O silêncio e o estrondo nas relações humanas. Enfim chegou na Netflix a tão aguardada série argentina O Eternauta, protagonizada por Ricardo Darín, baseada na clássica história em quadrinhos de ficção científica criada por Héctor Germán Oesterheld (em colaboração com o desenhista Francisco Solano López), crítico ferrenho aos golpes de estado que marcaram o cotidiano dos nossos vizinhos. Tem invasão alienígena, dilemas dilacerantes, viagem no tempo, várias surpresas e muito mais!
Com uma veia crítica afiada e apontada para os deslizes da
sociedade em momentos de crise, essa releitura da criação de Oesterheld nos joga para uma gangorra de
paranoia aliada ao medo concreto onde um novo sentido do confiar cria barreiras
e dilemas, escancarando em camadas sutis as relação familiares e de amizade.
Irmãos, pais e filhos, amigos de longa data se veem na necessidade de ativar o instinto
de sobrevivência, colocando qualquer laço à prova.
Sempre renovando uma amizade de quase 40 anos, quatro amigos
se reúnem toda sexta-feira para jogar truco. Num desses dias, algo estranho
acontece. Ao perceberem estar sob uma misteriosa
e mortal nevasca, Juan Salvo (Ricardo
Darín) e o restante do grupo precisarão encontrar soluções para sobreviver
quando os perigos se mostram presentes. Conforme os dias passam começam a
entender que uma invasão aconteceu e nada será como antes.
Ao longo dos seis episódios dessa primeira temporada, que
começa com um piloto morno mas que apara o terreno para os cinco restantes deixarem
nossos olhares não saírem de perto da televisão, buscamos decifrar um enorme
contexto – ainda pouco explicado – através de um pai em busca da sua única
filha.
Entre caminhadas solitárias e ações em grupo percebemos ao
longo dessa primeira temporada a essência do que está nos quadrinhos. Trazendo
as prováveis uniões e a ação conjunta a favor de um objetivo, esse espírito do
‘herói coletivo’ está nítido desde os primeiros minutos. As linhas tênues entre
a moral e a ignorância também se mostra presente quase numa espécie de
investigação sobre o comportamento humano em momentos decisivos.
Como tudo mudou é capaz de você mudar também. Com os pés no
chão sem deixar se levar pelas infinitas possibilidades mirabolantes de caminhos
para se reconstruir essa emblemática história, o criador e roteirista da série Bruno Stagnaro explora os conflitos de
seus personagens de forma inteligente nos levando para embates que tem como
base a: superação vs limitação.
Para criar essa distopia, de invasão do mundo que conhecemos,
é importante mencionarmos a impecável direção de arte que com muita
criatividade consegue ser um importante elemento. Realmente nos sentimos passeando
pelas famosas ruas de Buenos Aires. As filmagens duraram cerca de 5 meses na
capital argentina, e se espalharam em cerca de 50 locações. Além disso, contou
com quase 3.000 artistas entre elenco e figurantes.
Com ainda muitas pontas soltas e apresentando apenas um
pequeno pedaço de toda uma enorme história cheia de reviravoltas, O Eternauta chegou com sua primeira
parte buscando explorar cada
cantinho dessa distopia que traça pelas entrelinhas vários paralelos com a
realidade. E atenção: logo nos créditos do último episódio dessa jornada de
seis episódios, a confirmação: teremos uma segunda temporada! Aguardaremos!