O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de São Paulo. Tay Lopez tem 41 anos. É ator.
Pernambucano, iniciou sua carreira em 1991. Em seu currículo constam mais de 50
espetáculos. Atuou sob a direção de Antônio Abujamra, Antonio Guedes, Tiche
Vianna, Sérgio Ferrara, Marco Antônio Rodrigues, Luciana Lyra, Márcio Araújo,
Carlos Carvalho, José Pimentel, Roberto Costa e há 19 anos é integrante do
Grupo XPTO, uma das companhias mais premiadas do Teatro Paulistano, sob a
direção de Osvaldo Gabrieli. Realizou atividades formativas com expressivos
diretores e grupos de teatro. Estreou no audiovisual na série da TV Globo,
"A PEDRA DO REINO", sendo dirigido por Luiz Fernando Carvalho. No
filme "ÚLTIMA PARADA 174", de Bruno Barreto, deu vida ao pastor
Jaziel. Atuou no telefilme "A MUSA IMPASSÍVEL", sendo dirigido por
Marcela Lordy. Trabalhou ainda com Vinícius Coimbra no filme "A HORA E A VEZ
DE AUGUSTO MATRAGA". Em 2018, esteve na segunda temporada da série
"CARCEREIROS". Protagonizou o especial de fim de ano, "A
PRESEPADA", exibido pela TV Globo e dirigido por Rodrigo César, que também
assina a direção de "LUCICREIDE VAI PRA MARTE", longa em que
interpreta o físico da NASA Edgard. No seu currículo constam ainda críticas
relevantes, prêmios e temporadas em festivais no exterior e em todo o Brasil.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Minha sala preferida é o Cine Marquise, do Conjunto Nacional que já mudou de nome várias
vezes. Acho muito charmoso o fato de ter a abertura da cortina antes de cada
sessão, gosto bastante do Café e o espaço entre as poltronas é digno das
antigas salas de rua. Porém, com relação à programação, o espaço Itaú Augusta é o meu preferido. Dá pra ir sem consultar a
programação, escolher o filme enquanto está na fila da bilheteria e ser
surpreendido com uma ótima sessão. Além de ser um ponto de encontro entre os
trabalhadores da cultura.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
O primeiro filme que me fez chorar e entrar em contato com
uma emoção nova foi o Em Algum Lugar do
Passado. Assisti na TV e foi um marco pra mim aquela sensação. Um menino
tentando entender o que uma obra de arte podia fazer com nosso imaginário. No
cinema, o primeiro filme que me inquietou bastante foi o Dança com Lobos.
Criança ainda, Lembro que saí cheio de questões, querendo entender melhor
aquelas metáforas. Mas claro que todas as aventuras dos Trapalhões, fizeram
parte da minha diversão aos domingos.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Poxa... muito difícil pedir pra alguém que gosta tanto de
cinema pra escolher apenas um representante de seu gosto pessoal. Admiro
bastante a filmografia de Lars von
Trier, Lynch, Bergman, Woody Allen, Tarantino, Almodóvar... dos fora da
curva: Jodorowsky, Apichatpong...dos
italianos: Fellini, Pasolini, Bertolucci...
Gosto bastante também dos brasileiros, sobretudo os nordestinos: Kléber Mendonça Filho, Cláudio Assis,
Marcelo Gomes, Karim Aïnouz, Lírio Ferreira, Gabriel Mascaro... Dos
cineastas do cinema novo: Glauber, Cacá Diegues... dos que flertaram com uma
carreira internacional: Babenco, Fernando
Meirelles, José Padilha... Realmente são muitos... E como um
quebra-cabeças, todos eles me formaram e
habitam meu imaginário. Mas vamos lá...
tem que escolher um. Então escolho um filme: Dogville! Pelo impacto experimental que ele proporcionou à época.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Vou ficar devendo uma resposta sucinta pra esse quesito
também. Sendo assim, escolho: Lavoura
Arcaica, do Luiz Fernando Carvalho e Central do Brasil, do Walter Salles.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
É entender que a experiência cinematográfica é mais
importante que tudo. Seja num curta alternativo, num longa do mainstream ou num
achado especial de um festival internacional o que vale é mergulhar na tela e
ser atravessado por essa arte que nos faz pensar e que nos enche os sentidos de
luz. É tentar enxergar no invisível, entre a tela e o meu olhar, que língua é
aquela que estão nos falando... é ser flechado por uma ação inesquecível de
determinado personagem.... é ser
embalado por uma trilha que nos sussurra nos ouvidos, o segredo das musas...
pra mim, ser cinéfilo é estar disponível para ser mais um integrante do filme
que você assiste.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas
que entendem de cinema?
Sim, acredito que nos cinemas que frequento existe uma
curadoria. Mas dependendo de que sala estamos falando, tem toda uma questão
relacionada às distribuidoras, aos realizadores e à bilheteria.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
Acho que a experiência cinematográfica numa sala escura faz
parte da necessidade de transcendência... Acho que com o tempo elas podem se
adequar aos costumes de uma época. Mas não creio que elas acabarão não.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
A trilogia da vingança:
Mr. Vingança, Oldboy e Lady
Vingança, dirigidos por Park Chan-wook. Principalmente o OldBoy.
9) Você acha que as
salas de cinema devem abrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Elas já estão abrindo aos poucos seguindo os protocolos. Com
lotação reduzida, uso de máscara e outras medidas protetivas. Acredito que essa
retomada das atividades virá em ondas... podemos levar em consideração os
estudos que estão sendo feitos em países com maioria da população já vacinada
e, dependendo da evolução nesses países, seguimos os mesmos passos por aqui.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Acho que temos um cinema maiúsculo. Conseguimos números
impressionantes com os filmes mais comerciais, mesmo concorrendo com
superproduções hollywoodianas e estamos cada vez mais fazendo bonito nos
festivais internacionais com nosso cinema de "vanguarda". O cinema
nacional está sendo apresentado com excelência técnica no mercado. Com fotografia, sonorização e demais
qualidades impecáveis... fico muito feliz em ver que, apesar de nem sempre
termos tantos recursos disponíveis, conseguimos produzir obras memoráveis.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Por ser ator e por ter acompanhado de perto seu trabalho,
quando estivemos juntos no elenco de A
Pedra do Reino, não posso deixar de citar o Irandhir Santos. Pude observar as minúcias, nos bastidores, de sua
construção. De fato, trata-se de uma Figura onipresente no audiovisual
brasileiro e faço questão de acompanhar suas criações. E ele sempre me
surpreende.
12) Defina cinema com
uma frase:
Cinema é silenciar ou dar voz ao barulho dentro da gente.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
A situação aconteceu comigo mesmo. Sou um pouco medroso pra
filmes de terror realistas. Decidi assistir uma edição remasterizada do
clássico, O Exorcista. Fui bastante
receoso, pois durante muito tempo o filme foi considerado o mais assustador de
sua geração. Era uma oportunidade única de ver aquela cópia numa sala de
cinema. Como eu já tinha visto inúmeras matérias de making-of e sabia cada
truque usado nas sequências apavorantes, e entendendo do pouco avanço técnico
nos efeitos especiais, o filme só conseguiu me causar risadas. Tive que me
segurar pra não atrapalhar a experiência fantasmagórica dos outros pagantes da
sessão.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Um clássico.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Não necessariamente. Repertório sensível é uma ajuda muito
grande. Formação teórica e referências são importantes também. Mas nem sempre o
diretor consegue transpor isso pro seu filme e colocar sua assinatura. Da mesma
forma que existem artistas com ideias geniais e são apenas artistas populares.
Acho que se o diretor tem uma boa equipe e se ele conseguir ser o maestro no
set, não precisa ser um cinéfilo não. Basta saber trabalhar em equipe e ter uma
escuta pra isso.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Vou ficar te devendo essa resposta. Tendo a ser indulgente
com a arte e com as pessoas, então me sinto incapacitado em citar o trabalho de
toda uma equipe com o peso de ser a pior coisa que eu já tenha visto na vida.
Claro que vi coisas pouco relevantes ou amadoras demais, mas pra ser sincero
nem lembro o nome.
17) Qual seu
documentário preferido?
Citarei quatro, de diferentes estilos. Terra deu, Terra come; Santiago; Sal da terra; José e Pilar.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Não apenas eu, mas praticamente a sala inteira aplaudiu Bacurau na sessão que assisti.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Gosto bastante de Cidade
dos Anjos...
20) Qual site de cinema
você mais lê pela internet?
Cineweb, Cinepop,
Cinema com Rapadura...
21) Qual streaming
disponível no Brasil você mais assiste filmes?
Globoplay e Netflix.