18/02/2021

Crítica do filme: 'O Elevador'


Quando uma repetição automática nos mostra as facetas escondidas em nosso inconsciente. Em seu primeiro longa-metragem como diretor, o cineasta Daniel Bernal tenta criar um universo de hipóteses dentro da fantasia de um looping temporal através de dois personagens imersos em um relacionamento cheio de arestas para se ajeitar. O Elevador, fita mexicana (com raízes na Espanha), curta, na fronteira entre média e longa-metragem, se pudéssemos definir em poucas palavras, seria: uma trigicômica ficção sobre o tempo e relacionamentos.  


Na trama, acompanhamos um casal, Ana (Marimar Vega) e Sito (Gorka Otxoa), moradores de um prédio de dez andares que após descerem juntos para jogar o lixo fora, percebem, cada um deles em seu momento, estarem presos em um looping (toda vez que o elevador chega ao térreo, eles voltam ao momentos que entram no elevador). Assim, eles precisarão tentar encontrar alguma solução, principalmente quando descobrem como estarem em um mesmo looping.

Dois personagens, praticamente um cenário, em repetições constantes. São variáveis complexas em serem transformadas em um projeto redondo, sem falhas. Quando há a inversão do looping (vocês vão entender se assistirem), o roteiro de alguma forma seu complemento, definindo assim a visão dos dois sobre o relacionamento e o ocorrido. O Elevador não é um filme fácil, abre muitos caminhos através de uma variável pouco explorada que é o tempo, decaindo para o tragicômico a todo instante não possui inflexões para o drama o que de fato acaba deixando o roteiro flexível às loucuras que vamos assistindo. São loucuras mas há um certo sentido se prestarmos a atenção.


Há uma grande lupa para refletirmos sobre o relacionamento dos personagens. Sito é desempregado, que vive do seguro desemprego faz quase um ano, mas usa esse dinheiro para apostas mirabolantes. Ana é amargurada por viver com Sito no apartamento dos pais dele e mesmo gostando muito dele, percebe que ele está sem futuro, completamente confuso em suas atitudes. Ambos jogam palavras e atitudes nas linhas temporais criadas como se fosse um grande divã camuflado de desabafos inconsequentes.