As pessoas do cinema são pessoas em quem se pode confiar. Com
estreia no saudoso 65º Festival de Cinema de Berlim (onde ganhou o prêmio de
melhor filme), neste ano, o novo projeto do criativo diretor iraniano Jafar
Panahi (O Balão Branco), Taxi Teerã, pode ser considerado um
conjunto instigante de histórias, espontâneas ou não, que contém muito da
cultura e censura de um país que vive fechado em tradições antigas. Vencedor
também do prêmio Fipresci, da Federação Internacional de Críticos de Cinema, este
longa metragem é um daqueles que você não pode deixar de assistir.
Uma sobrinha tagarela que não faz idéia de que está sendo
filmada, um camelô especializado em clássicos do cinema estrangeiro (que não
são permitidos no Irã), uma professora e um profissional autônomo que discutem
arduamente sobre as punições aos crimes no país em que vivem, uma dupla de
senhoras totalmente devotas de suas peculiares crenças, entre outros. Ao longo
de 82 minutos de projeção, vamos acompanhando uma série de personagens e assim
conhecendo melhor o Irã, através do olhar clínico de Jafar Panahi.
Pelo Táxi de Jafar, vamos sendo impactados pelas diferentes
e ricas histórias que vão sendo contadas. Utilizando somente seu dinâmico olhar
e uma câmera escondida, bem ao estilo ‘Táxi do Gugu’, o mundialmente conhecido
cineasta de 51 anos traz ao público relatos/depoimentos chocantes. Em Duas das
partes mais marcantes, ficamos atentos e surpresos. Em uma cena rápida e
intensa, entra um homem ferido no táxi acompanhado de sua desesperada mulher
que pede para Jafar fazer um vídeo como se fosse uma espécie de testamento do
marido ferido. Em outra parte, fala-se muito do que o Sr. Panahi já sofrera, a
censura, quando sua sobrinha (de longe, a melhor personagem do filme) declama
uma lista de regras impostas por sua professora de cinema para que um filme, no
Irã, seja ‘distribuível’.
Quando chega em seu surpreendente desfecho, já bate
instantaneamente uma saudade de alguns personagens que acabamos de conhecer.
Gugu Panahi nunca deixe de andar com seu táxi por aí. Entendemos melhor o mundo
pelos seus olhos.