Um revolucionário pode perder tudo: a família, a liberdade,
até a vida. Menos a moral. Chegou ao Brasil na última quinta-feira (10) o mais
novo filme do cineasta argentino Pablo Trapero, um diretor que adora colocar o
dedo na ferida e deixar o público atônito com tantas sequências eletrizantes ao
longo de toda sua carreira. Em O Clã,
indicado pela Argentina ao próximo Oscar e que encerrou o último Festival do
Rio de Cinema, Trapero vai pelo mesmo caminho, dessa vez entrando a fundo no
universo da ditadura e tendo como primeiro plano uma história que aconteceu na
realidade sobre uma família que era especializada em sequestros de pessoas
ricas. Com uma atuação fantástica do veterano Guillermo Francella e um final
para lá de arrepiante, O Clã é um dos
grandes filmes argentinos do ano, sem dúvidas.
O longa-metragem, que ganhou o Leão de Prata de melhor
direção no Festival de Veneza este ano, conta a história dos Puccios que por
trás da rotina de uma típica família de classe média argentina, escondem um
cotidiano repleto de segredos e alguns seqüestros de pessoas com muito dinheiro.
Liderando o Clã, Arquímedes Puccio (Guillermo Francella), um senhor de idade,
bastante rígido que pratica os maiores absurdos tendo toda sua família como
cúmplice, principalmente seu filho Alejandro Puccio (Peter Lanzani). Ao longo
dos anos, a família praticou diversas atrocidades, até um determinado dia onde
tudo dá errado.
O Clã é um filme
bem complexo onde os personagens prendem a atenção do público muito mais do que
a história propriamente dita. Os arcos são bem equivalentes, sempre muito
sólidos, entendemos um pouco mais sobre a família criminosa ao longo do tempo,
como os filhos reagem aos atos do pai, como a mãe é completamente passiva e
finge que não vê as escancaradas ações que acontecem na casa dela. Com a boa tática
de apresentar uma cena importante do ato final e depois meio que rebobinar a
fita para entendermos melhor o porquê daquelas cenas iniciais, Trapero brinda o
público com uma forte história e uma direção brilhante.
O excelente ator argentino Guillermo Francella, muito
conhecido por ótimas comédias, incorpora um papel diferente de tudo que tinha
feito no cinema e convence do primeiro ao último minuto. Do andar calmo, quase
baseado nos suspeitos dos livros de Agatha Christie, à frieza que chega a ser
deveras cínico/debochado, a execução deste personagem é absolutamente
fantástica. Merece muitos e muitos prêmios por essa atuação.
Esse ótimo drama/suspense, de aproximados 110 minutos, produzido
por Pedro Almodovar, é um dos melhores filmes em cartaz atualmente no circuito
brasileiro. Não percam!