O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Jaboatão dos
Guararapes (Pernambuco). Pedro H. Azevedo
tem 27 anos, segue à risca o conselho do ET Bilu e vive sempre em busca de
conhecimento, estudante de Engenharia Mecânica, aficionado por cinema e todas
as suas possibilidades, também gosta de literatura e se interessa por
tecnologia. Criou, junto com sua irmã gêmea, o Um Toque de Cinema para registrar seus pensamentos e impressões
sobre o cinema. Sonha em fazer seus próprios filmes.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Em Jaboatão, só temos as salas da Cinépolis do Shopping Guararapes, que são boas em qualidade
técnica, mas, como a grande maioria dos multiplex, tem uma programação mais
voltada para os grandes blockbusters e reservam poucas sessões para filmes que
não estão nesse circuito. Felizmente temos Recife aqui do lado que possui uma
maior variedade de cinemas, tanto em multiplex quanto em “cinemas de arte”. Dos
de Recife, o cinema que tem a melhor programação é o Cinema da Fundação. Tem filmes novos de todos os lugares do mundo,
filmes da região e filmes clássicos, além de excelentes mostras e festivais.
Mas é válido falar do histórico Cinema São Luiz, sala histórica e linda do
Recife, que recebe vários festivais e premières.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Essa é difícil de responder. Não lembro de ter passado por
nenhuma grande epifania assistindo a um filme específico, mas momentos chaves
que me levaram a amar o cinema. Meus pais me criaram desde muito pequeno
assistindo a filmes, lembro de ter o VHS de O Rei Leão e minha irmã de A
Branca de Neve e os Sete Anões, e de ficarmos assistindo ambos repetidas
vezes. Também lembro de ir ver as animações da Disney e os filmes da Xuxa
e do Didi nos cinemas, era sempre um
grande evento para mim.
Para não deixar tudo muito vago, cito uma sessão que me
marcou muito na infância. O primeiro filme do Homem-Aranha, de Sam Raimi.
Lembro de ir com minha mãe e irmã e de encontrarmos o cinema do Shopping Recife
abarrotado de gente. Quando fomos comprar os ingressos já não tinham mais
sessões dubladas disponíveis e tivemos que assistir ao filme legendado. Essa
foi minha primeira vez vendo um filme legendado na vida. Foi uma experiência
mágica ver o que eu assistia nos desenhos animados na TV e lia nos quadrinhos
ganharem vida da forma magistral que foi, em uma tela gigante e em uma sala
lotada.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Essa pergunta é cruel demais. Ter que dizer um só nome entre
os vários diretores que me impactaram é bem difícil, mas vamos lá. A posição de
diretor favorito para mim é algo que vai mudando conforme vamos assistindo e
conhecendo mais coisas. Hoje o lugar é de Wong
Kar-Wai e o meu filme favorito dele é sua obra-prima Amor à Flor da Pele.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
O Som ao Redor,
de Kléber Mendonça Filho. Foi o
primeiro filme que eu vi que mostrava algo tão próximo de mim. Eu finalmente vi
Recife, a capital do meu estado e a cidade que eu passo boa parte da minha vida,
na tela grande, com personagens que falavam com o mesmo sotaque e expressões
que a gente usa por aqui, sem nenhuma afetação ou caricatura. Isso me fez
entender melhor o poder de representatividade que o cinema carrega e me fez
enxergar o cinema como algo próximo da minha realidade. Além de tudo isso, o
filme é excelente.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Ser cinéfilo é ser apaixonado por assistir filmes. Quando
digo “apaixonado” é ser meio obcecado com o cinema. É querer se aprofundar cada
vez mais na arte cinematográfica, procurar saber mais da história e da técnica
do cinema, mas não para se gabar por conhecer muito e ter vistos muitos filmes,
mas para sempre aproveitar e ampliar ao máximo a sua experiência com os filmes
que assiste.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por
pessoas que entendem de cinema?
Acredito que a questão nem é de entender ou não de cinema, a
programação da grande maioria das salas são feitas pensando no aspecto
financeiro da coisa e isso dificilmente vai mudar. Se quando Vingadores: Ultimato foi lançado as
redes de cinema passaram ele em praticamente todas as salas foi por causa da
demanda que ele criou, nenhuma exibidora grande iria reduzir o número de salas
de Vingadores para colocar um outro
filme menos conhecido que muito provavelmente não geraria a mesma receita que Vingadores.
Acho que uma maior diversidade na programação dos cinemas
passa muito mais por ampliar a visão do público para o que está sendo feito em
todos os cantos do mundo e no próprio Brasil do que nos programadores das redes
multiplex. Nesse caso, vejo o trabalho dos produtores de conteúdo que falam
sobre cinema e da crítica como os responsáveis por mostrarem as inúmeras
possibilidades que o cinema possui.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
Se algum dia criarem uma realidade virtual que simule com
perfeição uma sala de cinema elas poderão acabar, se não, impossível.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Um Elefante Sentado
Quieto (2018), de Hu Bo. O filme
tem quase 4 horas, mas eu garanto, vale a pena.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Acho que essa pergunta deveria ser respondida por médicos,
virologistas e epidemiologistas que entendem melhor o risco de contágio em uma
sala de cinema. Aqui, Alguns cinemas já reabriram seguindo protocolos de
segurança para minimizarem a chance de contágio, mas eu ainda não tive coragem
de ir e nem sei se vou antes de tomar a vacina contra covid-19.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Muito bom. Confesso que conheço pouco do cinema brasileiro,
mas do que eu ando vendo atualmente, tenho gostado bastante. A presença e os
prêmios ganhos por filmes brasileiros nos grandes festivais internacionais dos
últimos anos são uma prova da qualidade do nosso cinema. Infelizmente a
continuidade dessas conquistas está ameaçada pelo atual governo federal, que
paralisou a ANCINE, abandonou a Cinemateca Brasileira e possui uma política
anti cultura.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Kléber Mendonça Filho.
Até agora todos os seus trabalhos foram excelentes para mim.
12) Defina cinema com
uma frase:
O mais próximo da perfeita materialização da mente, do
coração e da alma humana.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Lembro de uma sessão lotada de algum filme do Harry Potter, não consigo me lembrar
agora qual foi, que um grupo de adolescentes queriam chamar mais atenção do que
o filme. Ficaram fazendo piadinhas e falando alto, até que um outro grupo de
meninas que estavam sentadas duas fileiras a frente deles perderam a paciência
e começaram a gritar com eles. A resposta deles para elas foi jogar pipoca
nelas e elas revidaram na mesma moeda. Sendo que nem todas as pipocas acertavam
os alvos e aí as outras pessoas que eram alvejadas pelos grãos também revidavam
e boa parte da sessão aconteceu com pipoca voando de um lado pro outro.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Esperando o Cinemark
incluí-lo na sessão de clássicos para assistir e dar meu veredito.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Acho que não, só acho estranho querer trabalhar com cinema
sem ser apaixonado por cinema. Eu vi declarações recentes de grandes diretores
como Werner Herzog, David Lynch e Hayao Miyazaki dizendo que mal assistem
a filmes, mas acho que pelo menos na juventude eles tiveram alguma relação
forte com o cinema e depois que criaram uma relação mais pessoal com a
linguagem cinematográfica ficaram desinteressados em ver a visão de outros
autores.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Eragon, de Stefen Fangmeier. Tinha acabado de ler
o livro e quando vi que iria ter um filme fiquei maluco. Fui ver no cinema com
um hype inacreditável e tive a maior decepção em uma sala de cinema na minha
vida, o filme é uma bomba terrível.
17) Qual seu
documentário preferido?
Senna, de Asif Kapadia. Não tem como ser outro.
Assim como o cinema, Fórmula 1 é uma das minha paixões e esse filme é a melhor
combinação já feita entre esses dois mundos.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Já sim, mas não para um filme. Bato palmas em sessões onde
pessoas que trabalharam no filme estão presentes, para prestigiar o trabalho
deles. A mais icônica foi na sessão de estreia de Bacurau no Recife, no lendário Cinema
São Luiz. Tive a honra de assistir junto com boa parte da equipe que fez o
filme, incluindo Kléber Mendonça Filho,
Juliano Dornelles e a maravilhosa Sônia
Braga. As palmas das minhas mãos saíram doendo de tanto batê-las hahahaha.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Adaptação, de Spike Jonze. Acho que ele também está
sensacional em Kick-Ass, de Matthew Vaughn.
20) Qual site de
cinema você mais lê pela internet?
Atualmente leio mais os reviews e vejo as listas feitas por
usuários no letterboxd.
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