O destino e a matemática andando lado a lado. Disponível no
catálogo da Netflix, o longa metragem espanhol O Aviso aborda uma fábula matemática ligada ao destino, quando uma misteriosa
ligação entre assassinatos em um mesmo lugar, ao longo de anos, se tornam uma
obsessão para um homem, campeão de olimpíadas de matemática, que luta contra
sua psicopatia. Dirigido pelo cineasta espanhol Daniel Calparsoro (do interessante
Cien años de perdón) e protagonizado pelo ótimo ator Raúl Arévalo (do surpreendente Pecados
Antigos, Longas Sombras), o projeto entrega um belo roteiro com um final
cheio de opções de interpretações.
Baseado na obra El
Aviso de Paul Pen, o filme, ao
longo de duas linhas temporais com dez anos de diferenças, acompanha em uma
delas Jon (Raúl Arévalo), um homem
com problemas pessoais que após parar em um posto de gasolina, vê seu melhor
amigo ser assassinado a sangue frio por assaltantes. Enquanto o amigo luta pela
vida contra o coma, Jon, um homem ligado à matemática, começa a pesquisar sobre
o passado daquele posto de gasolina e descobre uma enorme coincidência ou não
sobre relações com outros assassinatos que foram cometidos no mesmo lugar.
Lutando contra o tempo e buscando soluções para sua equação, Jon ainda tem que
se preocupar com seu estado de saúde mental, já que tomava remédios controlados
para combater seu lado psicótico. 10 anos à frente, o jovem Nico (Hugo Arbues), perceberá que sua vida
pode mudar caso Jon não seja ouvido no passado.
Mesmo o inusitado tomando conta de todo o background do
filme, o roteiro, muito bom, consegue percorrer caminhos de temas atuais como o
bullying, enfrentado, muito bem retratado, pela subtrama familiar, dez anos à
frente, que tem o jovem Nico e sua mãe Lucía (Aura Garrido, em grande atuação) no centro. Outro tema interessante
é a questão do desligar ou não os aparelhos de um paciente com poucas chances
de sobrevivência, núcleo encabeçado pela ótima Belén Cuesta e sua personagem Andrea, futura noiva do amigo de Jon,
em coma.
Mas o que move as ações são mesmo as ansiedades e desespero
de Jon, que dão ritmo ao filme. O desfecho é convincente, mesmo beirando um
certo absurdo, encontra-se uma certa lógica para todos os argumentos
apresentados. O Aviso é aquele tipo
de filme que torcemos para descobrir o final, já que várias portas são abertas.