30/04/2020

Crítica do filme: 'Encontros'


Os lamentos de dois corações amargurados pela natureza melancólica. História de amor? Drama existencial? Críticas ao melodramático viver? Classificar o novo filme do cineasta francês Cédric Klapisch (dos ótimos Albergue Espanhol e Bonecas Russas) é muito difícil, o que pode ser muito positivo para quem tem faro macro sobre a ótica da vida. Não é um filme bonito, é um filme que se aproxima de muitas almas na realidade, então, joga limpo, é despido de entrelinhas não decifráveis, o gesto fala mais que muitas palavras. Há bloqueios para amar, outras preocupações ocupam a mente desses jovens, sozinhos em uma cidade enorme como Paris.

Na trama, conhecemos Melanie (Ana Girardot) e Remy (François Civil), dois jovens que estão em Paris sozinhos tentando buscar novas realizações profissionais, cada um de sua forma. Ela, pesquisadora farmacêutica, ele, um funcionário de uma empresa grande que acaba de ganhar uma vaga em um novo setor. Duas almas completamente diferentes mas que possuem a interseção da melancolia diária, atolados de emoções que não conseguem decifrar. Assim, vamos caminhando nessa crônicas dos tempos modernos onde o encontro é um mero detalhe.

Para quem gosta de filmes redondinhos, que seguem as cartilhas, mudem de opção na hora de escolher o que assistir. Encontros é profundo, cheio de detalhes, foge do que achamos que vai acontecer a todo instante. Surpreendente? Nem tanto mas com pitadas generosas de crises existenciais que já vivemos ou já ouvimos de algum amigo ou conhecido. A psicoterapia ganha bastante espaço nessa ótica moderna da depressão e seus desenrolares, até mesmo o próprio doutor entra na melancolia e vira paciente em determinado momento.

Surfa na onda de alguns outros filmes onde os protagonistas não se encontram ou demoram para se encontrar, o roteiro foca em contar uma história com duas óticas onde, de fato, vemos a bifurcação no ato final. Delicado, o roteiro perde ritmo facilmente, o que pode incomodar aos menos sensíveis. Não há um grande clímax, quem busca isso em um filme, também, pode descartar assistir a esse. Nesse projeto, o que conta é o todo, dois caminhos em busca de um mesmo objetivo: ser feliz.