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08/11/2024

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Pausa para uma série: 'The Traitors' (Reality Show)


Desde um dos mais primeiros reality shows produzidos, An American Family, exibido em formato televisivo no início da década de 70 nos Estados Unidos, que acompanhava a rotina de uma família na califórnia e todas as questões que se somavam com algumas revelações, até a chegada dos sucessos de audiência, como: Survivor e Big Brother, esse modelo audiovisual vem disparando na preferência da audiência, muitas vezes tornando anônimos em verdadeiras celebridades. Hoje, está estabelecida a certeza da popularidade que os reality shows tem na sociedade atual.

Baseado na vida real – algo que provou conseguir o interesse de quem assiste -  geralmente dentro de algum jogo com regras diversas, esse formato televisivo vem trazendo ano após ano diversas narrativas que vão desde indivíduos tendo que conviver em uma casa, ou largados e pelados em ambiente selvagem em busca da sobrevivência, até mesmo assassinatos de mentirinha que valem como eliminações de um game repleto de reviravoltas. Falando nesse último caso, ano passado chegou – sem muito ‘oba oba’ – um dos mais interessantes reality shows da atualidade.

Disponível no streaming Universal+ - um daqueles desconhecidos que tem dentro das parcerias do Prime Video – o intrigante The Traitors nos leva para uma instigante caça às mentiras, quase um jogo de tabuleiro, ao melhor estilo ‘Detetive’, da vida real. Tem de tudo! Traições, assassinatos de mentirinha, lavagem de roupa suja, reviravoltas inacreditáveis, discussões, dilemas, jogando numa linha tênue o espírito competitivo – de entender por completo que é um jogo - e as emoções ligadas as questões morais que pulsam em emoções intensas.

No primeiro dia, os chamados para esse desafio se reúnem em uma mesa com os olhos vendados, onde três desses participantes serão os ‘assassinos’, escolhidos com um leve toque no ombro pelo apresentador do reality, o ator britânico Alan Cumming. Em busca de um prêmio que somado pode chegar a mais de um milhão de reais, os participantes jogam separadamente mas com missões em grupo, e na calada de cada noite, os assassinos votam para ‘matar’ um dos outros integrantes da mansão onde todos são hóspedes. Resta aos que não são os assassinos descobrirem, também em uma votação, quem são eles.

Entre os participantes da primeira temporada, vemos metade de pessoas não famosas e a outra metade de rostos conhecidos. Tem participante do ex-Survivor (Cirie Fields), ex- The Real Housewives of Beverly Hills (Brandi Granville), ex- The Bachelor (Arie Luyendyk Jr) , ex-vencedora do Big Brother (Rachel Reilly). Mas o nome mais famoso para o público brasileiro é o do nadador Ryan Lochte – Sim, aquele esportista que aprontou aqui no Rio de Janeiro nas Olimpíadas de 2016.

Vencendo o Emmy 2024 de Melhor Reality Show de forma surpreendente, The Traitors já tem duas temporadas disponíveis no streaming Universal+ e já a garantia de uma terceira que chega ano que vem. Para quem está procurando uma diversão que te faz querer assistir um capítulo atrás do outro, não deixem de conferir! Vocês vão amar! Obs: o final da primeira temporada é algo INACREDITÁVEL! Vejam!


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31/10/2024

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Pausa para uma série: 'Assassino Zen'


As formas de lidar com o cotidiano. Sentimentos que nós seres humanos julgamos ser conflitantes, como: a raiva, o medo, a insegurança, se tornam elementos centrais dos oito excelentes episódios de Assassino Zen, produção alemã disponível na Netflix. Com uma narrativa dinâmica, usando - sem abusar - da quebra da quarta parede, esse projeto mostra a desconstrução de um protagonista, na corda bamba da moral e da ética, sendo parte de um contexto curioso onde lições em meio ao caos vem de encontro a muitas considerações existenciais.

Na trama, conhecemos o advogado Björn Diemel (Tom Schilling) que trabalha em um grande escritório de advocacia na função de liberar bandidos para um chefão local. Infeliz no trabalho, com dificuldades em reestruturar os laços afetivos da própria família, vive seu cotidiano com a corda no pescoço. Tudo isso muda quando resolve fazer um intensivão num curso de ‘atenção plena’ com um guru que lhe entrega saídas para momentos difíceis. Assim, colocando em prática tudo que aprendeu, se envolve em uma série de situações conflitantes a partir da morte de um famoso criminoso, cliente dele.

Fazer coisas boas para pessoas ruins. Esse, que é o gatilho do personagem principal não deixa de ser um reforço da premissa de um roteiro que transborda observações sobre as Inter-relações dentro do sentido da mutualidade. Longe de buscar explicações simplórias, nos joga numa corrente de comportamentos, de pensamentos, através de um escancarado paralelo nas derrapadas da psiquê humana, num choque de interpretações entre o consciente e o inconsciente. São brilhantes as conexões que surgem, sempre tendo como foco principal o estalo na vida de seu protagonista.

Aqui acontece o caso da narrativa sendo fielmente ao proposto pelo discurso. E com uma importante contribuição, a da criatividade. Com a maioria dos episódios – com cerca de 35 minutos de duração cada um – vemos o depois e voltamos ao antes, um flashback em forma de rebobinada que cria um ritmo intenso, além de reviravoltas realmente inesperadas. A cereja do bolo é a quebra da quarta parede de forma inteligente, lúcida, e que nos ajudam a entender melhor todas as camadas de um personagem fascinante. Uma aula de atuação de Tom Schilling.

Como lidar com o tempo? Como equilibrar a atenção entre trabalho e família? Um ponto como âncora nos momentos de pânico, o controle da raiva, as ilhas de tempo, a atenção ao que geralmente não se percebe. Passando por incertezas, e certezas com novos significados, dentro de uma nova forma de enxergar o que sempre esteve na frente, as consequências ganham contornos sombrios pelas ações duvidosas que se seguem. Diemel se veste de anti-herói e conquistará a muitos de nós, jogando reflexões para o lado de cá da tela também.

Assassino Zen com tantos méritos, se consolida como uma das melhores séries de 2024. Golaço da Netflix!


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29/10/2024

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Pausa para uma série: 'Territory'


O poder e os egos inflados em meio a uma paisagem deslumbrante. Pegando carona na fórmula de bolo certeira definida pela aclamada Yellowstone, a minissérie australiana Territory é um novelão, com alguns núcleos, que busca sua força nas intrigas, traições e desencontros que são vistos ao longo dos seis episódios.

Criado pela dupla Ben Davies e Timothy Lee, se constrói a partir de uma premissa simples: Uma dinastia indo pro precipício a largos passos e os problemas de comando para uma reviravolta. Mas a solidez no seu discurso vai de encontro a uma narrativa muitas vezes desinteressante e sonolenta, com um calcanhar de aquiles alarmante: a falta de força e carisma nos personagens. É difícil uma forte conexão.

Na trama, acompanhamos os Lawsons, uma família que domina Marianne, a maior propriedade rural (estância) de gado do mundo, situada no norte da Austrália. Assim, conhecemos o chefe da família Colin (Robert Taylor), o filho mais velho Graham (Michael Dorman) e sua esposa Emily (Anna Torv), além da filha deles Susie (Philippa Northeast) e o filho distante de Graham, Marshall (Sam Corlett). Quando o filho que tomava conta dos negócios morre de forma surpreendente, a família passará por enormes atritos para manter o controle e legado de toda região.

Os núcleos compõe as peças em ebulição. É quase um tabuleiro de War com jogadas movidas também pela oportunidade e sorte. Aqui, o contexto é amplamente revisitado, deixando a narrativa numa redundância perceptível, alguns personagens parecem que não saem do lugar. Há os ladrões de gado, os poderosos de olho em Marianne, os nativos e suas reivindicações ligados fortemente ao lado cultural da região, as questões políticas e os jogos de influência.

Decisões tomadas na emoção moldam características em subtramas afastadas e que são forçadamente colocadas em confronto. Por meio de reviravoltas e algumas surpresas que são apresentadas em momentos chave, rumamos até o sexto - e último episódio - com uma série de incertezas e pontas soltas.

É muito difícil não vir logo uma comparação com Yellowstone. Família poderosa em eterno conflito interno, um chefe de clã impiedoso, empresários cheios da grana querendo uma parte das terras, questões com os nativos da região. Mas indo a fundo, algumas questões se afastam na maneira como chegamos até essas histórias.

Com um elenco encabeçado pela atriz Anna Torv – protagonista de uma das séries mais lembradas dos anos 2000, Fringe Territory peca na construção de seus personagens. Isso é uma flecha danosa em qualquer alicerce que se baseia nas relações conflituosas que se seguem.

Com suas paisagens deslumbrantes, rodado no Território do Norte e na Austrália do Sul, incluindo o Parque Nacional Kakadu, considerado Patrimônio Mundial da UNESCO, Territory usa da dinastia do gado para mostrar a ganância e o ego inflado. Se você conseguir se distanciar de Yellowstone, pode ser que ache mais méritos. Mas em resumo, é uma minissérie visualmente chamativa mas com carência no desenvolvimento de seus inúmeros personagens.  


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03/09/2024

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Pausa para uma série: 'Bastidores do Pop: O Esquema das Boy Bands'


Backstreet Boys, N’Sync
... Você já ouviu falar dessas bandas né? Quem viveu intensamente os anos 90 deve se lembrar do boom que foi na indústria fonográfica a chegada das boy bands nas paradas de sucesso. Entretanto, o que pouca gente sabia era o que acontecia atrás das cortinas. Através dos malabarismos duvidosos de um polêmico empresário que conseguiu uma rápida subida na sua posição, muitas verdades foram expostas aos poucos e aqui explicadas com alguns detalhes numa nova série no maior dos streamings.

Tendo como elemento central Lou Pearlman, considerado por muitos o guru das boybands, Bastidores do Pop: O Esquema das Boy Bands, minissérie documental de três episódios disponível na Netflix, nos leva até os bastidores de um ramo do Pop music, do anonimato ao estrelato, expondo questões por trás do sucesso que ganha aos poucos o alcance mundial e tendo como passagem as descobertas de fenômenos como Backstreet Boys e N’Sync e outras bandas com relevância dentro do mesmo segmento.

De uma empresa de dirigíveis até as descobertas que mudariam a cultura pop de uma geração, vamos entendendo um pouco a mente de um empresário que se escondia no glamour, fazendo os outros de fantoche, uma reta sem paradas rumo ao egoísmo e egocentrismo. Utilizando uma técnica de dublagem para seu protagonista, através de contextos da obra onde a minissérie se baseia em grande parte, ‘Bands, Brands and Billions: My Top Ten Rules for Success in Any Business’, o projeto nos leva das descobertas até investigações colocando em dúvida a ética por trás de um rentável negócio.

Mesmo carecendo de detalhes sobre algumas questões, ao longo dos três episódios que compõe a obra, o foco parece ser jogar um monte de pulguinhas atrás da orelha sobre determinadas situações, além de mostrar ao público verdades da indústria fonográfica dos anos 90. Por meio de depoimentos de alguns dos astros das bandas descobertas, amigos, jornalistas e envolvidos nas investigações Bastidores do Pop: O Esquema das Boy Bands busca traçar um raio-x de um homem e suas polêmicas raspando nos contextos de uma época marcante na cultura pop mundial.


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Pausa para uma série: 'Depois do Acidente'


Quando a dor vira obsessão. Vou te contar agora de um seriado que chegou ao Top 1 da Netflix rapidamente e nos mostra as consequências de um acidente inusitado, com um pula pula, fato esse que escancara as verdades de muitos envolvidos. Dividido em 10 episódios, Depois do Acidente, seriado mexicano disponível na Netflix possui um discurso que segue para seus desenrolares entre o ódio e a culpa jogando num tabuleiro de traições, ganância, poder e inconsequências personagens com o emocional em desequilíbrio onde o certo e o errado se tornam pontos com várias interpretações.

Na trama, conhecemos algumas famílias de classe alta que se reúnem para o aniversário do filho de um deles. A principal delas, é formado por Dani (Ana Claudia Talancón) e Emiliano (Sebastián Martínez), uma policial e um empresário/advogado prestes a ficar milionário por conta de um investimento valoroso. Durante o evento, um terrível acidente com um pula pula mal instalado acaba deixando mortos e feridos. Após o ocorrido, o personagens embarcam em busca dos culpados o que desencadeia uma série de consequências com outras subtramas que correm em paralelo.

Escrita pelo jornalista venezuelano Leonardo Padrón, autor de algumas novelas de sucesso, Depois do Acidente joga na tela hipocrisias sociais ao mesmo tempo que caminha pelo luto e as camadas da imoralidade. Sem muitos ganchos entre um capítulo e outro, parte da agonia de seus muitos personagens apresentando uma trama ampla com muitas variáveis que algumas vezes se embola. É aquela questão de querer apresentar muitos fatos e suas profundidades mas alguns ficam apenas na superfície, o que acaba esbarra em personagens engolidos por outros.

Entre bons e medianos episódios, nessa primeira temporada vemos, com um ar novelesco, subtramas dominando o contexto principal, fato esse que se torna uma ponte importante para conhecermos melhor alguns intrigantes personagens e seu caráter duvidoso. De um lado a turma do ódio, guiados totalmente e muitas vezes de forma inconsequente por esse sentimento que não e desgruda. Do outro, a turma da culpa, representados na maior parte do tempo pelo personagem principal Emiliano (Sebastián Martínez). Não deixa de ser uma fórmula de bolo que acaba dando certo.

Depois do Acidente é um drama com pitadas de suspense mas sem muitos mistérios, aposta suas fichas no jogo de interesses entre os envolvidos para prender a atenção do público. Aponta seus holofotes um monte de situações enroladas que vão desde os deslizes da imprensa atrás do sensacionalismo, a maldade personificada por um clássico vilão, até as derrapadas do caráter e da honra aliada a uma ganância viciosa.  


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15/07/2024

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Pausa para uma série: 'Debaixo da Ponte: A Verdadeira História do Assassinato de Reena Virk'


As marcas da maldade na busca por aceitação. Criado por Quinn Shephard, inspirado no livro Reena: A Father's Story escrito por Manjit Virk, o seriado Debaixo da Ponte: A Verdadeira História do Assassinato de Reena Virk busca uma ampla análise social, através de um assassinato ocorrido no final da década de 90 no Canadá, sobre um assunto que é vivo até os dias atuais: o bullying. Com o uso constante de flashbacks, percorrendo pedaços de décadas, o projeto usa os porquês para o seu alicerce narrativo gerando reflexões que vão desde a rebeldia indomável que se sobrepõe à inconsequência, até o abandono.

Na trama, conhecemos Rebeca (Riley Keough), uma mulher que volta para casa, na cidade de Vitória, capital da Colúmbia Britânica no Canadá, para escrever um livro. Logo após sua chegada, um terrível assassinato é cometido, uma jovem de 14 anos chamada Reena (Vritika Gupta) é encontrada sem vida levando a policial Cam (Lily Gladstone), uma velha conhecida de Rebeca, para uma complexa investigação, repleta de telefone sem fio, que foca em outros jovens que viram a vítima pela última vez.

Amizades ruins, crueldade, manipulação, mentiras, inveja. Partindo de uma protagonista com traumas no passado que vê no trágico ocorrido uma oportunidade para se libertar de algumas marcas, Debaixo da Ponte: A Verdadeira História do Assassinato de Reena Virk contorna o bullying para abrir outras portas com dois pontos que se destacam: a compaixão como elemento de análise com variantes intercessoras e o abandono. Esse último ponto, visto sob algumas perspectivas que se associam aos deslizes da imaturidade.

O contexto familiar da vítima ganha bastante espaço, principalmente em um dos episódios centrais. Filha de descendentes indianos, religiosos ligados à Testemunhas de Jeová, Reena se sentia em conflito pelas regras da fé imposta, chegando até um conturbado relacionamento com a mãe e uma desesperada busca pela aceitação, um elo definitivo para o encontro com outros jovens que nunca a receberam de braços abertos. 

Cheio de bifurcações que adentram camadas poderosas associadas às subtramas, o início, o meio e o fim parecem se associar conforme os episódios passam, com o passado e presente apresentando fatos e trazendo respostas. Não esperem revelações surpreendentes, o objetivo por aqui é usar os porquês para o seu alicerce narrativo. Assim, passo a passo e com muitos detalhes espalhados de forma implícita, chegamos na maldade, na psicopatia, no fardo carregado que ninguém ajuda, na dor, no coração magoado, na necessidade de se sentir aceito.

Protagonizada pelas ótimas Riley Keough e a indicada ao Oscar Lily Gladstone, com um capítulo completando o outro, num total de oito episódios baseados em fatos reais, essa minissérie cheia de caminhos para nosso refletir está disponível na Disney Plus. Merece uma maratona!



 

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01/06/2024

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Pausa para uma série: 'Eric'


É possível mudar o mundo antes de si mesmo? Chegou na Netflix uma interessante minissérie de apenas seis episódios que caminha pela esperança desencontrada abrindo um leque de profundas reflexões a partir de uma busca de um refúgio para intensas aflições. Eric, apresenta pelo olhar indefeso do mundo, um casamento em ruínas, a política, a corrupção, a polícia, o preconceito, os abandonos de relações entre pais e filhos. Criado pela dramaturga britânica Abi Morgan, e com todos os episódios dirigidos pela cineasta Lucy Forbes, tem como maior trunfo as lições que transmite através da personificação dos sentimentos centralizados na figura de um boneco criado por um desenho que atrás de seu ar monstrengo nos leva até medos, inseguranças.

Na trama, ambientada numa Nova Iorque em meados da década de 80, conhecemos o jovem Edgar (Ivan Morris Howe), um garoto que sofre com o ponto em que se chegou o casamento dos pais, a professora Cassie (Gaby Hoffmann) e o criador de um programa de bonecos bem famoso, Vincent (Benedict Cumberbatch). Um dia, Edgar some. Acionando logo a polícia, o caso cai na responsabilidade de Michael (McKinley Belcher III), um policial gay que sofre com diversos preconceitos e que fará de tudo para resolver o mistério desse sumiço.

Não é porque você não enxerga que não existe. O roteiro, longe de ser rasteiro, navega por histórias que se cruzam através de uma decisão. As subtramas são todas muito bem desenvolvidas e ganham seus convincentes desfechos. Um casamento em ruínas, com vícios e traições é exposto, as relações entre influentes da cidade e a polícia também. Os segredos, o descaso, a fuga da culpa vão expondo os lados de um poder que não se vê mas sabemos que existe. Um homem da lei e seu silêncio sobre a vida pessoal com uma iminente perda é uma subtrama profunda que parece andar em paralelo à investigação do sumiço do jovem. Em algum ponto nos perguntamos: onde está a esperança para algumas dores do mundo? Enxergamos críticas sociais contundentes por todos os lados.

O protagonista parece ser mesmo Vincent e sua jornada pelas dores emocionais, nunca tratadas, até mesmo prolongadas, que no fim do seu túnel nunca enxerga a luz de reconexões. Totalmente desequilibrado, com muitos vícios, e os traumas na relação com o pai, levaram esse ator bonequeiro a um reflexo do que viveu na relação fria com o próprio filho. Mas como o espectador entende tudo isso? Aí que vem a grande sacada, um boneco que aparenta o deixar com medo mas que na verdade é um espelho das emoções que misturam a loucura, a culpa, o medo.

Nesse forte drama, entre desconfianças para todos os lados, as indefesas do mundo são quase um personagem. É também sobre pais e filhos, sobre as consequências das relações tóxicas mas também sobre reconexões. Assim, seguimos nos perguntamos até o minuto final: É possível mudar o mundo antes de si mesmo?


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29/05/2024

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Pausa para uma série: 'Ashley Madison: Sexo, Mentiras e Escândalo'


Umas das minisséries documentais mais chocantes e com reviravoltas acaba de estrear na Netflix. Vamos falar agora sobre Ashley Madison: Sexo, Mentiras e Escândalo. Um pioneirismo na internet, no início dos anos 2000, no boom dos namoros Online, um site para casos extraconjugais é lançado gerando enormes polêmicas. A pessoa se cadastrava e era prometido sigilo e descrição. Certo dia, um ataque hacker aos servidores do site leva até o maior caso de divulgação de dados da história, modificando vidas para sempre.

Com depoimentos de ex-funcionários e usuários que tiveram suas vidas completamente afetadas pelas consequências dessa situação, essa série documental de três episódios disponível na Netflix joga ao espectador questões sobre a moral e os lados escondidos de relacionamentos. Percorrendo histórias de alguns lugares entre os EUA e o Canadá vamos entendendo os dramas a quatro paredes, que passam pela vergonha e constrangimento.

Batendo na tecla da pergunta: Qual o preço de se viver numa mentira? Vamos entendendo as motivações de todos os lados. O prazer, os segredos, entre outros, se tornam elementos de uma narrativa que busca nas surpresas seu dinamismo. A mente humana e suas complicadas certezas ampliam o contexto de reflexão chegando até as críticas sociais, essas na linha tênue da moral aqui personificado na figura de uma empresa que ganha com a traição dos outros.

Nesse ponto da minissérie, quando se traça um raio-x da empresa Ashley Madison e também de sua figura mais marcante, um CEO arrojado que teve e-mails polêmicos divulgados, chegamos até os deslizes do bom senso. Seria tudo um golpe de marketing? Essa pergunta logo se desfaz quando entendemos a investigação por trás dos vazamentos. E em relação a isso, até hoje algumas dúvidas no ar.

Ashley Madison – Sexo, Mentiras e Escândalo é um exercício sobre o pensar a sociedade e o consumismo, além de mostrar na cara dura as hipocrisias de pessoas que juram sempre se comportar.

 

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28/04/2024

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Pausa para uma série: 'Noite de Verão'


Uma reunião familiar. Um segredo a contar. Partindo dessas duas variáveis a minissérie norueguesa Noite de Verão nos leva até ultrapassagens do limite moral, histórias se entrelaçando num presente momento. Nesse engenhoso e surpreendente roteiro criado por Per-Olav Sørensen, com cinco episódios de 30 minutos, a brilhante minissérie contorna crises existenciais que logo se mostram grandes aprendizados. Inveja, egoísmo, imaturidade, desabafos, dilemas encontram caminhos para serem demonstrados guiados por um elenco impecável. Já podemos colocar esse projeto como um dos maiores acertos da Netflix nesse ano de 2024.

Na trama, conhecemos o casal Carina (Pernilla August) e Johannes (Dennis Storhøi), que vivem juntos faz 30 anos e resolvem reunir a família e amigos próximos para uma revelação surpreendente. A questão é que os convidados vivem seus próprios dilemas com estopins que afloram nesse mesmo lugar. A cada episódio, um melhor que o outro, conhecemos as verdades dos personagens e seus conflitos.

O olhar diferente sobre uma mesma ação deixa a narrativa envolvente, pulsante, com flashbacks nos ajudando a entender outros sentimentos, outros segredos dos presentes do que era para ser mais uma reunião familiar. Com a cronologia guiada por uma linha temporal de algumas horas, enxergamos dilemas que logo se tornam conflitos expostos. A partir de uma notícia para entregar, vai de encontro à mágoas com ex, caminhos com diferentes visões numa fase da vida onde a acomodação tomou conta de uma relação, divórcio, rivalidades, traição, amores nunca revelados.

A linha de interseção que acaba sendo o alicerce da premissa se joga em cima da verdade de que uma relação precisa de duas pessoas. É possível enxergar essa reunião familiar como uma enorme sessão de terapia onde o próximo passo ganha forças a partir do aparecimento do problemas dos outros. Quando a ficha cai, esse dia de revelações se torna um caldeirão emocional que desentopem o rompimento com os medos e aflições. Tudo isso gera reflexões aos montes.



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27/04/2024

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Pausa para uma série: 'Bebê Rena'


Desbravando o sempre complexo labirinto dos traumas, da pena ao abalo emocional que traça retratos com linhas que se cruzam, Bebê Rena, com apenas sete episódios, consegue prender a atenção do público com uma desconstrução de um impactante personagem, após uma leitura parcial, nos levando para as estradas da vulnerabilidade, indo do sonho passando da insegurança ao medo. Essa minissérie tem tudo para estar em listas das melhores do ano de 2024.

Na trama, ambientada em uma Londres de anos atrás, conhecemos Donny (Richard Gadd), um artista com o sonho de ser comediante que um dia começa a se vê perseguido por Marta (Jéssica Gunning), uma solitária mulher que não larga do seu pé. Buscando encontrar soluções para fugir dessa stalker, acaba indo de encontro à um trauma de seu passado, fato que mudou sua vida por completo.

Ao optar por uma narração em off do próprio protagonista, a narrativa ganha dinamismo, aprofunda os horizontes de possibilidades além de complementar lacunas de emoções e inconsciente, algo que é sempre difícil de ser mostrado em uma obra audiovisual. Do sonho ao medo, o caminho do personagem encontra a obsessão, um mar de perguntas sem respostas, onde os achismos encontram buracos sem fundo. A direção de arte é impecável, cores e movimentos nos levam para um ritmo alucinante como se o reflexo do abstrato dos pensamentos ganhassem personificações em ações.

A grande virada da trama nos leva a um drama pessoal, um abuso sofrido que muda completamente a rota de um artista com um necessidade de ser ouvido. De aspirante à comediante, Donny se vê cercado pelo caos, dezenas de e-mails diários se tornam gatilhos para suas próprias experiências, segredos guardados a sete chaves que parecem encontrar uma direção através de um desabafo viral. Aos poucos, Bebê Rena vai se tornando uma obra denúncia, uma enorme crítica social.

Baseado em fatos reais, escrito e protagonizado pelo artista britânico Richard Gadd, o seriado tem uma reviravolta inesperada no seu quarto episódio, deixando o espectador com os olhos arregalados com tudo que é mostrado. Não deixe para depois, vá conferir: Bebê Rena na Netflix.


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16/04/2024

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Pausa para uma Série: 'Fallout'


Tava procurando uma série que me deixasse empolgado e que se tornaria uma brilhante jornada de reflexões. Encontrei! Ambientada no universo de um jogo famoso criado nos anos 90, chegou na Prime Video um seriado empolgante que busca reflexões quando a tragédia flerta com a oportunidade. Nos longos e excelentes oito episódios dessa primeira temporada, em Fallout, somos guiados por carismáticos personagens que embarcam em uma trajetória de absurdos que os levam ao encontro de verdades não ditas e suas as interpretações da moral, dos valores ligados a um princípio darwiniano. Nesse enorme tabuleiro de mentiras, a narrativa brilha ao mostrar as inversões de perspectivas que nos ajudam a entender melhor esse universo fascinante que merece toda nossa atenção.

Na trama, bem à frente no futuro, conhecemos a Terra dizimada por ações nucleares. Para proteger alguns, os Estados Unidos junto à um grupo de empresas, principalmente uma, a Vault- Tec , resolvem criar refúgios subterrâneos. Assim, 200 anos depois do caos começar, conhecemos a jovem Lucy (Ella Purnell) que após o lugar onde nasceu e foi criada ser atacado, e ainda com o sequestro de seu pai, resolve ir atrás dele e desbravar a superfície, um lugar onde nunca antes havia ido. A cada caminhada, uma nova descoberta, e assim seu destino se cruza com Maximus (Aaron Moten), um sobrevivente de um dos ataques nucleares mais impactantes e o enigmático necrótico Cooper (Walton Goggins), esse último com um passado com vivas memórias do início do fim.

O que é preciso fazer para sobreviver? Os protagonistas se misturam na própria angústia, cada um no seu objetivo, em modos diferente de viver, de se adaptar. Saindo de um universo de regras tendo a meritocracia como pilar, com um mundo lá fora com outras, seguimos na maior parte do tempo os olhares de Lucy e sua busca incessante que geram perguntas do tipo: Como melhorar um mundo perdido? Essa ótima personagem passa por uma desconstrução absurda com o medo que logo vira coragem passando pelas dificuldades do confiar.

Não podemos esquecer da jornada de Maximus e Cooper. O primeiro, um jovem traumatizado com seu passado devastador, que é adotado por um grupo militar e almeja dias mais tranquilos num universo onde o poder é tomado, não dado. O segundo, um homem com ações moralmente questionáveis, detentor de muitas memórias dos tempos onde o mundo vivia como os dias de hoje, sobreviventes na superfície dos males da radioatividade, que viu a construção de um império do mal e luta para tentar se encontrar novamente com sua família.

O tempo e a manipulação de tudo. A variável ‘Tempo’ aparece como elemento principal, um catalisador de ações e inconsequências em meio a uma terceirização da sobrevivência. Animais radioativos, clérigos em busca de poder, necróticos que vagam como nômades se juntam à ambição e ao princípio de querer ser Deus, esse último ponto personificado na linha de comando da empresa Vault-Tec. Aliás, as poucas descobertas sobre as criações dessa empresa, e as maiores explicações sobre o potencial de ganhos com o fim do mundo, é o ótimo gancho para uma possível (e provável) segunda temporada.

Fallout já tem toda sua primeira temporada disponível na Prime Video e já posso dizer, é a melhor série do ano até aqui! Brilhante!


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28/03/2024

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Pausa para uma série: 'Desejos S.A.'


Chegou nesse final de março ao catálogo da Star Plus uma série de antologia brasileira que se agarra na tentação como forma de provocar os dilemas na visão de conturbados personagens se jogando no mar das inconsequências. Criada pelos ótimos cineastas argentinos Gastón Duprat e Mariano Cohn, Desejos S.A. busca o olhar pela fechadura sobre os desejos não verbalizados, aqueles guardados a sete chaves, expondo a intimidade e seus embates fervorosos com a moral. O projeto é baseado em uma ideia do autor Horarcio Convertini.

A trama dessa minissérie gira em torno de seis histórias independentes que possuem um único elo: uma empresa misteriosa chamada Desejos S.A. que seduz vítimas realizando qualquer desejo por apenas 9,90 (custo da ligação que a pessoa realiza). Mas para toda ação há uma consequência, uma contrapartida indigesta que é preciso realizar para concluir a pedido. Na linha do: ‘o que você faria?’, sonhos podem se tornar verdadeiros pesadelos nessa análise profunda sobre os limites do ser humano. Algo que escancara verdades da sociedade.

Entre os ótimos personagens, conhecemos um homem da tecnologia e sua obsessão pela companheira do irmão, uma cuidadora que trabalha faz mais de duas décadas para um acomodado coronel aposentado, uma criança que deseja voltar a reunir os pais recém separados, uma mulher bem sucedida querendo descobrir possíveis segredos do marido, um frustrado motorista e seu incômodo com o novo vizinho além de uma religiosa que secretamente é fã de um famoso cantor. O elenco tem ótimos nomes: Carol Castro, Silvero Pereira, Marcos Pasquim, Daniel Rocha, Rocco Pitanga, Gilda Nomacce, Nelson Freitas e até mesmo a participação do cantor Diogo Nogueira.

A narrativa busca no detalhe, na imersão de uma trilha sonora chiclete, deixar todos os elementos em cena com a faceta da tensão refletindo para o espectador. Há muitos pontos interessantes na direção de arte que serão captadas pelos olhos mais observadores. Parece que há uma necessidade, muitas vezes excessiva, de qualquer elemento dizer alguma coisa. A condução da trama não se apressa para buscar seu clímax, com um ritmo dosado, busca uma profunda construção dos personagens antes de qualquer ação.

A consequência é um ponto a ser analisado, algo que se aproxima muito com a realidade, trazendo paralelos aos montes. O ser humano como vitrine dos erros e acertos, do certo ou errado, do egoísmo e até mesmo da acomodação pelo caminho mais fácil sempre gera bons debates. Fantoches nas mãos de algum grupo secreto, o desejo corre anos luz à frente de qualquer situação que possa chegar no fim do túnel das decisões dos protagonistas. Aqui percebemos que o egocentrismo, esse olhar para si mesmo, reverbera à beira do abismo dos conflitos.  

Com episódios durando cerca de 30 minutos, daqueles projetos para se maratonar em uma parte de um dia, essa série de antologia esmiúça casamentos em crise, relações deterioradas com o tempo, a expressão ‘até as últimas consequências’, mas se fortalece mesmo nos seus dilemas, jogando perguntas ao vento, a principal delas: O que você faria se pudesse realizar qualquer desejo não importando as consequências?

 

 

 

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27/03/2024

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Pausa para uma série: 'Rainha Vermelha'


O contraponto da genialidade e a maldição. Baseado na obra homônima do escritor e jornalista espanhol Juan Gómez-Jurado, o primeiro de uma trilogia, chegou recentemente no catálogo da Prime Video um seriado empolgante, que parte da jornada de heróis brilhantes e imperfeitos até o encontro com um caso macabro que vai se moldando através de pistas sobre um psicopata enigmático. Rainha Vermelha tem todos os seus conflitos chegando através dos laços entre pais e filhos, esse sentimento forte, vívido, conflitante, muitas vezes dependente, que se torna a base dos sete episódios, com duração perto de uma hora.

Na trama, conhecemos Antônia Scott (Vicky Luengo), uma jovem considerada uma das pessoas mais inteligentes do mundo (com um altíssimo QI) que faz parte de uma organização que só entra em operação em casos complexos onde a polícia não consegue resolver. No passado, um trauma abala todas suas estruturas emocionais ficando longe de qualquer agitação. Mas tudo isso muda com uma série de acontecimentos horripilantes que percorrem as ruas da cidade mais famosa da Espanha. Assim, seu destino se interliga com o de Jon (Hovik Keuchkeriano), um carismático policial que se junta ao time com a função de escudeiro da nomeada Rainha Vermelha. Juntos, precisarão resolver esse sinistro caso que envolve violência e o sequestro de uma milionária.

Antônia Scott é um personagem fascinante mas só vamos descobrir isso lá pelo meio da temporada. Então, paciência! A série esquenta mesmo a partir do terceiro episódio. É importante toda a costura do contexto que é feita nos primeiros episódios, de peças da organização fantasma que corre em paralelo às forças policiais até os arcos do antagonistas, passando pelo brilhante e carismático policial Jon, Rainha Vermelha posiciona peças que serão importantes nesse desfecho e até mesmo nas sequências dos outros livros que muito provavelmente virarão novas temporadas (a segunda inclusive já está garantida).

O mundo é um enorme texto a ser decifrado. Superdotada e refém de um experimento, Scott é uma jovem com uma mente brilhante que sempre se viu distante de uma sociedade que prega valores por meio de muitas hipocrisias. Isso não a deixou longe de ter uma família, criar laços. Andando em uma corda bamba com sua observação apurada parece conseguir esconder em um lugar sombrio seus embates absurdos com o exigente e influente pai e todo um passado ainda ser contado. O seriado começa exatamente no seu despertar, através de um forte trauma.

De um outro extremo, conhecemos Jon, um policial gay, marcado por um passado repleto de situações que o deixaram de lado na força policial. Sua forte relação com a mãe é o caminho para entendermos sua capacidade impressionante de agregar valores positivos numa relação e seus princípios ligados à uma análise sentimental. Um homem de uma inteligência emocional apurada que muitas vezes estaciona nas dores de causas perdidas. Hovik Keuchkeriano, está fabuloso no papel. Você pode lembrar dele como ‘Bogotá’ do mega sucesso mundial La Casa de Papel.   

A razão e a emoção moldam as personalidades distintas desses dois protagonistas formando um encaixe perfeito dentro de uma fórmula de ação e suspense onde a trama nunca é deixada de lado e sempre guiado por eles. A maneira como a história é contada (narrativa) deixa o ritmo dinâmico ampliando o campo de visão do espectador, muitas vezes através de um raio-x do subconsciente da protagonista e as reações espontâneas do outro.

Um ótimo vilão, e as surpresas quando nos deparamos com a sua história, se juntam a essa trama repleta de mistérios, reviravoltas, segredos inconfessáveis, relacionamentos abusivos, psicopatia e suas esferas. Rodado todo na cidade de Madri, Rainha Vermelha é o pontapé inicial de um arco maior. Há muito para se desenvolver. A segunda temporada já está garantida e será a adaptação de Loba Negra, segundo livro da brilhante trilogia de Juan Gómez-Jurado. Para quem se interessar, essa primeira temporada está disponível no catálogo da Prime Video.


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23/03/2024

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Pausa para uma série: 'Magnatas do Crime'


Ação e humor debochado na medida certa. Diretamente da mente criativa do cineasta britânico Guy Ritchie chegou na Netflix um seriado que possui uma narrativa detalhista que encontra um ritmo intenso num habilidoso jogo de perspectivas com excêntricos e inconsequentes personagens. Magnatas do Crime, spin-off (uma história derivada) do filme lançado em 2019 pelo próprio diretor, nos leva para um tour pelo domínio, a necessidade de poder, no mundo obscuro da criminalidade.

Na trama, conhecemos o aristocrata Eddie (Theo James) um soldado britânico que servia na ONU que é chamado pra casa por sua família já que o pai está pelas últimas. Quando assume uma herança indigesta que traz riquezas e muitos desastres, descobre que na propriedade da família existe uma enorme plantação secreta de maconha comandado pela família de Susie (Kaya Scodelario). Buscando encontrar alguma solução para se desvincular da criminalidade acaba entrando de cabeça no submundo do crime.

Um novo duque e uma série de missões. Com uma trama mirabolante que passa um raio-x na iminente criação/formação de um gângster, algo parecido com o já vimos em O Poderoso Chefão, Magnatas do Crime nos leva para o confronto com narrativas de poderosos sendo seguidas por situações peculiares que mostram todo o controle e também descontrole numa busca pelo trono de mais poderoso. Pode ser visto também como um Game of Thrones do submundo do crime em uma Inglaterra dos tempos atuais.

Expandindo o universo de histórias oriundas do filme lançado em 2019, o projeto de oito episódios em sua primeira temporada é um mergulho profundo na psiquê humana, repleto de personagens peculiares que possuem como elo as contradições, o confronto com o antagônico. Tudo isso é mostrado de forma minuciosa pelas lentes de Ritchie que não deixa de lado ótimas cenas de ação e espaço para reviravoltas, transformando o seriado em mais uma obra consistente de seu currículo.


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Pausa para uma série: 'O Problema dos 3 Corpos'


Um chamado. Uma resposta. Onde está o inexplicável? Baseado na obra homônima escrita por Liu Cixin, O Problema dos 3 Corpos é um drama existencial com muita ficção científica que reúne uma série de elementos que vão dos conceitos físicos que se juntam à quebra de valores éticos, até as derrapadas da moral, dramas pessoais, tragédias e dilemas. Adaptado para as telas pela dupla, David Benioff e D.B. Weiss, alguns dos responsáveis pelo sucesso Game of Thrones, a narrativa, que percorre uma extensa faixa temporal com blocos de histórias que vão se reunindo, busca ser objetiva nas jornadas profundas de seus intrigantes personagens.

Na trama, conhecemos uma jovem cientista lá na década de 60, em meio à revolução cultural chinesa, que após passar por um trauma acaba recebendo a chance de trabalhar num lugar secreto que tem como objetivo colocar a China como líder na comunicação interestelar. Um dia, ela consegue contato com seres de outro planeta e uma decisão nessa comunicação acaba vindo a ter consequências anos depois atingindo em cheio as vidas de um grupo de amigos e brilhantes cientistas que estão na Europa nos tempos atuais.

Estrelas brilhando de forma estranha, códigos vindo de outros lugares, pesquisas avançadas sendo sabotadas, seita alienígena, sol amplificando transmissões, uma inteligência artificial jamais vista. O que deixamos pra trás para pensar na frente? Suportando sua base do discurso em confrontos de ideologias e tendo a ciência como elemento importante de salvação da humanidade, o misterioso seriado, que tem um dos maiores orçamentos da história da Netflix, consegue equilibrar o fisiquês com a razão da existência onde embates são vistos em várias subtramas que nos levam a reflexões sobre jornadas profundas sobre a vida e a morte.

Qual o bem maior? O confronto entre o egoísmo e o coletivo é algo que permeia as ações dos personagens dentro da linha de que toda ação pode ter uma consequência. A ciência sobre o misticismo é outro ponto também abordado de forma franca que desemboca em dilemas bastante terráqueos mas aqui ligados a uma necessidade de defesa planetária.

O Problema dos 3 Corpos é a primeira parte de uma trilogia, então já sabem que o final é aberto! Ao longo desse intenso, e cheio de peças soltas, arco introdutório de oito episódios, a construção da identidade da série é feita com maestria, com ritmo equilibrado, deixando lacunas a serem preenchidas nas futuras temporadas.

 


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13/03/2024

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Pausa para uma série: 'Ara San Juan: O Submarino que Desapareceu'


Uma tragédia e muitas descobertas. Chegou recentemente no catálogo da Netflix, um seriado documental argentino que traça um pente fino no catastrófico sumiço de um submarino com 44 tripulantes à bordo ocorrido em outubro de 2017. Um desastre que abre um mar de absurdos que vão desde um governo insensível, completamente perdido ao lidar com uma situação, até inúmeras teorias mirabolantes do que de fato possa ter acontecido.

Nos oito episódios com cerca de 25 minutos, Ara San Juan: O Submarino que Desapareceu navega pelos desabafos de parentes, falta de sensibilidade de oficiais da marinha argentina, espionagem ilegais, entrevistas com especialistas e jornalistas que cobriram o caso desde o início, até críticas que chegaram ao alto escalão do governo, afetando a popularidade do presidente em exercício argentino na época: Mauricio Macri.

Com o objetivo de realizar exercícios navais no percurso entre Mar del Plata e Ushuaia, logo após ir à mar aberto no controle de pescais ilegais, além de coletar informações sobre possíveis navios do Reino Unido e suas posições perto das Maldivas, o Ara San Juan partiu para numa viagem sem volta no que culminaria em um misterioso recorte sobre o que de fato pode ter acontecido. Uma das maiores buscas da história naval mundial ligadas a um submarino, inclusive contando com a ajuda internacional de alguns países, esse recorte tenso da história militar argentina mostra as fraquezas e incertezas de governantes de um país colocados contra a parede pelo seu povo.

O seriado é bem detalhista ao jogar na tela versões, situações, além de conseguir ampliar o contexto que chega com força na política de um país em eternas crises financeiras. Do lado da família, dor e muito sofrimento, algo que se prolonga com as inacreditáveis descobertas que são feitas ao longo desse espinhoso caminho rumo às verdades.  

Teorias vão se criando, desde possíveis erros humanos na manutenção de alguma operação técnica dentro do submarino, até mesmo fogo inimigo, no caso aqui do Reino Unido já que a embarcação poderia estar perto da região das Maldivas, uma área de eterna tensão militar que teve uma guerra de alguns meses no início da década de 80. Conflito esse que ainda deixa marcas nos corações dos argentinos.

Ara San Juan: O Submarino que Desapareceu é muito mais do que um recorte sobre uma tragédia, é a exposição de uma série de absurdos com pessoas que deveriam proteger e confortar dando um bico na moral.


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11/03/2024

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Pausa para uma série: 'O Sinal'


O que pode estar lá fora? Desde os tempos inesquecíveis de episódios semanais de Arquivo X, nos primórdios das produções seriadas, nos deparamos com situações ligadas as incertezas do universo. A nova minissérie da Netflix, O Sinal, percorre o mesmo caminho, nos levando a questões sobre as verdades que estão lá fora de uma forma inteligente, costurando o que é real e o que a mente projeta.


Tendo como alicerce misteriosas situações que acontecem em uma estação espacial, ao longo de quatro episódios com cerca de uma hora de duração, essa produção alemã parte para suas reflexões existenciais a partir da certeza que a história da humanidade nada mais é que um ciclo vicioso, explorando as ações do ser humano quando existe a possibilidade de se achar a ruptura disso.


Na trama, conhecemos Paula (Peri Baumeister), uma brilhante cientista alemã enviada por uma empresa privada para o espaço com um único objetivo de realizar pesquisas sobre possíveis sinais vindos de fora da Terra. Ao mesmo tempo, seu marido, o professor de história Sven (Florian David Fitz) e sua jovem filha com deficiência auditiva esperam o retorno dela. Perto de completar sua missão, Paula se depara com uma descoberta e conflitos se desenrolam. Ao voltar ao nosso planeta acaba sendo responsabilizada por uma tragédia, modificando completamente a vida de sua família.


Questões geopolíticas, ambições, circo midiático, dramas familiares se entrelaçam nesse projeto que busca perguntas sobre a relação do ser humano com o próprio sentido de existência. É um caminhar bem filosófico que gera interpretações diversas. Há um curioso mistério que percorre os episódios, a princípio mal definido nos dois primeiros capítulos mas conforme vamos juntando as peças tudo começa a fazer um certo sentido. O choque entre o dilema de Paula na espaço e os dramas que sofre sua família na Terra é o combustível desse roteiro que objetiva encontrar um norte entre esses paralelos.  


O ponto mais interessante é quando entendemos sobre o que de fato é essa história. Aqui a humanidade é colocada em evidência, dentro do ciclo vicioso já mencionado, a partir das possibilidades de descobertas sobre o que há pelo universo. A ganância, a imposição militar, o reconhecimento, as loucuras que a mente é capaz de projetar, são alguns dos elementos que estão associados as ações vistas que traçam paralelos com a realidades de conflitos de diversos cotidianos. O eterno embate entre as ações individuais e coletivas, dentro de um sentido da essência do ser humano pondera o certo e o errado.  


Na sua incessante busca pelos conflitos emocionais de uma protagonista em crise nos dilemas que percebe na sua trajetória, algo necessário para entendermos a construção e desconstrução da personagem, a narrativa pode se tornar confusa em alguns momentos com um uso excessivo de flashbacks onde a variável tempo e seu vai e vem se tornam constantes. Mas o contexto acaba sendo uma peça chave, e mesmo caminhando pela previsibilidade, encontra um desfecho que não deixa de ser surpreendente, com um simbolismo importante para os nossos tempos.



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26/02/2024

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Pausa para uma série: 'O Falso Sheik'


Reflexões sobre as linhas tênues entre jornalismo e crime. Na década 90, tabloides sensacionalistas dominam as rodas de conversa de uma sociedade sedenta pela informação e ainda longe dos avanços das redes sociais que se tornaram uma certeza nos tempos atuais. Nesse período, no Reino Unido, um introspectivo e reservado repórter buscava seu espaço Ilustrando situações e transformando em interesse público, inclusive se passando por um falso sheik. Série documental de três episódios disponível na Prime Video, O Falso Sheik busca a reflexão ampla sobre o jornalismo e seus limites dentro da defesa de muitos do que seria liberdade de expressão.

Ao longo dos episódios, por meio de depoimentos de testemunhas das ações, vítimas, advogados e colegas do antigo trabalho, vamos conhecendo recortes da trajetória de Mazher Mahmood, descendente de paquistaneses, que lutou para conseguir seu espaço no meio jornalístico numa época de protestos e forte preconceito. Nos primórdios da internet, com poucos celulares, o personagem principal dessa história se abraçou a um jornalismo investigativo que cruzava limites fazendo quase de tudo para conseguir uma matéria. Ele basicamente jogava a isca e esperava que mordessem.

Aos poucos foi se tornando conhecido, vencedor de prêmios importantes dados para profissionais da imprensa britânica, assinando várias matérias de alta repercussão, com capas do jornal que trabalhava, inclusive alcançando o status de celebridade, mas sem nunca mostrar o rosto. Depois de muitas matérias de grande repercussão acabou ele mesmo virando uma.

A narrativa é detalhista ao buscar um diálogo interessante sobre o que fazia o protagonista, colocando na vitrine de reflexões o tipo de jornalismo praticado. Por meio de flagrantes provocados, vidas foram destruídas, jornais foram vendidos aos montes. A liberdade de imprensa usada como desculpa para não impor limites ou passear na linha tênue com a imoralidade deixando em ponto morto a ética é um elemento de discussão. O jornal britânico onde Mazher Mahmood trabalhou a maior parte do tempo, o ‘News of the World’, um do mais vendidos no mundo naquela época, chegaria ao fim por denúncias de invasões telefônicas.

Meios de comunicação na caça da imoralidade de rostos conhecidos são vistos até hoje, esse tipo de conteúdo se propaga de forma incontrolável, fator que diz muito sobre a sociedade em si.


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24/02/2024

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Pausa para uma série: 'House of Ninjas'


Nem toda batalha é vencida pela espada. Buscando resgatar a história das tradições e do imaginário japonês através dos chamados shinobis (no popular, ninjas) figuras bastante conhecidas no Japão feudal, entre os séculos XVI a XIX, chegou na Netflix nesse início de 2024 um empolgante seriado onde os conflitos se desenvolvem através dos dilemas entre o certo e o errado, com personagens enfrentando diferentes crises existenciais no período presente.

Na trama, conhecemos os membros da família Tawara, um clã de Shinobis que preferiu viver uma vida normal no Japão nos dias atuais após um deles morrer numa missão secreta seis anos atrás. Mas, quando um outro clã inimigo ressurge com seus novos integrantes ligados a arquitetura de uma conspiração global, os Tawara precisarão voltar a vestir a roupa ninja e ir para o confronto.

Um dos méritos do roteiro é conseguir nos seus oito episódios da primeira temporada prender a atenção do espectador, mesmo sem grandes reviravoltas, pelos conflitos que se seguem através dos ótimos e carismáticos personagens. O trauma, o luto, a dor, as dúvidas sobre o casamento, se misturam com uma casa cheia de regras onde não pode comer carne, não pode se apaixonar. A narrativa é empolgante com cenas de lutas com brilhantismo nas coreografias que se misturam a vazios existenciais ligados à globalização e até mesmo as formas de se comunicar no dinamismo desses novos tempos.

O sentido de justiça por aqui é visto como um conjunto de regras. Respondendo a um órgão específico para assuntos ninjas, essa família descendentes de guerreiros muitas vezes são meras peças dentro de um tabuleiro indecifrável onde a ponte entre o certo e o errado é feita por uma linha tênue. Uma ideologia definia no passado os shinobis como espiões ou em alguns casos guerreiros por recompensas, algo diferente dos samurais por exemplo que tinham a honra em primeiro lugar, mesmo que aqui nesse projeto a noção da dicotomia (bem e mal) seja colocada na mesa de forma trivial.

Criado pelo cineasta Dave Boyle, e tendo como lema ‘a família em primeiro lugar’ House of Ninjas reflete sobre o imaginário de outrora mas buscando um olhar familiar sobre os conflitos dos novos tempos já que antes de mais nada esses guerreiros são seres humanos de carne e osso.

 

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Pausa para uma série: 'Pequeno Nicolás: A Surreal História de um Cara-de-pau'


A informação é poder. Trazendo para o público uma quase inacreditável história da vida real que tem como epicentro um jovem que ao longo do tempo se tornou uma peça numa corrente de favores que acabou trazendo à tona a corrupção em território espanhol, Pequeno Nicolás: A Surreal História de um Cara-de-pau, minissérie documental da Netflix, ao longo de três intrigantes episódios deixa muitas perguntas no ar. Espião? Um contador de histórias? Apenas um garoto esperto? Um vigarista? Vamos acompanhando uma trajetória de fascínio pelo mundo político que logo vira uma obsessão.

O contexto político sobre tudo que acontece nessa curiosa história é de fundamental importância. Anos atrás, num momento difícil da economia espanhola, com uma alarmante crise bancária, e logo após o Partido popular chegando ao poder, foi o período dos primeiros avanços importantes no meio político de Francisco Nicolás, um jovem com uma capacidade impressionante de reunir pessoas que começou promovendo festas exclusivas, ainda adolescente, em lugares badalados na Espanha.

O documentário, muito bem estruturado e detalhado, guiado com analogias ao famoso ‘jogo da vida’, mostra através dos fatos o antes e o depois dessa sua meteórica história no cenário político. Num primeiro momento, com uma narrativa que emenda depoimentos de jornalistas, imagens e vídeos da época, além de revelações do próprio Fran, busca-se um traço de personalidade desse inventor de muitas vidas. Depois passamos a acompanhar suas mais famosas façanhas como a ida à coroação do Rei Felipe VI e a intrigante mensagem para o telefone do rei Juan Carlos (que tinha acabado de abdicar do seu reinado). Desembocando no estouro midiático que se tornou sua vida, com direito a convite a um famoso reality show.

Não há dúvidas de que o protagonista não fez a coisa certa mas será que estava inventando tudo? Essa pergunta é o ponto de interseção que liga todos os momentos de seu caminho, desde a ascensão até o declínio. Indo mais a fundo, o projeto não deixa de tentar decifrar a mente de Fran (depois conhecido como Pequenos Nicolás). Dono de uma arrogância que foi piorando com o tempo, perdendo aos poucos a noção da realidade, mas mantendo um inacreditável grau de influência com poderosos políticos e empresários, muitas histórias cercam a sua própria.

Em tempos onde a informação é o poder, Pequeno Nicolás: A Surreal História de um Cara-de-pau apresenta os fatos e alguns pontos de vistas. As interpretações serão inúmeras desse personagem da história recente da política espanhola repleto de cartas na manga que insiste em nunca se deixar afastar de um enorme tabuleiro de ‘disse me disse’.

 

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