O passado nunca reconhece o seu lugar, está sempre presente.
Dirigido pelo competente cineasta dinamarquês Christoffer Boe (do ótimo
thriller “Alting bliver godt igen”),
e praticamente desconhecido do público brasileiro, o complexo filme Allegro é uma mistura de realidades
utópicas, definidas pela paixão de um homem, que se perde em seus mais secretos
desejos de amar. Protagonizado pelo espetacular ator Ulrich Thomsen, o
longa-metragem de modestos 88 minutos é uma versão metafórica do amor.
Na trama, conhecemos o brilhante pianista Zetterstrøm
(Ulrich Thomsen), um homem que desde criança foi um prodígio da arte de tocar
piano. Ao longo de sua vida, poucos outras coisas tiveram espaço. Um certo dia,
conhece Andrea (interpretada pela belíssima Helena Christensen) , uma mulher
misteriosa que aparece em sua vida e modifica toda a rotina do pacato músico.
Ao longo do tempo, nasce um amor intenso e precocemente há uma ruptura. Anos se
passam e Zetterstrøm fica muito famoso em todo o mundo e acaba perdendo suas
memórias passadas. Sem voltar para Dinamarca a muito tempo, recebe um inusitado
convite que o fará mais um vez reviver lembranças já esquecidas.
A direção de Boe é algo fabuloso. Tenta cercar o espectador
de angústia e mistérios com captação de imagens belíssimas que descascam todas
as emoções dos personagens. O corajoso roteiro, percorre o consciente humano e
se aproxima da lógica que vimos em filmes como Matrix e A Origem. Taxado como Sci-fi pela crítica
internacional, Allegro é muito mais
que ideias inovadoras na arte de figurar o sentimento, é uma história sólida
sobre a redescoberta das emoções. Há uma raiz filosófica e dá muita margem para
discussão.
Esse projeto é um daqueles filmes bem difíceis de digerir.
Talvez por isso, não teve muito interesse das distribuidoras brasileiras. No
circuito nacional raramente se viu uma sessão do filme que depois de 9 anos (o
filme é de 2005) estreou no Rio de Janeiro. O cinema dinamarquês possui essa marca de
tentar criar a fábula cinematográfica com muita criatividade e competência,
esse é um dos fatores que validam a ideia que há o interesse dos cinéfilos em
conferir suas histórias. Se tiver
oportunidade, não pense duas vezes, vá conferir esse belo trabalho.