
por conta de importantes spoilers, podem deixar o público não decepcionado mas
esperando um grand finale que não
acontece. Faltou mais brilho no final. Parece que o filme, que estreia nesta
sexta-feira (31) em todo Brasil, levou um gol de empate aos 45 minutos do
segundo tempo.
Marat Descartes está muito bem na pele do protagonista. As
mãos trêmulas, o olhar obsessivo e as atitudes suspeitas são aspectos
retratados brilhantemente por esse ótimo artista. Seu personagem possui uma
fala mansa e todas as ações da trama passam por ele. Mais um grande trabalho
desse que é um dos melhores atores do cinema brasileiro atualmente. Para os
curiosos de plantão, podemos afirmar que a Sandy atriz não compromete em nenhum
momento. Óbvio que se fosse uma atriz mais rodada o filme ganharia demais com
isso, até mesmo no quesito tensão, a personagem é bem desenvolvida mas
percebe-se claramente que tinha mais suco para sair dessa limonada.
O final para ser entendido é preciso de atenção. Quando
eu era Vivo é um filme mais superficial do que aparenta ser, disfarçado
com complexidades que nascem das nossas dúvidas, fator interessante. Provavelmente
irá dividir as opiniões cinéfilas, exatamente pelo fato óbvio e básico de que a
história chegará de maneira diferente para cada um dos espectadores. Muito bom
saber que há esperanças nos roteiros brasileiros. Nesse quesito, Quando
eu era Vivo contribui e muito para deixarmos para trás anos de tristeza
com as lembranças de roteiros ridículos de algumas produções nacionais.