02/08/2025

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Crítica do filme: 'A Melhor Mãe do Mundo' [Bonito CineSur]


A Melhor Mãe do Mundo
novo longa-metragem de Anna Muylaert é arrebatador! Não há outra forma de começar esse texto! A desconstrução dos laços familiares surge como ponto de partida de uma trajetória que revela os impulsos necessários para, com os pés no chão e uma dose de criatividade, alcançar o início de um novo caminho. Uma verdadeira aula de narrativa, onde cada cantinho em cena ganha potência — seja pela atuação arrebatadora de Shirley Cruz, seja pela delicada gangorra entre dor e amor que atravessa a trama.

Gal (Shirley Cruz) é uma batalhadora. Trabalha como recicladora de lixo. Certo dia, num ato desesperado para fugir dos absurdos cometidos pelo marido (Seu Jorge), foge de casa junto com seus dois filhos. Durante esse período, fortalece seus laços maternos transformando esse momento numa grande aventura para essas duas crianças.

A ilusão palpável da aventura, quando vista por um olhar indefeso, escapa ao contraponto — ela se revela como complemento. Do pesadelo à esperança, o projeto assume um discurso plural, desdobrando camadas profundas e incessantes de reflexão. Aborda com sensibilidade temas como a maternidade, os relacionamentos abusivos e lança uma luz contundente sobre a violência contra a mulher. Somos capturados pela força desse roteiro, atentos a cada detalhe, enquanto ele escancara verdades que reconhecemos no nosso próprio cotidiano.

Cada detalhe em cena ganha intensidade — tudo salta aos olhos, grita, reverbera. A carga emocional toca fundo, entrelaçando compaixão e dor numa mistura capaz de nos desestabilizar. Os paralelos com a realidade surgem como um estalo: imediatos, incômodos, próximos demais. Quantas vezes vimos casos absurdos de violência contra a mulher estampando os noticiários ou vivenciados de perto? Este filme ultrapassa os limites da ficção, nos puxando de volta para reflexões urgentes deste lado da tela.

Selecionado para a Mostra Competitiva Sul-Americana do Bonito CineSur 2025, A Melhor Mãe do Mundo reafirma o talento de Anna Muylaert em um de seus trabalhos mais intensos e emocionantes. É daqueles filmes que tocam fundo, atravessam barreiras e permanecem com a gente. Uma obra necessária, que todos deveriam assistir.