04/09/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #80 - Pedro Tavares


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado de hoje é um cinéfilo de fala mansa e extremamente inteligente. Bacharel e mestre em estudos de cinema, Pedro Tavares, é cineasta, crítico de cinema e diretor de festival, programador e curador. Editor da Revista Multiplot Film, Proprietário da 7 a 1 Filmes, Diretor do Festival ECRÃ. Oferece palestras sobre autores de cinema e cinema experimental.

Obs: querido irmão cinéfilo Pedrinho. Sempre nos esbarramos por aí, pelas cabines, ou em algum evento, principalmente na época de Cine Joia. Um empreendedor cultural que tem um conhecimento gigante e um grande amor pela sétima arte.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

O Espaço Itaú de Cinema em Botafogo. Acho que é o único que respeita a cota de telas e passa filmes nacionais que você não verá em outro cinema. No mais, ele hospeda mostras como o É Tudo Verdade e o Cinefoot. E também hospedou a Semana dos Realizadores por muito tempo.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Foi o primeiro. Eu vi num cinema do Casa Shopping e tinha três ou quatro anos e era um filme dos Trapalhões que não me recordo o nome. Eu morri de medo por conta do som altíssimo. Mas alguns anos depois eu comecei a ver filmes sozinho no cinema. Uma sessão especial foi a de Seven do David Fincher. Eu tinha 11 ou 12 anos, por aí.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

No momento é o James Benning. Indico o One Way Boogie Woogie que é uma obra-prima.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Limite do Mário Peixoto. Porque é das coisas mais bonitas já feitas.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Acho que existem diversas camadas de cinefilia. Mas o que une todas elas é que o aprendizado. Seja histórico ou em relação com a imagem e ou simplesmente em acompanhar a filmografia de um diretor. Creio que em todas a cinefilia oferece um prazer imenso.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

É importante ter pessoas que conheçam minimamente, mas como estamos no Brasil, existem complementos importantes como o desenho do público do local, os horários com mais vendas, a faixa etária do público e seus autores prediletos, enfim. No fim das contas equilibrar tudo isso é importante e um caso raro por aqui e imagino que isso se deva às contas que precisam ser pagas.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acho difícil. Não há experiência como essa. Acredito que o número de produções cresça e se divida com o VOD e as salas.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Walker do Alex Cox. Aproveitem e vejam a versão da Criterion Collection que é de chorar de lindo.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não mesmo!

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Usar a régua do mainstream é uma besteira. O cinema brasileiro sempre teve qualidade altíssima. Mas aí é uma questão cultural que precisa ser revertida e isso levará muito tempo. O Brasil é um país que oferece uma gama de abordagens e temas das mais variadas percepções. Isso é incrível.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

 

Acompanho muitos. Mas gosto de acompanhar a carreira de todos os meninos que saíram da Alumbramento. Vejo tudo do Bressane e da Paula Gaitán também.

 

12) Defina cinema com uma frase:

O princípio da incerteza.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Quando eu fui ver Tropa de Elite 2 eu fui testemunha de uma troca de socos no melhor estilo boxe profissional por conta de uma poltrona.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Poxa, eu não vi. Mas a reputação não é das melhores...

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acho importante para ter referências e inspirações. Mas não me parece ser um pré-requisito para se fazer filmes. Talvez um campo amplo de leitura seja tão importante quanto.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

O da Flordelis.

 

17) Qual seu documentário preferido?

As I Was Moving Ahead Occasionally I Saw Briefly Glimpses of Beauty do Jonas Mekas.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão? 

Principalmente nos de horror com aqueles finais bem sádicos!