06/07/2020

Crítica do filme: 'Ninguém Sabe que Estou Aqui'


Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente. Mas às vezes é necessário. Há alguns dias atrás, sem muitos alardes, estreou na poderosa do streaming Netflix o primeiro longa-metragem do cineasta Gaspar Antillo, Ninguém Sabe que Estou Aqui. O filme é um poderoso drama, envolvente com uma atuação marcante do Jorge Garcia (conhecido por muitos por seu importante papel no seriado Lost). Falar sobre sentimentos profundos é sempre muito complicado quando pensamos em cinema, as linhas tênues entre o exagero e a superfície estão a cada linha do roteiro e por nossa sorte, nesse caso, os contornos entre os arcos são belíssimos levando a um desfecho satisfatório e impactante.

Na trama, conhecemos o introspectivo e solitário Memo (Jorge Garcia), um homem já adulto que vive distante do grande centro em uma ilha com seu tio Braulio (Luis Gnecco). Aos poucos vamos conhecendo mais a fundo a peculiar personalidade dessa alma amargurada que na infância foi descoberto por ter uma voz maravilhosa mas que a ganância dos outros fraudaram seus sonhos o levando a uma depressão e distância de tudo aquilo que pensara que iria acontecer com sua vida. Mas, a chegada de Marta (Millaray Lobos), fará Memo ter uma nova chance de mostrar ao mundo quem ele realmente é.

De maneira objetiva, ao longo dos curtos 91 minutos de projeção somos levados aos sentimentos do protagonista através de pensamentos, dança, sonhos e arte. É uma imersão que o espectador precisa estar querendo fazer para que a experiência seja algo que toque o coração de todos. Um homem de poucas palavras e com o coração machucado, Memo é um personagem intrigante, um dos mais interessantes desse início de segundo semestre nesse ano pandêmico que vivemos.  O filme por si só já vale por ele. Ao redor do protagonista, vemos a ganância e a fraude que foi vítima na infância, o distanciamento do complicado pai, a relação paternal com o tio, um sentimento vivo dentro dele de viver algo feliz em sua bolha triste. A chegada de Marta na história enche a tela de cores e força, você percebe uma enchida de combustível no coração de Memo e essa válvula de esperança culmina em um desfecho emblemático e bastante merecido para esse belo trabalho.