A busca da própria verdade pessoal. Ganhador do Urso de Prata de Melhor Direção (Angela Schanelec) em Berlim no ano de 2019, Eu Estava em Casa, Mas... é um curioso longa-metragem alemão de planos quase estáticos, muito atento aos detalhes. Mas a questão é essa: que detalhes seriam esses? Alguns vão achar que é um filme sobre o nada, outros uma mera e caótica tentativa de trazer para debate conflitos que podemos enxergar na realidade, na vida real, ligados à família, pais e filhos, dentro de um panorama europeu. Em certo momento, possui uma certa desponderação sobre a arte rebatendo a pergunta: O quão raso e vazio pode ser o atuar perante os olhos de quem não consegue conscientizar? Estreia nos cinemas no dia 10 de junho.
É difícil até definir a trama. Basicamente gira em torno de
uma mulher chamada Astrid (Maren Eggert),
mãe de duas crianças, viúva faz dois anos de um ex-diretor de teatro, consumida
por problemas pessoais e dificuldades de interagir, seja em casa na educação de
seus filhos, seja na rua com terceiros. Seu filho mais velho some por um tempo
e reaparece todo sujo, gerando debates sobre o ocorrido na escola. Os dias passam
e Astrid busca compreender a vida sob várias óticas.
As imagens possuem grande força quando paramos e buscamos
compreender os personagens e as referências que produzem. Obviamente é um
quebra-cabeça com peças faltando, o exercício se torna preenchermos as lacunas
a partir do que entendemos. Parece que estamos folheando um complicado livro de
filosofia onde as reflexões chegam por meio de metáforas enigmáticas. Há um
movimento sobre a solidão, o estar só, isso é uma certeza a partir da sofrida
personagem que parece estar em volta de uma depressão constante, perdida no seu
tempo como mãe, como mulher, com seu pensar crítico sobre uma sociedade e seus
mínimos detalhes (parábola da bicicleta que permeia o roteiro).
De sentido concreto, há espaço para um intenso debate sobre
a arte e alguns dos seus significados. Os paralelos sobre a essência da razão
individualista, das inúmeras formas de interpretar, o raso e o vazio e
principalmente as emoções que a arte nos traz. Em certo ponto parece até uma
conversa com o espectador, principalmente na parte ao redor disso que
transborda na paciência.