As certezas e incertezas no caminho da fé. Chega aos cinemas nessas primeiras semanas de janeiro, uma dramédia brasileira que busca com dosados toques de humor refletir sobre o universo da fé de forma bastante diferente de outras abordagens, jogando pra escanteio o caminho mais fácil da piada pronta sobre o assunto, explorando conflitos de um protagonista em crise sobre sua própria identidade e seu real entendimento sobre o sentido da vida após uma meteórica ascensão numa igreja evangélica. Por incrível que pareça o filme se arrisca numa tentativa de drama profundo, algo escondido com sete chaves pelo ótimo trailer, derrapando em alguns momentos mas buscando fazer o público pensar sobre alguns assuntos que sempre geram polêmicas.
Na trama, conhecemos o esforçado Hickson (Marcelo Adnet), um técnico de
informática que faz bicos com um carro de som que leva mensagens carinhosas.
Ele mora com a esposa Jéssika (Letícia
Lima) em uma casa no subúrbio carioca. Certo dia, após ir até um culto,
consegue uma oportunidade de emprego em uma rádio gospel e após uma brincadeira
pensando que estava fora do ar, alcança um enorme sucesso com um programa onde assume
o papel de um pastor falando para um enorme público.
Em certo momento, a narrativa parece que opta por um divisor
de águas que vai do riso constante (encabeçado pelo ótimo Marcelo Adnet) para a crise existencial. E nesse momento, que é
quase um plot twist diferente, a maneira como é construído tudo isso deixa
lacunas em aberto como se tentasse alcançar ao clímax de maneira atabalhoada.
Os risos ganham contornos de drama, os conflitos mal definidos se tornam a
tônica de uma história que era pra rir mas alcança as profundezas dos conflitos
sobre o sentido da vida chegando até mesmo a uma certa melancolia. Se você for
para os cinemas esperando comédias superficiais, do riso fácil, esse não é o
caso por mais que o trailer indique isso.
O foco, quando se entra nesse drama, começa pelos entornos do
casamento do protagonista e chega até as vias interpretativas de seu novo lugar
em um universo onde muitos abusam da fé alheia em busca de benefícios próprios.
Mas então, qual é o seu lugar no mundo? Hickson parte em busca de respostas, na
contramão da inveja e do egoísmo, se coloca como a maioria dos brasileiros que
buscam se agarrar em alguma coisa, alguma razão (ligada à fé ou não) para
passar com louvor pelos quebra-molas da vida.