As peças espalhadas da mente. Com um trailer impactante que gerou muita ansiedade nos cinéfilos, Sorria chegou aos cinemas brasileiros no segundo semestre de 2022 trazendo uma história que se fortalece na mensagem indireta de conflitos ligados as emoções humanas. Um dos méritos do roteiro é o confronto da razão com as emoções profundas feito muitas vezes por metáforas e até mesmo elementos sobrenaturais, esse último acaba afastando um pouco dos trilhos da narrativa mas sem deixar de ter seus impactantes momentos de tensão. O projeto é escrito e dirigido pelo cineasta Parker Finn em seu primeiro longa-metragem de ficção.
Na trama, conhecemos Rose (Sosie Bacon) uma pacata médica que trabalha na parte de psiquiatria
de um hospital. Sua rotina é exaustiva, tendo que lidar com muitos pacientes
com diversos conflitos emocionais. Ela
tem um casamento estável com Trevor (Jessie
T. Usher) e mora numa casa aconchegante. Certo dia, após uma paciente se
suicidar na sua frente, um caos emocional começa a reinar em sua vida e ela se
vê envolvida em situações assustadoras que não consegue associar com a
realidade. Ela então acaba entrando em uma jornada de confronto contra as
próprias ações e emoções fazendo desabar toda sua vida.
Esse é um filme bem amplo para uma análise. Pensando na
questão dos confrontos emocionais é interessante a proposta do filme em trocar
de posição médico e paciente, fazendo o primeiro grupo enfrentar caminhos
nebulosos entre a razão e a emoção, algo que combatem diariamente em sua profissão.
Nessa estrada, as linhas do roteiro nos mostram algo ligado ao sobrenatural que
pode ser entendido como mensagem indireta sobre o inconsciente, indo na raiz do
confronto que trazendo pra realidade é algo que diariamente o ser humano encara
com suas frustrações, seus medos, suas angústias, suas agonias.
Na questão da vida que desaba a partir do desespero dos
conflitos, há um foco pouco profundo na relação entre Rose e Trevor, que talvez
tenha sido pensado para mostrar que aquele casamento não era tão perfeito
assim. A busca da protagonista para encontrar o equilíbrio se perde em alguns
momentos trazendo redundância mas sem perder os momentos de tensão.
Sorria é um filme
que gera muitas interpretações, você pode se conectar pelos paralelos do
sobrenatural ao emocional, da busca do equilíbrio através do confronto do trauma.
É um enorme quebra-cabeça, de modificações constantes, e a quantidade de peças
que surgem espalhadas pela mente e as maneiras que podemos montá-lo.