O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Nova Iguaçu (Rio
de Janeiro). Drielle Moura tem 25
anos. É atriz, produtora, diretora e pesquisadora graduanda pela UNIRIO. Foi
geradora da rede SapienScia, um site e canal de conteúdos em registro de rodas
populares, batalha de rap, e intervenções teatrais pela Baixada fluminense, RJ.
Desenvolveu junto ao Afroreggae - Núcleo Cantagalo, oficinas de contação de
histórias e confecção de instrumentos com materiais recicláveis. Integra o
núcleo Imersivo em Dança pela Cia 'Lia Rodrigues de dança' e Rede Artes da Maré
e integra o Coletivo Matuba de pesquisa das manifestações populares brasileiras.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Se eu puder escolher uma sala de cinema favorita em relação
à programação, não seria uma sala, mas, uma praça. Quando penso em um momento
que me toca e me provoca até hoje na minha relação com o cinema é a lembrança
de quando aconteciam na minha cidade, intervenções de Cinema na Praça dos direitos humanos em Nova Iguaçu, que fica na
Via Light, principal Via da cidade. Na época organizado pelo Cine buraco do Getúlio, tinha como
prática tanto a exibição de filmes de grandes produções quanto filmes e curtas de
artistas locais.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Com certeza o filme Eles
não usam Black tie de Guarniere. Eu me tornei cinéfila por causa do teatro,
se deu como um encontro pra mim. Este filme foi uma peça antes de ser filme,
então eu primeiro pude ler sobre aqueles personagens, aquela história e seus
cruzamentos com o momento político do país na época, e depois, pude assistir a
obra quanto concepção cinematográfica o que ampliou a minha experiência, o
filme conta com presenças consagradas como Dona Fernanda Montenegro, Bete Mendes, Milton Gonçalves e o próprio
autor Gianfrancesco Guarniere e me
foi ali uma "virada de chave" no meu modo de olhar o cinema.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Visando os clássicos, eu diria o Alfred Hitchcock e o meu filme favorito dele é Janela Indiscreta que apesar de não ser considerado o melhor filme
dele, é o meu queridinho. Além de ser impecável na fotografia, as escolhas dos
quadros tem uma aspiração bucólica, mesmo se passando em contexto urbano, que
me encanta. Também os detalhamentos da narração em relação a descoberta da
lente me desperta quanto espectadora. Toda vez que reassisto descubro um
detalhe a mais sobre os vizinhos de Jeffries.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Aqui me toca profunda e diretamente, porque eu só poderia
dizer O Auto da compadecida na
direção de Guel Arraes e autoria de Ariano Suassuna. Por ser um filme
clássico popular, que desenvolve uma trajetória muito bonita entre a oralidade,
a experiência de morte e vida, identidade de um povo e colabora para um retorno
ao lúdico.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Ser cinéfilo pra mim é a qualidade de degustar histórias com
os olhos, ouvidos, com a imaginação e as vezes com o tato e o paladar. Rs.
Além de ser alguém que está atento às produções do clássico ao
independente e grandes produções mesmo que com suas preferências.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por
pessoas que entendem de cinema?
Não acho. Pensando em salas gerais espalhadas pela cidade, a
maioria são compostas por uma organização de demanda comercial, não
necessariamente declaram uma prioridade a arte do cinema, mas, sim ao comércio.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
Não acredito que acabariam, apesar de haver uma diminuição
de público as salas, talvez ela mude suas ferramentas, talvez não tenham mais
bilheteiros, lanterninhas, atendente das lanchonetes que acompanham uma sala de
cinema... questão que merece um debate profundo, comparações, dados e inclusive sobre as salas de cinema
pós pandemia.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
A história da
eternidade.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Não deveriam. Falo isto com aperto, mas, zelando pelo
remanejo das atividades em função do bem estar e saúde. Estamos caminhando no
número de pessoas vacinadas, e com isto já tenho visto o movimento de retomada
das salas, pois eu espero decisões de segurança quanto a quantidade de cadeiras
disponíveis, higienização e que sigam todos os protocolos de prevenção.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
O cinema brasileiro é muito potente. Ele não é um gênero
único, o cinema brasileiro são vários cinemas. E cada qual tem representado bem
seus interesses.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Irandhir Santos é
um ator que me inspira e quanto atriz, se vejo seu nome envolvido, com certeza
irei assistir.
12) Defina cinema com
uma frase:
Vou usar Chaplin
pra isso..
" Num filme o que importa não é a realidade, mas o que
dela possa extrair a imaginação.” Charles
Chaplin
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Em Copacabana existe uma sala de cinema antiga chamada Cine Joia, é uma sala que eu adoro, me
sinto em casa. Os acentos são coloridos, foi lá que pela primeira vez eu entrei
pra ver um filme tomando uma long neck de cerveja e onde eu me sentia à vontade
pra marcar alguns dates. Bom, é um
espaço bem independente... e pra um
encontro que tive com um rapaz barrense, foi pra lá que eu o chamei. O filme
era Aquarius, e cerca de 3 min
depois que começou o filme, percebemos que o som não estava funcionando. Então alguém que estava numa fileira mais a
frente deu um grito pra técnica " Aloooou, tá sem som... O SOOM ! ". E então o filme parou, a tela
ficou escura e um barulho muito família ecoou pela sala. O som de alguém
batendo fortemente em uma máquina, como quando a TV parabólica ou por antena
parava de funcionar em casa e se batia nela com ódio. O que sempre funciona e
também funcionou naquele momento porque a partir daí o áudio e a imagem
entraram em concordância. Mas, eu e mais uns 3 senhores de outras fileiras
tivemos uma crise de riso que durou até os 15 primeiros minutos do filme. Já a
minha companhia não se divertiu tanto com o acontecimento, e foi aí que eu descobri
que não ia dar em nada.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Nunca nem vi.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Com toda certeza, eu acho que é preciso ser cinéfilo mesmo
que não se assuma esta posição ou se escolha uma relação mais técnica do
"por trás do cinema". Um filme se faz de muitas mãos, ser cinéfilo e
ser diretor pode se dar com sucesso em vertentes muitas, e ser um diretor
aborda impulsionar relações e experiências conquistadas pela prática.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
"Não sou capaz de opinar."
17) Qual seu
documentário preferido?
No momento, é um documentário de 2018 disponível na Netflix, mas que eu só descobri
agora. Se chama Tales by light conta em 3 episódios a trajetória de fotógrafos e
cinegrafistas por civilizações distintas
em busca do click perfeito. As imagens são lindas, os lugares carregados de
símbolos e poéticas que mexem com o nosso imaginário e poder conhecer mais
sobre a pratica e expectativa atrás do click é valorizar o trabalho da
fotografia. Como podem ver eu sou uma apaixonada pela realidade da imagem.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Sim, principalmente se for estreia e se as diretoras (o), as
atrizes (o) e equipe estiverem presentes. Hahah Mas, o último filme que aplaudi
e continuo, foi ' A Vida Invisível
lançado em 2019 e direção de Karim
Ainouz.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Gosto de Senhor das
armas, Cidade dos anjos e Motoqueiro
fantasma. Nessa ordem.
20) Qual site de cinema
você mais lê pela internet?
O Adoro cinema é
um lugar que desde que me lembro por gente, consumo informações e conteúdos
sobre o cinema. Mas também o Cinema com
rapadura, o Itaú Cine que 'vira e mexe' disponibiliza muitas críticas,
análises e apontamentos sobre filmes. O próprio instagram também tem fortalecido
muito na habilidade crítica, como o Cinematologia
e o Guia de cinema.
21) Qual streaming
disponível no Brasil você mais assiste filmes?
Netflix.