As palavras de amizade e conforto podem ser curtas e
sucintas, mas o seu eco é infindável. Exibido no Festival de Gramado do ano
passado e com algumas passagens em outros festivais aqui no Brasil, o simpático
filme Os Amigos é uma fábula moderna
sobre um homem e suas depressões cotidianas causadas por abalos emocionais em
muitos campos de sua vida. Protagonizado pelo competente Marco Ricca, e com a
maravilhosa Dira Paes como coadjuvante, o trabalho dirigido pela cineasta Lina
Chamie é uma jornada inteligente sobre as reflexões que passamos ao longo de
muitos momentos de nossas vidas. É o tipo de filme que faz constantes paralelos
com a realidade de cada um de nós.
Ao longo dos 90 minutos de fita, acompanhamos um momento de
incertezas e depressões sociais na vida do arquiteto Téo (Marco Ricca), um
homem solitário que sofre um grande abalo quando sabe do falecimento de seu
melhor amigo de infância. Téo é um ser sozinho, divide suas angústias apenas
com sua melhor amiga Majú (Dira Paes) que vive tentando arranjar uma
companheira para ele. Enfrentando seu passado e tentando achar alguma luz em
seu futuro, o protagonista leva o público em uma jornada sobre os momentos de
reflexões sobre a vida, situação em que todos nós já estivemos, estamos ou
vamos estar.
O roteiro, assinado pela própria diretora, um dos bons destaques
dessa produção, teve altas influências do
poema Fábula de um Arquiteto, de
João Cabral de Melo Neto e do romance Ulysses,
de James Joyce. Com essas referências, foi moldada uma história que mais parece
aqueles livros adolescentes que falam sobre complexos pensamentos de maneira
poética, beirando a trivialidade e deixando o espectador argumentar sobre os
inúmeros assuntos colocados à mesa.
Os Amigos não é só
um filme só sobre amizade, é um trabalho que busca uma lógica para a arte do
sonhar. As cenas do zoológico, os
paralelos com o cotidiano agitado do protagonista e os inúmeros raciocínios
feitos ao longo da fita, tiram o público da zona de conforto. Para
contextualizar alguns pensamentos, a diretora afasta o público da realidade,
com cenas que parecem desenhos animados, mas sempre falando sobre ela. É uma
criatividade que produz a originalidade. Mais filmes nacionais deveriam seguir
esse caminho, o do tentar apresentar uma história original que realmente nos
fazem pensar sobre as nossas próprias vidas.