Os devaneios do caminhante solitário. Um político cansado, que não consegue mais pensar. Uma jovem que volta à França depois de alguns anos e vai trabalhar nos bastidores da política mesmo não tendo nenhuma experiência dessas antes. Escrito e dirigido pelo cineasta parisiense Nicolas Pariser, Alice e o Prefeito, que chega aos cinemas dia 27 de maio, transforma os maçantes e embaralhados temas da política em crônicas sociais com paralelos utópicos e o entendimento das razões práticas surgindo muitas vezes através de grandes pensamentos desse e de outros séculos.
Na trama, conhecemos Alice (Anaïs Demoustier), uma jovem formada em letras que consegue um
emprego na prefeitura de Lyon. Recrutada para uma vaga inexistente e logo em seguida
recrutada para outra, acaba sendo uma das pessoas mais próximas do prefeito Paul
Théraneau (Fabrice Luchini) sendo
responsável em pouco tempo por pautas importantes como discursos dele. Assim, somos
testemunhas de debates com argumentações didáticas sobre esquerda, direita,
progressistas, socialistas, dentro dos bastidores tumultuados e sempre
exigentes da prefeitura dessa grande cidade francesa.
A experiência na política acaba fazendo a protagonista
entrar em certo colapso emocional passando a ter mais dificuldades para achar o
sentido de como chegou até ali. Crise existencial? Sim, o filme toca nesse tema
a todo instante seja na ótica do experiente e já perto da aposentadoria
prefeito, seja na da jovem fera em filosofia de 30 anos, com sua visão de fora,
não acostumada às práticas políticas. E falando nesses extremos de visões sobre
a vida por conta da distância das gerações, o roteiro é sublime em conseguir
achar os pontos de interseção e transformá-los em agradáveis diálogos, alguns
até mesmo esclarecedores sobre situações políticas europeias atuais. Temas como
a modéstia (o mais objetivo contraponto do senso comum da arrogância) e a filosofia
como terapia são colocados aos nossos olhos, além de inúmeras definições sobre
o que seria uma ideia.
Os contornos desenvolvidos dentro de paralelos elevam a qualidade
desse longa-metragem, ganhador do prêmio de Melhor Atriz na última edição do
Oscar Francês (o Cesar). Dentro disso, um interessante paralelo com a arte é
exibido em forma de debates sobre a literatura de clássicos, pinturas, na ópera
até mesmo nas reflexões sobre a perda do crédito local que afeta formas
civilizadas de vida. Um filme que poderia ser bem chato se torna uma leve e
grande aula sobre a existência.