Das ameaças às decisões. Chegou esse mês, e sem muito alarde, ao catálogo da Netflix, um longa-metragem polonês que exercita o caos emocional e como o destino pode dar um empurrãozinho nas mudanças necessárias de uma vida. Escrito e dirigido pelo cineasta e ex-tenista Lukasz Grzegorzek, Uma Vida Perfeita dribla o suspense de uma ameaça e embarca em um profundo vazio existencial pelos olhos de uma protagonista, refém de suas próprias escolhas.
Na trama, conhecemos Jo (Ágata Buzek), uma professora do ensino médio com uma vida agitada. Uma
mulher que aparenta uma infelicidade constante, vivendo seus dias num
conturbado cotidiano, numa casa onde mora com o marido, a mãe, o filho mais
velho que acabou de ser pai e o filho mais novo. Ainda por cima, em forma de oásis
ao caos que impera em sua frente, tem um relacionamento secreto com outro
professor. Um dia, começa a receber ameaças de um alguém que descobriu sua
traição.
Com tantas variáveis colocadas no roteiro, busca-se o ritmo através
de demonstrações do dia a dia de sua forte protagonista interpretada de forma
competente por Ágata Buzek. Uma
mulher de meia idade no epicentro de seus dramas é o pontapé inicial dessa
história. Os conflitos emocionais se mostram presentes, se amontoam, as derrapadas
do não saber lidar viram variáveis constantes por aqui. A narrativa se atropela
em alguns momentos, define-se como duas etapas, o antes e depois de um despertar.
Isso pode soar bastante confuso e até mesmo uma falta de direção ao discurso
previamente proposto.
Como dito, o foco é total em Jo, seu relacionamento em crise
com o marido, a falta que sente da liberdade de momentos em que flerta com a
felicidade, a confusão organizada que virou sua vida sofre um enorme abalo com
a descoberta de sua traição. Nesse último ponto, o filme começa a ganhar força
e conseguimos entender melhor essa conflituosa personagem que parece sufocada
em suas escolhas do passado, não sabendo como se desprender da estrutura
familiar que ajudou a modelar.
Uma Vida Perfeita mostra
que do desespero pode surgir uma oportunidade. O exercício pés no chão dentro
de um vazio existencial nem pensa em adentrar num suspense, o foco aqui é o
psicológico, o drama de uma mulher que desperta após ser colocada contra parede.
Não deixa de ser uma jornada que encosta em reflexões de muitas realidades.