Nosso convidado de hoje tem um currículo maior do que os
filmes do Lav Diaz. Uma das mentes mais geniais que já conheci, Johnny soares é
ator, Consultor, Escritor, Professor Universitário e Jurado do Desfile das
Escolas de Samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro! Mestre em Educação pela
Universidade Estácio de Sá/RJ (2018); Pós-graduado em Mídias Digitais e
Interativas pela Faculdade de Tecnologia Senac Rio (2011); MBA em Marketing
Empresarial pela Universidade Federal Fluminense (UFF/2008); Especialização em
Planejamento de Comunicação pela Escola Superior de Propaganda e Marketing
(ESPM, 2004); Bacharel em Comunicação Social (Publicidade/Propaganda) pela
Universidade Federal Fluminense (UFF/2000). Atua há mais de 22 anos no mercado
publicitário, de marketing e design. Coordenador da Pós-graduação em Gestão de
Marketing e Estratégias Digitais da Faculdade Mackenzie Rio e da Pós-graduação
em Planejamento Estratégico para Mídias Sociais da Faculdade de Tecnologia
Senac Rio. Profissional de Marketing do Ano no Prêmio Colunistas 2012. Possui
mais de 30 prêmios de criação e marketing. 1º e 2º Lugares no Prêmio Educação
Profissional: Inovação e Qualidade 2015 e 2016, do Senac-RJ. Prêmios About,
Abemd, Festival de Publicidade de Gramado, Festival de Nova York, Festival de
Londres.
Obs: Um grande cinéfilo que quase foi meu chefe! Durante um
tempo me aventurei como analista de redes sociais. Trabalhei numa empresa que
ficava dentro de outra. Quando a parceria se desfez, a equipe fora desfeita. Na
hora de ir embora, fui chamado na sala de um dos diretores, sentei numa mesa de
frente para o mar e me perguntaram se eu queria continuar na outra empresa já
que tinham gostado do meu trabalho. O chefão era o Johnny! Nunca mais o vi mas
se eu soubesse na época que era tão cinéfilo tinha deixado meu livro para ele
de presente. Espero vê-lo novamente querido amigo cinéfilo!
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação?
Detalhe o porquê da escolha. Minha sala de cinema preferida
é o Kinoplex São Luiz. Gosto muito
também do Espaço Itaú, mas frequento
mais o São Luiz porque é muito próximo de onde moro (costumo chamá-lo de
"sala de cinema da minha casa"). Além disso, tem um pequena livraria,
boas opções de comida pré ou pós-cinema na galeria. São 4 salas de exibição com
filmes do circuito (na maioria), mas às vezes rola uns filmes de arte ou fora do
"mainstream". Como eu sou muito eclético em relação a filmes, há
sempre algum em cartaz que eu quero ver.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
O primeiro filme que me lembro de ter visto foi ET - O Extraterrestre do Steven Spielberg. Era feriado do dia
das crianças, e meus pais me levaram com minha irmã ao cinema. A sessão estava
lotada!!! Cinema Tamoio, em São Gonçalo, que depois virou um
supermercado. Lembro perfeitamente do cheiro da pipoca lançada para cima pelas
crianças, do alvoroço, da sala escura, da tela grande e mágica. Tive um momento
de epifania, de deslumbramento. Cinema virou sinônimo de celebração, de festa,
de reunião de pessoas, de comunhão, de dia especial... cinema é totalmente
sensorial, afeto e memória. É um dos lugares onde me sinto mais feliz.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Nossa! Difícil essa. Tenho muitos diretores favoritos: Hitchcock, Woody Allen, Stanley Kubrick,
Tarantino, Kieslowski (amo a trilogia das cores), Fernando Meirelles, Walter Salles, Stanley Kubrick...é injusto
citar um só. Mas como iniciei no cinema com um filme do Steven Spielberg, ele foi durante anos o meu diretor favorito.
Nunca perdi um filme do Spielberg. Ele sempre foi para mim uma assinatura de
filme popular de qualidade, de imaginação, de criatividade...minha adolescência
foi assistindo à saga do Indiana Jones,
do De Volta para o Futuro. Depois, mais maduro, conheci o Spielberg também
mais denso e emocional, em filmes como A
Cor Púrpura e A Lista de Schindler.
Mas admiro muito também o Almodóvar,
em especial por A Pele que Habito.
Tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente e poder falar da minha adoração por
suas "películas".
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Central do Brasil,
com certeza. É um "road-movie" (truck-movie, bus-movie...rs) com um
roteiro primoroso, uma interpretação magistral de Fernanda Montenegro, uma direção segura e sensível do Walter Salles, uma trilha linda e
emocionante. E ainda tem Marília Pêra
no elenco! Como um filme com essas duas grandes atrizes poderia dar errado?!
Foi uma pena e uma grande injustiça não ter ganhado o Oscar de filme e de
atriz. Uma das maiores injustiças do Oscar, aliás. O filme aborda de forma
crítica o tráfico de crianças, revela um Brasil pobre, retirante, que muitos
teimam em não reconhecer, e na sua viagem pelo Brasil vai transformando a
personagem de Dora, numa relação linda com o pequeno Josué. É um filme que não
me canso de assistir e reassistir. Já decorei até algumas falas.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Ser cinéfilo é amar a sala de escura e se entregar às
emoções das histórias que são contadas na grande tela. É ir a uma sessão de
cinema numa segunda-feira de sol, à tarde, e não se sentir sozinho mesmo que
você seja um dos poucos dentro da sala. Porque você está acompanhado de todos
os personagens que habitam ou já habitaram aquele lugar cheio de vida e luz. É
ficar até o final dos créditos, lendo os nomes de cada componente da equipe e
só se levantar quando as luzes se acenderem e a magia fizer parte, agora,
apenas da sua memória afetiva.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por
pessoas que entendem de cinema?
Isso é relativo. Como minha formação primeira é a
Publicidade, entendo que cada sala de cinema tem seu perfil de público. E há
público para todo tipo de cinema: de circuito, comercial, blockbusters, de
arte... O que, infelizmente acontece é que as opções de salas para filmes de
arte, menos comerciais, são muito poucas no Rio de Janeiro. E ficam
concentradas na Zona Sul, o que acaba por reforçar um estigma de que moradores
de outras regiões não gostam ou não frequentam (ou frequentariam) esse tipo de
filme. O que não é verdade. No Rio de Janeiro, algumas salas da rede Estação foram fechadas o que prejudicou
ainda mais essa falta de opção. O Estação
Paissandu, que ficava no Flamengo e virou uma academia, tinha uma boa
programação de filmes de arte. Sinto falta de maior variedade nesse sentido. É
uma pena. Dessa forma, a pluralidade fica muito restrita, sobretudo
geograficamente falando. Nesse sentido, não sei até que ponto o problema de uma
determinada programação de um cinema é um problema do programador (o "não
entendimento sobre cinema") ou uma "força do mercado", dos que
mandam nesse business.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Nunca! Com certeza, não! Quando a TV surgiu disseram que o
rádio acabaria. E olha ele aí! Quando o videocassete surgiu disseram que o
Cinema iria acabar. E não acabou. Nem nunca acabará. Ele irá se transformar, se
modernizar...mas não acabar. Muito pelo contrário. Porque o cinema é um espaço
de experiência sensorial: é visual, é sonoro, é olfativo, é degustativo, é
tátil. É uma experiência muitas vezes compartilhada entre tribos. E cada vez
mais as pessoas buscam viver experiências. Quanto mais sensoriais forem as salas
de cinema, mais elas serão indispensáveis à raça humana.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Um filme que acho que poucas pessoas viram, mas é ótimo é A Dupla Vida de Véronique de Krzystof Kieslowski. É um filme bem
antigo, de 1991, que conta a história de duas mulheres de 20 anos (Véronique e
Weronika) que possuem uma estranha conexão. É um filme repleto de simbolismos e
poesia. Acho lindo.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Não. Acho que devemos cuidar da saúde e proteger a
população. Imagino o quanto está sendo difícil para as salas de cinema e seus
proprietários, funcionários...enfim, toda a cadeia produtiva. Mas é
extremamente difícil e perigoso reunir diversas pessoas, aglomeradas num espaço
fechado. Uma saída para algumas redes é o Cine Drive-in, mas antes de ter uma
vacina contra a Covid-19 eu não me sentiria seguro a voltar a frequentar uma
sala de cinema. Infelizmente.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
A qualidade do cinema brasileiro está cada dia melhor: o som
(que era um grande problema tempos atrás), a fotografia, a edição, montagem, os
roteiros...são sensacionais. Tanto que estamos exportando muitos profissionais.
Infelizmente, o que não temos é um incentivo e um interesse genuíno do governo.
A distribuição também não ajuda. A "lei" do mercado acaba sempre
imperando e faz com que praticamente apenas os filmes de comédia (que levam
milhões de brasileiros ao cinema, e isso é ótimo seja qual for o motivo) se
estabeleçam e permaneçam por mais tempo em cartaz no circuito. Bacurau, no entanto, foi um ótimo
exemplo de um filme brasileiro que conseguiu romper esse "sistema" ou
padrão e permanecer em cartaz por muito tempo com sucesso. Espero por dias
melhores para o Cinema Brasileiro. Precisamos todos nos unir para isso. Os que
produzem e os que amam a sétima arte.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Tenho muitos amigos atores e atrizes, então vou sempre
assisti-los quando estreiam algum filme. Mas dos artistas que não tenho contato
mais próximo e não perco nenhum filme tenho que citar a nossa grande atriz e
dama Fernanda Montenegro. Não perco
um filme com ela. Temos que reverenciar artistas como ela por toda sua
trajetória no cinema e nas outras expressões da arte.
12) Defina cinema com
uma frase:
Meu refúgio para experiências mágicas.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Nossa! Tenho várias. Mas lembro de uma vez, quando estava
assistindo ao filme Por Uma Vida Menos
Ordinária, de Danny Boyle, um
senhor levantou no meio da sessão e começou a esbravejar que aquele filme era
"uma putaria, uma pouca vergonha, uma indecência"...o senhorzinho
estava na frente, próximo da tela, então se levantou e foi caminhando até a
saída (que ficava na parte de trás da sala) reclamando, resmungando...enquanto
o espectadores chiavam com ele, pedindo silêncio. O filme que já era surreal
ficou ainda mais divertido.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...:
Imperdível!!! Rs. Um filme que tem Lázaro Ramos e Wagner Moura
(dois dos melhores atores de cinema de sua geração) contracenando com Carla Perez não pode deixar de ser
visto.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Não necessariamente. Mas, de verdade, acho muito estranho.
Porque acredito que a cultura cinéfila irá ajudar o cineasta a ter mais
recursos, mais repertório, mais possibilidades estéticas, narrativas e
artísticas para criar e dirigir seu filme. Se você trabalha em um setor, ama
aquilo que faz, tudo o que se relaciona ao seu objeto de trabalho e paixão
deveria te interessar. Então, acho muito esquisito um cineasta que não é cinéfilo.
Para mim é uma contradição. Afinal, aprendemos muito com os filmes que
assistimos ao longo da vida.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Fazer essas suas listas são difíceis, Raphael! Rs Como já vi
muita coisa, obviamente já me surpreendi com muita coisa boa e já me deparei
com muito lixo também. Não tenho um só. Rs. Mas o pior filme que vi recentemente
(e olha que amo musicais) foi a versão cinematográfica de Cats. Meu Deus, como é chato! Longo, cansativo, com aqueles atores
feitos em computação gráfica, roteiro rocambolesco... Framboesa de Ouro total!
Apocalipse com o Nicolas Cage (tinha
que ser! Rs) também é outra bola fora. É o fim do mundo mesmo, sem salvação! Rs.