O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nosso convidado de hoje é crítico de cinema, jornalista e
escritor. Andrey Lehnemann escreve para os dois maiores jornais de Santa
Catarina. É um dos quatro brasileiros a fazer parte da Online Film Critics Society (OFCS), a mais antiga e prestigiada
associação de críticos de cinema online do mundo. Foi curador da primeira Mostra Internacional de Cinema Fantástico,
o Floripa Que Horror, além de ter
feito a produção executiva de dois documentários catarinenses. Atualmente,
especializa-se no cinema de terror.
Obs: meu querido amigo que nunca vi mas parece que morávamos
no mesmo condomínio! Há 10 anos atrás mais ou menos, eu, Andrey e outros
malucos de diversas partes do Brasil, criamos (antes de redes sociais bombarem,
antes de zap e força do youtube) o que chamamos de Totalmente Cinéfilos, um programa semanal de cinema que durava mais
de cinco horas seguidas no ar. Muitas saudades!!
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Moro em Florianópolis. Acho que cada sala tem sua
personalidade. Gosto muito da sala do CineMulti,
do Paradigma e, claro, do Cinesystem, onde fiz muitas amizades e
é a melhor a passar o cinema mainstream. Todas elas contam com mais sessões
legendadas e com uma ótima acústica, o que gera um diferencial. O Cinemulti, por exemplo, eu gosto muito
do público que frequenta. O paradigma tem uma ótima programação. Cada um tem
sua particularidade.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
O Rei Leão. Sem dúvidas. Eu era criança e acabei tendo tudo
que você pode imaginar do filme, desde lancheira até toalha. Minha mãe insiste
que é o filme a que mais assisti na vida, embora brigue que seja Pânico.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Da atualidade, é Darren
Aronofsky. Fonte da Vida. É uma
testemunha existencial das mais completas do cinema.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Terra em Transe. Glauber Rocha no auge. Continua sendo o
filme brasileiro mais político a que já assisti. Brilhante.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Amar qualquer forma de cinema. Encontrar sempre o melhor em
qualquer narrativa e sentir imersão ao assistir a uma nova história.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas
que entendem de cinema?
Não. A programação costuma pensar no que é lucrativo, não é
uma forma de reflexão. Consequentemente, os programadores costumam ser mais
focados no mercado, não necessariamente cinéfilos.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
Duvido muito. As formas a que assistimos cinema mudam, mas a
essência permanece. Precisamos da tela, precisamos compartilhar, precisamos nos
sentir conectados. Isso não é sempre possível em casa.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Dear Zachary, um
documentário que mexe muito comigo.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Se obedecerem a certos critérios e quando a curva estiver
controlada, sim. A vacina demorará ainda bastante tempo, ao que tudo indica.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
É um dos melhores do mundo, justamente por seu caráter
multicultural. Há vários tipos de cinemas em várias regiões, no Brasil, o
problema é a falta de recurso.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Irandhir Santos.
12) Defina cinema com
uma frase:
É uma forma de reescrever a vida.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Minhas histórias inusitadas em salas de cinema são
geralmente ruins. Em Faroeste Caboclo,
uma moça obviamente racista confessou a amiga do lado que sentiu nojo ao ver o
beijo entre um ator negro e uma atriz branca. Ela sentava atrás de mim na sala
de cinema.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Risos.
15) Você é um dos
maiores fãs do Aronofsky. Da onde surgiu esse fascínio pela filmografia desse
brilhante diretor?
A primeira vez a que assisti a Réquiem para um Sonho com o meu pai. O filme me atingiu em cheio.
Ainda era jovem e a decadência mental e física dos viciados no filme foi mais
impactante do que qualquer coisa que já tinha visto sobre o assunto. Até meu
pai ficou chocado. De poucas palavras, ele apenas disse: "esse diretor é
diferenciado'. Mas sempre acompanhei tudo relacionado ao Darren desde que surgiu rumores dele dirigindo Batman. Isso nos anos 2000.
16) Dentro da Crítica
de cinema, você é dono de um texto muito competente. Alguma referência de
jornalista brasileiro ou internacional no qual se espelha?
Quando passei a escrever para jornais, eu me espelhei muito
em dois nomes: Zanin e Merten. Admiro muito ambos. Mas meu
principal mentor sempre foi o Pablo Villaça, embora meu texto tenha ido por um
caminho completamente diferente. De todos os quais me espelhei, aliás. Hoje em
dia, o meu campo de pesquisa é o terror. Lá fora, as minhas principais referências
são Scott Weinberg, Michelle Swope, Matt
Serafini, Anna Biller, Dede Crimmins e a Tomris Laffly. Mas as referências servem apenas como referência.
Acho que a personalidade vem com o tempo.
17) Qual site de
cinema brasileiro que você mais acompanha?
Poucos, hoje em dia. Acompanho mais o Filme B, pelas estreias da semana. Acho que Adoro Cinema sendo o maior referencial. Gosto do trabalho do Lucas Salgado e da Barbara Demerov, que é uma querida.