31/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #74 - Alvaro Campos


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso convidado de hoje é cinéfilo e começou na TV, onde escreveu para TV Globo, Multishow, Record, OI TV e MTV programas como o Comédia MTV. Roteirista, produtor e diretor Alvaro Campos em 2016 realizou seu primeiro curta-metragem, Leo & Carol, vencedor de festivais na França, Espanha, Bélgica. No ano seguinte realizou seu primeiro longa-metragem Altas Expectativas e fez parte da seleção do Festival do Rio. Depois escreveu e dirigiu o longa documentário Tá Rindo de Quê? ao lado de Cláudio Manoel e Alê Braga. Seu próximo trabalho será sobre a cinebiografia da cientista e educadora brasileira Joana D'Arc Félix para a Globofilmes. (Fonte: https://www.aicinema.com.br/).

Obs: Vi Alvaro uma vez na noite de pre estreia do filme Ta Rindo de Que? No Reserva Cultual Niterói. Cara gente boa, falamos de cinema e do botafogo, que estava jogando naquele momento uma partida importante por algum campeonato que não lembro.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Estação Itaú Botafogo. Sempre deu espaço pro cinema de arte e pro cinema comercial, de forma bem elegante. Menção Honrosa pro IMS, na Gávea, e pro Cine Santa, cujos espaços por si só fazem valer a pena qualquer filme. 

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Cinema Paradiso. Com meu pai. Num cinema de clube. E os filmes do Domingos de Oliveira, que me mostravam que aquele lugar diferente também podia ser gestado aqui no nosso quintal com muito menos.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Pra mim o hall de monstros é sempre o mesmo mas o camisa 10 muda ano a ano. Não tem jeito, nós mudamos e os preferidos mudam também. Hoje, 2020, fico com Spike Lee e o Faça a Coisa Certa.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

O Pagador de Promessas do Anselmo Duarte e Dias Gomes. Nada é mais original, potente e brasileiro que esse filme. Mas pessoalmente não consigo deixar de citar O Palhaço de Selton Mello; Central do Brasil, de Walter Salles; Deus é Brasileiro, de Cacá Diegues; Benzinho, de Gustavo e Karine Telles; Que Horas Ela Volta, de Anna Muylaerte; Bicho de Sete Cabeças da Laís Bodansky... Todos são fantásticos e não abrem mão nem por um frame de sua comunicabilidade e simplicidade.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

 

Ver que o cinema é um coordenada fundamental pra entender seu lugar no mundo.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não quero presumir que saiba o que é o “verdadeiro” cinema a ser entendido. Cada um tem o seu e cada programador tem o seu. Dentro da sua realidade, cada um deles faz o melhor que pode e cria territórios distintos. E sempre é ótimo ter opção, mesmo que a minha preferida não tenha o número de salas que eu desejaria.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

O teatro tá aí há 2500 anos, não vai ser o cinema que vai morrer em cento e poucos... Qual a graça de ver um blockbuster numa tela pequena e sem uma multidao com a mesma expectativa que a sua? Qual a graça de ver um filme de arte sem sentir-se pertencer a uma comunidade? Tudo se ajusta, mas nao desaparece.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

A Passageira (Magallanes) filme peruano extraordinário.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Estávamos num caminho muito próximo de uma produção sustentada de filmes de arte pra figurar anualmente nos principais festivais do mundo. Também estávamos bem num longo caminho de sedimentar um cinema comercial capaz de ser um motor financeiro real pra indústria. O que Paulo Gustavo faz em um Uma Mãe é uma Peça, superando Star Wars e afins aqui dentro, merece tantas palmas quanto o histórico Bacurau. E se tínhamos Bacurau e Minha Mãe é uma Peça num mesmo ano, como poderíamos estar mal? Agora é esperar pra ver as transformações nada simples de 2020 na nossa cinematografia, que vai perder em quantidade e pluralidade. Mas ainda é cedo pra julgar. Torço pra que as condições de guerra de hoje propiciem criatividades audaciosas e novos nomes na cena.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

 

Karin Ainouz, Anna Muylaerte, Kleber Mendonça, Jorge Furtado, Julia Rezende, Pedro Amorim, João Moreira Salles...

 

12) Defina cinema com uma frase:

quem sou eu...

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema

Buenos Aires. Rocky 6. Na luta final, um gordinho de mullets se põe de pé pra torcer pelo Rocky gritando como se tivesse numa final na Bombonera. Mesmo ele sabendo que no Rocky 6 não iria haver um final diferente daquele que ele já viu nos outros 5. Rocky de novo perdeu ganhando, o gordinho vibrou chorando no fim e em momento nenhum ninguém na sala pediu que ele sentasse.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Toda vida é sonho. (frase do La Barca, muito menos Top of Mind que o Cinderela Baiana)

 

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acredito que sim. Mas há torrentes infinitas de imagens sendo oferecidas pela internet, pela TV, pelos quadrinhos, pela video-arte.. Não descartaria a hipótese de alguém filmar muito bem bebendo só de fontes paralelas ao cinema.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Street Fight, com Jean Claude Van Damme. Toda vez que o Raul Júlia aparece numa cena um curió explode sem razão aparente. 

 

17) Qual seu documentário preferido?

As Canções, do Coutinho. Mas Ônibus 174 e Santiago são fundamentais pra mim. 

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Quem nunca fez isso?