Quase sempre é preciso um golpe de loucura para se construir
um destino. Dirigido pelo ótimo cineasta canadense Jean-Marc Vallée (Clube de Compras Dallas, Livre) e com um excepcional roteiro
escrito por Bryan Sipe, Demolição
(Demolition) é com certeza uma das gratas surpresas deste ano. Falando
sobre a solidão e a perda, o longa metragem estrelado pelo excelente ator
Jake Gyllenhaal não deixa de ser uma viagem nas nossas emoções mais profundas e
uma lição de que a vida é uma eterna caixinhas de surpresas. A trilha sonora é
arrepiante, os arcos do roteiro são milimetricamente bem executados e nada,
absolutamente nada é, deixado na superfície, as emoções acabam ganhando forma
concretas em forma de metáforas que nos fazem refletir a cada cena.
Na trama, conhecemos o banqueiro bem sucedido Davis (Jake
Gyllenhaal), um homem perto dos 40 anos que possui uma pacata vida ao lado de
sua esposa que é filha de seu chefe. Após um terrível acidente de carro, Davis
fica viúvo e a partir daí sua vida ganha um novo sentido, mesmo não sabendo
como lidar com essa perda, e ele precisará passar por uma auto descoberta e
começa a prestar mais atenção no mundo ao seu redor. Assim, acaba,
inusitadamente, conhecendo Karen (Naomi Watts), uma solitária e mãe solteira
atendente de um SAC de Vending machines. Juntos passarão dias se redescobrindo,
quase um tratamento de como redescobrir o simples ato de viver.
O grande destaque da produção é o roteiro. Muito complexo e
com diálogos inesquecíveis, cria uma originalidade para o gênero drama no mais
alto nível. Sentamos na cadeira do cinema e embarcamos direto nas emoções do
protagonista, uma difícil construção feita por Gyllenhaal, que exala simpatia
do início ao fim da projeção. A relação dele com o sogro (interpretado pelo
sempre ótimo Chris Cooper) - seus altos e baixos - as descobertas feitas sobre
sua esposa que são uma conseqüência do relacionamento que tinham, a inusitada
ação do destino que por meio de uma reclamação - que mais parece uma fuga para
o momento que vive - faz entrar em sua vida uma mulher admirável, solitária
quase um alter ego, um ‘outro eu’ que
Davis nunca imaginara que existia.
O desfecho é emblemático e faz muito sentido. Davis é um
eterno paciente em busca de respostas sobre quem ele realmente é, um cidadão
comum, um pouco solitário que também busca saber as razões de sua evidente
solidão. Ele entra em uma fase de
loucura (daí a ideia do título provavelmente) que nada mais é que uma proteção
anônima de seus sentimentos, que quando são encontrados fazem a vida ter um
pouco mais de sentido. Demolição
(Demolition) estreia no circuito brasileiro dia 04 de agosto e promete
fazer bastante sucesso com o público.