As analogias da tartaruga e no desdém do cotidiano nas
relações interpessoais. Baseado em curto argumento de Ken Liu, o primeiro embarque a uma produção fora do oriente do
aclamado cineasta japonês Hirokazu
Koreeda, A Verdade, indicado ao
Leão de Ouro em Veneza no ano passado e exibido no prestigiado Festival de
Toronto no mesmo ano, é uma grande rodada de argumentos e situações envolvidos
dentro de um drama familiar oriundos dos gestos e ações de uma amargurada atriz
veterana que busca o conflito a todo instante. Há muita sutileza na condução de
Koreeda mas a profundidade dos ricos personagens de outros filmes aqui se
camuflam em uma única destacada atuação. É como se a melancolia atravessasse a
trama de maneira a deixar tudo sem sentido em importantes definições de arcos.
Na trama, conhecemos mais profundamente Fabienne (Catherine Deneuve), uma excêntrica estrela
do cinema francês que resolve de uma hora pra outra lançar um livro de memórias
o que acarreta na ida de sua filha Lumir (Juliette
Binoche) que mora nos Estados Unidos e trabalha como roteirista ir até a
França para visitá-la junto de seu marido, Hank (Ethan Hawke), um ator de série b da televisão norte-americana. Chegando
na casa de sua mãe e voltando para a rotina de set de filmagens e difíceis
conversas, o tempo passa mas o passado chega forte com assuntos mal resolvidos
dentro de uma profunda amargura nos diálogos de ambos os lados.
O roteiro se sustenta nos embates insípidos da protagonista
com todos que a cercam, desde sua eclética família até mesmo suas colegas de
profissão mas principalmente a filha. Apontando o dedo em tudo e em todos, as
razões da perfeição não se sustentam em nenhum momento, talvez fruto da
amargura vista em cena. As críticas sobre atuações, sobre os textos duvidosos
da Wikipedia as vezes dão luz a um medo pela próxima aposentadoria mas sem
nunca reconhecer erros ou verdades de outros sobre situações do presente ou
passado. Os retratos inimistas e familiares conhecidos pela filmografia de
Koreeda aqui se transformam em longos minutos sem muita força e principalmente,
sem dizer nada. Não chega a ser decepcionante mas esperávamos tanto de um filme
com tanta qualidade na frente e atrás das câmeras.
Ainda sem previsão de estreia no circuito exibidor
brasileiro por conta da pandemia do coronavírus que mexeu com o mercado audiovisual
mundial de maneiro impactante A Verdade
tem em seu maior pecado os poucos respiros dentro do eterno e inacabável embate
entre mãe e filha. É de cortar o coração que o sono chegue forte em um filme
com Deneuve e Binoche.