13/12/2023

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Crítica do filme: 'Puan'


O desmoronar de um cotidiano monótono em paralelo ao caos também de um país. Desfilando o ‘filosofês’ de forma simples e inteligente, com muitos paralelos com a sociedade contemporânea, o longa-metragem argentino Puan fixa sua premissa no pensamento como ato de resistência. Seguindo os passos atrapalhados de um professor de filosofia que se depara com o caos em sua vida o filme, escrito e dirigido pela dupla María Alché e Benjamín Naishtat, rouba todas as nossas atenções ao refletir sobre nosso papel em um mundo longe do olhar apenas numa direção.


Na trama, conhecemos Marcelo (Marcelo Subiotto), um conceituado professor de filosofia de uma Universidade pública de Buenos Aires que vê uma oportunidade de assumir a chefia do departamento ao qual pertence após o precoce falecimento de seu mentor. Só que a chegada de um outro professor, o super carismático Rafael (Leonardo Sbaraglia), acaba frustrando seus planos ao mesmo tempo que sua vida pessoal e as escolhas que eram certas para toda uma vida começam a ir ladeira abaixo.


Exibido no Festival do Rio e no Festival de San Sebastian, além de ser selecionado para o Goya 2024, a produção propõe suas peças para um enorme tabuleiro onde é instaurado um duelo de reflexão com o espectador. Citações de Kant, Rousseau, Hobbes e outros viram parábolas dentro de uma mensagem indireta, fruto de uma narrativa detalhista que alcança seu clímax nas escorregadas e interações assustadas de um protagonista que resolve se mexer quando percebe as ruínas que se amontoam onde antes era sua fortaleza, seu castelo montado com um olhar obsoleto, apenas numa direção.


Existir é uma ação, um movimento. O roteiro é repleto de críticas sociais, os salários baixos dos professores, as intervenções estatais. Dentro desse contexto, o desabrochar dos novos olhares do protagonista ganham força na segunda parte da trama. Ao questionar sobre si mesmo, parece atravessar uma porta que estava lacrada, dando oportunidades para refletir e viver até mesmo sobre o papel do estado.


Puan é um belíssimo recorte social, derivado de uma narrativa dinâmica, nada redundante que duela o antes e o depois, o agora e o daqui a pouco, trazendo luz para novas formas de enxergar a vida em sociedade.