Exibido na Mostra Um Certo Olhar no Festival de Cannes do ano passado, A Natureza do Amor estrutura suas bases partindo do pessimismo em relação ao sentimento mais intenso que existe. O choque dos momentos de êxtase com a realidade, no sentido de conexões que logo viram desconexões, passam por citações de Platão à Schopenhauer. Acompanhamos os desenrolares através de uma protagonista e sua necessidade de descobrir o afeto, o amor, tendo o desejo como uma lacuna que aos poucos vai mudando de sentido. Escrito e dirigido por Monia Chokri, A Natureza do Amor é uma jornada de opostos que se atraem.
Na trama, conhecemos a professora Sofia (Magalie Lépine Blondeau), uma mulher
inteligente, na casa dos 40 anos, que está em um relacionamento frio com o
namorado Xavier (Francis-William Réaume).
Certo dia, conhece o atraente Sylvian (Cardeal
Pierre-Yves), responsável pela reforma de sua casa de campo. Mesmo sendo
completamente diferentes, logo uma paixão intensa acontece entre os dois mas
aos poucos a protagonista embarca em dolorosas incertezas.
Falar sobre decepções amorosas passa muito mais pelos
personagens do que pelas situações. É bem curiosa a visão pessimista que é
proposta. Algo que é válido, pois encosta na realidade. E se incomodar alguns,
é porque fez sentido! O roteiro é bem profundo ao jogar para reflexões as dores
de uma confusa protagonista, que movimenta para cima o sarrafo encontrando um
mar de desequilíbrio, um deserto de desilusões. O prazer e o conviver logo se
tornam embates, um jogo da vida que escancara medos e desejos.
Nessa produção canadense francesa também tem um debate
interessante entre a frustração e o recomeçar. Dois pontos fora da curva se
juntam, trazendo para debates os conflitos familiares, as formas de pensar,
rumando para uma constatação da maturidade em relação aos sentimentos e os conflitos do amar. O
recomeçar na verdade se constata como uma estrada de aprendizado, no eterno viver
e aprender. A busca pela equilíbrio da ilusória felicidade plena se desprende
de qualquer conto de fadas.
A Natureza do Amor é
um filme antes de mais nada, maduro. Escancara as verdades longes de
melancolias, mostra a realidade. Nem sempre é o tempo certo quando se encontra
alguém que preenche parte do que necessitamos e nem por isso é para se baixar a
cabeça e estabilizar-se. Sofia é um reflexo de muitas jornadas por aí.