As atualidades de um morrer por amor. Dirigido pelo cineasta
parisiense Nadir Moknèche, Lola Pater
fala sobre escolhas, medos e principalmente sobre a relação de pai e filho
blindada por uma situação inusitada, de descoberta, onde passos são dados com
muito cuidado. Os personagens transbordam emoções, a protagonista exala
simpatia. É uma crônica moderna de uma família com descendentes árabes onde as
escolham guiaram os destinos de todos anos atrás. No papel principal, a
inesquecível Fanny Ardant. a atriz de 68 anos, musa de Truffaut, encontra num
complexo personagem um dos grandes trabalhos de toda uma carreira.
Na trama, conhecemos Zinedine (Tewfik Jallab), também
chamado de Zino, um afinador de instrumentos, motoqueiro que trabalha em uma
Paris nos dias atuais. Zino acaba de perder precocemente sua mãe e resolver
embarcar em uma jornada rumo ao paradeiro desconhecido de seu pai Farid. Nessa
busca, chega até a professora de dança Lola (Fanny Ardant) que para sua
surpresa é o seu verdadeiro pai que após anos fez uma cirurgia e virou mulher. Assim,
pai e filho precisarão combater as mágoas do passado e tentar recriar os laços
perdidos pelo tempo.
Precisamos falar de Fanny Ardant. A delicadeza com que
compõe seu personagem é algo sublime, transborda emoção com um olhar amargurado
de quem já sofreu bastante pela vida e muito por conta das escolhas do
personagem. É muito fácil se encantar com Lola, dona de uma vitalidade envolta
de uma arte apurada, uma força da natureza encantadora que precisou se blindar
de muitos sentimentos bons para apagar manchas de seu passado como homem e pai
ausente na criação de seu único filho. Talvez
um recomeço, quando é procurada pelo filho, entra em conflito, não sabendo
direito como lidar com essa situação do reencontro e com um medo constante da
reação de seu filho já que agora é mulher por completo.
A direção de Moknèche é detalhista e competente, buscando em
cada cena transpirar ao público as emoções e as forças dos personagens que
cruzam nossos olhos nas árduas batalhas rumo ao entendimento. A narrativa é
lenta o que nos faz nos aproximar dos personagens já que conseguimos entende-los
melhor. Tendo a arte musical como característica marcante na vida dos dois personagens,
preenche a tela com uma delicada trilha sonora que traz um toque requintado a
bela história. Lola Pater é atemporal,
um projeto venerável que emociona do início ao fim.