29/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #69 - Andrey Lehnemann


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso convidado de hoje é crítico de cinema, jornalista e escritor. Andrey Lehnemann escreve para os dois maiores jornais de Santa Catarina. É um dos quatro brasileiros a fazer parte da Online Film Critics Society (OFCS), a mais antiga e prestigiada associação de críticos de cinema online do mundo. Foi curador da primeira Mostra Internacional de Cinema Fantástico, o Floripa Que Horror, além de ter feito a produção executiva de dois documentários catarinenses. Atualmente, especializa-se no cinema de terror.

Obs: meu querido amigo que nunca vi mas parece que morávamos no mesmo condomínio! Há 10 anos atrás mais ou menos, eu, Andrey e outros malucos de diversas partes do Brasil, criamos (antes de redes sociais bombarem, antes de zap e força do youtube) o que chamamos de Totalmente Cinéfilos, um programa semanal de cinema que durava mais de cinco horas seguidas no ar. Muitas saudades!!

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Moro em Florianópolis. Acho que cada sala tem sua personalidade. Gosto muito da sala do CineMulti, do Paradigma e, claro, do Cinesystem, onde fiz muitas amizades e é a melhor a passar o cinema mainstream. Todas elas contam com mais sessões legendadas e com uma ótima acústica, o que gera um diferencial. O Cinemulti, por exemplo, eu gosto muito do público que frequenta. O paradigma tem uma ótima programação. Cada um tem sua particularidade.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O Rei Leão. Sem dúvidas. Eu era criança e acabei tendo tudo que você pode imaginar do filme, desde lancheira até toalha. Minha mãe insiste que é o filme a que mais assisti na vida, embora brigue que seja Pânico.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Da atualidade, é Darren Aronofsky. Fonte da Vida. É uma testemunha existencial das mais completas do cinema.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Terra em Transe. Glauber Rocha no auge. Continua sendo o filme brasileiro mais político a que já assisti. Brilhante.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Amar qualquer forma de cinema. Encontrar sempre o melhor em qualquer narrativa e sentir imersão ao assistir a uma nova história.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não. A programação costuma pensar no que é lucrativo, não é uma forma de reflexão. Consequentemente, os programadores costumam ser mais focados no mercado, não necessariamente cinéfilos.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Duvido muito. As formas a que assistimos cinema mudam, mas a essência permanece. Precisamos da tela, precisamos compartilhar, precisamos nos sentir conectados. Isso não é sempre possível em casa.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Dear Zachary, um documentário que mexe muito comigo.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Se obedecerem a certos critérios e quando a curva estiver controlada, sim. A vacina demorará ainda bastante tempo, ao que tudo indica.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

É um dos melhores do mundo, justamente por seu caráter multicultural. Há vários tipos de cinemas em várias regiões, no Brasil, o problema é a falta de recurso.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Irandhir Santos.

 

12) Defina cinema com uma frase:

É uma forma de reescrever a vida.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Minhas histórias inusitadas em salas de cinema são geralmente ruins. Em Faroeste Caboclo, uma moça obviamente racista confessou a amiga do lado que sentiu nojo ao ver o beijo entre um ator negro e uma atriz branca. Ela sentava atrás de mim na sala de cinema.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Risos.

 

15) Você é um dos maiores fãs do Aronofsky. Da onde surgiu esse fascínio pela filmografia desse brilhante diretor?

A primeira vez a que assisti a Réquiem para um Sonho com o meu pai. O filme me atingiu em cheio. Ainda era jovem e a decadência mental e física dos viciados no filme foi mais impactante do que qualquer coisa que já tinha visto sobre o assunto. Até meu pai ficou chocado. De poucas palavras, ele apenas disse: "esse diretor é diferenciado'. Mas sempre acompanhei tudo relacionado ao Darren desde que surgiu rumores dele dirigindo Batman. Isso nos anos 2000.

 

 

16) Dentro da Crítica de cinema, você é dono de um texto muito competente. Alguma referência de jornalista brasileiro ou internacional no qual se espelha?

Quando passei a escrever para jornais, eu me espelhei muito em dois nomes: Zanin e Merten. Admiro muito ambos. Mas meu principal mentor sempre foi o Pablo Villaça, embora meu texto tenha ido por um caminho completamente diferente. De todos os quais me espelhei, aliás. Hoje em dia, o meu campo de pesquisa é o terror. Lá fora, as minhas principais referências são Scott Weinberg, Michelle Swope, Matt Serafini, Anna Biller, Dede Crimmins e a Tomris Laffly. Mas as referências servem apenas como referência. Acho que a personalidade vem com o tempo.

 

17) Qual site de cinema brasileiro que você mais acompanha?

Poucos, hoje em dia. Acompanho mais o Filme B, pelas estreias da semana. Acho que Adoro Cinema sendo o maior referencial. Gosto do trabalho do Lucas Salgado e da Barbara Demerov, que é uma querida.