Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e
sofrer novamente. Mas às vezes é necessário. Há alguns dias atrás, sem muitos
alardes, estreou na poderosa do streaming Netflix o primeiro longa-metragem do
cineasta Gaspar Antillo, Ninguém Sabe que Estou Aqui. O filme é
um poderoso drama, envolvente com uma atuação marcante do Jorge Garcia (conhecido por muitos por seu importante papel no
seriado Lost). Falar sobre
sentimentos profundos é sempre muito complicado quando pensamos em cinema, as
linhas tênues entre o exagero e a superfície estão a cada linha do roteiro e
por nossa sorte, nesse caso, os contornos entre os arcos são belíssimos levando
a um desfecho satisfatório e impactante.
Na trama, conhecemos o introspectivo e solitário Memo (Jorge Garcia), um homem já adulto que
vive distante do grande centro em uma ilha com seu tio Braulio (Luis Gnecco). Aos poucos vamos
conhecendo mais a fundo a peculiar personalidade dessa alma amargurada que na
infância foi descoberto por ter uma voz maravilhosa mas que a ganância dos
outros fraudaram seus sonhos o levando a uma depressão e distância de tudo
aquilo que pensara que iria acontecer com sua vida. Mas, a chegada de Marta (Millaray Lobos), fará Memo ter uma nova
chance de mostrar ao mundo quem ele realmente é.
De maneira objetiva, ao longo dos curtos 91 minutos de projeção
somos levados aos sentimentos do protagonista através de pensamentos, dança,
sonhos e arte. É uma imersão que o espectador precisa estar querendo fazer para
que a experiência seja algo que toque o coração de todos. Um homem de poucas
palavras e com o coração machucado, Memo é um personagem intrigante, um dos
mais interessantes desse início de segundo semestre nesse ano pandêmico que
vivemos. O filme por si só já vale por
ele. Ao redor do protagonista, vemos a ganância e a fraude que foi vítima na
infância, o distanciamento do complicado pai, a relação paternal com o tio, um
sentimento vivo dentro dele de viver algo feliz em sua bolha triste. A chegada
de Marta na história enche a tela de cores e força, você percebe uma enchida de
combustível no coração de Memo e essa válvula de esperança culmina em um
desfecho emblemático e bastante merecido para esse belo trabalho.