O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nosso entrevistado de hoje é um cinéfilo de fala mansa e
extremamente inteligente. Bacharel e mestre em estudos de cinema, Pedro Tavares,
é cineasta, crítico de cinema e diretor de festival, programador e curador.
Editor da Revista Multiplot Film,
Proprietário da 7 a 1 Filmes,
Diretor do Festival ECRÃ. Oferece
palestras sobre autores de cinema e cinema experimental.
Obs: querido irmão cinéfilo Pedrinho. Sempre nos esbarramos
por aí, pelas cabines, ou em algum evento, principalmente na época de Cine
Joia. Um empreendedor cultural que tem um conhecimento gigante e um grande amor
pela sétima arte.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
O Espaço Itaú de
Cinema em Botafogo. Acho que é o único que respeita a cota de telas e passa
filmes nacionais que você não verá em outro cinema. No mais, ele hospeda
mostras como o É Tudo Verdade e o Cinefoot. E também hospedou a Semana dos Realizadores por muito
tempo.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Foi o primeiro. Eu vi num cinema do Casa Shopping e tinha três ou quatro anos e era um filme dos Trapalhões que não me recordo o nome.
Eu morri de medo por conta do som altíssimo. Mas alguns anos depois eu comecei
a ver filmes sozinho no cinema. Uma sessão especial foi a de Seven do David Fincher. Eu tinha 11 ou 12 anos, por aí.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
No momento é o James
Benning. Indico o One Way Boogie
Woogie que é uma obra-prima.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Limite do Mário Peixoto. Porque é das coisas mais
bonitas já feitas.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Acho que existem diversas camadas de cinefilia. Mas o que
une todas elas é que o aprendizado. Seja histórico ou em relação com a imagem e
ou simplesmente em acompanhar a filmografia de um diretor. Creio que em todas a
cinefilia oferece um prazer imenso.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas
que entendem de cinema?
É importante ter pessoas que conheçam minimamente, mas como
estamos no Brasil, existem complementos importantes como o desenho do público
do local, os horários com mais vendas, a faixa etária do público e seus autores
prediletos, enfim. No fim das contas equilibrar tudo isso é importante e um
caso raro por aqui e imagino que isso se deva às contas que precisam ser pagas.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Acho difícil. Não há experiência como essa. Acredito que o
número de produções cresça e se divida com o VOD e as salas.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Walker do Alex Cox. Aproveitem e vejam a versão
da Criterion Collection que é de
chorar de lindo.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Não mesmo!
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Usar a régua do mainstream é uma besteira. O cinema
brasileiro sempre teve qualidade altíssima. Mas aí é uma questão cultural que
precisa ser revertida e isso levará muito tempo. O Brasil é um país que oferece
uma gama de abordagens e temas das mais variadas percepções. Isso é incrível.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Acompanho muitos. Mas gosto de acompanhar a carreira de
todos os meninos que saíram da Alumbramento.
Vejo tudo do Bressane e da Paula Gaitán também.
12) Defina cinema com
uma frase:
O princípio da incerteza.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Quando eu fui ver Tropa
de Elite 2 eu fui testemunha de uma troca de socos no melhor estilo boxe
profissional por conta de uma poltrona.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Poxa, eu não vi. Mas a reputação não é das melhores...
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Acho importante para ter referências e inspirações. Mas não
me parece ser um pré-requisito para se fazer filmes. Talvez um campo amplo de
leitura seja tão importante quanto.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
O da Flordelis.
17) Qual seu
documentário preferido?
As I Was Moving Ahead
Occasionally I Saw Briefly Glimpses of Beauty do Jonas Mekas.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Principalmente nos de horror com aqueles finais bem sádicos!