Nosso convidado de hoje é um dos mais reconhecidos
jornalistas especializados em cinema do Brasil. Miguel Barbieri Jr. escreve para a Veja São Paulo há quase 20 anos, utiliza as plataformas digitais
para interagir com seus leitores sempre dando diversas dicas, formulando listas
e expressando opiniões com muita argumentação sobre o universo audiovisual.
Conversar com o querido cinéfilo Miguel é sempre uma grande aula e percebemos o
amor pela sétima arte em cada letra, cada palavra.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Pergunta difícil. Eu adoro salas vip e em São Paulo há
muitas, como as do JK Iguatemi, que
eu adoro. Tenho grande admiração pelo CineSesc,
uma gostosa memória afetiva, que tem uma sala confortável, mas, por ser uma
única sala, a programação é restrita. O Reserva
Cultural tem uma ótima programação (para cinéfilos). Mas se tivesse que
escolher apenas UM cinema, seria o complexo do Espaço Itaú Frei Caneca porque, embora as salas já estejam
desatualizadas, tem a melhor programação, que combina blockbusters com filmes
independentes.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Na minha memória, vem as comédias/faroestes do Trinity,
estreladas por Terence Hill e Bud Spencer, mas "cinema como um
lugar diferente", nada supera os filmes-catástrofe, como Aeroporto 75 e Inferno na Torre.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Outra pergunta impossível. Eu digo que, dos vivos, Almodóvar e Woody Allen. Acho que ficaria, então, com A Lei do Desejo, do
Almodóvar. Do Woody Allen, não
saberia apontar apenas um. Dos que já foram, Visconti e seu Morte em
Veneza.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Lavoura Arcaica,
do Luiz Fernando Carvalho, porque
poucas vezes vi um livro ser tão bem adaptado para o cinema. É cinema na sua
essência e literatura também (e sem ser boring).
5) O que é ser
cinéfilo para você?
É ter o cinema como um prazer, algo que te alimenta de
alguma forma.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece
possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?
Eu acho que são pessoas que entendem do business, de
negócios e podem, eventualmente, gostar de cinema, mas não necessariamente
entender de cinema.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Não. O cinema já esteve várias vezes ameaçado e permanece aí
há mais de 100 anos.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Diva, que está no
cardápio do Belas Artes à la Carte.
É do início dos anos 80, passou num circuito bem cult de SP, mas me marcou com
sua estética publicitária, que era moda na época.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Se abrem academias, que considero um espaço muito mais
perigoso para pegar o vírus, porque não reabrir os cinemas?
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Como sempre, tem seus altos e baixos. Há muitos filmes
brasileiros que são produzidos, são ruins, pouca gente vê e fica por isso
mesmo. Mas, por outro lado, surgem umas pérolas como Gabriel e a Montanha, Como
Nossos Pais, Benzinho e Pacarrete, que são filmes que
"conversam" com o público e não são grandes sucessos de bilheteria.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Como crítico, é difícil perder algum filme de um artista
importante. Mas, caso esta não fosse minha profissão, diria Selton Mello.
12) Defina cinema com
uma frase:
Cinema é viver a vida de outros.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.
Estava vendo algum Missão:
Impossível numa sala da Cinemark
do Eldorado quando começou uma briga de socos. Tudo porque um sujeito pediu
silêncio para um pai com um filho, eles continuaram a falar e o outro partiu
para o ataque esmurrando o pai. Todo mundo começou a pedir para que ele
parasse. Até que acenderam as luzes. O agressor saiu da sala como se nada
tivesse acontecido e a sessão voltou do ponto que havia parado. Detesto pessoas
que falam durante o filme, mas nada justifica você agredir uma pessoa por causa
disso.