É mais fácil lidar com uma má consciência do que com uma má
reputação. Dirigido pelo experiente diretor britânico Stephen Frears (Alta Fidelidade), The Program mostra os detalhes mais profundos de um fato real que
abalou o mundo do esporte e conseguiu transformar um herói norte-americano do
esporte em um grande traidor e anti desportista. Com um excelente roteiro
adaptado, assinado pelo craque John Hodge (Trainspotting
- Sem Limites), uma baita atuação do sempre dedicado Ben Foster e uma
direção muito correta de Frears, o longa-metragem promete gerar mais indignação
sobre esse famoso caso mundial.
Na trama, baseada totalmente em fatos reais, tendo como base
o livro Seven Deadly Sins: My Pursuit of
Lance Armstrong, do jornalista David Walsh (no filme interpretado por Chris
O'Dowd), conhecemos a curiosa trajetória do ciclista Lance Armstrong (Ben Foster),
um atleta que conseguiu o impossível, vencer o mais difícil torneio de ciclismo
do mundo, o Tour de France, por nada mais nada menos que sete vezes
consecutivas, entre os anos de 1999 e 2005. Tratado como herói norte-americano,
tendo que superar um inesperado câncer, o ex-campeão era praticamente um Deus
em sua terra natal. Até que um dia, tudo que ele fez vai ralo abaixo quando é
comprovado, e tardiamente confessado por Armstrong, que ele fez parte de um
programa de dopagem.
Ao longo dos 103 minutos de projeção, passados de maneira
bem dinâmica e inteligente, vamos acompanhando, perplexos, todo o desenrolar da
trama, que mostra detalhadamente uma corrupção dentro de um esporte amado por
muitos. O filme é bem forte e resolve mostrar tudo mesmo, talvez pelas fortes
certezas sobre o acusado, talvez por ser uma produção britânica. O pilar,
também central, da trama é o jornalista David Walsh (Chris O'Dowd), um amante
do ciclismo do bem que embarca em uma busca frenética onde teve que suportar diversos
tipos de pressões, tanto de pessoas ligadas ao alto escalão do ciclismo na
época, quanto do próprio jornal onde escrevia para poder provar e comprovar a
dopagem de Armstrong. Analisando os fatos apresentados neste projeto,
imaginamos como será a reação do público norte-americano ao filme, que estreia na
‘casa de Armstrong’, nos Estados Unidos, no dia 18 de março deste ano.
Lançado no último Festival de Toronto, The Program não fala sobre heróis, fala sobre vilões, e também
sobre os falsos limites que o ser humano se impõe para poder vencer a qualquer
custo. Em ano olímpico no Brasil, um
filme como esse só reforça a obrigação dos atletas em respeitar o espírito
olímpico, competindo com lealdade e honestidade. E quem não respeitar, que seja
banido do esporte, como Lance foi.