O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Palmas (Tocantis).
Túlio de Melo tem 35 anos, é filósofo
e cineasta-documentarista, professor e pesquisador no campo da filosofia do cinema.
É formado em filosofia, onde desenvolveu uma pesquisa no campo da filosofia do
cinema para educação. Mestrando, desenvolvendo uma pesquisa no campo do cinema
documentário. Cineasta- documentarista diretor e roteirista do longa Performance do Real e do curta Zé onça, relatos de uma memória.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Cine Cultura. É
um cinema que fica em um espaço cultural da cidade. A minha preferência é
porque esse cinema abre espaço para um formato de exibição e debate, mostra
cinema estudantil e exibe alguns filmes que normalmente os cinemas comerciais não
exibem.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar
diferente.
A sociedade do
espetáculo – um filme de 1973 de Guy
Debord – um filme que utiliza da linguagem do cinema para reproduzir a sua
crítica à sociedade. “O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma
relação social entre pessoas, mediada por imagens.” (DEBORD, A sociedade do
espetáculo, p.14, 1997). Esse filme é a reprodução da obra escrita de Guy Debord
dirigido por ele mesmo. A utilização da linguagem cinematográfica como ferramenta
de crítica e de reflexão à sociedade.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
São vários. Eduardo
Coutinho - Edifício máster de
2002.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
São vários também, em especial documentários. Vou fazer uma
citação de um documentário atual. Estou
me guardando para quando o carnal chegar, um longa lá de Pernambuco de Marcelo Gomes, 2019.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Aquele que utiliza do cinema como ferramenta de reflexão.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas
que entendem de cinema?
Os que eu conheço acredito que sim.
7) Algum dia as
salas de cinema vão acabar?
Acredito que não. A experiência de ver um filme em uma sala
de cinema é única. O que pode acontecer futuramente, ou não, é uma modificação
do formato das salas de cinema.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
O meu documentário longa-metragem, Performance do Real.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
No caso já temos a vacina. Porém, sou contra a reabertura
das salas de cinema, acredito que a vida e a saúde das pessoas estão sempre em primeiro
lugar. Nesse momento o cinema se reinventa com exibição de filmes num formato
digital.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Eu sou apaixonado pelo cinema brasileiro, na verdade eu prefiro
valorizar a nossa arte o nosso cinema em qualquer tipo de situação, principalmente
no atual momento de desmonte do cinema nacional. É obvio que devemos apreciar e
conhecer todo tipo cinema, porém, o cinema brasileiro é a nossa identidade, é a
forma que os nossos artistas se expressam à frente da nossa cultura e das
nossas possibilidades. Como eu sou fã do cinema brasileiro, eu acho que a qualidade
do cinema nacional é boa tendo em vista que não há grandes investimentos. No
atual momento, estamos vivendo um certo retrocesso do cinema nacional por conta
da pandemia e das questões políticas do atual governo, porém, o cinema
brasileiro resistirá.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Eu gosto muito de ver inúmeras obras de cineastas documentaristas.
Eu sempre fui fã das obras de Eduardo
Coutinho.
12) Defina cinema com
uma frase:
A arte em imagem-movimento.
13) Conte uma história
inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Antes da pandemia, eu fui assistir ao filme Bacurau e percebi um comportamento completamente
diferente do que normalmente as pessoas agem no cinema. Eu acho interessante
destacar essa história porque eu pude observar várias questões que deveriam
acontecer com mais frequências, como as salas de cinema lotadas para assistir a
um filme brasileiro. O mais interessante era a vibração das pessoas durante algumas
cenas, as pessoas vibravam, gritavam e batiam palmas em determinadas cenas ao
longo do filme. As pessoas comentavam como se estivesse em casa assistindo um filme
com os amigos, foi uma exibição completamente inusitada e positiva.
14) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Ao meu ver, uma das principais características dos cinéfilos
é a capacidade de pensar e refletir sobre o cinema em diversos aspectos. Eu acho
interessante a fala de Julio Cabrera
que diz que o cinema pensa e dar-se-á pensar. Desse modo, é extremamente necessário
que os cineastas sejam cinéfilos e que produzam imagens que sejam capazes de
desenvolver a capacidade de pensar e refletir sobre uma determinada história.
Por um outro lado, eu acredito também, que existe sim a possibilidade de um cineasta
produzir uma boa obra de forma inconsciente, aquele cineasta que produziu um grande
filme sem um direcionamento à produção de imagens que possibilite à uma questão
crítica ou uma questão filosófica sobre a imagem.
15) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Essa pergunta é a mais difícil, é muito complicado definir/classificar
uma obra como ruim. Por mais que exista uma obra que não me agrada, eu acho que
ela tem o seu valor, o trabalho independente do resultado deve ser sempre
considerado.
16) Qual seu
documentário preferido?
Um curta que já estou quase estreando. Zé onça, relatos de uma memória. Eu tenho um carinho especial por
esse doc porque ele conta a história do meu pai.
17) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Sim, várias vezes, quase sempre.
18) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Já assistir vários, mas confesso que não me recordo de uma
atuação específica que tenha me marcado. A minha ligação com cinema é mais
forte no campo do cine- documentário.
19) Qual site de
cinema você mais lê pela internet?
Pensamento cinema.
20) Qual streaming
disponível no Brasil você mais assiste filmes?
Originou. Um streaming
que o meu doc-longa está.