Exibido na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Soldados do Araguaia, dirigido pelo
cineasta Belisario Franca (‘Menino 23’),
retrata de um novo ponto de vista, dessa vez a de soldados de baixa patente que
foram forçadamente recrutados pelos militares da época, a polêmica Guerrilha do
Araguaia (no sul do Pará). Ao longo
dos intensos 72 minutos de projeção, vamos conhecendo novas histórias sobre os
horrores que os militares faziam, em confronto contra guerrilheiros do Partido
Comunista do Brasil, que era puro
terror, não tendo nenhuma objetividade de guerra.
O roteiro, escrito pelo diretor e Ismael Machado, navega por
meio de relatos de testemunhas oculares que participaram da Guerrilha do
Araguaia, no início da década de 70 (mais precisamente entre 72 e 75). Suas
angústias, argumentos emocionados para que a verdade ganhe luz, uma história
apagada da história. Os depoimentos são impressionantes de pessoas que lutaram
em uma guerra dentro do nosso próprio país, que até hoje não é reconhecido
pelas altas patentes. As sequelas são inúmeras, os maus tratos e os absurdos
vistos de olhos bem de perto deixaram lembranças dolorosas nesses cabos e
soldados que praticamente foram jogados para dentro de uma guerra que não
queriam lutar.
Imagens da época e fotografias compõem os arcos e ajudam a
ilustrar muito do que é falado pelos ex-soldados. 4 mil homens das forças
armadas combateram 76 guerrilheiros no Araguaia, muitos desses homens, na época
jovens, que moravam na região, que conheciam o lugar e que foram jogados para
dentro do exército. A imensidão dos
horrores que a Ditadura Militar causou durante os mais de 20 anos que esteve
presente é um imenso fantasma, esses relatos se somam ao número total de
vítimas dessa violência vivida nessa época que mancha nossa memória.
Todos que somos brasileiros precisamos entender melhor nossa
própria história. Soldados do Araguaia
é preciso ser discutido em salas de aula, usando o bom cinema documentário como
ferramenta de ensino. Os livros não contam tudo o que houve, por isso, a
importância desse belo documentário que dá voz às memórias de brasileiros que
sofrem até hoje por conta de todo o caos que viram de perto.