Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e
sofrer novamente. O Vale do Amor, trabalho
do cineasta francês Guillaume Nicloux
contém fortes diálogos com cargas emocionais constantes em cenas abertas que
nos transportam para a situação central da trama a todo instante. A produção
reúne dois dos grandes artistas da história do cinema francês: Isabelle Huppert e Gérard Depardieu.
Rodado, quase inteiramente, no Death Valley National Park,
na Califórnia, Valley of Love (no
original), conta a história de um ex-casal francês que inusitadamente voltam a
se encontrar depois de certo tempo, após receberem uma carta do falecido filho
dizendo que se eles fossem até um determinado local, o jovem reapareceria uma
última vez para eles. Assim, entre as dores que nunca vão sarar e sem a menor
perspectiva de algum final feliz, a dupla embarca numa jornada melancólica.
Pensem em um filme triste, multiplique por dois e
multiplique por mais cinco.
A produção de 91 minutos, que já foi comprada por uma
distribuidora brasileira (isso quer dizer que entrará em circuito nacional em
breve), fala sobre temas fortes que podem circular a lista de diálogos de uma
relação duradoura. O modo com cada um dos personagens trata o assunto do
suicídio do filho é bastante peculiar, parece que nunca se encontram nas desacreditadas
buscas em encontrar alguma razão para o ocorrido. O trauma que algo assim pode
gerar é bem retratado em cada camada de emoção dos personagens, a dupla Huppert/
Depardieu funciona muito bem.
É um filme que incomoda mas longas-metragens que incomodam
também podem ser um bons filmes. É uma produção que pode não gerar interesse do público
por conta do drama, que só de ler a sinopse o espectador já sabe que nada de
muito feliz acontecerá nessa história. De qualquer forma, para os que tem
corações cinéfilos fortes é um filme que merece ser visto, principalmente por
mais uma aula de cinema de Barrigon Depardieu e da sempre elegante Isa Huppert.