O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nossa entrevistada de hoje é uma grande cinéfila carioca
além de ser uma pessoa querida por todos. Ana
Rodrigues é jornalista da Rádio
SulAmerica Paradiso e Presidente da
Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro. Jornalista desde o
início da década de 90, trabalhou nas rádios Tropical, Tupi e Nativa
e no Jornal do Brasil.
Obs: querida amiga Aninha! Quantas vezes foi fazer debates
de filmes maravilhosos nos cinemas que trabalhei? Um montão! Adoro conversar sobre
cinema com aninha, entende tudo de sétima arte e sempre aprende com nossos
papos.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Espaço Itaú, em
Botafogo. Pela diversidade. Todo multiplex deveria ser assim.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Os Trapalhões no
Planalto dos Macacos, tinha 6 anos. O amor começava ali. Me senti feliz
naquele lugar.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Ingmar Bergman e O Sétimo Selo. A cena da dança da morte
está tatuada no meu braço esquerdo.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Deus e o Diabo na
Terra do Sol, de Glauber Rocha.
É um dos filmes mais importantes de todos os tempos. Através de uma temática
brasileira que remete aos manifestos modernistas de Oswald de Andrade, “Deus e o Diabo...” traduz as facetas da
formação do povo brasileiro e seu caráter messiânico. Ao mesmo tempo é
universal ao desconstruir temas como pecado, moral e culpa. Deus e o Diabo na Terra do Sol é um
filme para agora. Urgente.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
É ver cinco filmes num dia só e sentir que foi o melhor dia
da vida. Aí você me diz: “Ah, Ana, que bobagem. E se metade deles é filme
ruim?”. A gente sempre aprende com os erros.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas
que entendem de cinema?
O que é entender de cinema? Isso é muito relativo. Prefiro
dizer que a programação ideal é aquela que é feita por quem gosta de cinema sem
qualquer tipo preconceito. O programador deveria ver o máximo de filmes
possível. E não apenas o que é apresentado a ele. O profissional precisa ser,
acima de tudo, um pesquisador, buscar o que há fora da caixa.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Todas as tecnologias dos séculos XIX e XX não morreram,
apenas avançaram. Telefone, Rádio, TV, Fotografia e Cinema. Mudaram muito? Sim.
Mas o princípio continua sendo o mesmo. Ir à uma sala de cinema proporciona uma
experiência de imersão que não é completa no sofá da sua sala. Fellini dizia
que cinema é uma experiência de sonho. Quando sonhamos há a luz dos nossos
desejos na escuridão do inconsciente, portanto, não é possível abrir mão dessa
experiência. Além de tudo, ir ao cinema é um movimento social, compartilhado
depois em bons papos e bons textos. Ir à sala de cinema é essencial.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Para a garotada: Os Esquecidos,
do Luis Buñuel.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
A vida é o mais importante, mas países como Nova Zelândia e
Portugal mostram que é possível ir ao cinema em uma situação controlada, mesmo
sem vacina. Creio que aqui a abertura pode ocorrer nas cidades onde a situação
está sob controle. O problema do Brasil é que estamos mergulhados em um
desastre humanitário.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
A partir da retomada em 1995, o cinema brasileiro lançou realizadores
e profissionais com identidade que inspirou uma nova geração. O fato do cinema
brasileiro explorar na última década o cinema de gênero, por exemplo, com
riqueza estética e sem medo, mostra o quanto somos grandes, mesmo caminhando
hoje pelo “vale das sombras da morte”.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
São tantos...Marjorie
Estiano, Matheus Nachtergaele...
12) Defina cinema com
uma frase:
Luz que revela o que somos.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Não me lembro de nada em especial. Só me choco ainda com a
falta de educação das pessoas que conversam alto e usam telefone celular na
sala de cinema. Pensei que iam se educar, mas infelizmente não.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Não vi.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Claro que sim. Como isso é possível, não ser?
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
O mais recente é aquele com Anne Hathaway e Ben Affleck
que está no Netflix. Esqueci o nome.
17) Qual seu
documentário preferido?
Os Olhos de Orson
Welles, do Marc Cousins.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Muitas vezes. Uma inesquecível foi no Cine Leblon para o doc. Vinicius,
do Miguel Faria Jr. Era uma sessão
normal, domingo à tarde, a sala cheia se emocionou. O filme é lindo mesmo.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Feitiço da Lua,
do Norman Jewison. Com Cage e a diva Cher. Uma beleza.