Nosso convidado de hoje é um apaixonado pela sétima arte! Criador e editor-chefe de um dos portais de cinema mais elogiados, o Papo de Cinema (www.papodecinema.com.br), Robledo Milani é crítico de cinema e foi presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018). Membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Milani é uma enciclopédia de boas histórias.
Obs: parece que conheço Milani a séculos, mas nunca nos
falamos pessoalmente. O mais próximo disso foi num dia de credenciamento no
Festival do RJ, em um luxuoso hotel em São Conrado na capital carioca. O vi de
longe mas na hora de falar com ele, ele saiu correndo para entrevistar alguém.
Um dia tomaremos um café e falaremos sobre cinema querido cinéfilo que admiro!
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
A que eu mais frequento e a que eu mais gosto é o Espaço Itaú aqui em Porto Alegre, no
Bourbon country. É um multiplex grande, são 08 salas, tem uma seleção bastante
variada e acho que esse é o perfil que a gente segue no Papo de Cinema. A gente
não fala só de clássico argentino, iraniano, japonês, australiano, polonês, a
gente fala desses mas também fala dos filmes da Marvel, da Dc Comics, da Disney, da Pixar, a gente fala de tudo. Eu gosto de lá do Espaço Itaú porque
eles exibem de tudo e as salas são confortáveis.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Quando eu era pequeno, por volta dos 10 anos, minha avó
materna morava bem próxima de mim. Lembro que de tarde eu e ela íamos ao
cinema, já que eu estudava de manhã. Nessa época, ela me levou para ver O Último Imperador. Foi uma coisa que
nem lembro direito como foi mas foi muito legal. Lembro de ficar super chocado,
foi um filme que me marcou demais. Com 12 ou 13 anos fui com um primo meu ver Laranja Mecânica e me lembro de sair muito
chocado do filme, me traumatizou. Fui rever só 30 anos depois. Fiquei muito
impactado com aquilo. Me lembro de Pulp
Fiction, Drácula de Bram Stocker,
Dança com Lobos, Silêncio dos Inocentes, filmes que vi
muito jovem. Mas o primeiro filme foi De
Volta para o Futuro, 1985, eu tinha sete anos ou oito anos, fui com minha
turma de escola, o cinema abriu para nós numa sessão de manhã, e eu te juro:
fiquei de queixo caído o filme todo. Ali eu vi que era um lugar de sonhos e
magia.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Muito difícil pra mim definir ‘o filme favorito’, ‘o diretor
favorito’. Eu não gosto é de filme ruim! Tem alguns gêneros onde são mais
preguiçosos os realizadores, tipo comédias românticas e filmes de terror. Tem
muito filme ruim nesses gêneros, porque são muito repetitivos mas quando surge
um que é bom eu adoro. Vou te dizer sobre os diretores que já dei curso: Spielberg, vi toda a filmografia dele –
meu filme favorito é E.T. ; Fellini, eu vi toda a filmografia, dei
curso sobre a obra dele, Amacord é o
meu favorito. Esses dois estão entre os meus favoritos.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Ainda é Central do
Brasil. Me emociona e me comove. Atuações também ótimas, gosto muito de
prestar a atenção. Outro dia eu vi O
Caso dos Irmãos Naves, que também tem ótimas atuações. Quando eu vi Deus e o Diabo na Terra do Sol, pirei!
Vi numa cópia restaurada. Pixote é
maravilhoso. Tem muitos filmes incríveis! São
Paulo SA, NOSSA, maravilhoso! Mas pelo sentimental e pela Fernanda que tá incrível eu vou de Central do Brasil.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
É amar cinema. Amar mais que reclamar. Hoje em dia as
pessoas gostam de criticar. Elas acham que ser crítico é falar mal das coisas.
Cinéfilo é amar cinema mais do que qualquer coisa. Cinefilia é não ter preconceito.
Todos os filmes tem algo de bom.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por
pessoas que entendem de cinema?
Não. A maioria dos cinemas são feitas por pessoas que estão
focadas nos grandes lançamentos de grandes estúdios.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Acho que não. Mas que vão se transformar? Sim, acho que vão.
Acho que vão diminuir o número de salas, vão ter poucas mas de boa qualidade. Se
tiver uma boa sala de cinema em cada cidade do Brasil é muito mais que hoje que
temos dezenas de salas nas grandes capitais e os interiores são desabastecidos
nesse sentido. O Cinema vai ser cada vez mais um lugar de espetáculo, de
grandes momentos, de prazer coletivo. Acredito que aquele filme mais de nicho,
de aproveitamento individual, você vai consumir mais na sua casa enquanto
aqueles grandiosos vão ser direcionados para essas salas de cinema.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Eu vejo as pessoas mais desesperadas em ver aquele filme que
alguém avisou que saiu no torrent e não viram os filmes dos anos 80, dos anos
60, dos 40, dos 20. As pessoas correm para ver os novos filmes mas não viram os
que formaram essa história, que nos levaram até hoje. Fim de semana passado, estava
vendo uma monte de filme de Netflix,
Amazon, ai eu pense:, quer saber vou
ver Hitchcock! Botei Janela Indiscreta pra ver, incrível esse filme! As pessoas
tem que ver Chaplin, tem que ver Hitchcock,
Fellini, tem que ir além, ver Glauber Rocha!
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Não, acho que devem permanecer fechadas. Não é seguro e a
gente tem que fazer só o que é essencial. A produção de cinema sim, eu acho que
tem que ser feita, as pessoas tem que tomar os cuidados, vão ser outras histórias,
outras formas de contar essas histórias, mas eu não consigo imaginar uma sala
de cinema com 500 pessoas pra ver um novo vingadores, não consigo imaginar
isso. Cinema hoje é cinema em casa! Em quanto não tiver uma cura e a gente não
sair de uma pandemia as pessoas tem que se cuidar e segurança acima de tudo.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Excelente. O cinema brasileiro é maravilhoso. Só em 2019
foram quase 200 longas-metragens que estrearam nos cinemas ou em plataformas de
streaming ou VOD. Uma diversidade incrível. A qualidade, a técnica, os atores,
estamos cada vez melhores.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Fernanda Montenegro.
Walter Salles. Kleber Mendonça Filho, Marcelo Gomes, Karim Ainouz, Heitor
Dhalia. São vários os artistas que não perco um filme.
12) Defina cinema com
uma frase:
Paixão, fantasia, sonho. Cinema é sonho.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema
A gente já presenciou muita grosseria, gente que vai pra
sala de cinema e acha que está em casa. Uma história inusitada? Ah! Quando fui
ver Jerry Maguire, a mais de 20
anos, fui num cinema em porto alegre num cinema que não estava acostumado a ir,
e eu lembro que eu ri muito nesse filme, gostei muito. Quando terminou a
sessão, todo mundo saindo da sala de cinema, tinha uma amiga minha me esperando
na saída e eu não tinha ido no cinema com ela, nem tinha visto, não sabia que
ela estava na sessão. Aí ela me viu, me cumprimentou, ai eu perguntei como ela sabia
que eu tava no cinema? Ai ela: “Robledo identifiquei sua risada! Você riu o
filme inteiro e a sua risada é inconfundível. Quando ouvi a primeira risada,
pensei: o Robledo ta aqui!” Aí eu me dei conta que estava rindo fora do tom
rsrsrs. Mas foi bacana!
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Nunca vi. Mas quero ver. Um dia quem sabe eu vejo.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Acho que não. Aliás, a grande maioria não só de cineastas
mas de artistas também não são cinéfilos. No Papo de Cinema estamos fazendo lives todos os dias com artistas e
muitas vezes eles respondem que não viram. Não é o trabalho deles ficar vendo
filmes. O cineasta, o artista podem ter os seus favoritos mas a paixão deles é
mais de fazer do que assistir. A paixão é do crítico de viver isso. Quando tem
um cineasta que é cinéfilo, tipo Truffaut,
tipo Scorsese, aí é o melhor dos
dois mundos.