29/11/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #543 - Gabriel Vidal


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso convidado de hoje é cinéfilo, de São José dos Campos (São Paulo). Gabriel Vidal tem 21 anos. Nerd, hiperativo e apaixonado por artes em geral por 21 anos. Iniciou os seus estudos na Academia Internacional de Cinema de São Paulo em 2018 onde dirigiu vários curtas como o premiado "Doblez", "Opus 73" e "Uma Porção de Cólera" e também trabalhou em outros projetos na escola como produtor, roteirista e editor. Lá conheceu professores com quem fez cursos separados como os de História da Arte com o artista plástico Luiz Roberto Lopreto, e de estudos de direção com a premiada diretora Lina Chamie. Na pandemia fez parte duas vezes do Júri Internacional Jovem do "Reel Youth Film Festival" e fez visionamento para o "Kinoforum 32º Festival Internacional de Curtas de São Paulo" assistindo a centenas de curtas inscritos e selecionando-os para a curadoria. Atualmente está escrevendo e desenhando uma série de quadrinhos para o Studio Pakōto e roteiros para novos projetos de séries, curtas e longas (além das aulas de piano).

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Bom, costumava ir mais na sala do Kinoplex do shopping Vale Sul, que tem mais salas, maiores, e inclinadas com arquibancada (acredite tem outras salas aqui que as cadeiras são todas no mesmo nível). Mas, recentemente fui ver numa sala do Cinépolis que abriu em um shopping Jardim Oriente novinho em folha, com poltronas e achei bem confortável. Só fui uma vez por causa da pandemia, mas tenho a impressão que vai se tornar uma nova favorita. Também, como estou sempre em na cidade de São Paulo, costumo ver muitos filmes que não chegam aqui por lá mesmo, ou filmes em IMAX, que não tem em São José dos Campos. Estou falando de São Paulo porque a programação dos cinemas aqui em São José são bem "padrão", tem os blockbusters reinando, mas na temporada de Oscar e festivais sempre tem salas disponíveis para eles ou filmes comerciais menores como o Espaço Itaú... Mas em geral as salas daqui apresentam a mesma programação, e quando não tem um filme  passando em uma, costuma ter em outra, e vice-versa. Já fui em todas as salas por causa disso, normalmente tem uma que passa um filme específico, mas depois pode deixar outro filme de lado e varia assim o ano todo. Para ver filmes menos pipoca ou com menos campanha para Oscar e tals, sei lá, um Gaspar Noé da vida, preciso recorrer a ir a São Paulo mesmo para ver na telona.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Nossa, difícil... Eu juro que não sei se aconteceu, mas tenho a impressão de ter realizado que estava numa sala de cinema, acho que vendo Homem-Aranha 2. Então tinha uns quatro anos acho. Digo que não tenho certeza porque a lembrança é bem vaga. Tirando isso não consigo pensar quando comecei a ir, quando vi já era parte da minha vida. Narnia o Leão a Feiticeira e o Guarda-Roupas do ano seguinte eu tenho certeza que vi lúcido que estava no cinema, então foi por volta dessa época mesmo.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

 

Não sei se consigo decidir um diretor favorito pelos filmes. É estranho, porque, pelo fato de assistir e ouvir muitas entrevistas com diretores o tempo todo, e pelo fato de também ser cineasta, acabo afastando o produto final da pessoa criativa. Por exemplo: Guillermo Del Toro, gosto dos filmes dele pra caramba, mas não diria que estão no meu top 20 do meu coração. Mas como jornada, desde de ficar fazendo curtas sem grana no México quando adolescente, até a forma de como se envolve em projetos (os cadernos de ideias que servem de inspiração), e principalmente, como eles fala sobre filmes que ama de maneira tão apaixonada (e sobre a indústria de forma tão honesta), eu diria que é um dos favoritos, mas de novo, não pelos filmes que fez. A mesma coisa pode se aplicar sei lá, ao Tarkovsky, não sou fã fervoroso de seus filmes, mas tudo que ele deixou de escritos, entrevistas e novamente, assistir seus curtas de estudante dos anos 50, são uma inspiração e geram muito mais admiração em mim do que  simplesmente ver filmes e apontar qual conjunto prefiro, ou qual mais coeso.

 

 

Agora, definitivamente o diretor que mais assisti e li, que me inspiro muito e continuo acompanhando, é o David Lynch. Mas novamente, talvez o que menos me inspire dele sejam seus longas (apesar de ama-los). É o processo criativo, a forma que ele trabalha artes visuais e música em paralelo, ou séries ou esculturas. Definitivamente me inspira e posso afirmar que como diretor é meu favorito. Adoro ver cenas dos sets de filmagem dele, a forma que trabalha, ou como descreve criatividade. Amo os filmes dele também, mas diria que se assistisse só os longas, não teria a influência que tem hoje. E mesmo vendo bastidores, sei lá, de filmes que eu considero meus favoritos (como Mad Max Estrada da Fúria), e mesmo com as muitas horas extras como de O Senhor dos Anéis, quando penso ou faço um filme, é uma das últimas influências que me vem à cabeça.  Na real, os curtas do Lynch dele devem me influenciar hoje muito mais que seus longas. E sou viciado em Twin Peaks, e a Cahiers du Cinéma considerou The Return como longa (mesmo com 18 horas haha) no top 10 deles então acho que vale citar como meu favorito dele aqui também.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Ilha das Flores, por me lembrar que tenho um telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

"Amigo do Movimento" kkkkk.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feita por pessoas que entendem de cinema?

Primeiro devemos definir o que é o "entender cinema". Quando falamos de manter uma indústria cultural e um mercado que foi feito para gerar lucro, o termo vai além de ter um repertório vasto ou conhecimento de como é feito ou planejado os filmes. Acredito que nas salas de cinema comercial com certeza tem muitos profissionais que entendem mais como funciona esse mercado e o que atrairá o público consumidor para as salas. Essa face do "entender" como funciona e respira a indústria eles têm feito muito bem, pois as bilheterias de franquias se mantêm fortes e consideravelmente estáveis a quase uma década. Quanto ao quais tipos e variedades de filmes passam, de quais países, gêneros, importância histórica e artística, isso é mais prioridade para os "cine arte" independentes, salas culturais e cinemas com realmente um número de salas enorme que podem se dar o luxo de deixar que uma sala fique vazia, enquanto outras 4 salas com alguma franquia blockbuster sustenta o resto. Quando se fala em manter a programação de grandes redes de cinema, às vezes em cidades menores com menos salas, a prioridade sempre será o que atrai mais o público, não o contexto ou qualidade artística da obra.  Mas sim, a programação pode até ser feita por alguém que entenda os aspectos mais cerebrais do cinema, mas acredito que na hora de decidir de fato, como empresa e como negócio, "entender cinema"  se torna sinônimo com "entender o mercado de cinema", o que acaba deixando de lado alguns tipos de filmes independentes ou "arte" que, a grosso modo, nao atraem ou acredita-se que não terão grande público nem venda de ingressos tão boa. As pessoas que fazem a programação entendem do mercado, por isso fazem as escolhas que fazem.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Bom, o teatro não acabou, ou concertos de música clássica, nem os livros e quadrinhos impressos. Só que acaba se tornando nicho, seja mais ou menos acessível, e se torna menos parte do cotidiano no geral. O cotidiano agora é streaming, já aconteceu. No cenário mais distante talvez as salas de cinema se tornem algo parecido com o que mencionei dos teatros, um evento, mas não comum, existente, mas distante da rotina das pessoas, principalmente do grande público.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Por incrível que pareça, acho difícil hoje encontrar pessoas que viram Amadeus do Miloš Forman... Mas deve ser impressão. Faz tempo que não encontro alguém que pelo menos não tenha ouvido falar. Amo esse filme. Mas para ter certeza de indicar um que ninguém deve ter visto de verdade, indico o curta lindíssimo "Pas de Deux", de 1968 do Norman McLaren. Tem no YouTube acho, muito lindo.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Na última década com as câmeras digitais, longas e curtas maravilhosos. Aos montes, juntamente com sua devida proporção de produções "medíocres", mas isso sempre tem em toda época, país e mídia. A gente no presente que só lembra dos que marcaram e esquece os esquecíveis, e nao recebemos a produção que nao vale a pena importar do exterior (Hollywood ainda enfia goela abaixo algumas paradas, mas né, imperialismo é foda) então eventualmente passa a impressão que tudo nas décadas passadas ou outros países é "só" sempre excelente sempre.  Para ter produções boas precisa gerar pelo menos o dobro de produções inferiores (não exatamente mas passa a impressão), isso em Hollywood, Índia, Nigéria, Europa, TV, streaming, música, livros, quadrinhos e até YouTube. Daí depois esconde e finge que não aconteceram as paradas ruins e medíocres. Sempre funciona para romantizar épocas e lugares. Mas o Brasil nos últimos anos tem tido produções de destaque novamente, no exterior e internamente, o que é muito legal.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Hoje o Kleber Mendonça, e digo isso porque talvez (assim como Lynch, Tarantino e Waititi), seja o único diretor vivo que posso afirmar ter visto todos os filmes e curtas, e gostado de todos. E aguardo ansioso os próximos projetos.

 

12) Defina cinema com uma frase:

"A Imaginação é a memória que enlouqueceu." - Mario Quintana. Não é exatamente sobre cinema, mas toda vez que penso em cinema me lembro dessa frase automaticamente.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Eu lembro que eu mesmo taquei o saco de pipoca todo longe numa sessão semi-vazia de Star Wars IX dublada, mesmo sabendo spoilers, evitando ir por semanas, na cena do beijo no final, o ultraje foi tão grande que mandei a pipoca longe (que não tinha comido quase nada tamanho desgosto pelo filme na tela). Depois tivemos eu e meus amigos que limpar. Mas foi bom pra extravasar haha Na real todos da sessão estavam já no modo zuera. Pelo menos foi engraçado na hora kkkk fez valer a ida ao cinema (meu deus será que foi o último filme que tinha visto antes da pandemia? Nossa, tristeza kkkkk).

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

"Sabia, eu sou a melhor!"

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Para dirigir um filme não precisa nem ser diretor.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

"Christy: Santa’s First Female Reindeer". Nem procura. Mas tem no YouTube (mas sério nem tenta).

 

17) Qual seu documentário preferido?

Caverna dos Sonhos Esquecidos do Herzog, faz pensar sobre arte e história. Mas principalmente porque sempre estou mostrando para pessoas novas, reassistindo com elas, então se torna algo confortável de lembrar e reviver.  Se aplica a maioria dos meus filmes favoritos, o quanto de vezes que posso mostrar para pessoas novas e revê-los através de outros olhos (ou algo do tipo) 

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Em salas comerciais bati quando o resto da sala bateu também haha Acho que em LaLaLand... nos últimos dois Vingadores, Star Wars VII. Em pré-estreias as pessoas estão tão pré-dispostas a amar independente do que seja que geralmente acontece também (nas que eu fui, mas não vou faz um tempo haha não acho que valha a pena mais) .

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Adaptação de 2002. Até porque tem dois Nicolas Cage nele... E novamente, amo ver o processo criativo de outros artistas e o do Charlie Kaufman é muito interessante haha.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Hoje em dia raramente entro para ver algo do tipo, assisto mais conteúdo no YouTube sobre cinema, e uso o Letterboxd religiosamente (tipo, muito mesmo).

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Uso o My Family Cinema então é meio difícil saber com certeza hoje em dia kkkkk.