O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Fortaleza (Ceará).
Raiane Ferreira tem 28 anos. Realizadora,
montadora e pesquisadora. Graduada em Cinema e Audiovisual pela Universidade de
Fortaleza desde 2015. Foi componente do Júri Jovem da 26ª edição do Cine Ceará.
Dirigiu o documentário Amor com cheiro
de naftalina e Náusea que participou da mostra CinEma da Unifor em 2017, e
da Mostra Cine Bodó 2016 em Manaus e Mostra Bons Ventos XII Curta Canoa 2017. E
seu mais atual trabalho é o curta A Fome
que Devora o Coração (2020), projeto composto por equipe 100% feminina e
que compôs a seleção oficial de festivais internacionais, nacionais e
regionais. É a criadora do canal do Youtube Uma Mulher Com Uma Câmera, que busca refletir sobre as mulheres no
cinema, tanto frente à câmera quanto atrás dela. Atualmente compõe o grupo de
críticos de cinema da Associação Cearense de Críticos de Cinema.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
O Cinema do Dragão.
Lá possui boas salas de cinema com qualidade de imagem e som, e a programação
foge dos padrões das salas de Shopping, valorizando também a produção nacional
e local.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
O primeiro filme que me deu um “estalo” para a potência do
cinema foi O Livro de Cabeceira de Peter Greenaway. Na época eu tinha 16
anos e uma tia havia alugado este filme e gostou muito dele, e ela me
emprestando o DVD para que eu assistisse. Eu lembro que não entendi muito bem o
filme, pois as obras de Greenaway são muito densas, mas eu fiquei impressionada
com a história do filme e com a experimentação que as imagens traziam.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Minha diretora favorita é a Agnès Varda, e o filme que me encanta é Os catadores e eu, pois nele a diretora coloca na tela sua
percepção do mundo, sua inventividade, sua sensibilidade, tudo isso transborda
na sua forma de fazer cinema.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
O filme nacional que eu mais gosto é O bandido da luz vermelha de Rogério
Sganzerla, pois é um filme que tem muito a contar, cada vez que assisto eu
percebo coisas novas, e é um filme singular de um diretor que respirava cinema.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
A meu ver, ser cinéfilo está além de gostar de assistir
filmes, é ser curioso, se permitir descobrir novas cinematografias, conhecer as
obras de diretores e conhecer novos realizadores, e também é gostar de refletir
sobre o cinema e apreciar a sétima arte e sua capacidade de nos afetar.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feita por
pessoas que entendem de cinema?
Se formos considerar que há mais cinemas de Shopping que
preservam uma lógica de atuação mais comercial, e voltada pro mercado, a
maioria das programação neste caso, não necessariamente passam por pessoas que
entendem de cinema para além da lógica dos filmes de "estreia do próximo
final de semana". Ou seja, este pensamento comercial dificilmente reflete
sobre questões como formação de público, por exemplo. E as demandas que eles
atendem estão mais relacionadas ao que o mercado impõe. Por isso que existe a
problemática da divisão desigual dos filmes que ocupam as salas.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
Primeiro a gente tem de entender o que compreendemos por
sala de cinema hoje. Sala de cinema é só a sala no campo do espaço físico? Ou
ela borra esses limites e ecoa para outros modos de estarmos em um determinado
lugar na partilha da experiência com o fílmico? Se pensarmos na sala de cinema
como dispositivo composto de um espaço físico com determinadas características,
talvez ela não acabe, mas se ressignifique, como ocorreu ao longo do tempo. E hoje
dá para perceber estas mudanças, observando as sessões ao ar livre, ou
formações de cineclubes, por exemplo.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Eu diria que o filme A
Ascensão da diretora Soviética Larisa
Shepitko é uma obra primorosa que poucas pessoas assistiram justamente por
não conhecerem o trabalho da diretora. Diria que este é um dos filmes de guerra
mais incríveis que assisti até então.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
No caso do Brasil foi até razoável pois começou a abrir após
a vacinação começar. Pelo menos aqui na cidade de Fortaleza as salas abriram
alguns meses atrás e com medidas de segurança que ajudam nesta nova dinâmica
que a pandemia veio trazer.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Nós temos um cinema bastante amplo e rico de pensamentos,
mas acho que em termos de forma fílmica, algumas cinematografias se destacam
mais que outras pela sua característica inventiva da narrativa, como os filmes
do André Novais, Kleber Mendonça,
Sabrina Fidalgo e Anna Muylaert.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Se for para falar de uma artista que eu gosto muito e
aprecio o trabalho é a Fernanda
Montenegro com certeza.
12) Defina cinema com
uma frase:
O cinema é um gerador de afetos que transforma o ser humano
através da imagem em movimento e do som.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.
Eu lembro que fui com uma amiga assistir um filme no cinema,
e como a sessão terminou cedo resolvemos assistir um filme de terror que estava
em cartaz. E quando estava na cena clímax, com a tenção de que algo poderia vir
a acontecer, a luz do cinema apaga de repente e todos gritam. Todos ficaram sem
entender o que havia acontecido. Na verdade houve um apagão na cidade toda, mas
que durou por pouco tempo, e o filme voltou logo a rodar.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras…
Cinderela Baiana
é uma reprodução de clichês e ideologias errôneas que só reforça a imagem
sexualizada da mulher no cinema brasileiro.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha
que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?
Não necessariamente. Acho que o diretor precisa entender a
linguagem e usá-la para contar o que deseja contar.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Tive a horrível experiência de assistir Sharknado com uns amigos. É de fato um péssimo filme, mas pelo
menos sabemos que ele é um filme ruim que não leva a sério nem a si mesmo.
17) Qual seu
documentário preferido?
Um dos documentários que mais gosto é Baraka (1992), dirigido por Ron
Fricke.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Sim, recentemente lembro de ter batido palmas quando vi Parasita no cinema. Uma obra prima.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Coração Selvagem (1990)
do David Lynch com certeza.
20) Qual site de
cinema você mais lê pela internet?
Eu sempre leio as críticas do Papo de cinema
(https://www.papodecinema.com.br/) e também a do Um filme ou dois
(https://danielsa510.wixsite.com/umfilmeoudois).
21) Qual streaming
disponível no Brasil você mais assiste filmes?
Ultimamente estou acompanhando conteúdos das plataformas
Netflix, Amazon Prime e Mubi.