16/03/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #317 - Donny Correia


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de São Paulo. Donny Correia tem 40 anos, é mestre e doutor em Estética e História da Arte pela USP e crítico de arte e de cinema, membro da ABRACCINE e ABCA. Publica ensaios e resenhas em periódicos como O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo e Cult. Também atua como professor de História e Linguagem do Cinema em instituições diversas. Publicou seis livros, entre eles Cinematographos de Guilherme de Almeida - antologia da crítica cinematográfica (Editora Unesp, 2016) e Cinefilia crônica - comentários sobre o filme de invenção (Editora Desconcertos, 2018).

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Sempre gostei muito do Espaço Itaú Unibanco, desde quando ainda Espaço Banco Nacional, pela programação diversificada e fora do circuito estritamente comercial. Vi muitos filmes europeus, asiáticos etc. O Reserva Cultural também é uma boa pedida.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O gabinete do Dr. Caligari (1920).

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Walter Hugo Khouri; Noite vazia (1964).

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

A idade da Terra, de Glauber Rocha. É um filme-tese, um anti-filme e um filme-síntese, tudo ao mesmo tempo, do cinema revolucionário e experimental. Uma ópera esquizofrênica que tenta dar conta da origem e do destino da humanidade por meio da religião e da política. O som do filme é um destaque à parte.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Cinefilia é uma diversão e uma responsabilidade. O cinéfilo não é aquele que gosta de ver filmes por lazer, apenas. Um cinéfilo mergulha na espinha dorsal do cinema para desvendar aquilo que está por trás de uma obra fílmica. O cinéfilo também é um privilegiado, que nasceu com a curiosidade aumentada e a sensibilidade aflorada no máximo grau, para a fruição estética.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feita por pessoas que entendem de cinema?

Os cinemas atendem as demandas do mercado exibidor. Não se trata de programar coisas boas ou ruins, ou de entender o cinema. Os distribuidores têm suas prerrogativas e o cinema é apenas a última parte da esteira da produção de um filme.

 

Agora, se formos falar de mostras específicas ou cineclubes, aí sim, o papel do curador é crucial. Não é possível programar algo construtivo sem o mínimo conhecimento do assunto. Normalmente, pelo que vejo, nesses casos a curadoria parece conhecer bem o assunto.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Creio que não, mas se tornarão, cada vez mais, espaços dedicados aos cinéfilos e entusiastas de um tempo em que as salas de cinema e as videolocadoras eram os únicos meios de se ter acesso a obras mais específicas.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

A Serbian Film.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Há ótimos filmes produzidos nos últimos 10 anos, de maneira muitas vezes independentes e feitos com muita paixão, em primeiro lugar. O problema é o interesse do distribuidor em colocar um filme brasileiro em cartaz, quando há uma chuva de produções megalomaníacas americanas, que arrestam todo o circuito.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Kléber Mendonça Filho.

 

12) Defina cinema com uma frase:

A Vida (com V maiúsculo mesmo) dentro da vida (com v minúsculo mesmo).

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Fui assistir ao A idade da Terra numa Mostra, em 2007. Ao final, dois desconhecidos, na fileira atrás de mim, começaram a bater boca por causa do Glauber Rocha! Pasmem!! Até que um deles se levantou e berrou “RESPEITA O GLAUBER!” e pulou em cima do outro já distribuindo socos. Jamais imaginei ver uma discussão sobre um cineasta terminar em pancadaria e dentro do cinema!

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Uma pérola! É o "Plan 9 from outer space" ou o "The Room" do Brasil. Tão ruim, que se torna delicioso de se ver.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Vocês acham possível que um psicanalista possa atender clientes sem gostar de Freud, Jung e Lacan? Ou, poderia um arquiteto fazer um trabalho original e inteligente sem conhecer Niemeyer ou Le Corbusier, por exemplo?

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Qualquer coisa do Godard, menos Alphaville. Também tem o Robocop, do Padilha, que destruiu um herói da minha infância.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Arquitetura da destruição, de Peter Cohen.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Sim! Muitas vezes. Desde que vi Batman, do Tim Burton, aos 9 anos.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

O que ele ainda não fez. Mas, vá lá, O senhor das armas é bacana!

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Cinemascope, até porque sou da equipe. Papo de cinema é também um ótimo site.