A falta de perspectiva em um mundo que se distancia das
emoções positivas. Indicado da Austrália ao Oscar de Melhor filme estrangeiro
no ano passado (não chegou entre os cinco finalistas), Buoyancy, ou Empuxo como
alguns denominaram por aqui, é uma forte e dramática saga de um jovem sem rumo
que buscando oportunidades na liberdade das escolhas acaba envolvido no
submundo absurdo do tráfico de pessoas. Com uma fotografia impecável e um
roteiro com bastante profundidade, o projeto dirigido e roteirizado pelo
cineasta australiano Rodd Rathjen
(debutando em longas) nos guia para uma metáfora de sobrevivência cruel e
impactante.
Há muitas verdades sobre o mundo lá fora que nem imaginamos
ou nunca paramos para pensar. O dia a dia de milhares de jovens sem
oportunidades de renda, alimentação e estudo básicos é o pontapé inicial dessa
cruel história de um jovem de menos de 15 anos chamado Chakra (Sarm Heng) que resolve abandonar a
família no Camboja para tentar a sorte de ser alguém no mundo e assim acaba
sendo enviado para um barco de pesca em alto mar onde o capitão é uma alma
bastante cruel. Buscando sobreviver após humilhações e testemunhando atos cruéis
do capitão, Chakra precisará ser forte e lutar com todas suas forças para
sobreviver ao pesadelo.
Existem filmes onde a profundidade da maldade é colocada
dentro de uma profundeza difícil de acessar. Humano até o limite de qualquer
borda de alma, os princípios de raízes da sobrevivência viram a única solução
para a situação caótica enfrentada pelo protagonista. Há um jogo de emoções conturbado
por situações extremas, como o fato de ter que trabalhar quase o dia todo para
comer um potinho de arroz. O protagonista vai se modelando, inflando dentro de
sua emoções para se tornar amadurecido a ponto de tomar decisões vitais para
ter alguma chance de sobreviver em meio a essa maldade toda.
O arco final é intenso e condiz com tudo que o filme se
mostra. Exibido no Festival de Berlim do ano passado, Buoyancy vai até seu último minuto nos mostrando as escolhas e como
e porquê o protagonista resolve suas questões. O que será do futuro dele? Há
esperança por dias melhores? Ele se tornara outra pessoa? Depois dessa
tempestade, uma coisa é certa, ninguém fica igual ao que era antes. Filmaço,
que absurdamente não ganhou chances no circuito brasileiro de exibição.