O que é felicidade meu amor? O novo trabalho do cineasta paulistano Marco
Dutra (do interessante Quando Eu Era Vivo)
é uma jornada esfíngica de um homem em busca de respostas em relação a uma
situação que mudará para sempre sua vida. O roteiro beira à perfeição, consegue
prender a atenção do público a cada segundo, a direção primorosa de Dutra
traduz com eficiência um ritmo sinistro aos passos dos protagonistas, os atores
principais dão um verdadeiro espetáculo ao público, principalmente Carolina
Dieckmann que executa o seu melhor trabalho no cinema. Toda a produção parece
uma orquestra entrosada, onde ritmos e harmonia andam detalhadamente
simétricos, conseguindo apresentar ao público um dos melhores filmes do ano.
Baseada no livro Era
el Cielo, de Sergio Bizzio, que também assina o roteiro, O Silêncio do Céu acompanha a
trajetória de Mario (Leonardo Sbaraglia), um escritor/roteirista que acaba de
voltar para sua esposa após alguns meses de separação. Mario é um homem repleto
de medos e sempre brincou sobre essa questão com sua mulher Diana (Carolina
Dieckmann). Certo dia, quando Diana chegava em casa é abordada por dois homens
que a violentam. A questão é que Mario também estava chegando em casa e acaba
presenciando a cena e não faz nada. Consumido pela dor e pela fraqueza de não
ter feito nada para ajudar sua mulher, quase que seguindo os pensamentos do
filósofo e escritor inglês Francis Bacon, que dizia: ‘A vingança é uma espécie
de justiça selvagem’, Mario parte em busca de respostas para suas lacunas
impostas por pensamentos dolorosos e por umas pitadas generosas de culpa, e acaba
encontrando pelo caminho a coragem de executar uma vingança desenfreada e
completamente inconseqüente.
Há muitos pontos a se destacar. O protagonista Mario é um
grande enigma cheio de dimensões emocionais. Dominado sua vida toda pelo medo
de muitas coisas, conseguiu encontrar um porto seguro ao lado de Diana, de quem
percebe que não consegue esconder suas angústias de nenhuma forma. Tudo isso
muda radicalmente quando acontece a situação já comentada com sua esposa e ele
precisa além de enfrentar o medo, resolver o problema de uma forma que isso não
influencie mais na sua rotina. O clímax do filme é um período longo e
borbulhado de emoções em seu contorno. A atuação de Leonardo Sbaraglia merece
elogio pois consegue passar toda a angústia e aflição de seu personagem ao
espectador.
Já Diana é uma mulher que largou o Brasil para viver no Uruguai
com seu marido, trabalha em um ateliê e após o estupro que sofreu vive de
incertezas sobre se conta ou não conta o que houve e de uma certa falta de
confiança com as pessoas, até mesmo com seu marido. Ela é a chave de todo o mistério que se chega
após descobertas de Mario sobre os criminosos de quem planeja se vingar. Em
diálogos memoráveis (um deles guiados pela declamação da música Corcovado , de
Tom Jobim), a dupla de protagonista navega pelo tom sentimental angustiante,
com muitos olhares e diversas lacunas a serem preenchidas de um para o outro. Esse
clima de suspense que acaba chegando no segundo ato em diante transforma esse
filme em um dos melhores projetos nacionais dos últimos anos. Vale também o
destaque para Carolina Dieckmann que consegue dar uma força em cena para sua
personagem que é impressionante, principalmente quando usa do olhar para dizer
alguma coisa. Bela atuação da Carol.
O Silêncio do Céu,
essa co-produção Brasil/Uruguai (o filme é falado em espanhol em quase todo seu
tempo) chega aos cinemas no dia 22 de setembro e promete agradar crítica e
público com atuações acima da média, um roteiro quase que perfeito e uma
genialidade de Dutra por trás das câmeras. Bravo!