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08/09/2025

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Pausa para uma série: 'Dexter: Ressurreição'


É muito bom rever personagens que, de muitas formas, preencheram a história das séries nas últimas décadas. Nesta nova temporada - de uma franquia que se reinventa sem perder a essência - voltamos a encontrar o anti-herói favorito dos amantes das séries, Dexter, agora num novo habitat. Mais solto e confuso em relação a seus códigos, revela uma faceta interessante e imprevisível de seu lado emocional, que acaba guiando a estrutura base dos dez episódios - intensos, divertidos, tensos, e como não podia deixar de ser: sangrentos.

Marcos Siega e Monica Raymund - a dupla responsável pela direção dos episódios - entregam um trabalho bastante competente, conduzindo o público a um espaço cheio de possibilidades e referências ao passado do protagonista, onde a narrativa afiada fisga nossos olhos a todo momento. Pra onde quer que olhemos, encontramos pistas para futuros desdobramentos, preenchido também com personagens complementares certeiros, que também ganham seus minutos valiosos de protagonismo. As participações especiais - um brinde para todos que conhecem esse universo - são a cereja do bolo.

Depois de sobreviver milagrosamente a um tiro dado pelo próprio filho na jornada anterior, Dexter (Michael C.Hall) parte rumo a uma nova Iorque que ele não conhece em busca de reestabelecer os laços com seu único herdeiro, Harrison (Jack Alcott). Nesse lugar, cheio de caminhos e reflexões, acaba batendo de frente com um clube de serial killers - um prato cheio pra quem gosta de fazer justiça com as próprias mãos.

Havia uma grande expectativa para saber como a equipe criativa iria tirar os coelhos da cartola para dar sentido para mais um round na trajetória repleta de altos e baixos do seriado em questão. Entre finais de temporadas frustrantes e episódios brilhantes, Dexter vem, desde 2005, ganhando a atenção de milhares de pessoas trazendo para o centro do palco um serial killer impiedoso que busca suas vítimas a partir da maldade alheia, tornando-se um anti-herói nada comum.

Caminhando a pinceladas de sangue pelo lado emocional do marcante personagem - que aqui revela seus novos dilemas e maneiras de enxergar o mundo ao seu redor, colocando a paternidade à frente de qualquer ato meticulosamente planejado - vamos encontrando novas possibilidades, apoiadas por ótimos coadjuvantes (com destaque para as incríveis atuações de  Peter Dinklage e Ntare Guma Mbaho Mwine), que somam demais a esse suco de sangue e linhas tênues sobre a moral.

De pontos negativos, podemos apontar a velha e cansativa fórmula de encontrar soluções simplistas e mirabolantes para fechamentos de cercos. Transformar Dexter em uma espécie de mistura entre Chuck Norris e MacGyver distancia do alicerce que construiu a força desse personagem. A eficácia no roteiro, no sentido de prender a atenção, encontra outras valências - não essa. Outro aspecto que merece um olhar mais crítico é a falta de habilidade em explorar com mais camadas a intrigante personagem Charley, interpretada por Uma Thurman, constantemente escanteada sempre que parece prestes a brilhar. Um desperdício.

Mesmo com questões que tiram a nota 10 desta temporada, podemos afirmar que Dexter: Ressurreição traz novo fôlego para a franquia, que deve continuar por mais tempo nos enchendo de possibilidades. Michael C.Hall nasceu pra interpretar Dexter - impressiona o domínio sobre esse complexo e carismático personagem. Que venham mais temporadas.

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01/09/2025

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Pausa para uma série: 'Duas Covas'


Uma obra audiovisual em que nada é o que parece. Assim podemos começar a falar de Duas Covas, a nova minissérie espanhola que alcançou ao Top 1 da Netflix logo em sua semana de estreia. Apesar de apresentar um episódio piloto apenas morno, consegue encontrar um rumo interessante quando mete o pé no acelerador numa trama que aposta nas surpresas escondidas pelo caminho. No papel principal, a ótima Kiti Máver da vida a uma avó angustiada que liga o modo detetive na busca da neta.

Isabel (Kiti Mánver) é um senhora aposentada que vive numa confortável casa no alto da belíssima cidade de Frigiliana, na província de Málaga. Tudo ia bem em sua vida até o dia fatídico em que sua neta preferida desapareceu, junto de uma amiga - filha do mafioso Rafael (Álvaro Morte). Anos após o ocorrido, ainda em busca de informações sobre o que aconteceu, Isabel começa a descobrir peças importantes desse quebra-cabeça.

O clima de suspense é constante, com a imprevisibilidade dos personagens se tornando uma ponte importante - mesmo que alguns deles não sejam tão bem desenvolvidos na trama. Do luto prolongado aos segredos de família e à incapacidade policial, o suspense encontra mais camadas que o drama.     

Parafraseando Confúcio, e colocando a vingança como ponto central, o projeto parte de disfunções familiares, esticando a corda dos acontecimentos com uma revelação atrás da outra. Presa totalmente ao ponto de vista da protagonista – o que limita o discurso –, Duas Covas parece apostar no chocar de uma violência marcante para trazer luz sobre as consequências ligadas à dilemas morais.

Com três episódios, todos já disponíveis na Netflix, Duas Covas é mais uma minissérie que tenta prender a atenção por seus mistérios, mas deixa uma sensação de que falta algo para que esse caldeirão de segredos se torne realmente inesquecível.

 

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31/08/2025

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Pausa para uma série: 'Pssica'


É tão bom assistir a uma produção audiovisual brasileira com tanta qualidade! Esta, em especial, provoca reflexão atrás de reflexão! Baseada no livro homônimo do escritor paraense Edyr Augusto, a nova série da Netflix – Pssica – empolga do primeiro ao último episódio, conduzindo o público por um mosaico de violência, cujas peças se encaixam com certa precisão, ao apresentar uma tonelada de temas importantes. Somam-se a esse retrato, que escancara as feridas de uma sociedade dominada pela criminalidade, atuações viscerais de um elenco coeso.

Já vá se preparando: esta é uma daquelas séries que merecem uma maratona! Do drama à ação, embarcamos em histórias que correm em paralelo, com dinâmicas conturbadas entre pais e filhos atravessando toda o discurso. Personagens muito bem desenvolvidos, são levados ao extremo de qualquer limite moral, em um lugar dominado pela corrupção, por crimes violentos - um paraíso consumido pelo crime.

Tudo começa quando Janalice (Domithila Cattete), após uma situação que leva seus pais a deixá-la na casa da tia (Fátima Macedo), em Belém, é sequestrada por um grupo criminoso ligado ao tráfico de mulheres. Paralelamente, conhecemos outros personagens: um ex-policial em busca da afilhada; Preá (Lucas Galvino), um bandido que se apaixona e vê sua bolha ligada à crimes desmoronar; e Mariangel (Marleyda Soto), uma ex-militar colombiana que vê sua família despedaçar e parte em busca de vingança. Ao longo da trama, esses caminhos se cruzam, nos conduzindo a um desfecho imprevisível.

Com ritmo eletrizante, desde seu piloto brilhante, vamos percebendo que a complexidade do texto de Edyr Augusto é muito bem diluído em quatro episódios com cenas fortes que vão nos levando até um mar de inconsequências. As protagonistas são nossos maiores guias nessa história. Uma adolescente sequestrada e vivendo horrores, busca encontrar soluções para a situação em que está. A outra, uma heroína sul-americana, com marcas no presente e no passado, que embarca numa sede de vingança.   

A narrativa busca seu caminho por meio das infinidades que o cinema pode provocar – inclusive com um achado que se soma ao desenvolvimento: a ilustração de trechos do livro, que volta e meia ganham espaço entre as cenas. A trilha sonora marcante e cenas, muito bem dirigidas pelo diretor Quico Meirelles, conduzem o espectador por paisagens empolgantes na fronteira amazônica, escancarando de forma intensa os diferentes tipos de corrupção que corroem o senso de humanidade.

Pssica, em seus quatro episódios já disponíveis na Netflix – nos apresenta o contraste de um pedaço do nosso país, do paraíso ao inferno. Uma minissérie provocante, que nos faz refletir bastante sobre nossa sociedade.

 

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25/08/2025

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Pausa para uma série: 'Magreza na TV: A Verdade de The Biggest Loser'


Buscando refletir sobre o caos de alguns veículos de mídia que insistem em se arriscar no polêmico universo do ‘tudo pela audiência’, a nova minissérie da Netflix Magreza na TV: A Verdade de The Biggest Loser conduz o espectador a uma análise relativamente profunda, guiada por depoimentos marcantes de pessoas envolvidas em um controverso reality show que deu o que falar ao longo de 17 temporadas, num dos principais canais de televisão nos Estados Unidos.

Dirigido pela cineasta norte-americana Skye Borgman – responsável também pelo ótimo documentário, da Netflix, A Garota da Foto –, a minissérie busca não fugir do seu foco que tem duas estradas: a questão da obesidade e as polêmicas em torno do programa. Cada episódio amplia o debate, e em alguns casos, embates de opiniões entre os entrevistados, algo que de alguma forma reforça os dramas reais expostos na série.

O The Biggest Loser foi um programa altamente rentável, que explodiu de sucesso entre os anos 2004 a 2016. O foco eram participantes de diferentes faixas etárias com obesidade, que competiam por uma grande quantia em dinheiro: vencia quem alcançasse o menor peso ao final. Os escolhidos eram divididos em grupos e guiados por treinadores que exigiam o máximo de cada pessoa – muitas vezes ultrapassando limites em relação a agressões verbais e outras práticas questionáveis.

Dividido em três episódios, o projeto se propõe em sua narrativa explorar a curiosidade, e revelar detalhes nunca mostrados, trazendo relatos de ex-participantes, de um dos treinadores, ex-produtores, e do médico responsável. Dessa forma, contextualiza bastidores e o reflexo da experiência na vida dessas pessoas após o programa.

Desde a apresentação de personagens importantes para os pontos reflexivos, passando pelas provas exigentes que o programa permitia, até os problemas com a forte opinião pública em relação ao que era feito no programa, somos colocados de frente com pontos de vistas deixando mais fácil cada um de nós tirarmos nossas próprias conclusões.

A obesidade é um tema importante, não só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo. Ao levar a questão para milhões de televisores através de um reality show, a exposição constante acaba rompendo barreiras morais, deixando o lado comercial falar mais forte que qualquer debate inicial. Acesse a Netflix e veja, tire suas próprias conclusões.

 

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Pausa para uma série: 'A Mulher da Casa Abandonada'


Um fato jornalístico relevante, trazido através de um podcast, logo se transforma em matéria de diversos jornais, ganhando ampla repercussão. No centro do debate está um caso macabro que envolve um casarão - que parecia abandonado -, uma foragida da justiça norte-americana e uma subtrama que se desenrola entre o Brasil e o Estados Unidos, ao longo de anos. Esses são alguns dos principais elementos da nova minissérie do Prime Video, A Mulher da Casa Abandonada.

Criado pelo jornalista Chico Felitti, o podcast homônimo em que se baseia esse projeto foi um enorme sucesso no ano de 2022, tornando-se um dos mais ouvidos em todo o país. Com a grande divulgação dos fatos apresentados nesse produto digital, um casarão em Higienópolis – um bairro de alto padrão em São Paulo – passou a atrair as atenções de todos. Foi assim que chegamos ao nome de Margarida Bonetti, figura central da trama e moradora da tal casa abandonada.

Com a polícia abrindo investigações a partir de denúncias, novos fatos são revelados, nos levando para uma história aterrorizante que envolve patrões submetendo uma mulher, longe de casa, a condições desumanas. Assim, um elo jurídico é construído entre dois países tendo as mesmas figuras como elementos principais.

Com três episódios, com cerca de 30 minutos de duração, A Mulher da Casa Abandonada, busca, num primeiro momento, relatar os fatos base do caso que chocou o país. Como apoio à narrativa, entrevistas com o jornalista que jogou luz ao caso, com Margarida, com forças policiais que acompanharam o caso – tanto no Brasil, quanto nos Estados Unidos – além de um depoimento exclusivo da vítima dos maus-tratos praticado pelos patrões.

A questão é que, nos episódios que se seguem, com tanto material para ser colocado em evidência – e novas informações surgindo -, o projeto acaba soando como um complemento do podcast. Quando percebemos isso, e pra quem nunca tinha ouvido o que foi esmiuçado pelos aúdios que correram o país, a minissérie parece confusa e com aprofundamento apressado. Algo que limita mas não diminui a importância do registro realizado.

Do subúrbio de Washington a uma área nobre da maior cidade do país, tendo o abuso psicológico e físico como um dos importantes tópicos a serem refletidos, A Mulher da Casa Abandonada busca, ainda que pela superfície, apresentar uma história real: um true crime chocante que envolve muitas variáveis que conduz para um recorte sociológico relevante e que – felizmente – foi registrado, podendo gerar valiosos debates e reflexões sobre nossa sociedade.

 

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19/08/2025

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Pausa para uma série: 'Cortina de Fumaça'


Desde Sobre Meninos e Lobos, passando por Ilha do Medo, o escritor norte-americano Dennis Lehane vem, cada vez mais, buscando em seus trabalhos um olhar para camadas profundas do ser humano e seus comportamentos em uma sociedade que se transforma e caminha a passos largos ao descontrole. Em Cortina de Fumaça, nova série da Apple TV+, ele retorna a essa análise complexa – e por que não dizer, também fascinante - através de personagens à beira do precipício moral.

Com nove episódios nessa primeira temporada – não sabemos se haverá uma segunda – todos já disponíveis na plataforma mencionada, acompanhamos histórias de pessoas que, de alguma forma, estão nos limites – muitas vezes ambíguos - entre heróis e vilões. Tendo a reviravolta (plot twist) como uma carta na manga, exposta em fragmentos dos primeiros aos últimos episódios, a narrativa mergulha no sombrio da mente humana de forma envolvente.

No centro desse tabuleiro está o investigador de incêndios criminosos Dave (Taron Egerton), um homem que leva uma rotina comum, casado, bem-visto no trabalho, que se vê de frente com dois incendiários tocando o terror pela cidade. Sem conseguir avançar nas investigações, é designado para ajudá-lo a policial Michelle (Jurnee Smollett), uma mulher com traumas no passado. Essa dupla precisará encontrar o caminhos para chegar até aos criminosos. Só que há um detalhe, no final de um dos primeiros capítulos, nossos olhos se voltam para verdades inesperadas e passamos a acompanhar os desenrolares de outras perspectivas.      

Seguindo uma estrutura – a mais atraente ao público – de fazer episódios iniciais envolventes entregando prévias de desenvolvimento e indo direto à raiz do seu discurso, Cortina de Fumaça é o fogo fora do controle, em todos os sentidos. Esse preenchimento das lacunas, através de um alicerce contextual e de seus paralelos, nos apresenta ações e inconsequências que vão ao encontro das nossas reflexões sociais. Dos traumas do passado, passando pelo comportamento humano até o distúrbio de personalidade, o roteiro nos fisga a atenção em muitos momentos.

Para onde quer que viremos nossa atenção, encontramos peças de encaixe. O desenvolvimento dos personagens é algo que impressiona: todos tem espaço e se tornam elementos importantes para contar essa história. Partindo de duelos sugeridos, conforme avançamos nos episódios, percebemos respingos também sobre a ética, onde o certo e o errado encontram barreiras de compreensão. A grande graça desse projeto não é saber a identidade dos suspeitos, é muito mais que isso, são os caminhos que levam pessoas a atos no impulso, tendo o desprezo na ponta das atitudes.

Cortina de Fumaça se consolida, nessa primeira temporada, como um das gratas surpresas no universo das séries. Sem muita divulgação desde sua estreia, mal sabe o público o que o espera. É ver e se deliciar!

 

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08/08/2025

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Pausa para uma série: 'Terra da Máfia'


Com um suspense imprevisível e atuações intensas, Terra da Máfia mergulha no submundo do crime organizado britânico, onde diferentes gerações de gângsteres travam um jogo brutal de poder. A série, que chegou discretamente ao catálogo da Paramount Plus, rapidamente se firmou como uma das grandes surpresas de 2025. Criada pelo romancista irlandês Ronan Bennett - também showrunner do recente sucesso O Dia do Chacal - a trama acompanha o confronto entre duas famílias rivais que entram em rota de colisão após um evento trágico que muda toda a calmaria que se mostrava presente.

Conrad Harrigan (Pierce Brosnan) é um temido mafioso, casado com a enigmática Maeve (Helen Mirren), que comanda os negócios da família em Londres. Seu eterno inimigo é Richie Stevenson (Geoff Bell), com quem nunca se deu bem e divide o poder na cidade. Quando o filho de Richie é assassinado de forma violenta, um banho de sangue vira algo iminente e as atenções se voltam para a família Harrigan. Nesse momento, entra em cena Harry da Souza (Tom Hardy) um resolvedor de problemas e leal aos Harrigans.

A origem deste projeto é, no mínimo, curiosa. Inicialmente concebido como um prelúdio da série Ray Donovan, o conceito tomou novos rumos e acabou se transformando em uma obra independente. A decisão se prova acertada: com episódios bem dirigidos, ritmo firme e um roteiro afiado que conduz o espectador ao clímax a todo momento, a série mergulha com intensidade em temas como laços familiares, confiança, corrupção e traição, atropelando qualquer noção de moralidade. Somos guiados pelo labirinto de poder e influência dos Harrigan, uma família marcada por segredos e composta por figuras complexas e ambíguas, cada uma lidando à sua maneira com o peso constante da tensão que os cerca.

O roteiro avança com ritmo consistente ao explorar parte do passado e os choques do presente por meio de um desenvolvimento de personagens sólido e bem equilibrado. Ao longo dos dez episódios da primeira temporada, é notável como o extenso elenco tem espaço para brilhar, com cada personagem ganhando tempo de tela suficiente para revelar suas camadas e motivações. Sem entregar tudo de uma vez - possivelmente já pensando em futuras temporadas -, a série deixa algumas pontas soltas de forma estratégica, abrindo caminhos promissores para novas jornadas.

Um fator crucial para o ótimo desenvolvimento da trama, Harry da Souza atua como uma verdadeira carta coringa - transitando por todos os núcleos da trama. Assim, através de seus passos, acompanhamos uma narrativa marcada por diferentes formas de violência e pela ruína de qualquer vestígio de moralidade. Insanidade, traições e a já recorrente decadência do poder se entrelaçam, tornando-se o eixo central da história. Não é difícil traçar paralelos com a realidade: lugares onde poderes camuflados tomam o controle, transformando cidades inteiras em reféns daqueles que realmente comandam nos bastidores.

Com uma trilha sonora explosiva - que traz entre seus compositores Matt Bellamy, vocalista e guitarrista da banda Muse - Terra da Máfia oferece um verdadeiro intensivão sobre como capturar a atenção do público pelo choque e pela intensidade. Já renovada para a segunda temporada, a série deixa um leque de possibilidades em aberto após o desfecho eletrizante de sua primeira season finale. Com todos os elementos posicionados nesse jogo de poder, tem tudo para conquistar ainda mais destaque daqui pra frente.

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09/07/2025

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Pausa para uma série: 'Jogo Cruzado'


Com um olhar crítico sobre o universo machista do futebol, a série Jogo Cruzado usa a comédia escrachada e uma narrativa leve para abordar temas delicados que ainda são tratados como tabus no esporte mais popular do Brasil. Entre risadas e provocações, a produção oferece reflexões importantes e necessárias. Em oito episódios repletos de convidados especiais – todos já disponíveis na Disney Plus – a série busca apresentar o ambiente do futebol através de novos olhares sempre tendo o humor na ponta da chuteira.

Matheus (José Loreto) é o craque de um time que busca sempre os títulos mais importantes. Elisa (Carol Castro) é uma jornalista fiel aos princípios da profissão que escolheu em busca de novos desafios na carreira. Eles nunca se deram bem. Quando Matheus precisa parar com o futebol por ordem médica, seu destino volta a se cruzar com o de Elisa, e juntos são convidados a apresentar um programa esportivo que promete chocar o mundo do jornalismo esportivo.

Com um episódio piloto acelerado e confuso, seguido por um segundo capítulo aquém dos demais, a série só encontra seu verdadeiro rumo a partir do terceiro episódio — quando os temas centrais começam a ser apresentados com mais clareza. A partir daí, em um jogo de protagonismo que alterna entre personagens principais, o desenvolvimento se dá por meio dos conflitos em suas vidas pessoais e profissionais.

Imerso em um ritmo acelerado e uma ação reflexiva que muitas vezes se limita à superfície, o projeto segue por caminhos previsíveis — mas não sem antes levantar reflexões relevantes. Entre os temas abordados, destacam-se questões pouco exploradas, como os desafios enfrentados por jogadores homossexuais em um ambiente ainda machista, a propagação de fake news por falta de apuração jornalística, o sensacionalismo na mídia esportiva e as doenças psicológicas, como a depressão, que afetam atletas no auge da pressão.

O machismo no futebol também ganha um foco importante, talvez sendo o tema mais consistente ao longo dos episódios. A personagem Elisa, vivida por Carol Castro, revela situações enfrentadas por muitas mulheres no jornalismo esportivo. Por meio de cenas que espelham o cotidiano, a série levanta questões relevantes e convida o público a refletir sobre a desigualdade de gênero nesse meio.

Equilibrar comédia e drama é um desafio — e, neste projeto, a fórmula não se concretiza. Com forte inclinação para o humor, as possíveis camadas dramáticas acabam ficando na superfície, muitas vezes recaindo em clichês já conhecidos. Ainda assim, mesmo em meio a uma espécie de bagunça organizada, a série consegue transmitir mensagens relevantes, o que se torna um dos principais méritos da produção.


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04/07/2025

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Pausa para uma série: 'Raul Seixas: Eu Sou'


Um ídolo e sua eterna metamorfose ambulante. Produzido pela 02 filmes e disponível no catálogo do Globoplay, a minissérie Raul Seixas: Eu Sou nos leva até os detalhes na carreira profissional e da vida pessoal do cantor baiano - e um dos pioneiros do Rock no Brasil - Raul Seixas. Com detalhes conhecidos pelo público e outros nem tanto assim, o roteiro preenche com emoção o misticismo, as angústias, a criatividade, o sofrimento de uma voz que nunca vamos esquecer. No papel principal, o competente Ravel Andrade se entrega de corpo e alma dando vida ao ídolo de toda uma nação.

Recortando sua trajetória entre os anos 1960, 1970 e início dos anos 1980, a obra seriada levanta todos seus tópicos num episódio piloto competente, que preenche as primeiras peças de uma jornada pela vida e obra de um dos artistas mais originais que nossa música já teve. Utilizando leves flashbacks, dentro de uma narrativa que se mantém firme num apresentar em vez de decifrar – opção que se mostra um caminho eficiente e certeiro – ao longo de oito episódios vamos vendo os altos e baixos desse nômade do equilíbrio.

Sem esquecer da amizade de longa data com o escritor e compositor Paulo Coelho, os tempos de censura e ditadura militar, as dificuldades no início de carreira, até os dramas familiares provocados muitas vezes pelos seus vícios que afastaram pessoas que o amaram, podemos definir duas vertentes que seguem num mesmo caminho e fazem relação com suas letras e história. Tendo parte da potente canção Maluco Beleza no subtítulo da projeto, o roteiro se divide em dois momentos (o artista e o pai/marido) que se encaixam numa reta só.

O homem que já foi ‘o medo de amar’ tem relação com suas questões familiares, que ganham muitas camadas ao longo dos episódios – principalmente nos episódios finais. A sua ‘força da imaginação’ apresenta o processo criativo, as dúvidas no início da carreira onde numa decisão acertada, largando a carreira como produtor e embarcando na de intérprete. ‘A luz das estrelas’ está associada ao misticismo, algo bem construído com a fantasia ganhando força em muitas cenas. Há também o ‘tentar outra vez’, algo que fica fixo na época de declínio sempre na esperança de dias com novas oportunidades.

Recriar a vida e a obra de um artista que, mesmo após sua morte, continua vivo por meio de suas canções, é sempre um grande desafio. É possível que alguns detalhes tenham ficado de fora, mas, de modo geral, a série mergulha com força no universo enigmático de Raul Seixas. Ao som do rock and roll que embalou gerações, somos conduzidos por muitas das verdades de um artista que arrastava multidões.

Lançado semana passada, perto da data onde Raulzito completaria 80 anos de vida, Raul Seixas: Eu Sou mostra competência para percorrer a vela que acende e a luz que se apaga. Se interessou? Todos os oito episódios já estão disponíveis no Globoplay.


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24/06/2025

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Pausa para uma série: 'As Mil Mortes de Nora Dalmasso'


Um dos crimes mais cruéis de toda história da Argentina, com quase duas décadas desde seu ocorrido, e ainda sem solução. Retratando em uma contextualização profunda os desenrolares desse brutal assassinato, chegou na Netflix As Mil Mortes de Nora Dalmasso, um projeto que por meio de depoimentos de advogados, imprensa que fez a cobertura na época, reportagens da época e da própria família, monta recortes com pontos de vistas sobre todo o circo midiático que se tornou a investigação.

Río Cuarto, província de Córdoba, novembro de 2006. Uma mulher, sozinha em casa, é brutalmente assassinada, enforcada pela corda do seu próprio roupão. Seu corpo é encontrado e logo uma investigação se mostra em ação. O filho estava longe dali, a filha morando em outro país, o marido disputando um campeonato de golf longe dali. A pergunta que logo chega: quem matou essa mulher?

Nos dias que se seguem a descoberta do corpo, nos primeiros passos da investigação, logo se percebe uma polícia completamente perdida, com várias falhas apontadas até ações seguintes. Esse fator é crucial para os desenrolares e acusações infundadas que se seguiram. A produção seriada parte desse ponto para trazer os fatos ao público jogando um foco maior numa guerra entre a família e o quarto poder.

A minissérie documental True Crime consegue trazer para forte debate o papel da imprensa na cobertura de casos de assassinatos que logo se tornam midiáticos de uma forma bem mais profunda que outras produções. Perseguidos e muitas vezes induzidos como suspeitos, jogados aos leões da opinião pública, a família da vítima também ganha importante espaço contando o caos que virou suas vidas após o ocorrido.

Vale tudo pela notícia? As reflexões se acumulam quando pensamos nas linhas tênues que o jornalismo sensacionalista percorre em qualquer caso de grande repercussão. Em alguns casos, opiniões pessoais acabam iludindo e influenciando profissionais que deveriam prezar pela imparcialidade e focar em apresentar o fatos concretos. Momentos chocantes são vistos em relação a isso, como os impactos na vida pessoal do filho da vítima que teve sua vida e questões íntimas completamente exposta.

As Mil Mortes de Nora Dalmasso, ao longo de seus intensos três episódios, parte de uma enigmática morte na alta sociedade argentina para apresentar as hipocrisias em casos de grandes repercussões. Veja e tire suas próprias conclusões!


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01/06/2025

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Pausa para uma série: 'A Melhor Irmã'


As surpresas de um homicídio contadas através de uma família disfuncional. Ao remexer traumas familiares, mostrando a bagunça da verdade de um assassinato através de personagens moralmente ambíguos, a nova série da prime video A Melhor Irmã mergulha em um drama incisivo que se entrelaça no suspense de forma organizada. Ao longo dos oito episódios, vamos criando uma imensa curiosidade sobre as verdades que vão aparecendo em doses precisas.

Baseado na obra The Better Sister, escrito pela romancista norte-americana Alafair Burke, o projeto apresenta seu ‘Casos de Família’ através dos ressentimentos e traições, um duelo entre a espontaneidade e o modelo da perfeição. O foco principal são duas irmãs e muito mais que um conflito. Em cena, brilham duas atrizes em excelência na atuação - Elizabeth Banks e Jessica Biel - nos guiando para um desfecho de tirar o fôlego.

Chloe (Jessica Biel), é um mulher bem-sucedida, editora-chefe de uma revista de sucesso, que vive sua rotina de milionária ao lado do marido, o advogado Adam (Corey Stoll), e do filho Ethan (Maxwell Acee Donovan). Sua rotina é interrompida quando Adam é brutalmente assassinado e Chloe encontra seu corpo quando chega em casa. A partir desse momento, segredos profundos sobre o casamento começam a vir à tona — incluindo a chocante revelação de que Ethan é, na verdade, fruto de um relacionamento entre Adam e Nicky (Elizabeth Banks), irmã de Chloe. Sem opções, a não ser lidar com o passado e os conflitos entre elas, Chloe e Nicky precisam superar as desavenças e encontrar soluções para os conflitos que aparecem.

O roteiro segue uma linha reta rumo ao desembaralhar os conflitos, um discurso forte e poderoso que passa pela curas das feridas mais profundas. Personagens ambíguos vão preenchendo todo o epicentro da trama dando forma a um instigante drama familiar. Passando pelas memórias nem sempre boas e as verdadeiras companhias nos momentos sombrios, as margens para surpresas se tornam constante em um esforço bem-sucedido de evitar a obviedade.

A narrativa é modelada com o auxílio de flashbacks, fato que ajuda demais para as arestas serem alinhadas. Com a investigação do assassinato indo calmamente para um plano de fundo, a luz se joga para assuntos que circulam os conflitos no presente entre as irmãs. Assim, ganhando camadas imprevisíveis, chegamos na violência doméstica, olhar para a maternidade, o alcoolismo, segredos e traumas do passado. Ainda em relação à narrativa, há um interessante ponto que merece destaque: poucos personagens são escanteados, cada subtrama exerce a função de complemento e se cruzam com a história principal.

A Melhor Irmã é uma série que surpreende, não tanto pelo suspense mas pelos fios de reconstrução de laços entre duas irmãs marcadas por eventos que fizeram seus caminhos se distanciarem - e novamente se unirem. É uma série que te prende desde o primeiro episódio. Se você está em busca de uma série envolvente para maratonar, essa é a escolha certa para dar o play.

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16/05/2025

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Pausa para uma série: 'Procurados - EUA: Osama Bin Laden'


Na manhã de 11 de setembro de 2001, em Nova Iorque, o mundo assistiu, estarrecido, a um ataque aéreo sem precedentes contra um dos maiores símbolos dos Estados Unidos. A partir daquele momento, iniciou-se uma longa caçada — atravessando dois governos — para capturar o principal responsável pelo atentado: o líder da organização fundamentalista islâmica Al-Qaeda.

Percorrendo detalhes poucas vezes vistos, com entrevistas emocionadas de personagens importantes do governo norte-americano, da CIA, de forças especiais, e uma recriação impecável de situações ocorridas nesse período de angústia e ansiedade com o objetivo de encontrar Osama Bin Laden, a excelente série documental Procurados - EUA: Osama Bin Laden nos faz voltar no tempo para entender melhor os pormenores dessa caçada.

Dividida em três episódios, a minissérie explora os acontecimentos que antecederam e cercaram a operação que culminaria em seu objetivo final. Em meio a mudanças no comando do poder, pessoas que participaram diretamente ou acompanharam de perto as reuniões secretas tornam-se peças-chave na construção da narrativa. A força de seus depoimentos sustenta a base desta investigação documental, que lança luz sobre um dos episódios mais marcantes da história norte-americana.

Da difícil tarefa de reviver os dias de tensão até a conclusão de um árduo trabalho – que mexeu com muitas vidas pessoais - quando o principal símbolo do terror foi localizado e morto em um esconderijo nos arredores de uma cidade no Paquistão, os depoimentos dos analistas da CIA são estarrecedores, um recorte de emoções que marcou a trajetória de cada uma dessas pessoas.

Pelas entrelinhas, enxergamos questões políticas, divergências conflitantes, onde o medo do fracasso se torna uma variável a se prestar a atenção. De George W. Bush a Barack Obama: o primeiro, presidente durante os atentados e os dias de tensão que se seguiram; o segundo, encarregado de cumprir a missão que se tornou um dos principais objetivos de seu governo, acompanhamos decisões cruciais que levaram ao sucesso da operação final ocorrida em 2 de maio de 2011.

Procurados - EUA: Osama Bin Laden é mais uma série consistente da Netflix dentro desse caminho de explorar com ampla investigação fatos marcantes dentro de acontecimentos chocantes nos Estados Unidos. Estão no catálogo da líder dos streamings também, Procurados - EUA: O.J. Simpson e Procurados - EUA: O Atentado à Maratona de Boston.


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Pausa para uma série: 'A Garota Roubada'


Com um piloto aceitável e alguns episódios sonolentos que se seguem, num balanceamento desequilibrado dos elementos de uma narrativa, chegou sem muito alarde ao catálogo da Disney Plus a minissérie A Garota Roubada. Estrelada por Denise Gough e Holliday Grainger esse projeto te deixa preso num primeiro momento em uma história de desaparecimento mas que logo sofre por um desenvolvimento com o freio de mão puxado apresentando um recheio - nada satisfatório - de clichês.

A vida da aeromoça de jatos particulares Elisa (Denise Gough) vira de ponta a cabeça após permitir que sua filha durma na casa de uma nova amiguinha, influenciada pela insistência da mãe da garota, Rebecca (Holliday Grainger). Em uma busca do paradeiro da filha após percebido o sumiço, a protagonista e o pai da menina, Fred (Jim Sturgess), acionam a polícia. Ao longo do desenrolar dos dias, algumas surpresas do passado de Elisa, e também sobre esse casamento, vão aparecendo.  

Em poucos minutos, o primeiro episódio realiza com eficiência a difícil tarefa de apresentar, de forma objetiva e com ritmo acelerado, os alicerces da história, despertando interesse genuíno pelo que está por vir. No entanto, a partir do segundo episódio, a narrativa começa a se desviar do rumo: acumulam-se pontas soltas, e temas promissores que poderiam render reflexões mais profundas acabam tratados de maneira superficial, com resoluções simplistas e pouco impactantes.

Os holofotes se colocam num duelo entre anti-heroína e vilã, se esquecendo de resolver os conflitos de outros personagens escanteados da história. Elementos desse grupo dos esquecidos, estão Fred e Selma (Ambika Mod), essa última, uma jornalista investigativa que pega o bonde andando desse furo de reportagem - a falha tentativa de crítica ao circo midiático em todo caso de repercussão - se tornando coadjuvante até mesmo da sua própria jornada.

Baseado na obra Playdate, da escritora norueguesa Alex Dahl, essa minissérie de cinco episódios segue na linha do convencional para convencer o público com uma receita de bolo batida de suspense que se joga em reviravoltas pra lá de mirabolantes e pouco convincentes. Tudo começa bem mas desanda, rumando para um desinteressante duelo contra a previsibilidade.


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15/05/2025

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Pausa para uma série: 'Caso Jean Charles: Um Brasileiro Morto Por Engano'


Uma luta por justiça e respostas. Era julho de 2005, em um país europeu abalado por recentes atentados terroristas. Em meio ao clima de tensão, com a polícia e autoridades debatendo os próximos passos na segurança pública, um erro imperdoável resultou na morte do brasileiro Jean Charles de Menezes.

Apresentando detalhes chocantes desse TRUE CRIME, chegou na Disney Plus a minissérie de quatro episódios Caso Jean Charles: Um Brasileiro Morto Por Engano, marcada por cenas fortes e perturbadoras. Ao longo dos impactantes capítulos, vamos entendendo o antes e o depois de um quebra-cabeça de erros onde a incapacidade de comando determinou uma tragédia.

Percorrendo um intervalo pequeno de dias, conhecemos Jean Charles (Edison Alcaide), um brasileiro batalhador que trabalha como eletricista em uma Londres de 20 anos atrás. Com a cidade sendo alvo recente de ações desumanas que vitimaram mais de 50 pessoas, a polícia resolve criar forças tarefas para retomar o controle e aliviar a pressão pública. No dia 22 de julho, em meio a uma falha operacional inacreditável, Jean foi confundido com um terrorista procurado e executado com onze tiros pela Polícia Metropolitana de Londres, dentro de uma estação de metrô.

Um importante trunfo desse projeto chocante é o passo a passo do que aconteceu antes e depois da morte do brasileiro, sempre tendo mais de um ponto de vista. Com uma contextualização eficiente, que resume em pouco tempo todo o caos e medo que viviam os moradores da capital inglesa naquela época, acompanhamos – com indignação - uma série de erros e abusos de poder serem expostos. A narrativa logo encontra um ritmo intenso chegando na aflição, na angústia, se construindo em volta de um retrato assustador – bem exposto - de incompetência policial.

As derrapadas morais vão de encontro a uma série de personagens importantes que se misturam no não saber lidar com o fracasso de uma operação e reconhecer o erro, até outros que ajudaram a trazer verdades pra frente das barreiras que foram colocadas. Os pais de Jean Charles foram consultores da série, um fato importante, algo que deixa mais próximo da verdade tudo que acompanhamos.

Caso Jean Charles: Um Brasileiro Morto por Engano culmina em uma poderosa mensagem de luta por justiça e por respostas. Com todos os episódios já disponíveis no Disney Plus, é bem provável que você termine a minissérie tomado por um profundo sentimento de indignação.


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09/05/2025

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Pausa para uma série: 'As Quatro Estações do Ano'


Os altos e baixos do matrimônio. Buscando uma atualização de uma obra homônima lançada no início da década de 1980, escrita e dirigida por Alan Alda – que faz uma pequena participação aqui – o novo seriado da Netflix As Quatro Estações do Ano traz aos olhos do público uma história bem-humorada, madura, que envolve questões sobre o casamento na visão de três casais, amigos de longa data. Já podemos considerar essa como uma das ótimas adições ao catálogo da toda poderosa do mundo dos streamings.

E o motivo dos elogios é simples: É muito fácil se identificar! Desde a reviravolta do primeiro episódio, é provável que você seja capturado por essa história! Com um texto leve, divertido, sem esquecer de dar um pulo em camadas além do superficial – principalmente quando embates mais evidentes saltam na tela – ao longo de oito episódios dessa (provável) primeira temporada, vamos navegando no mar das instabilidades de uniões que para muitos parecem ser perfeitas.

Um grupo de amigos animados se encontram sempre que tem uma folguinha para compartilhar de mais momentos juntos. Assim, somos apresentados aos casais: Kate (Tina Fey) e Jack (Will Forte), Danny (Colman Domingo) e Claude (Marco Calvani), Anne (Kerri Kenney) e Nick (Steve Carell). A questão que gira em torno de tudo que acompanhamos é a de que Nick resolve se separar, pegando a todos de surpresa. Esse fato apresenta mais conflitos ao grupo de amigos, principalmente quando ele assume um novo romance, com Ginny (Erika Henningsen), uma mulher mais jovem.

Com muito episódios escritos por Tina Fey, esse projeto segue uma fórmula bem definida com um quase ‘começo, meio e fim’ a cada dois episódios. Isso ocorre pois as estações do ano viram quatro atos, então, a cada dois capítulos vemos um novo reencontro. Os ganchos para tais deslizam entre o tema central (a já mencionada separação de um dos casais) e atualizações sobre o cotidiano dos períodos. Um mérito que fica bem exposto é a forma como abrem-se camadas para todos os casais e seus conflitos. As entrelinhas são poucas.

Com locações que circularam entre Nova Iorque e a Califórnia, essa série que deve chegar rapidamente ao TOP 10 da plataforma, apresenta também uma maturidade nos diálogos levando esse projeto para um outro patamar em comparação a muitas obras (filmes ou séries) que buscaram o mesmo caminho: falar com propriedade sobre relacionamentos. Ajuda, o ótimo elenco que apresenta um carisma impressionante com seus maravilhosos e bem entrosados personagens.

Os conflitos de casais sempre geram muitas reflexões, em As Quatro Estações do Ano não é diferente. A fácil identificação é trunfo bem desenvolvida, segue na linha do existencial sem parafernalhas. Ao fim do oitavo episódio fica um gostinho de quero mais. Quem sabe não vemos mais uma temporada em breve. Ganchos tem aos montes!


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07/05/2025

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Pausa para uma série: 'Étoile: A Dança das Estrelas'


A californiana Amy Sherman-Palladino já é um nome bastante conhecido dos amantes das séries. Mente criativa por trás de sucessos como: Gilmore Girls e Maravilhosa Sra. Maisel, em 2025 chega com seu novo trabalho: Étoile: A Dança das Estrelas. Percorrendo os bastidores de duas companhias de balé de forma sarcástica e com muito humor, trazendo problemas atuais para uma arte centenária - além de um ótimo elenco - o projeto se consolida como uma obra-prima de oito episódios que emociona e faz rir na mesma intensidade tendo a cultura como força motriz.  

Com um texto inteligente e empolgante – que nunca escapa de seu discurso afiado - conhecemos os conflitos de bailarinos, administradores, mães e filhas, pessoas influentes querendo se impor, além de trazer para debates questões sociais importantes quando o assunto é contemplar em vez de postar. Cheio de críticas pelas suas entrelinhas, essa nova série da Prime Video é viciante, daquelas para maratonar em um único dia!

Jack (Luke Kirby) é o administrador de uma renomada companhia de balé norte-americana que passa por grandes sufocos na tentativa de renovar o interesse do público para os espetáculos. Sofrendo do mesmo problema, Geneviève (Charlotte Gainsbourg) se encontra numa forte pressão dos patrocinadores da sua companhia, também famosa, na França. Quando surge uma mirabolante ideia, trocar os talentos para um intercâmbio durante um período, a vida desses dois administradores trará conflitos que vão do céu o inferno.

O desenvolvimento dos personagens é algo que chama a atenção. Nossos olhares se desdobram para acompanhar subtramas profundas que logo atingem os epicentros dos sentimentos. Como não amar Geneviève – interpretada pela fabulosa atriz Charlotte Gainsbourg – uma mulher na casa dos 40 anos que vive um furacão no seu presente, tendo que lidar com o problemas de seu trabalho e ainda se entendendo no momento atual da vida pessoal. Outra personagem que chama a atenção é Cheyenne (Lou de Laâge), um ponto de encontro de muitos dos conflitos que aos poucos vai ganhando camadas para a entendermos melhor.

Mas o ‘pulo do gato’ aqui é conseguir chegar ao interessante por meio de bastidores de uma espécie de empresa. As vertentes administrativas aqui ganham desdobramentos hilários, é um shoe de sofrimentos recompensadores que saltam aos nossos olhos. O roteiro consegue adaptar o contemporâneo com uma arte cultural centenária por meio dos deslizes das emoções e também do lado moral. Mesmo quem não conhece o universo do balé vai se deliciar com os ótimos debates que ganham tons provocativos através do sarcasmo em cada um dos episódios.  

 

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01/05/2025

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Pausa para uma série: 'Os Ladrões de Diamante'


Com um roteiro bem bolado que explora uma tentativa de roubo cinematográfico, chegou sem muito ‘oba oba’ na Netflix uma intrigante minissérie policial de apenas três capítulos que consegue jogar uma lupa para um amplo contexto de uma Inglaterra no início dos anos 2000. Produzido por Guy Ritchie e tendo no centro dos holofotes os pontos de vistas ladrões, polícia e imprensa, Os Ladrões de Diamante é um prato cheio pra quem curte true crime!

Achada no Zaire em meados dos anos 1990, a cobiçada pedra preciosa Millenium Star, da De Beers (empresa sul-africana-britânica líder mundial na indústria de diamantes), um diamante com mais de 200 quilates, ganhou os olhares do mundo na virada do milênio sendo exposta no mega empreendimento Domo do Milênio. Essa última, uma grande construção em forma de cúpula na Península de Greenwich, no sudeste de Londres.

Com tantas notícias sobre, chamou a atenção de um grupo de ladrões que aos poucos foram se organizando para executar um roubo que tinha tudo para ser o maior já feito na história da criminalidade. Em três dinâmicos capítulos, essa série nos mostra os bastidores desse crime ousado que apresenta muitas surpresas, pois, a polícia desconfiada por algumas movimentações, também armou uma estratégia bem criativa nesse duelo entre os heróis e os criminosos.

O projeto consegue ampliar o contexto de alguns porquês através das ações para o novo milênio e as mudanças na terra da Rainha, onde o primeiro-ministro Tony Blair e toda a base governamental buscava cada vez mais impulsionamentos nos atrativos culturais e financeiros das suas regiões. A justiça, a imprensa, também ganham força ao longo dos capítulos. Podemos acompanhar as conclusões desse caso através também dessas variáveis importantes.

Mas a sacada principal da série é a mescla de ficcional com documental, uma fórmula inteligente que se mostra dinâmica preparando o terreno para as surpresas. E bem que poderia virar um filme só de ficção futuramente! A narrativa explora recortes da vida do líder dos assaltantes de joias, numa espécie de antes e depois onde as verdades saem com mais facilidade.

Os Ladrões de Diamante entrou sem muita divulgação na Netflix, mas acreditem: é uma verdadeira pérola a ser descoberta! Pra quem curte True Crime então...


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Pausa para uma série: 'O Eternauta'


O silêncio e o estrondo nas relações humanas. Enfim chegou na Netflix a tão aguardada série argentina O Eternauta, protagonizada por Ricardo Darín, baseada na clássica história em quadrinhos de ficção científica criada por Héctor Germán Oesterheld (em colaboração com o desenhista Francisco Solano López), crítico ferrenho aos golpes de estado que marcaram o cotidiano dos nossos vizinhos. Tem invasão alienígena, dilemas dilacerantes, viagem no tempo, várias surpresas e muito mais!

Com uma veia crítica afiada e apontada para os deslizes da sociedade em momentos de crise, essa releitura da criação de Oesterheld nos joga para uma gangorra de paranoia aliada ao medo concreto onde um novo sentido do confiar cria barreiras e dilemas, escancarando em camadas sutis as relação familiares e de amizade. Irmãos, pais e filhos, amigos de longa data se veem na necessidade de ativar o instinto de sobrevivência, colocando qualquer laço à prova.

Sempre renovando uma amizade de quase 40 anos, quatro amigos se reúnem toda sexta-feira para jogar truco. Num desses dias, algo estranho acontece. Ao perceberem estar sob uma misteriosa e mortal nevasca, Juan Salvo (Ricardo Darín) e o restante do grupo precisarão encontrar soluções para sobreviver quando os perigos se mostram presentes. Conforme os dias passam começam a entender que uma invasão aconteceu e nada será como antes.

Ao longo dos seis episódios dessa primeira temporada, que começa com um piloto morno mas que apara o terreno para os cinco restantes deixarem nossos olhares não saírem de perto da televisão, buscamos decifrar um enorme contexto – ainda pouco explicado – através de um pai em busca da sua única filha.

Entre caminhadas solitárias e ações em grupo percebemos ao longo dessa primeira temporada a essência do que está nos quadrinhos. Trazendo as prováveis uniões e a ação conjunta a favor de um objetivo, esse espírito do ‘herói coletivo’ está nítido desde os primeiros minutos. As linhas tênues entre a moral e a ignorância também se mostra presente quase numa espécie de investigação sobre o comportamento humano em momentos decisivos.

Como tudo mudou é capaz de você mudar também. Com os pés no chão sem deixar se levar pelas infinitas possibilidades mirabolantes de caminhos para se reconstruir essa emblemática história, o criador e roteirista da série Bruno Stagnaro explora os conflitos de seus personagens de forma inteligente nos levando para embates que tem como base a: superação vs limitação.

Para criar essa distopia, de invasão do mundo que conhecemos, é importante mencionarmos a impecável direção de arte que com muita criatividade consegue ser um importante elemento. Realmente nos sentimos passeando pelas famosas ruas de Buenos Aires. As filmagens duraram cerca de 5 meses na capital argentina, e se espalharam em cerca de 50 locações. Além disso, contou com quase 3.000 artistas entre elenco e figurantes.

Com ainda muitas pontas soltas e apresentando apenas um pequeno pedaço de toda uma enorme história cheia de reviravoltas, O Eternauta chegou com sua primeira parte buscando explorar cada cantinho dessa distopia que traça pelas entrelinhas vários paralelos com a realidade. E atenção: logo nos créditos do último episódio dessa jornada de seis episódios, a confirmação: teremos uma segunda temporada! Aguardaremos!


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23/04/2025

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Pausa para uma série: 'Congonhas: Tragédia Anunciada'


Vida, verdade, justiça. Trazendo ao público detalhes impressionantes da trágica história do maior acidente aéreo da América Latina, a minissérie documental investigativa Congonhas: Tragédia Anunciada parte da dor das famílias – com muitos depoimentos de cortar o coração - rumo a uma análise bem apurada sobre responsabilidades pelo ocorrido, chegando em fatores políticos e econômicos de um setor que vinha de uma série de instabilidades e incertezas.  

O fato, de repercussão internacional, se desenrolou da seguinte forma: na tarde de 17 de julho de 2007 um avião Airbus A320 da TAM decolava do aeroporto Salgado Filho em Porto Alegre rumo a um outro que fica no meio da cidade de São Paulo, Congonhas. Ao se aproximar para pouso, com chuva e tempo instável, não consegue frear a tempo e atravessa a pista se chocando em alta velocidade com um prédio da própria companhia aérea. A vida de quase 200 pessoas seriam perdidas nesse momento.

Após o ocorrido, uma série de situações transformaram esse acontecimento em um tabuleiro de muitas perguntas e respostas, inclusive com o circo midiático a todo vapor em cima de personagens que de alguma forma estavam no raio do contexto do que as investigações viriam a descobrir. A proposta dessa minissérie documental – feita com uma impressionante pesquisa – é exatamente, ao longo dos seus três impactantes capítulos, acompanharmos pontos de vistas, reportagens, depoimentos, situações e ações que fizeram parte dessa tragédia anunciada.

No seu capítulo inicial somos apresentados a história de familiares e o início de suas lutas por justiça pela morte de seus parentes. A partir do segundo capítulo, o projeto encontra um caminho detalhista para traduzir em uma narrativa imersiva a fatos e situações que circularam meses próximos da data do ocorrido. Confusões, ‘Apagão Aéreo’, e um certo caos no setor ganham argumentos em amplo contexto que vai de encontro a fatores políticos, escolhas e decisões da companhia aérea, da infraero e no centro dos holofotes a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Criada e roteirizada por Angelo Defanti (que em seu trabalho anterior, Veríssimo, nos brindou com um documentário belíssimo sobre o escritor Luís Fernando Veríssimo), Congonhas: Tragédia Anunciada apresenta a dor e a insensibilidade, um contraste marcante que não deixa de representar os fatos reais de uma tragédia que nunca será esquecida.

 

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07/04/2025

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Pausa para uma série: 'Alvo Primário'


Intrigas no mundo da espionagem é algo de certa forma bastante corriqueiro quando pensamos em filmes e séries. Trazer algo novo e que chame a atenção dentro desse contexto não é uma missão fácil. Lançado nesse início de 2025 no ótimo streaming Apple TV+, Alvo Primário segue a cartilha dessas produções trazendo em sua primeira temporada um recheio considerável de clichês que se amontoam em oito episódios que flertam com o previsível. Criada por Steve Thompson, podemos bater o martelo de que essa é umas das grandes decepções do ano até aqui.

Edward Brooks (Leo Woodall) é um jovem matemático, orgulho do corpo docente da prestigiada Universidade de Cambridge, que está produzindo uma pesquisa para seu doutorado numa análise profunda e bastante complexa sobre teorias no padrão dos números primos. Quando seu trabalho é apresentado a um dos professores mais prestigiados da universidade, uma série de situações o colocam de frente para o perigo. Para ajudá-lo em busca de respostas, entra em sua vida a analista da NSA, Taylah Sanders (Quintessa Swindell).

Quando o foco é criar o terreno para eventuais reviravoltas, a qualquer custo, geralmente não sai conforme o pensado. Em sua tentativa de criar camadas para seu nada carismático protagonista, o roteiro esbarra na ingenuidade da superfície, não tirando o pé do acelerador em nenhum momento. O quebra-cabeça emocional que vive o personagem acaba sendo pouco explorado por uma narrativa se construindo de forma atabalhoada com subtramas desinteressantes que forçadamente ganham elos com a trama principal.

O matematiquês aqui fica em segundo plano, então calma você que odeia matemática! Os dramas pessoais buscam um respiro mas acabam confundindo mais do que adicionando. As relações interpessoais que se apresentam são cheias de lacunas, parece um abre alas para futuros desenrolares (algumas produções seriadas cismam em pensar numa segunda temporada), um deslize que transformam os cerca de 60 minutos por episódio em uma sequência de achismos por parte do público.

Na sua busca por conexões interessantes ao apresentar personificações (leia-se as já mencionadas relações interpessoais) em forma de paralelos para brincar de ficção com teorias que circulam sobre os mistérios ainda indecifráveis de números naturais que possuem somente dois divisores: 1 e eles mesmos, Alvo Primário e seu aulão de espionagem deixariam Pitágoras com uma enorme preguiça.


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