18/07/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #478 - Drielle Moura


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Nova Iguaçu (Rio de Janeiro). Drielle Moura tem 25 anos. É atriz, produtora, diretora e pesquisadora graduanda pela UNIRIO. Foi geradora da rede SapienScia, um site e canal de conteúdos em registro de rodas populares, batalha de rap, e intervenções teatrais pela Baixada fluminense, RJ. Desenvolveu junto ao Afroreggae - Núcleo Cantagalo, oficinas de contação de histórias e confecção de instrumentos com materiais recicláveis. Integra o núcleo Imersivo em Dança pela Cia 'Lia Rodrigues de dança' e Rede Artes da Maré e integra o Coletivo Matuba de pesquisa das manifestações populares brasileiras.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Se eu puder escolher uma sala de cinema favorita em relação à programação, não seria uma sala, mas, uma praça. Quando penso em um momento que me toca e me provoca até hoje na minha relação com o cinema é a lembrança de quando aconteciam na minha cidade, intervenções de Cinema na Praça dos direitos humanos em Nova Iguaçu, que fica na Via Light, principal Via da cidade. Na época organizado pelo Cine buraco do Getúlio, tinha como prática tanto a exibição de filmes de grandes produções quanto filmes e curtas de artistas locais.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Com certeza o filme Eles não usam Black tie de Guarniere. Eu me tornei cinéfila por causa do teatro, se deu como um encontro pra mim. Este filme foi uma peça antes de ser filme, então eu primeiro pude ler sobre aqueles personagens, aquela história e seus cruzamentos com o momento político do país na época, e depois, pude assistir a obra quanto concepção cinematográfica o que ampliou a minha experiência, o filme conta com presenças consagradas como Dona Fernanda Montenegro, Bete Mendes, Milton Gonçalves e o próprio autor Gianfrancesco Guarniere e me foi ali uma "virada de chave" no meu modo de olhar o cinema.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Visando os clássicos, eu diria o Alfred Hitchcock e o meu filme favorito dele é Janela Indiscreta que apesar de não ser considerado o melhor filme dele, é o meu queridinho. Além de ser impecável na fotografia, as escolhas dos quadros tem uma aspiração bucólica, mesmo se passando em contexto urbano, que me encanta. Também os detalhamentos da narração em relação a descoberta da lente me desperta quanto espectadora. Toda vez que reassisto descubro um detalhe a mais sobre os vizinhos de Jeffries.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Aqui me toca profunda e diretamente, porque eu só poderia dizer O Auto da compadecida na direção de Guel Arraes e autoria de Ariano Suassuna. Por ser um filme clássico popular, que desenvolve uma trajetória muito bonita entre a oralidade, a experiência de morte e vida, identidade de um povo e colabora para um retorno ao lúdico.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser cinéfilo pra mim é a qualidade de degustar histórias com os olhos, ouvidos, com a imaginação e as vezes com o tato e o paladar.  Rs.  Além de ser alguém que está atento às produções do clássico ao independente e grandes produções mesmo que com suas preferências.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não acho. Pensando em salas gerais espalhadas pela cidade, a maioria são compostas por uma organização de demanda comercial, não necessariamente declaram uma prioridade a arte do cinema, mas, sim ao comércio.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não acredito que acabariam, apesar de haver uma diminuição de público as salas, talvez ela mude suas ferramentas, talvez não tenham mais bilheteiros, lanterninhas, atendente das lanchonetes que acompanham uma sala de cinema... questão que merece um debate profundo, comparações,  dados e inclusive sobre as salas de cinema pós pandemia.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

A história da eternidade.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não deveriam. Falo isto com aperto, mas, zelando pelo remanejo das atividades em função do bem estar e saúde. Estamos caminhando no número de pessoas vacinadas, e com isto já tenho visto o movimento de retomada das salas, pois eu espero decisões de segurança quanto a quantidade de cadeiras disponíveis, higienização e que sigam todos os protocolos de prevenção.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O cinema brasileiro é muito potente. Ele não é um gênero único, o cinema brasileiro são vários cinemas. E cada qual tem representado bem seus interesses.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Irandhir Santos é um ator que me inspira e quanto atriz, se vejo seu nome envolvido, com certeza irei assistir.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Vou usar Chaplin pra isso..

" Num filme o que importa não é a realidade, mas o que dela possa extrair a imaginação.” Charles Chaplin

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Em Copacabana existe uma sala de cinema antiga chamada Cine Joia, é uma sala que eu adoro, me sinto em casa. Os acentos são coloridos, foi lá que pela primeira vez eu entrei pra ver um filme tomando uma long neck de cerveja e onde eu me sentia à vontade pra marcar alguns dates.  Bom, é um espaço bem independente...  e pra um encontro que tive com um rapaz barrense, foi pra lá que eu o chamei. O filme era Aquarius, e cerca de 3 min depois que começou o filme, percebemos que o som não estava funcionando.  Então alguém que estava numa fileira mais a frente deu um grito pra técnica " Aloooou, tá sem som... O  SOOM ! ". E então o filme parou, a tela ficou escura e um barulho muito família ecoou pela sala. O som de alguém batendo fortemente em uma máquina, como quando a TV parabólica ou por antena parava de funcionar em casa e se batia nela com ódio. O que sempre funciona e também funcionou naquele momento porque a partir daí o áudio e a imagem entraram em concordância. Mas, eu e mais uns 3 senhores de outras fileiras tivemos uma crise de riso que durou até os 15 primeiros minutos do filme. Já a minha companhia não se divertiu tanto com o acontecimento, e foi aí que eu descobri que não ia dar em nada.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Nunca nem vi.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Com toda certeza, eu acho que é preciso ser cinéfilo mesmo que não se assuma esta posição ou se escolha uma relação mais técnica do "por trás do cinema". Um filme se faz de muitas mãos, ser cinéfilo e ser diretor pode se dar com sucesso em vertentes muitas, e ser um diretor aborda impulsionar relações e experiências conquistadas pela prática.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

"Não sou capaz de opinar."

 

17) Qual seu documentário preferido?

No momento, é um documentário de 2018 disponível na Netflix, mas que eu só descobri agora.  Se chama Tales by light conta em 3 episódios a trajetória de fotógrafos e cinegrafistas  por civilizações distintas em busca do click perfeito. As imagens são lindas, os lugares carregados de símbolos e poéticas que mexem com o nosso imaginário e poder conhecer mais sobre a pratica e expectativa atrás do click é valorizar o trabalho da fotografia. Como podem ver eu sou uma apaixonada pela realidade da imagem.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?

Sim, principalmente se for estreia e se as diretoras (o), as atrizes (o) e equipe estiverem presentes. Hahah Mas, o último filme que aplaudi e continuo, foi ' A Vida Invisível lançado em 2019 e direção de Karim Ainouz.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Gosto de Senhor das armas, Cidade dos anjos e Motoqueiro fantasma. Nessa ordem.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

O Adoro cinema é um lugar que desde que me lembro por gente, consumo informações e conteúdos sobre o cinema. Mas também o Cinema com rapadura, o Itaú Cine que 'vira e mexe' disponibiliza muitas críticas, análises e apontamentos sobre filmes. O próprio instagram também tem fortalecido muito na habilidade crítica, como o Cinematologia e o Guia de cinema.

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Netflix.