Com um olhar crítico sobre o universo machista do futebol, a série Jogo Cruzado usa a comédia escrachada e uma narrativa leve para abordar temas delicados que ainda são tratados como tabus no esporte mais popular do Brasil. Entre risadas e provocações, a produção oferece reflexões importantes e necessárias. Em oito episódios repletos de convidados especiais – todos já disponíveis na Disney Plus – a série busca apresentar o ambiente do futebol através de novos olhares sempre tendo o humor na ponta da chuteira.
Matheus (José Loreto)
é o craque de um time que busca sempre os títulos mais importantes. Elisa (Carol Castro) é uma jornalista fiel aos
princípios da profissão que escolheu em busca de novos desafios na carreira.
Eles nunca se deram bem. Quando Matheus precisa parar com o futebol por ordem
médica, seu destino volta a se cruzar com o de Elisa, e juntos são convidados a
apresentar um programa esportivo que promete chocar o mundo do jornalismo
esportivo.
Com um episódio piloto acelerado e confuso, seguido por um
segundo capítulo aquém dos demais, a série só encontra seu verdadeiro rumo a
partir do terceiro episódio — quando os temas centrais começam a ser
apresentados com mais clareza. A partir daí, em um jogo de protagonismo que
alterna entre personagens principais, o desenvolvimento se dá por meio dos
conflitos em suas vidas pessoais e profissionais.
Imerso em um ritmo acelerado e uma ação reflexiva que muitas
vezes se limita à superfície, o projeto segue por caminhos previsíveis — mas
não sem antes levantar reflexões relevantes. Entre os temas abordados,
destacam-se questões pouco exploradas, como os desafios enfrentados por
jogadores homossexuais em um ambiente ainda machista, a propagação de fake news
por falta de apuração jornalística, o sensacionalismo na mídia esportiva e as
doenças psicológicas, como a depressão, que afetam atletas no auge da pressão.
O machismo no futebol também ganha um foco importante,
talvez sendo o tema mais consistente ao longo dos episódios. A personagem
Elisa, vivida por Carol Castro,
revela situações enfrentadas por muitas mulheres no jornalismo esportivo. Por
meio de cenas que espelham o cotidiano, a série levanta questões relevantes e
convida o público a refletir sobre a desigualdade de gênero nesse meio.
Equilibrar comédia e drama é um desafio — e, neste projeto,
a fórmula não se concretiza. Com forte inclinação para o humor, as possíveis
camadas dramáticas acabam ficando na superfície, muitas vezes recaindo em
clichês já conhecidos. Ainda assim, mesmo em meio a uma espécie de bagunça
organizada, a série consegue transmitir mensagens relevantes, o que se torna um
dos principais méritos da produção.