O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Brasília. Breno Matos tem 24 anos. Nasceu e
cresceu no interior do Pará até mudar -se para a capital do país em 2017. Desde
cedo assistindo a muitos filmes e fascinado pelo terror depois de se apavorar
vendo O Exorcista. Apaixonado pela
literatura, é autor de dois romances: POR
TRÁS DE UM SOL e SOBRE PÁSSAROS E
CARACÓIS. Tem um leve crush até hoje pela Amélie Poulain, se arrisca no
violão, e adora umas partidas de xadrez. Sempre buscando aprender cada vez mais
sobre essa arte maravilhosa que é o cinema.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Gosto muito do Cine
Brasília. Não só pela qualidade sonora e um excelente e espaçoso ambiente,
mas pelos filmes selecionados; vários projetos independentes, filmes de arte e
nacionais.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Quando eu assisti O
Fabuloso Destino de Amélie Poulain pela primeira vez, tudo o que eu achava
que sabia sobre filmes caiu por terra, não só porque eu só assistia filmes
americanos geralmente de ação ou comédia filtrados por meu pai, mas porque o
trabalho de Jean-Pierre Jeunet é
fabuloso, desde a narrativa e o visual, até a trilha sonora e atuações. Foi o
filme que me fez querer entender o que é cinema.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Eu acredito que passear entre os diretores consagrados seria
mais do mesmo. Poderia citar Scorsese,
Kubrick, Hitchcock, Fincher que gosto muito, mas vou dizer Pawel Pawlikowski, um polonês que
possui um talento incrível. Vou roubar aqui e citar duas grandes obras dele: Ida (2014) e Guerra Fria (2018).
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
A resposta óbvia seria responder Cidade de Deus (2002), mas novamente para fugir do óbvio, vou dizer
Como Nossos Pais (2017) porque é um
filme muito sensível e incrivelmente bem dirigido pela maravilhosa Laís Bodanzky, que trata de muitos
assuntos importantes com uma suavidade dilacerante. Texto muito bem escrito e
atuações excelentes.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Acho que eu não conseguiria descrever em palavras. É algo
que eu consigo sentir com muita intensidade, mas que faltam argumentos para
explicar. Mas de uma forma rasa: ser cinéfilo é amar o cinema, e amar o cinema
é amar a arte, e amar a arte é amar as formas que as pessoas encontram de
expressar suas dores, desejos e sonhos, e apreciar isso é uma das atitudes mais
simplórias de demonstrar compaixão pelo outro.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por
pessoas que entendem de cinema?
Gostaria de dizer que
sim, mas algo tão lucrativo como o cinema jamais teria controle apenas por
pessoas apaixonadas no assunto. Com exceção de um estabelecimento ou outro, a
grande maioria está mais preocupada com as massas consumindo sem se importar
com o conteúdo distribuído.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
Até existir algum
tipo de apocalipse ou destruição em escala global, acredito que não. O cinema é
uma experiência única que nunca será substituída por duas horas em frente uma
TV em casa.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
A lista é gigante, mas vou ficar com o espetacular Era Uma Vez em Tóquio (1953). Um
clássico absoluto sensível e tocante de Yasujirô
Ozu, que é pra mim, um dos 10 melhores filmes de todos os tempos.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Acredito que é um assunto extenso, mas não; acho que não
deveria mesmo com todos os cuidados, porém eu entendo a reabertura precoce, e
não critico. É uma faca de dois gumes.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Eu acredito que a cada dia o cinema nacional melhora. A cada
ano que se passa mais projetos bons vão surgindo num período curto de espaço
entre eles. Mesmo com uma péssima administração para as campanhas de
premiações, o cinema nacional é rico e merecia ser mais valorizado,
principalmente pelos próprios brasileiros.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Não poderia citar outro se não o Wagner Moura. Sei que é um nome batido, mas sou muito fã do ator, e
acho que ele ainda pode chegar muito mais longe e conquistar muito mais coisas
do que já conseguiu.
12) Defina cinema com
uma frase:
A externalização dos demônios internos de forma simbólica e
disfarçada de tragédias e humor em tela.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Gosto bastante das obras de Denis Villenueve, então, como um
bom fã, fui muito empolgado para a sessão de Blade Runner 2049 (2017), mas para o meu azar, do lado esquerdo
algum tiozão pegou no sono durante o filme e roncava muito alto, e do lado
direito um casal de adolescentes que só pensavam em se agarrar loucamente. Tive
de abandonar a sala pois a minha experiência já estava destruída. Comprei outro
ingresso num horário pela madrugada e só então, com apenas cinco pessoas na
sala, consegui ver o filme tranquilo.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Uma atrocidade sem precedentes que põe em xeque a todo
momento a inteligência e a paciência de seu público!
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Com total e absoluta certeza. Um dom não trabalhado e
estudado nunca sairá da mediocridade.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Crepúsculo
(2008). Começar a argumentar porque essa obra nem deveria ser considerada
cinema é um gatilho para o estresse.
17) Qual seu
documentário preferido?
Confesso que vi poucos documentários na vida, mas sem
dúvidas o que mais me impactou e mexeu comigo foi O.J. Made in America (2016). Acompanhar todas aquelas quase 8 horas
de julgamento foram as mais tensas e enervantes que tive em frente um
documentário.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Em várias. Haha. Mas poucos me fizeram aplaudir de pé com
lágrimas nos olhos; Ela (2013) e La La Land (2016).
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Adaptação (2002)
de Spike Jonze disparado. É um dos
meus filmes favoritos, e o diretor conseguiu extrair do ator uma atuação digna
de Oscar.
20) Qual site de
cinema você mais lê pela internet?
A que eu mais ando lendo ultimamente é a Cahiers du Cinéma. Um site que dispensa
comentários. Sempre aprendo algo novo quando leio um artigo.