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28/03/2024

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Pausa para uma série: 'Desejos S.A.'


Chegou nesse final de março ao catálogo da Star Plus uma série de antologia brasileira que se agarra na tentação como forma de provocar os dilemas na visão de conturbados personagens se jogando no mar das inconsequências. Criada pelos ótimos cineastas argentinos Gastón Duprat e Mariano Cohn, Desejos S.A. busca o olhar pela fechadura sobre os desejos não verbalizados, aqueles guardados a sete chaves, expondo a intimidade e seus embates fervorosos com a moral. O projeto é baseado em uma ideia do autor Horarcio Convertini.

A trama dessa minissérie gira em torno de seis histórias independentes que possuem um único elo: uma empresa misteriosa chamada Desejos S.A. que seduz vítimas realizando qualquer desejo por apenas 9,90 (custo da ligação que a pessoa realiza). Mas para toda ação há uma consequência, uma contrapartida indigesta que é preciso realizar para concluir a pedido. Na linha do: ‘o que você faria?’, sonhos podem se tornar verdadeiros pesadelos nessa análise profunda sobre os limites do ser humano. Algo que escancara verdades da sociedade.

Entre os ótimos personagens, conhecemos um homem da tecnologia e sua obsessão pela companheira do irmão, uma cuidadora que trabalha faz mais de duas décadas para um acomodado coronel aposentado, uma criança que deseja voltar a reunir os pais recém separados, uma mulher bem sucedida querendo descobrir possíveis segredos do marido, um frustrado motorista e seu incômodo com o novo vizinho além de uma religiosa que secretamente é fã de um famoso cantor. O elenco tem ótimos nomes: Carol Castro, Silvero Pereira, Marcos Pasquim, Daniel Rocha, Rocco Pitanga, Gilda Nomacce, Nelson Freitas e até mesmo a participação do cantor Diogo Nogueira.

A narrativa busca no detalhe, na imersão de uma trilha sonora chiclete, deixar todos os elementos em cena com a faceta da tensão refletindo para o espectador. Há muitos pontos interessantes na direção de arte que serão captadas pelos olhos mais observadores. Parece que há uma necessidade, muitas vezes excessiva, de qualquer elemento dizer alguma coisa. A condução da trama não se apressa para buscar seu clímax, com um ritmo dosado, busca uma profunda construção dos personagens antes de qualquer ação.

A consequência é um ponto a ser analisado, algo que se aproxima muito com a realidade, trazendo paralelos aos montes. O ser humano como vitrine dos erros e acertos, do certo ou errado, do egoísmo e até mesmo da acomodação pelo caminho mais fácil sempre gera bons debates. Fantoches nas mãos de algum grupo secreto, o desejo corre anos luz à frente de qualquer situação que possa chegar no fim do túnel das decisões dos protagonistas. Aqui percebemos que o egocentrismo, esse olhar para si mesmo, reverbera à beira do abismo dos conflitos.  

Com episódios durando cerca de 30 minutos, daqueles projetos para se maratonar em uma parte de um dia, essa série de antologia esmiúça casamentos em crise, relações deterioradas com o tempo, a expressão ‘até as últimas consequências’, mas se fortalece mesmo nos seus dilemas, jogando perguntas ao vento, a principal delas: O que você faria se pudesse realizar qualquer desejo não importando as consequências?

 

 

 

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27/03/2024

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Pausa para uma série: 'Rainha Vermelha'


O contraponto da genialidade e a maldição. Baseado na obra homônima do escritor e jornalista espanhol Juan Gómez-Jurado, o primeiro de uma trilogia, chegou recentemente no catálogo da Prime Video um seriado empolgante, que parte da jornada de heróis brilhantes e imperfeitos até o encontro com um caso macabro que vai se moldando através de pistas sobre um psicopata enigmático. Rainha Vermelha tem todos os seus conflitos chegando através dos laços entre pais e filhos, esse sentimento forte, vívido, conflitante, muitas vezes dependente, que se torna a base dos sete episódios, com duração perto de uma hora.

Na trama, conhecemos Antônia Scott (Vicky Luengo), uma jovem considerada uma das pessoas mais inteligentes do mundo (com um altíssimo QI) que faz parte de uma organização que só entra em operação em casos complexos onde a polícia não consegue resolver. No passado, um trauma abala todas suas estruturas emocionais ficando longe de qualquer agitação. Mas tudo isso muda com uma série de acontecimentos horripilantes que percorrem as ruas da cidade mais famosa da Espanha. Assim, seu destino se interliga com o de Jon (Hovik Keuchkeriano), um carismático policial que se junta ao time com a função de escudeiro da nomeada Rainha Vermelha. Juntos, precisarão resolver esse sinistro caso que envolve violência e o sequestro de uma milionária.

Antônia Scott é um personagem fascinante mas só vamos descobrir isso lá pelo meio da temporada. Então, paciência! A série esquenta mesmo a partir do terceiro episódio. É importante toda a costura do contexto que é feita nos primeiros episódios, de peças da organização fantasma que corre em paralelo às forças policiais até os arcos do antagonistas, passando pelo brilhante e carismático policial Jon, Rainha Vermelha posiciona peças que serão importantes nesse desfecho e até mesmo nas sequências dos outros livros que muito provavelmente virarão novas temporadas (a segunda inclusive já está garantida).

O mundo é um enorme texto a ser decifrado. Superdotada e refém de um experimento, Scott é uma jovem com uma mente brilhante que sempre se viu distante de uma sociedade que prega valores por meio de muitas hipocrisias. Isso não a deixou longe de ter uma família, criar laços. Andando em uma corda bamba com sua observação apurada parece conseguir esconder em um lugar sombrio seus embates absurdos com o exigente e influente pai e todo um passado ainda ser contado. O seriado começa exatamente no seu despertar, através de um forte trauma.

De um outro extremo, conhecemos Jon, um policial gay, marcado por um passado repleto de situações que o deixaram de lado na força policial. Sua forte relação com a mãe é o caminho para entendermos sua capacidade impressionante de agregar valores positivos numa relação e seus princípios ligados à uma análise sentimental. Um homem de uma inteligência emocional apurada que muitas vezes estaciona nas dores de causas perdidas. Hovik Keuchkeriano, está fabuloso no papel. Você pode lembrar dele como ‘Bogotá’ do mega sucesso mundial La Casa de Papel.   

A razão e a emoção moldam as personalidades distintas desses dois protagonistas formando um encaixe perfeito dentro de uma fórmula de ação e suspense onde a trama nunca é deixada de lado e sempre guiado por eles. A maneira como a história é contada (narrativa) deixa o ritmo dinâmico ampliando o campo de visão do espectador, muitas vezes através de um raio-x do subconsciente da protagonista e as reações espontâneas do outro.

Um ótimo vilão, e as surpresas quando nos deparamos com a sua história, se juntam a essa trama repleta de mistérios, reviravoltas, segredos inconfessáveis, relacionamentos abusivos, psicopatia e suas esferas. Rodado todo na cidade de Madri, Rainha Vermelha é o pontapé inicial de um arco maior. Há muito para se desenvolver. A segunda temporada já está garantida e será a adaptação de Loba Negra, segundo livro da brilhante trilogia de Juan Gómez-Jurado. Para quem se interessar, essa primeira temporada está disponível no catálogo da Prime Video.


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23/03/2024

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Pausa para uma série: 'Magnatas do Crime'


Ação e humor debochado na medida certa. Diretamente da mente criativa do cineasta britânico Guy Ritchie chegou na Netflix um seriado que possui uma narrativa detalhista que encontra um ritmo intenso num habilidoso jogo de perspectivas com excêntricos e inconsequentes personagens. Magnatas do Crime, spin-off (uma história derivada) do filme lançado em 2019 pelo próprio diretor, nos leva para um tour pelo domínio, a necessidade de poder, no mundo obscuro da criminalidade.

Na trama, conhecemos o aristocrata Eddie (Theo James) um soldado britânico que servia na ONU que é chamado pra casa por sua família já que o pai está pelas últimas. Quando assume uma herança indigesta que traz riquezas e muitos desastres, descobre que na propriedade da família existe uma enorme plantação secreta de maconha comandado pela família de Susie (Kaya Scodelario). Buscando encontrar alguma solução para se desvincular da criminalidade acaba entrando de cabeça no submundo do crime.

Um novo duque e uma série de missões. Com uma trama mirabolante que passa um raio-x na iminente criação/formação de um gângster, algo parecido com o já vimos em O Poderoso Chefão, Magnatas do Crime nos leva para o confronto com narrativas de poderosos sendo seguidas por situações peculiares que mostram todo o controle e também descontrole numa busca pelo trono de mais poderoso. Pode ser visto também como um Game of Thrones do submundo do crime em uma Inglaterra dos tempos atuais.

Expandindo o universo de histórias oriundas do filme lançado em 2019, o projeto de oito episódios em sua primeira temporada é um mergulho profundo na psiquê humana, repleto de personagens peculiares que possuem como elo as contradições, o confronto com o antagônico. Tudo isso é mostrado de forma minuciosa pelas lentes de Ritchie que não deixa de lado ótimas cenas de ação e espaço para reviravoltas, transformando o seriado em mais uma obra consistente de seu currículo.


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Pausa para uma série: 'O Problema dos 3 Corpos'


Um chamado. Uma resposta. Onde está o inexplicável? Baseado na obra homônima escrita por Liu Cixin, O Problema dos 3 Corpos é um drama existencial com muita ficção científica que reúne uma série de elementos que vão dos conceitos físicos que se juntam à quebra de valores éticos, até as derrapadas da moral, dramas pessoais, tragédias e dilemas. Adaptado para as telas pela dupla, David Benioff e D.B. Weiss, alguns dos responsáveis pelo sucesso Game of Thrones, a narrativa, que percorre uma extensa faixa temporal com blocos de histórias que vão se reunindo, busca ser objetiva nas jornadas profundas de seus intrigantes personagens.

Na trama, conhecemos uma jovem cientista lá na década de 60, em meio à revolução cultural chinesa, que após passar por um trauma acaba recebendo a chance de trabalhar num lugar secreto que tem como objetivo colocar a China como líder na comunicação interestelar. Um dia, ela consegue contato com seres de outro planeta e uma decisão nessa comunicação acaba vindo a ter consequências anos depois atingindo em cheio as vidas de um grupo de amigos e brilhantes cientistas que estão na Europa nos tempos atuais.

Estrelas brilhando de forma estranha, códigos vindo de outros lugares, pesquisas avançadas sendo sabotadas, seita alienígena, sol amplificando transmissões, uma inteligência artificial jamais vista. O que deixamos pra trás para pensar na frente? Suportando sua base do discurso em confrontos de ideologias e tendo a ciência como elemento importante de salvação da humanidade, o misterioso seriado, que tem um dos maiores orçamentos da história da Netflix, consegue equilibrar o fisiquês com a razão da existência onde embates são vistos em várias subtramas que nos levam a reflexões sobre jornadas profundas sobre a vida e a morte.

Qual o bem maior? O confronto entre o egoísmo e o coletivo é algo que permeia as ações dos personagens dentro da linha de que toda ação pode ter uma consequência. A ciência sobre o misticismo é outro ponto também abordado de forma franca que desemboca em dilemas bastante terráqueos mas aqui ligados a uma necessidade de defesa planetária.

O Problema dos 3 Corpos é a primeira parte de uma trilogia, então já sabem que o final é aberto! Ao longo desse intenso, e cheio de peças soltas, arco introdutório de oito episódios, a construção da identidade da série é feita com maestria, com ritmo equilibrado, deixando lacunas a serem preenchidas nas futuras temporadas.

 


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13/03/2024

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Pausa para uma série: 'Ara San Juan: O Submarino que Desapareceu'


Uma tragédia e muitas descobertas. Chegou recentemente no catálogo da Netflix, um seriado documental argentino que traça um pente fino no catastrófico sumiço de um submarino com 44 tripulantes à bordo ocorrido em outubro de 2017. Um desastre que abre um mar de absurdos que vão desde um governo insensível, completamente perdido ao lidar com uma situação, até inúmeras teorias mirabolantes do que de fato possa ter acontecido.

Nos oito episódios com cerca de 25 minutos, Ara San Juan: O Submarino que Desapareceu navega pelos desabafos de parentes, falta de sensibilidade de oficiais da marinha argentina, espionagem ilegais, entrevistas com especialistas e jornalistas que cobriram o caso desde o início, até críticas que chegaram ao alto escalão do governo, afetando a popularidade do presidente em exercício argentino na época: Mauricio Macri.

Com o objetivo de realizar exercícios navais no percurso entre Mar del Plata e Ushuaia, logo após ir à mar aberto no controle de pescais ilegais, além de coletar informações sobre possíveis navios do Reino Unido e suas posições perto das Maldivas, o Ara San Juan partiu para numa viagem sem volta no que culminaria em um misterioso recorte sobre o que de fato pode ter acontecido. Uma das maiores buscas da história naval mundial ligadas a um submarino, inclusive contando com a ajuda internacional de alguns países, esse recorte tenso da história militar argentina mostra as fraquezas e incertezas de governantes de um país colocados contra a parede pelo seu povo.

O seriado é bem detalhista ao jogar na tela versões, situações, além de conseguir ampliar o contexto que chega com força na política de um país em eternas crises financeiras. Do lado da família, dor e muito sofrimento, algo que se prolonga com as inacreditáveis descobertas que são feitas ao longo desse espinhoso caminho rumo às verdades.  

Teorias vão se criando, desde possíveis erros humanos na manutenção de alguma operação técnica dentro do submarino, até mesmo fogo inimigo, no caso aqui do Reino Unido já que a embarcação poderia estar perto da região das Maldivas, uma área de eterna tensão militar que teve uma guerra de alguns meses no início da década de 80. Conflito esse que ainda deixa marcas nos corações dos argentinos.

Ara San Juan: O Submarino que Desapareceu é muito mais do que um recorte sobre uma tragédia, é a exposição de uma série de absurdos com pessoas que deveriam proteger e confortar dando um bico na moral.


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11/03/2024

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Pausa para uma série: 'O Sinal'


O que pode estar lá fora? Desde os tempos inesquecíveis de episódios semanais de Arquivo X, nos primórdios das produções seriadas, nos deparamos com situações ligadas as incertezas do universo. A nova minissérie da Netflix, O Sinal, percorre o mesmo caminho, nos levando a questões sobre as verdades que estão lá fora de uma forma inteligente, costurando o que é real e o que a mente projeta.


Tendo como alicerce misteriosas situações que acontecem em uma estação espacial, ao longo de quatro episódios com cerca de uma hora de duração, essa produção alemã parte para suas reflexões existenciais a partir da certeza que a história da humanidade nada mais é que um ciclo vicioso, explorando as ações do ser humano quando existe a possibilidade de se achar a ruptura disso.


Na trama, conhecemos Paula (Peri Baumeister), uma brilhante cientista alemã enviada por uma empresa privada para o espaço com um único objetivo de realizar pesquisas sobre possíveis sinais vindos de fora da Terra. Ao mesmo tempo, seu marido, o professor de história Sven (Florian David Fitz) e sua jovem filha com deficiência auditiva esperam o retorno dela. Perto de completar sua missão, Paula se depara com uma descoberta e conflitos se desenrolam. Ao voltar ao nosso planeta acaba sendo responsabilizada por uma tragédia, modificando completamente a vida de sua família.


Questões geopolíticas, ambições, circo midiático, dramas familiares se entrelaçam nesse projeto que busca perguntas sobre a relação do ser humano com o próprio sentido de existência. É um caminhar bem filosófico que gera interpretações diversas. Há um curioso mistério que percorre os episódios, a princípio mal definido nos dois primeiros capítulos mas conforme vamos juntando as peças tudo começa a fazer um certo sentido. O choque entre o dilema de Paula na espaço e os dramas que sofre sua família na Terra é o combustível desse roteiro que objetiva encontrar um norte entre esses paralelos.  


O ponto mais interessante é quando entendemos sobre o que de fato é essa história. Aqui a humanidade é colocada em evidência, dentro do ciclo vicioso já mencionado, a partir das possibilidades de descobertas sobre o que há pelo universo. A ganância, a imposição militar, o reconhecimento, as loucuras que a mente é capaz de projetar, são alguns dos elementos que estão associados as ações vistas que traçam paralelos com a realidades de conflitos de diversos cotidianos. O eterno embate entre as ações individuais e coletivas, dentro de um sentido da essência do ser humano pondera o certo e o errado.  


Na sua incessante busca pelos conflitos emocionais de uma protagonista em crise nos dilemas que percebe na sua trajetória, algo necessário para entendermos a construção e desconstrução da personagem, a narrativa pode se tornar confusa em alguns momentos com um uso excessivo de flashbacks onde a variável tempo e seu vai e vem se tornam constantes. Mas o contexto acaba sendo uma peça chave, e mesmo caminhando pela previsibilidade, encontra um desfecho que não deixa de ser surpreendente, com um simbolismo importante para os nossos tempos.



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26/02/2024

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Pausa para uma série: 'O Falso Sheik'


Reflexões sobre as linhas tênues entre jornalismo e crime. Na década 90, tabloides sensacionalistas dominam as rodas de conversa de uma sociedade sedenta pela informação e ainda longe dos avanços das redes sociais que se tornaram uma certeza nos tempos atuais. Nesse período, no Reino Unido, um introspectivo e reservado repórter buscava seu espaço Ilustrando situações e transformando em interesse público, inclusive se passando por um falso sheik. Série documental de três episódios disponível na Prime Video, O Falso Sheik busca a reflexão ampla sobre o jornalismo e seus limites dentro da defesa de muitos do que seria liberdade de expressão.

Ao longo dos episódios, por meio de depoimentos de testemunhas das ações, vítimas, advogados e colegas do antigo trabalho, vamos conhecendo recortes da trajetória de Mazher Mahmood, descendente de paquistaneses, que lutou para conseguir seu espaço no meio jornalístico numa época de protestos e forte preconceito. Nos primórdios da internet, com poucos celulares, o personagem principal dessa história se abraçou a um jornalismo investigativo que cruzava limites fazendo quase de tudo para conseguir uma matéria. Ele basicamente jogava a isca e esperava que mordessem.

Aos poucos foi se tornando conhecido, vencedor de prêmios importantes dados para profissionais da imprensa britânica, assinando várias matérias de alta repercussão, com capas do jornal que trabalhava, inclusive alcançando o status de celebridade, mas sem nunca mostrar o rosto. Depois de muitas matérias de grande repercussão acabou ele mesmo virando uma.

A narrativa é detalhista ao buscar um diálogo interessante sobre o que fazia o protagonista, colocando na vitrine de reflexões o tipo de jornalismo praticado. Por meio de flagrantes provocados, vidas foram destruídas, jornais foram vendidos aos montes. A liberdade de imprensa usada como desculpa para não impor limites ou passear na linha tênue com a imoralidade deixando em ponto morto a ética é um elemento de discussão. O jornal britânico onde Mazher Mahmood trabalhou a maior parte do tempo, o ‘News of the World’, um do mais vendidos no mundo naquela época, chegaria ao fim por denúncias de invasões telefônicas.

Meios de comunicação na caça da imoralidade de rostos conhecidos são vistos até hoje, esse tipo de conteúdo se propaga de forma incontrolável, fator que diz muito sobre a sociedade em si.


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24/02/2024

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Pausa para uma série: 'House of Ninjas'


Nem toda batalha é vencida pela espada. Buscando resgatar a história das tradições e do imaginário japonês através dos chamados shinobis (no popular, ninjas) figuras bastante conhecidas no Japão feudal, entre os séculos XVI a XIX, chegou na Netflix nesse início de 2024 um empolgante seriado onde os conflitos se desenvolvem através dos dilemas entre o certo e o errado, com personagens enfrentando diferentes crises existenciais no período presente.

Na trama, conhecemos os membros da família Tawara, um clã de Shinobis que preferiu viver uma vida normal no Japão nos dias atuais após um deles morrer numa missão secreta seis anos atrás. Mas, quando um outro clã inimigo ressurge com seus novos integrantes ligados a arquitetura de uma conspiração global, os Tawara precisarão voltar a vestir a roupa ninja e ir para o confronto.

Um dos méritos do roteiro é conseguir nos seus oito episódios da primeira temporada prender a atenção do espectador, mesmo sem grandes reviravoltas, pelos conflitos que se seguem através dos ótimos e carismáticos personagens. O trauma, o luto, a dor, as dúvidas sobre o casamento, se misturam com uma casa cheia de regras onde não pode comer carne, não pode se apaixonar. A narrativa é empolgante com cenas de lutas com brilhantismo nas coreografias que se misturam a vazios existenciais ligados à globalização e até mesmo as formas de se comunicar no dinamismo desses novos tempos.

O sentido de justiça por aqui é visto como um conjunto de regras. Respondendo a um órgão específico para assuntos ninjas, essa família descendentes de guerreiros muitas vezes são meras peças dentro de um tabuleiro indecifrável onde a ponte entre o certo e o errado é feita por uma linha tênue. Uma ideologia definia no passado os shinobis como espiões ou em alguns casos guerreiros por recompensas, algo diferente dos samurais por exemplo que tinham a honra em primeiro lugar, mesmo que aqui nesse projeto a noção da dicotomia (bem e mal) seja colocada na mesa de forma trivial.

Criado pelo cineasta Dave Boyle, e tendo como lema ‘a família em primeiro lugar’ House of Ninjas reflete sobre o imaginário de outrora mas buscando um olhar familiar sobre os conflitos dos novos tempos já que antes de mais nada esses guerreiros são seres humanos de carne e osso.

 

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Pausa para uma série: 'Pequeno Nicolás: A Surreal História de um Cara-de-pau'


A informação é poder. Trazendo para o público uma quase inacreditável história da vida real que tem como epicentro um jovem que ao longo do tempo se tornou uma peça numa corrente de favores que acabou trazendo à tona a corrupção em território espanhol, Pequeno Nicolás: A Surreal História de um Cara-de-pau, minissérie documental da Netflix, ao longo de três intrigantes episódios deixa muitas perguntas no ar. Espião? Um contador de histórias? Apenas um garoto esperto? Um vigarista? Vamos acompanhando uma trajetória de fascínio pelo mundo político que logo vira uma obsessão.

O contexto político sobre tudo que acontece nessa curiosa história é de fundamental importância. Anos atrás, num momento difícil da economia espanhola, com uma alarmante crise bancária, e logo após o Partido popular chegando ao poder, foi o período dos primeiros avanços importantes no meio político de Francisco Nicolás, um jovem com uma capacidade impressionante de reunir pessoas que começou promovendo festas exclusivas, ainda adolescente, em lugares badalados na Espanha.

O documentário, muito bem estruturado e detalhado, guiado com analogias ao famoso ‘jogo da vida’, mostra através dos fatos o antes e o depois dessa sua meteórica história no cenário político. Num primeiro momento, com uma narrativa que emenda depoimentos de jornalistas, imagens e vídeos da época, além de revelações do próprio Fran, busca-se um traço de personalidade desse inventor de muitas vidas. Depois passamos a acompanhar suas mais famosas façanhas como a ida à coroação do Rei Felipe VI e a intrigante mensagem para o telefone do rei Juan Carlos (que tinha acabado de abdicar do seu reinado). Desembocando no estouro midiático que se tornou sua vida, com direito a convite a um famoso reality show.

Não há dúvidas de que o protagonista não fez a coisa certa mas será que estava inventando tudo? Essa pergunta é o ponto de interseção que liga todos os momentos de seu caminho, desde a ascensão até o declínio. Indo mais a fundo, o projeto não deixa de tentar decifrar a mente de Fran (depois conhecido como Pequenos Nicolás). Dono de uma arrogância que foi piorando com o tempo, perdendo aos poucos a noção da realidade, mas mantendo um inacreditável grau de influência com poderosos políticos e empresários, muitas histórias cercam a sua própria.

Em tempos onde a informação é o poder, Pequeno Nicolás: A Surreal História de um Cara-de-pau apresenta os fatos e alguns pontos de vistas. As interpretações serão inúmeras desse personagem da história recente da política espanhola repleto de cartas na manga que insiste em nunca se deixar afastar de um enorme tabuleiro de ‘disse me disse’.

 

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19/02/2024

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Pausa para uma série: ' True Detective – Terra Noturna'


Os fantasmas do lado de fora. Um pequena cidade com muitos conflitos e misteriosas mortes é a porta de entrada para a proposta de imersão em uma história com personagens no limite emocional num lugar e época onde os dias viram noites. True Detective – Terra Noturna, quarta temporada do aclamado seriado, possui um discurso onde o roteiro e a narrativa andam lado a lado: traumas no passado refletindo no presente. Protagonizado pelas ótimas Jodie Foster e Kali Reis, True Detective – Terra Noturna, com seus seis episódios mistura o drama e o suspense em um fórmula que encaixa.

Na trama, conhecemos a chefe de polícia da gelada cidade de Ennis, no Alaska, Liz Danvers (Jodie Foster), uma mulher com problemas no relacionamento maternal com a filha do ex-companheiro que comanda a investigação de uma misteriosa morte que envolve cientistas de uma estação de pesquisas da região. Ao longo da investigação, esse caso parece estar ligado a outro, o de uma ativista morta no passado, fazendo com que Danvers se junte a ex-parceira Evangeline Navarro (Kali Reis) em busca das respostas de um enorme quebra-cabeça.

Dramas profundos nas vidas pessoais das protagonistas ditam o ritmo sem esquecer das respostas que chegam gradativamente. Com cerca de uma hora de duração por episódio, tempo suficiente para ir a fundo nos principais conflitos dos personagens, essa nova temporada mostra desde o início que cartas estão na mesa a todo instante mas embaralhadas, associadas a algumas perguntas sem respostas.

Não existe nada além de nós. Será? O flerte com o inexplicável fica no campo dos suposições. Nos perguntamos: Há algo ligado ao sobrenatural? Uma maldição? Esse contexto amplamente interpretativo acaba refletindo no discurso, as famílias e suas rupturas. A fé e o confronto com o cetismo ganha espaço trazendo questões relevantes.

O estado de solidão, culpa e seus embates consigo mesmo e os outros, acaba levando personagens a confrontos surpreendentes com os traumas de outrora. No final das contas, pra quem já sabe sobre os mistérios que chegam no último episódio, a temporada se resume a sobre como fechar as portas abertas.

Com alguns episódios brilhantes, como o quinto, True Detective – Terra Noturna, rodado na Islândia, traça um raio-x profundo de pessoas respondendo sobre seus atos e os limites do ser humano ao escorregar nas linhas da moral.

 

 

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15/02/2024

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Pausa para uma série: 'A Confissão'


As esperanças e os medos. O sumiço de uma dona de casa. Um jogo psicológico entre suspeito e polícia. Uma operação secreta. Um julgamento com uma decisão que muda os rumos. Minissérie documental disponível na Prime Video, A Confissão nos mostra todas as lacunas preenchidas sobre um caso de desaparecimento onde uma pessoa é o único suspeito. Com uma pacata comunidade na Inglaterra desconfiada e os sequentes vários olhares sobre a mesma situação, entre entrevistas, gravações originais em áudio, imagens de arquivo, vamos acompanhando essa surpreendente jornada em busca da verdade.

Dividida em duas partes, o projeto nos apresenta os detalhes de um crime que aterrorizou a cidade de Pudsey, Yorkshire, no início dos anos 90. Patt Hall, uma vendedora de cosméticos, saiu de sua casa durante a madrugada após uma discussão com o marido Keith e nunca mais voltou para casa. Com os dias passando, o caso chega até os holofotes da mídia. A frustração da polícia em não encontrar nenhuma pista nas semanas que se seguiriam vira uma exposição evidente. Meses após o sumiço, Keith resolve que é tempo de procurar um novo amor e a partir disso, uma série de situações surpreendentes começam a aparecer e as verdades a serem encontradas.

A narrativa é muito bem apresentada ao público. Após uma visão geral do caso, vamos entendendo os modos de pensar de Keith e também os poucos que o conhecem realmente. Trabalhador autônomo, pai de dois filhos, vivendo um casamento em crise, Keith é introspectivo, não apresenta muitas reações quando confrontado. Será ele o responsável pelo sumiço da esposa? Um jogo psicológico entre suspeito e polícia começa a detalhar parte dessa personalidade do suspeito.

Com o caso virando um verdadeiro circo midiático, a polícia resolve ter uma ideia que mudaria os rumos dessa história. Mas e as provas? Como validá-las aos olhos da polícia? Logo chegamos ao tribunal, as interpretações da lei, um experiente advogado de defesa, talvez uma precipitação da polícia. A minissérie documental busca apresentar todos os detalhes e deixar o público definir sua própria opinião. Tudo é muito bem contextualizado, o roteiro segue o discurso a todo instante rumando para um clímax realmente surpreendente.


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04/02/2024

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Pausa para uma série: 'Sr. e Sra. Smith'


A consciência de um matrimônio. Inspirado nos personagens criados pelo roteirista Simon Kinberg lá naquele famoso filme de 2005, protagonizado por Brad Pitt e Angelina Jolie, o novo seriado da prime video Sr. e Sra. Smith busca um outro olhar para a já conhecida história onde a violência se mistura com uma potente crise conjugal. Criado pela dupla Donald Glover e Francesca Sloane, o drama engole a ação, fato fundamental para um profundo recorte, fazendo com que cada um dos oito episódios dessa primeira temporada seja impulsionado por uma narrativa empolgante, divertida, nunca deixando a emoção de lado.

Na trama, conhecemos John e Jane, interpretados pelos excelentes Donald Glover e Maya Erskine, duas almas solitárias, novatos no ramo da espionagem, trabalhando para uma agência que mal conhecem onde precisam fingir serem casados enquanto são enviados para as mais diversas relações. Quando os dois começam a desenvolver uma forte atração, o que leva a uma relação de fato, buscam se entenderem ao longo desse praticamente infinito percurso.

Esqueça tudo que você lembra do filme de Pitt e Jolie. Nesse projeto, o foco é outro. Lidando com os obstáculos de formas diferentes, vemos dois personagens completamente diferentes que se jogam em uma nova vida, juntos, quebrando protocolos e de alguma forma ligados aos laços com seus conflitos no passado. Uma casa super confortável em uma grande cidade norte-americana é um dos cenários de intensas e reflexivas discussões da relação através das missões que esses espiões se metem.

Essa comédia próxima ao absurdo, que engloba elementos criativos, anda lado a lado com o forte discurso que propõe, tem cenas de ação empolgantes que são vistas em cada um dos episódios mas o alicerce da narrativa é a construção de um enorme divã sobre relacionamentos. O ciúmes, as incertezas, as fragilidades dos personagens, entre espiões, vilões e dilemas nos perguntamos a todo instante: Há felicidade nesse lar? É possível serem felizes com a vida que levam juntos? Maya e Donald formam uma dupla excelente, em total harmonia, dois personagens brilhantemente construídos. Não seria nenhum absurdo pensar neles para as futuras premiações que envolvem séries.

Com um desfecho em aberto, talvez na esperança de uma breve confirmação de uma segunda temporada, Sr. e Sra. Smith tem uma peculiaridade que só faz aumentar a qualidade. É repleto de participações especiais: Paul Dano, John Turturro, Alexander Skarsgård, Parkey Posey, Úrsula Corberó, Ron Perlman, Sarah Paulsen e até o nosso Wagner Moura, entre outros artistas, somam demais a esse seriado que é, sem dúvidas, uma das gratas surpresas desse primeiro semestre de 2024.


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19/01/2024

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Pausa para uma série: 'Um Pesadelo Americano'


A força de uma narrativa brilhante. Assaltantes com roupas de mergulho. Um curioso sequestro. Uma pacata cidade na Califórnia. Chegou ao catálogo da Netflix uma minissérie dividida em três partes que nos mostra as verdades de um fato ocorrido em março de 2015 que reuniu uma série de variáveis surpreendentes. Caminhando pelos relatos e sofrimento dos envolvidos, passando pela pressão de um circo midiático e a força policial atrás de um bode expiatório, Um Pesadelo Americano mostra de forma detalhada reviravoltas chaves para o esclarecimento por completo de um curioso ocorrido.

Vallejo, Califórnia. Durante uma noite, um casal de fisioterapeutas tem sua residência invadida por pessoas que sequestram um deles, dopando o outro. Ao acordar, o que não foi levado, liga para a polícia relatando o ocorrido. A partir daí, a vida desse casal viraria de cabeça pra baixo, com acusações de todos os lados e com a polícia buscando montar um quebra-cabeça completamente pressionada pela a ação da mídia. Advogados, envolvidos, a família da sequestrada e os vídeos de alguns dos interrogatórios ajudam a contar essa história que possuem reviravoltas impressionantes.

Como sempre falamos por aqui, a importância da narrativa é fundamental para o sucesso de um projeto. Isso acontece por aqui. Dividida em três partes, Um Pesadelo Americano (nome mais que certeiro), caminha pelos campos das emoções conflitantes de um casal que tem suas vidas expostas de maneira absurda, acusados de forjarem um sequestro após o reaparecimento da sequestrada.

Uma busca em vão? Tem alguém mentindo? O que realmente aconteceu? A maneira como é contada essa história nos deixa em dúvidas e prepara os caminhos para as surpresas que se sucedem de forma a embarcarmos em campos de reflexões que vão desde as inúmeras críticas a muitas ações policiais na condução do caso, o papel da imprensa em todo o ocorrido e as variáveis imprevisíveis que o destino coloca em alguns caminhos.

Os absurdos são tantos que em certo momento nos perguntamos: Será essa uma releitura em vida real do filme A Garota Exemplar (que tinha sido lançado uma ano antes)? Algumas reviravoltas chaves para o esclarecimento por completo do caso transformam essa minissérie em uma das mais interessantes desse primeiro semestre de 2024.


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08/11/2023

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Pausa para uma série: 'O Faz Nada'


Os quebra-molas da vida que nos fazem enxergar os outros e a nós mesmos. Chegou diretamente da Argentina um seriado que estreou no catálogo da Star Plus sem muita divulgação mas promete um lugar nas suas séries favoritas de 2023. O Faz Nada contorna a desconstrução de um carismático e intenso dândi que embarca em novas maneiras de pensar e agir quando enxerga-se à beira do precipício em várias áreas de sua vida em um presente bem longe de regalias de um passado que não existe mais. Com direito a Robert de Niro no elenco, inclusive narrando cada abertura de todos os cinco episódios, esse seriado portenho criado pela dupla Mariano Cohn e Gastón Duprat (criadores também da ótima série Meu Querido Zelador) o projeto é estrelado pelo excelente ator argentino de 83 anos, Luis Brandoni.


Na trama, conhecemos Manuel (Luis Brandoni), um renomado e experiente crítico gastronômico que vive seus dias em um confortável apartamento na cidade que ama, Buenos Aires. Sua vida sempre foi uma série de dependências dos outros, seja em casa com a empregada Celsa (María Rosa Fugazot), seja na necessidade de pedir empréstimos aos amigos e comer de graça nos melhores restaurantes da cidade. Sua rotina muda drasticamente quando Celsa morre e Manuel precisa encontrar uma outra pessoa para ajudá-lo no dia a dia, assim ele chega até a imigrante paraguaia Antonia (Majo Cabrera), uma jovem que o ajudará a mudar a maneira como vive sua vida. Em paralelo a chegada de Antonia, Manuel precisa entregar seu novo livro à editora e irá pedir uma ajuda ao grande amigo Vincent Parisi (Robert De Niro).


O estalo que pode chegar em nossas vidas à qualquer momento. Quem nunca passou por momentos onde determinadas situações mudaram para sempre a forma de enxergarmos tudo que está ao nosso alcance? Seguindo nessa certeza, que em algum momento encontra nossa trajetória, O Faz Nada mostra o choque do antes e o depois, do antigo com o novo, contrapontos que se aproximam com a realidade. A simpática narrativa, repleta de resoluções cômicas na medida, exalta o carisma meio rabugento de um protagonista muito envolvido com a necessidade de elegância, do requinte. Os cinco episódios são verdadeiras pinturas que dão vida aos sentimentos conflitantes.


Os cineastas argentinos Mariano Cohn e Gastón Duprat, dupla bastante conhecida dos cinéfilos, voltam ao universo da série após o sucesso de Meu Querido Zelador, projeto esse protagonizado pelo astro Guillermo Francella (que faz uma rápida aparição em O Faz Nada). Antes, nos cinemas, foram os responsáveis por obras fantásticas como: O Cidadão Ilustre e O Homem ao Lado. Aqui conseguiram a proeza de reunir artistas fabulosos com a cereja do bolo que é a aparição de Robert de Niro, em todos os episódios! Não é apenas uma participação! Inclusive seu personagem, a princípio um pouco misterioso, é quem dita o ritmo narrando os inícios de todos os episódios.


Exibido em formato de longa-metragem no Festival de San Sebastian, onde fora indicado na categoria Culinary Zinema (uma mostra dentro do Festival organizada em conjunto com o Centro de Culinária Basca com destaques para filmes que envolvem gastronomia), Um Faz Nada escancara as novas maneiras de um alguém com pensamentos no passado, enxergar uma cidade que tanto ama, a vida da qual sempre se escondeu, chegando ao recomeçar.



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10/09/2023

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Pausa para uma série: 'Corpo em Chamas'


Não é preciso entender um crime para prová-lo. Buscando detalhar os acontecimentos de um assassinato chocante que aconteceu na vida real, em Barcelona no ano de 2017, a minissérie espanhola de oito episódios protagonizada pela excelente atriz Úrsula Corberó (a Tokyo de La Casa de Papel), Corpo em Chamas nos guia por meio de idas e vindas na linha temporal de sua narrativa para nos contar uma história de um macabro pacto de amor e dependência. Um triângulo amoroso vira um quadrado, tendo como referência uma única personagem, uma mente manipuladora que destroça a esperança e interrompe vidas.


Na trama, acompanhamos os desenrolares de uma profunda investigação quando o corpo do policial Pedro (José Manuel Poga) é encontrado carbonizado dentro de um carro abandonado numa região isolada da Catalunha. Assim, no epicentro da história chegamos até Rosa (Úrsula Corberó) uma mulher que consegue entrar para a equipe de policiais da Catalunha e lá conhece três policiais, em diferentes momentos, com quem se relaciona ao longo de alguns anos, um deles, Pedro, com quem estava casada na época do crime. Entre traições, desejos e paixões com alto grau de dependência, conforme a investigação se aproxima da verdade, vamos sendo apresentados aos absurdos cometidos por uma mente perturbada, manipuladora e egoísta.


Um carro sendo incendiado por um alguém que não mostra o rosto ao som de ‘Love me Tender’ é o pontapé inicial desse projeto que busca no seus impactantes episódios traçar uma ampla análise dos principais envolvidos no conhecido caso policial ‘O crime da Guarda Urbana’, situação aqui detalhada, um assassinato que chocou a Espanha seis anos atrás. Num primeiro momento vamos sendo apresentados ao perfil de alguns personagens na visão de amigos e parentes próximos com um foco central em Rosa, uma mulher indecifrável, extremamente manipuladora. Por ela é que passam todos os epicentros dessa macabra história.


Há um importante destaque para a construção dos abalos psicológicos provocados ao longo de constantes flashbacks que de um forma inteligente ajudam a construir a narrativa. Não há episódios mornos por aqui, de forma complementar, cada página dessa história ajuda o espectador a entender todo o ocorrido nos guiando para um desfecho tenso e até certo ponto imprevisível. Ainda há espaço, já nos capítulos finais, para a ação mais profunda da investigação e um julgamento repleto de estratégias.


Entre jogos de manipulações, tensos interrogatórios, revelações que surpreendem, Corpo em Chamas chega no seu objetivo que é o de fazer refletir a partir de uma situação que se tornou midiática traçando uma ampla análise sobre possíveis motivos de um assassinato elaborado por mentes perturbadas.  Todos os episódios estão disponíveis na Netflix.



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09/09/2023

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Pausa para uma série: 'Depois da Cabana'


Um forte recorte sobre o abuso psicológico e suas consequências. Chegou diretamente da Alemanha uma minissérie dividida em seis capítulos que joga seu olhar para o estresse pós-traumático na visão de algumas pessoas, principalmente uma jovem que tem seu destino completamente alterado quando fica meses em um cativeiro tendo que viver na pele de outra pessoa. O roteiro tem um desenvolvimento bastante embaralhado, onde as peças vão sendo apresentadas e logo montadas, assim surgindo novas possibilidades, deixando o público atento a cada nova pista que os episódios fornecem. Depois da Cabana é baseado no livro de quase 400 páginas chamado Dear Child, lançado em 2019 pela escritora Romy Hausmann.


Na trama, conhecemos uma mulher na casa dos 30 anos (Kim Riedle) que consegue fugir de um cativeiro, situado numa cabana numa floresta pouco frequentada, onde viveu durante um bom tempo ao lado de duas crianças como se fosse a mãe delas convivendo com regras rígidas impostas por uma pessoa que se identifica como o pai das crianças. Uma dessas crianças, inclusive, foge com ela. A polícia fica logo sabendo da situação e começa uma investigação que acaba se tornando um complemento a uma outra investigação sobre uma mulher que está 13 anos desaparecida. Assim, aos poucos os mistérios vão caindo e vamos rumando para as verdades.


As diversas óticas para todos os acontecimentos que se sucedem no presente dão dinamismo à narrativa. Temos a visão de um casal que sofre faz mais de uma década com o desaparecimento da única filha e observa de duas maneiras distintas o que acontece no presente deles. Dois policiais que nunca se viram precisam reunir peças juntos para entender todo o plano macabro que culminou em mortes, lavagem cerebral e desaparecimentos.  A visão das vítimas do sequestro ganham caminhos diferentes, uma da criança que vive sobre o conceito de regras rígidas impostas pela autoridade que ela conhece como pai e uma outra da última sequestrada que não consegue encontrar o equilíbrio após o trauma que sofreu.


Ao longo das mais de quatro horas de material que esse projeto alemão nos apresenta vamos caminhando pelas estradas tumultuadas de um distúrbio que envolve gatilhos dolorosos, o estresse pós-traumático. O ponto de interseção entre os personagens é exatamente o trauma e também os abalos que vieram de uma mesma situação. Não espere altas reviravoltas nem se surpreender sobre quem é a mente por trás dos crimes cometidos, isso é apenas uma detalhe na reflexão proposta, a psiquê humana é o grande campo de análise dessa minissérie. A cada novo episódio novas peças se encontram formando uma enorme teia de situações que levam as verdades sobre tudo o que aconteceu e também as marcas perceptíveis e não perceptíveis de um eterno pesadelo. Depois da Cabana está disponível na Netflix.



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19/08/2023

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Pausa para uma série: 'Cangaço Novo'


É sempre política, até quando é guerra. Mostrando a saga de um homem, exonerado do exército, ex-bancário, que vira assaltante de banco, em total reconexão com um passado do qual só tinha lampejos de lembranças, Cangaço Novo, novo seriado brasileiro da Prime Video, com um total de oito episódios na sua primeira temporada, é um explosivo projeto que vai da violência até perdidos laços familiares. Com episódios dirigidos por Fábio Mendonça e Aly Muritiba, deixando fortes traços de críticas sociais e aos problemas estruturais, sociais, que atingem várias partes do Brasil, Cangaço Novo passa por cima de qualquer simples análise sobre heróis e bandidos mostrando que o buraco é mais embaixo.


Na trama, ambientada na Cidade fictícia de Cratará, no Ceará, conhecemos Ubaldo (Allan Souza Lima), um homem com um presente repleto de conflitos em São Paulo, cidade onde mora. Recém demitido de um banco onde trabalhava, apertado para pagar as despesas hospitalares do pai internado, atravessa o país por causa de uma carta dizendo sobre uma possível herança, fato que o leva para uma cidadezinha no sertão cearense onde descobre ser filho de um cangaceiro conhecido na região. Logo se vê em novos conflitos, com a violência inserida no cotidiano e entre vinganças, corrupções políticas em terras repletas de histórias ligadas à desgraças, acaba virando parte de um bando violento que assalta bancos por toda a região ao mesmo tempo que tenta se conectar com as duas irmãs que nem sabia que existiam, isso tudo em um lugar onde ele não é invisível.


O sentido de família aqui chega de diversas formas que vão desde a fé passando pelos traumas de um passado nunca esquecido, os problemas sociais enfrentados pela má administração do dinheiro público ferindo famílias pobres em um lugar com recursos limitados, até mesmo o sobrenatural. Problemas com a distribuição da água, uma eleição turbulenta, traições, a volta do movimento de banditismo, seguindo a linha de que pai é quem cria, Ubaldo começa aos poucos a redescobrir sua história.


Flashbacks em preto e branco abrem os episódios, detalhes que viram elementos complementares de uma narrativa dinâmica que mostra diversos pontos de vistas num roteiro que apresenta muitos detalhes ligados aos porquês de um jogo que só se ganha não respeitando as regras. No melhor estilo faroeste, com violência fortemente presente, com jagunços, politicagem, tensões entre famílias com passado e presente de rivalidades aos poucos vamos vendo a criação de uma espécie de Robin Hood Sertanejo num sertão de novos tempos, um anti-herói que simboliza parte de um movimento social conhecido no final do século XIX e início do Século XX.


O elenco é excelente, com nomes como: Marcélia Cartaxo, Ricardo Blat e a sempre impactante Hermila Guedes. Mas os destaques vem de rostos pouco conhecidos do grande público, o trio que forma o protagonismo: Allan Souza Lima, Thainá Duarte e Alice Carvalho. Essa última em uma atuação marcante, na pele de uma personagem que ficará nas nossas memórias por muito tempo!  


Com um final aberto, repleto de pontas soltas, fatos que deverão se desenvolver ao longo de novas temporadas, Cangaço Novo chega com o pé na porta mostrando verdades de velhos e novos tempos.




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24/07/2023

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Pausa para uma série: 'A Superfantástica História do Balão'


Com um dos trailers mais bombásticos de um projeto brasileiro com estreia no mundo dos streamings dos últimos tempos, A Superfantástica História do Balão, série documental de três capítulos disponível na Star Plus busca apresentar visões do começo, meio e fim de uma história repleta de variáveis de um conjunto musical de sucesso, depois astros de um programa de televisão na emissora mais poderosa do país, que marcaram gerações de fãs, lembrados até hoje, a Turma do Balão Mágico. Com polêmicas e buscando se aprofundar na visão do negócio, dos bastidores, esse projeto apenas fica na superfície em algumas questões na rica história que todo o Brasil conhece.


40 anos depois do início da banda e 10 anos depois do último encontro, os antigos artistas mirins, Toby, Simony, Mike e Jairizinho se reúnem novamente em um papo franco, juntos e de forma individual, botando para fora toda sua visão dessa intensa experiência de uma carreira de sucesso mas também que gerou traumas, lágrimas, logo no início da vida deles. Em complemento, depoimentos de personalidades, como: Lázaro Ramos, Fabio Jr, Pepeu Gomes, Baby do Brasil, Simoninha, Raul Gil, Rita Cadillac que vivenciaram cada qual de uma forma o sucesso do grupo. Há um destaque, em depoimento separado dos demais, de um ex-diretor musical do grupo mas não é explicado o motivo dele dar seu depoimento longe dos outros.


O pioneirismo tem preço? Recordes de vendas de discos, sucesso de audiência na televisão, a cena cultura brasileira dos anos 80 foi impactada com a chegada no ano de 1983 desse conjunto musical composto por crianças que fariam um tremendo sucesso, numa época onde a faixa etária infantil não era público alvo de artistas. Nas paradas musicais mais de 5 milhões de cópias vendidas, na televisão líderes de audiência por quase três anos com mais de 1000 programas produzidos. Quando grande parte do grupo abandonou o projeto, outros integrantes chegaram mas já perto do fim do grupo. Os altos e baixos dessa trajetória, além de alguns conflitos, são vistos nos três episódios. Uma das perguntas que fica no ar é: Por que o grupo acabou?


O que acontece quando você cresce? Diversos pontos de vistas sobre situações que viveram e também uma análise atual sobre aqueles tempos ajudam a responder a pergunta acima. Mas a certeza é que não foi uma coisa instantânea, foi com o tempo. Nesse ponto, algumas questões se entrelaçam, como as estratégias de mercado e a troca da primeira empresária. Há tempo também para pequenos recortes das vidas pessoais de cada um dos quatro principais integrantes do grupo, nesse momento a história de Michael Biggs, o Mike, rouba a cena, com revelações bombásticas sobre sua vida.


A Superfantástica História do Balão pode ser visto como um complemento de informações e curiosidades para os fãs do grupo, busca em sua linha narrativa mostrar o antes e o depois de um grupo que marcou para sempre seu nome na história da cultura popular brasileira.



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Pausa para uma série: 'Amor Platônico'


A amizade no centro do tabuleiro conturbado da meia idade. Chegou de mansinho, quase desapercebida uma brilhante comédia que gira em torno da crise de meia idade impulsionada pelo realinhamento de uma antiga amizade. Mostrando que é possível fazer rir e refletir de forma madura, trazendo paralelos interessantíssimos com a realidade, Amor Platônico é mais um achado da Apple tv Plus que vem se consolidando como uma mina de ouro para quem gosta de séries com alta qualidade e altamente envolventes.


Criada por Francesca Delbanco e Nicholas Stoller, que também dividem a direção dos episódios, na trama, conhecemos Sylvia (Rose Byrne) uma dona de casa, formada em direito, que abdicou da carreira para cuidar dos três filhos e vive um casamento feliz com seu marido, o advogado Charlie (Luke Macfarlane). Após aparecer em seu feed, de uma rede social, que o seu ex-melhor amigo, o mestre cervejeiro Will (Seth Rogen) acabara de terminar o casamento, ela resolve entrar em contato com ele. Assim, esses dois amigos, antes com 20, agora perto dos 40 anos se envolvem em várias situações onde um ajuda o outro a enfrentar os problemas nessa fase da vida cheia de variáveis e escolhas difíceis.


Nada como um roteiro inteligente para fazer a gente pensar sobre a vida. De forma leve e descontraída, a narrativa envolve o espectador atingindo o epicentro entre a maturidade e a melhor idade. Assuntos como: problemas no trabalho, desconfianças nos relacionamentos, o próximo passo dentro de um casamento, as idas e vindas conflituosas por problemas que surgem aos montes, a amizade, as diferentes formas de amar, o ciúmes são plano de fundo de situações hilárias que a dupla de protagonistas se metem ao longo de dez excelentes episódios na sua primeira temporada.  


A química entre Byrne e Rogen é fantástica, os artistas já haviam trabalhado juntos 10 anos atrás na comédia Vizinhos e mais uma vez mostram toda a harmonia em cena. Você, em um mesmo episódio, consegue rir muito e também se emocionar trazendo inclusive paralelos com a realidade. Passando por cima da pergunta: ‘É possível uma amizade entre um homem e uma mulher?’ o platônico do título é quase desnecessário, irreal. Esse projeto é um brinde à  amizade e todos seus altos e baixos.



 

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22/07/2023

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Pausa para uma série: 'O Negociador'


A verdade é o único caminho. Abordando diversas questões dentro da linha de ação de uma equipe do Gate, o novo seriado brasileiro da Prime Video, O Negociador, apresenta ao espectador conflitos, traumas, dramas, de um experiente negociador, envolto em uma crise emocional que precisa lidar com um abalo traumático de num passado recente e seu cotidiano repleto de variáveis já que a violência faz arte da sua própria rotina. Ao longo de oito intensos episódios de sua primeira temporada O Negociador busca refletir em cima das ações dos personagens e principalmente na linha que existe entre a justiça e justiceiro.


Na trama, conhecemos Gabriel Menck (Malvino Salvador) um policial que fez parte do processo de reestruturação do GATE, se tornando seu principal negociador. Num presente, retornando de uma licença após a morte da esposa e ainda em evidente estresse pós-traumático, ele precisa lidar com seu dia a dia, uma nova major que assume o comando da sua equipe, os olhares duvidosos de seu ex-mentor e em paralelo o olhar da corregedoria que caminha para acusá-lo pela morte da esposa.


Produzido por Zasha Robles e Gustavo Mello, com direção de Isabel Valiante, esse thriller policial possui uma narrativa consistente que busca um olhar amplo para os dilemas de alguns personagens quando a vida pessoal se choca com o lado profissional. Além do protagonista e seus conflitos, ganham espaço uma major (interpretada pela ótima Barbara Reis) que assume o comando tático depois de passar um tempo de treinamento na SWAT que possui um relacionamento no passado com outra pessoa da equipe e Embates com outros membros do time tático. Também há um olhar pra um suspeito chefe do GATE com óbvias questões misteriosas.  


A informação como interesse público ou questão de segurança? O papel da mídia em cima das ações ganham espaço na figura de uma repórter em muitos momentos deveras crítica em relação aos desfechos de algumas operações. Em paralelo enxergamos a parte política que acabam se associando à impudências dentro de todo o teatro de operações. Adotando o lema: ‘Hoje ninguém morre’, vemos uma equipe de homens e mulheres que se descontroem não limitando questões a certas ou erradas, tudo é muito mais profundo.


A cada episódio um novo caso de sequestro e uma subtrama envolvente sobre uma investigação sobre a morte suspeita da esposa do protagonista. Com isso, a série se torna dinâmica, até mesmo com um ritmo eletrizante espalhando surpresas principalmente na última cena do episódio que fecha a temporada que além e ser uma baita surpresa deixa margens para uma possível próxima jornada.



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