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12/11/2020

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13 Filmes sobre Pais e Filhos - Parte 2


Voltando para essa segunda parte desse especial que não deixa de ser para mim uma grande jornada em busca de respostas (ou até mesmo mais perguntas) sobre relacionamentos entre pais e filhos. Na lista abaixo são mais 13 filmes. Tem produções da Sérvia, Japão, França, Estados Unidos, Suécia, Argentina e México, um pouco de cada cultura, um pouco de muitos conflitos que se resolvem cada um a sua forma deixando para nós espectadores momentos de reflexões assim que sobem os créditos finais.

 

Sonata de Outono

Você se importa com alguém além de você? Conversas profundas que viram análises sobre a fé, vivência, experiência de um passado conturbado, Sonata de Outono, escrito e dirigido pelo cineasta sueco Ingmar Bergman é um algoritmo de emoções tão rico e brilhante em detalhes. Não deixa de ser objetivo, preparando o terreno para angustiantes cenas de desabafos e mágoas de um passado que não volta mais. Para mostrar um retrato de uma mãe em conflito com suas escolhas e uma filha que precisa desabafar sobre suas dores, duas artistas entregam emoção e alma em cena, atuações magistrais de Ingrid Bergman e Liv Ullmann.


Na trama, conhecemos Charlotte (Ingrid Bergman), uma pianista de sucesso que durante anos deixou de acompanhar a vida presente de sua família em troca de uma excelência da arte musical. Já em fim de carreira, é convidada por sua filha Eva (Liv Ullmann), uma mulher deprimida e com mágoas do passado, para passar uns dias em sua casa. Com a chegada de Charlotte, prelúdios juntam dores do passado com um conflito logo à frente.


Tudo que tinha vida, você tentou sufocar. Há uma guerra fria embutida nos passos iniciais dos arcos que abrem essa obra-prima mas logo somos colocados em uma zona de conflitos emocionais, um ataque e defesa com argumentos sólidos. A dona de todas as palavras dentro de casa contra o olhar de uma infância prejudicada pela distância de sua mãe. Somos colocados quase dentro de cena, vários momentos sobre mãe e filha, resistentes de um passado nunca esquecido, magoado, jogados à mesa de forma dura. A infelicidade de uma, era a infelicidade da outra, como se o cordão umbilical nunca tivesse sido cortado.


Sonata de Outono, umas das obras que mais atingem o alvo quando pensamos em relacionamentos pais e filhos, é mais um filme maravilhoso desse genial cineasta que sabia como poucos expressar sentimentos dentro de uma dinâmica simples, porém, com uma objetividade que nos traz as verdades que andam pelo mundo. Que nem Chopin, emocional mas nunca enjoativo.

 

Los Lobos

Vocês são lobos fortes. Lobos fortes não choram. O abraço é um dos gestos mais importantes para expressarmos aquilo que não conseguimos dizer. Em seu segundo trabalho como diretor de longa-metragem, o cineasta Samuel Kishi nos traz um recorte de muitas famílias imigrantes, as poucas chances, atravessada pela ótica de duas crianças e as dificuldades encontradas pela chegada em outro país com sua mãe. Com o sonho de irem na Disney, os obstáculos chegam e há muito o que processar, somos testemunhas de um salto de fase no processo do amadurecimento, principalmente, de Max, o mais velho dos irmãos. Profundo e delicado, Los Lobos é um filme que gera inúmeras reflexões sobre o mundo lá fora.

 

Na trama, exibida no Festival de Berlim desse ano, conhecemos a batalhadora Lucía (Martha Reyes Arias), uma mexicana que chega sozinha como imigrante nos Estados Unidos junto com os dois filhos. Buscando um lugar para ficarem, de acordo com o pouco dinheiro que tem, acaba necessitada em conseguir um emprego e assim tem que deixar as duas crianças sozinhas no pequeno apartamento recém alugado. Utilizando a imaginação como ferramenta de passatempo, as crianças passam a criar uma visão do mundo através dos obstáculos da saudade que os segue.

 

Uma mãe, dois filhos. O filme detalhista em emoções, intimista, busca mostrar a relação de carinho entre esses três. Partindo do princípio que é um recorte de muitas famílias imigrantes, o projeto busca algum sentido dentro da relação entre pais e filhos não só através dos personagens principais mas também de muitos que os cercam. O ritmo é lento mas quem conseguir se segurar na cadeira é premiado com arcos finais maravilhosos quando os irmãos abrem a porta da rua e descobrem os personagens de sua vizinhança.

 

Kramer vs Kramer

Até onde vai o amor dos pais por seus filhos? Dirigido pelo cineasta Robert Benton, com roteiro do mesmo baseado no livro homônimo do romancista Avery CormanKramer vs Kramer é um filme do final da década de 70, porém, tão atemporal que até assusta quando encontramos diversas analogias aos dias de hoje. Um retrato comovente de uma família que abruptamente é desfeita levando a uma batalha nada sensível no tribunal pela custódia de do filho de 8 anos. Um filme sobre os valores da família e as lições que o amor pode nos dar. Vencedor de 5 Oscars.

 

Na trama, conhecemos o casal Ted (Dustin Hoffman) e Joanna (Meryl Streep) pais do pequeno Billy que de um dia para noite, a segunda resolve ir embora abandonando sua família durante meses sem nunca entrar em contato. Assim, durante esse complicado período, Ted, um profissional da arte das criações publicitárias, em busca de altos cargos, precisará lidar com o fato de ter que criar o filho sozinho. Cada dia acaba se tornando um grande aprendizado até o momento onde Joanna de repente volta e entrando na justiça pela guarda de Billy.

 

Há muitos pontos a se analisar nessa grande obra. O papel do pai, a quebra de hipocrisia nas questões legais e nas informações sobre a guarda, dentro da tendência dos tribunais em dar a guarda para as mães. O filme mostra Joanna como a grande vilã da história mesmo que através dos olhos conscientes de Ted entendamos que o abandono dela fora uma junção de situações que vamos deduzindo aos poucos pois o abre alas já é com ela indo embora.  

 

O filme se constrói pela ótica do pai esforçado que precisa entender as rotinas diárias de seu filho e o que acabando o levando a uma transformação que influencia seu emprego e de certo modo a visão que ele tem do mundo. É um trabalho emocionante do excelente elenco em um tema tão bom de sentar e discutir.

 

Mães de Verdade

Mesmo não tendo luz nos meus olhos, vou te encontrar onde estiver. Um incrível e puro relato sobre mães e as escolhas que fazemos ao longo de nossas vidas, uma das maneiras de enxergarmos esse belíssimo trabalho de Naomi Kawase é dessa forma, mas só quem é mãe pode sentir toda a força desse filme. Asa ga Kuru, no original, é um poderoso e envolvente drama alinhado por uma perfeita harmonia de duas óticas, reunidas por um emblemático ponto de interseção. Há uma melancolia quase indecifrável, como se a emoção transbordasse buscando deixar tudo um pouco mais interpretativo para o espectador. A condução da direção de Kawase é uma das mais belas dos cineastas atuais.

 

Na trama, conhecemos Satoko (Hiromi Nagasaku) e Kiyokazu (Arata Iura), um apaixonado casal, com ótima condição financeira que vivem seus dias na busca de ampliar sua família. Porém, quando descobrem que um deles é impossibilitado de terem biologicamente um bebê, resolvem procurar uma agência de adoção. Ouvindo relatos de todos os lados, dúvidas, incertezas e as condições para adotar batem o martelo e assim conseguem um recém nascido para adotar. O tempo passa e uma situação acontece: a mãe biológica da criança os procura. Assim embarcamos em uma história com dois lados. 

 

Exibido nos festivais de Toronto e San Sebastián, Mães de Verdade mostra os dois lados de uma adoção: os dramas, conflitos e escolhas. Consegue ser delicado e sensível para tratar desse tema complicado.  Há uma sutileza e respeito enormes para contar essa história sobre duas mulheres que representam muitas outras. O roteiro, baseado na obra homônima de Mizuki Tsujimura, é profundo e consegue passar ao público, ao longo dos 140 minutos de projeção uma metáfora linda entre as forças da natureza e as emoções.

 

Valentin

A vida, desde sempre, é uma eterna arte do sonhar. Escrito e dirigido pelo cineasta Alejandro AgrestiValentin, película argentina lançada no ano de 2002 é um drama profundo com pitadas cômicas por todos os lados. Busca na leveza e simpatia conversar com o espectador sobre um tema muito duro que é a falta de responsabilidade de pais e o olhar de uma criança para esse mundo tão cruel.  A chegada do K7, a morte de Guevara, estamos no final da década de 60 e o fantástico mundo da lua do protagonista é ativado para lutar contra as tristezas que afetam seu lindo e carinhoso coração.

 

Na trama, conhecemos Valentin, um menino de 8 anos, muito maduro para sua idade, garoto sonhador, solitário, que possui um desejo enorme de astronauta quando crescer. Mora com a avó faladeira (Carmen Maura), sente uma tremenda saudade de sua mãe, vê pouco o pai distante e sonha em ter uma nova mãe. Certo dia, seu pai o apresenta a uma nova namorada, Leticia (Julieta Cardinali) e Valentin acredita que essa com certeza será a sua nova mãe.

 

Quão imaginativo podemos ser? A falta da presença do pai e da mãe faz a pequena cabecinha brilhante de Valetin ter uma lacuna, uma carência, preenchida pela avó, pelo tio, pelo amigo vizinho pianista e por Letícia. Mas seus objetivos quase sempre não dão resultado mesmo assim ele não perde a vontade de tentar novamente, como todo bom sonhador. A história de Valentin é um paralelo lindo com a realidade desse mundão aqui de fora, dos que crescem acreditando nos seus sonhos e porque não também mostrar que obstáculos existem mas que nada é mais forte que um coração sonhador.

 

 

Otac

O amor dos pais é a coisa mais importante para as crianças. Com um background de um desesperado pai lutando para conviver novamente com os filhos e abordando um dramático retrato social e político de um país completamente desconhecido em suas estruturas por muitos de nós, Otac, longa-metragem sérvio escrito (também por Ognjen Svilicic) e dirigido pelo cineasta Srdan Golubovic é uma baita pancada em nosso estômago. Em linhas profundas o filme aprofunda assuntos como o desemprego, o papel da lei na figura associada ao serviço social, a corrupção, o papel da imprensa. Um filme duro como muitas realidades do lado de cá da telona.

 

Na trama, com um abre alas impactante, conhecemos o desempregado Nicola (Goran Bogdan) um homem de poucas palavras, que vive de bicos. Após um desesperado ato de sua esposa, tendo os seus dois filhos, um menino e uma menina, de testemunha, acaba embarcando rumo a uma desesperante luta (quase silenciosa) contra as leis de sua cidade e os absurdos da corrupção que assola a lei da região. Com os filhos tirados dele, resolve ir até a maior cidade da Sérvia, Belgrado, a pé, para contestar a sentença que recebera.

 

Os interesses, a corrupção... onde estão os limites da lei? Dor e sofrimento por todos os lados. O longo caminho percorrido por Nicola é árduo, cansativo e muito dramático. Há contrapontos por todo o trajeto que acabam de alguma forma refletindo em sua história atrás de uma solução difícil perante uma burocracia boboca que infelizmente existe em qualquer lugar do mundo. A fé o encontra mas adere ao positivismo como forma de seguir em frente, o ato final é primoroso contextualiza tudo que foi mostrado ao longo das quase duas horas de projeção. Nas lições que aprendemos, uma é a mais cruel: homens de bom coração também sofrem.

 

 

The Day After i’m Gone

O que fazer quando se deparar com a idade da ingratidão? Existe mesmo essa questão? As desgraças da distância na comunicação entre pais e filhos é o tema central do longa-metragem de Israel The Day After i’m GoneSelecionado para o Festival de Berlim em 2019, usa com eficácia as pausas reflexivas do protagonista para dizer muito sobre relacionamentos. Direto e reto, o filme desde seu primeiro arco se torna uma batalha difícil de um pai em busca de entender melhor sua filha. É uma desconstrução (e depois construção) bastante comovente. Belo trabalho do cineasta israelense Nimrod Eldar (debutante em longas-metragens), que dirige e assina o roteiro desse filme.



Na trama, conhecemos o cirurgião veterinário Yoram (Menashe Noy), um homem de meia idade, sério e comprometido com seu trabalho. Quando sua filha Roni (Zohar Meidan) tenta o suicídio, ele precisa buscar ajuda aonde pode para voltar a ter diálogos com ela. Tentando ouvir todos que giram ao seu redor, Yoram embarca em uma viagem de autoconhecimento, quebrando paradigmas existentes em suas geladas e magoadas emoções.

 

Nada melhor define (com direito a cena inicial e perto do desfecho) esse trabalho como uma investigação, sobe a tal da roda gigante das emoções. Diálogos profundos sobre a vida, emoções, mostrando um recorte na relação de pai x filha. Há uma grande busca pela interseção, algum ponto onde os dois se encontram para poderem desenvolver. É emocionante de uma maneira bem profunda e quieta a busca desse atormentado pai. Mesmo oscilando em um ritmo muito estático, quase dizendo ao espectador onde são seus momentos para reflexão, The Day After i’m Gone é um filme que todo o psicólogo e psiquiatra deveria assistir para até mesmo debater sobre esse importante tema. Um bom primeiro filme do debutante Nimrod Eldar.

 

 

Canastra Suja

Quando em momentos de conflito não existe nem uma alma estranha para aconselhar. Escrito e dirigido por Caio SóhCanastra Suja é um drama, um retrato nu e cru de uma família recheada de problemas, onde muitos se blindam na dependência alcoólica do pai, Batista, interpretado pelo ótimo Marco Ricca. Impressiona a capacidade do roteiro em prender o espectador. Talvez pelos ‘plot twist’ existentes, talvez pela curiosidade do olhar do público em saber qual o final de cada personagem. É um filme sobre família, seus problemas, seu cotidiano. Cada personagem é uma peça nesse tabuleiro. A eminência da tragédia é algo que percorre todos os intensos 120 minutos de projeção.

 

Batista (Marco Ricca) e Maria (Adriana Esteves) são casados e são pais de três filhos: Emília (Bianca Bin), Ritinha (Cacá Ottoni) e Pedro (Pedro Nercessian). Eles levam uma vida de aparências, regados de problemas do cotidiano, muito por conta do fato de Batista ser um alcoólatra. Sem confiança de ninguém de sua família, o pai desconta toda sua raiva e frustrações da vida bebendo e no relacionamento repleto de dificuldades com o filho. Alguns acontecimentos surpreendentes vão contornar essa história.

 

As reviravoltas do roteiro são importantes para o ritmo da trama, vamos aos poucos vendo faces ocultas dos personagens que causam surpresa e mudam nossa ótica sobre eles. Cartas de baralho definem arcos. Extremamente complexos individualmente, completamente desalinhados como família, Canastra Suja apresenta um leque de portas se abrindo ao mesmo tempo que muitas outras se fecham. O olhar para o futuro com alegria vai virando um pequeno feixe de luz na porta mais distância que conseguimos enxergar.

 

As subtramas são muito bem elaboradas, exploram as características de cada personagem. Os dramas tomam camadas densas e profundas. Muitos personagens parecem estar no limite. Pedro usa os problemas do pai como justificativa para sua falta de rumo na vida, colocando-o sempre em evidência. Emília  é um epicentro importante da família. Parece que todas as variáveis passam por ela, possui um papel de equilíbrio, pelo cuidado que tem pela irmã Ritinha. Namora Tatu (David Junior), mas também gosta do seu chefe dentista. A partir do segundo arco, conhecemos um pouco mais a fundo a dama do baralho, que parece esconder segredos, sonhos e objetivos, Maria, a mãe. Quando a família volta do trabalho, seu papel permanece como outra vertente de equilíbrio, principalmente na relação conturbada entre o filho e o marido. A batalha entre pai e filho percorre todos os arcos. Um coloca no outro a culpa pelos seus problemas. Batista é um pai rígido mas não consegue se livrar de seus fantasmas com a bebida, o que coloca em xeque todo o respeito que os outros poderiam ter por ele.

 

A bela apresentação inicial, ao melhor estilo teatral, onde a câmera passa pelos personagens já indicava um certo tipo de ciclo que veríamos, talvez com uma redenção, talvez com esclarecimentos sobre os futuros dos personagens. Canastra Suja é um trabalho sólido e surpreendente.

 

 

O Filho de Jean

 

As surpresas da vida que renovam nossa maneira de ver o mundo. Indicado em duas categorias (Melhor ator e Melhor ator coadjuvante) no César - o Oscar Francês, o fabuloso O Filho de Jean, absurdamente nunca teve chances no circuito exibidor brasileiro, nada mais é do que um homem em busca de preencher lacunas em branco sobre seu pai que nunca conhecera. O inusitado é figura presente nessa surpreendente trama que tem nos pontos altos as magníficas atuações de Pierre Deladonchamps (Um Estranho no Lago) e Gabriel Arcand (O Declínio do Império Americano).

 

Na trama, conhecemos o tímido e inteligente Mathieu (Pierre Deladonchamps), um homem que vive uma vida pacata na capital francesa. Divorciado, possui uma relação excelente com a ex-mulher e juntos cuidam do filho Valentin. Certo dia, uma coisa inusitada acontece, Mathieu recebe uma ligação dizendo que seu pai que nunca conhecera faleceu. Assim, parte em busca de conhecer mais sobre sua história indo até o local onde morou seu pai, no Canadá. Chegando lá, seu contato é Pierre (Gabriel Arcand), grande amigo de seu pai que o ajuda bastante nessa jornada reveladora e surpreendente.

 

Essa pequena obra-prima francesa é um daqueles trabalhos que grudam em nosso coração de maneira avassaladora. O roteiro é muito bem construído, parte da construção da personalidade do protagonista, sua maneira de pensar e seu redescobrimento como pessoa durante uma viagem curta mas que muda a vida dele para sempre. Muito bem resolvido na vida, Mathieu é um trabalhador que nunca soube de seu pai, uma das poucas lacunas em aberto na sua vida. O mais legal disso tudo é que a competente direção faz como se fosse um presente ao espectador de ser testemunha ocular de todas as descobertas que o personagem principal faz sobre sua vida.

 

O papel de Pierre nessa história é a cereja do bolo que todo filme busca ter para ter mais proximidade com seu público. Uma amargura doce sai de todas as lições de vida que passa para Mathieu, entendemos melhor esse grandíssimo personagem ao longo dos 98 minutos de projeção. As lições que os personagens aprendem, ficam de relíquia para nossos corações jamais esquecerem que o destino prega peças surpreendentes em nossas trajetórias e que ao abrir uma porta, um mar de possibilidades marcantes podem acontecer. Mas só se abrirmos essa porta.

 

 

Waves

Como lidar com os abalos emocionais que preenchem as lacunas do nosso interior? Como começar a escrever sobre um dos filmes mais impactantes que você verá (ou já viu) nos últimos anos? Waves é a reunião de um excepcional roteiro, uma direção impecável e atuações que farão você estar em todos os lugares como testemunha ocular desse belíssimo filme escrito e dirigido pelo cineasta Trey Edward Shults (Ao Cair da Noite). Ao longo dos 135 minutos, dando a impressão de ter duas partes profundamente intercaladas, como se fossem um lado A e labo B daqueles vinis antigos, Waves conquista os corações cinéfilos de maneira arrebatadora. Magnífica obra-prima.

 

Na trama, conhecemos Tyler (Kelvin Harrison Jr.), um jovem estudante por volta dos 18 anos que faz parte da equipe do colégio de lutas e vive uma bela vida ao lado de sua madrasta Catharine (Renée Elise Goldsberry), seu pai Ronald (Sterling K. Brown) e sua irmã Emily (Taylor Russell). Extremamente pressionado aos seus treinos e em ser o melhor pelo seu pai, Tyler vive um grande conflito interno quando recebe a notícia de que sua namorada está grávida e vai ficar com o bebê. A partir dessa situação se desenrola fatos que vão marcar para sempre a vida do jovem e também de sua irmã que precisará ter forças para lutar contra pensamentos do seu passado para seguir em frente e tentar encontrar a tão sonhada felicidade.

 

Profundo, impactante e inesquecível. Cheio de metáforas, câmeras que giram 360 graus, olhares que falam mais de mil palavras, indo fundo sobre os atos e consequências dos mesmos, somos testemunhas de uma tragédia familiar vista por alguns ângulos que debruçam sobre a culpa e o inesperado. Quase um espelho da realidade do lado de cá da telona, vemos tudo que acontece, principalmente as transformações de uma família que parecia perfeita mas que muda toda sua rotina a partir de uma situação que influencia pra sempre o modo como cada um deles observa a vida.

 

O roteiro é primoroso, duas partes que nos fazem pensar sobre a vida, preenche todos seus arcos com uma profundidade extensa além de uma carga emocional gigante. Os artistas estão excelente, um melhor que o outro, mesmo que Sterling K. Brown e Taylor Russell roubem as cenas em diversos momentos. Merecem o Oscar os dois. A direção é dinâmica, delicada que mete o dedo na ferida mostrando a dor de forma dura, como é do lado da realidade daqui de fora. Waves é um dos grandes filmes dos últimos anos.

 

 

Luce

Como prever um futuro perfeito já que a trajetória para se chegar até lá são repletas de surpresas e de individuais interpretações? Exibido no aclamado Festival de Sundance e deixando ótimas resenhas por onde tem sido exibido, Luce, baseado na peça teatral assinada pelo também roteirista do filme J.C. Lee e dirigido pelo cineasta nigeriano Julius Onah (O Paradoxo Cloverfield) é um poderoso drama com pitadas generosas de tensão onde somos recheados de argumentos para nos posicionarmos quanto as importantes questões que o filme aborda. Podemos afirmar que Luce é um dos filmes que mais trazem debates para o lado de cá da telona dos últimos anos, que absurdamente não foi exibido nos cinemas brasileiros.

 

Na trama, conhecemos Luce (Kelvin Harrison Jr. em ótima atuação), inteligente, atleta e aluno preferido de sua escola que fora adotado por seus pais, Peter (Tim Roth) e Amy (Naomi Watts), aos sete anos quando o país em que morava era caótico. Luce cresceu como americano, e se tornou brilhante. Mas tudo isso é colocado em xeque quando Harriet (Octavia Spencer) uma professora de história revela uma preocupação sobre uma redação feita por Luce, o que leva a família perfeita a conflitos onde vamos descobrindo aos poucos que nada acaba sendo perfeito.

 

Invasão de privacidade, trinca conflituosa entre professores, pais e alunos, o reconhecimento de que os problemas existem em um lar precisam ser resolvidos de alguma forma coerente. Luce preza pelo clima de tensão ao mais alto nível, tudo é desconfiança nesse filme. Um caminho legal para tentar entender tudo que é solto nas ações é enxergar pela ótica dos pais, ponto central da trama. Com a desconfiança da professora na mesa, Amy e Peter trocam nos papéis de defender ou buscar a verdade sobre seu perfeito filho. É um retrato bastante introspectivo de uma família, com atuações excelentes. A ótica da professora também é bastante impactante, a intimidação que é proposta de maneira nua e crua. Afinal, Luce é inocente? Ou longe disso? Belo filme!

 

Lady Bird

Escrito e dirigido pela atriz, roteirista e cineasta adorada pelos cinéfilos de todo o planeta, Greta Gerwig (Frances Ha), Lady Bird mostra os caminhos percorridos por uma jovem perto dos 18 anos que equilibra sua vida na linha tênue entre rebeldia e personalidade forte. O relacionamento conturbado com sua mãe fica no epicentro da história e nos brindam com interpretações inspiradas de Saoirse Ronan (Brooklyn) e Laurie Metcalf. Indicado a quatro prêmios no Globo de Ouro, Lady Bird também teve cinco indicações ao Oscar.

 

Na trama, conhecemos Christine McPherson (Saoirse Ronan), uma jovem que gosta de ser chamada de ‘Lady Bird’ e reside em sacramento com a família, que passa por dificuldades financeiras. Sua mãe, Marion (Laurie Metcalf), é uma esforçada enfermeira em uma clínica psiquiátrica, seu pai Larry (Tracy Letts) está desempregado e não consegue voltar ao mercado de trabalho. Lady Bird tem mais dois irmãos que trabalham para ajudar a família. Perto de concluir o ensino médio, a protagonista passa por experiências emblemáticas como a perda da virgindade, a escolha para qual faculdade vai, e novas amizades que chegam para preencher lacunas desconhecidas mas não necessariamente positivas em sua vida.

 

Adorado por centenas de cinéfilos mundo a fora que já tiveram a chance de conferir esse trabalho, Lady Bird realmente é um filme especial. Além de atuações marcantes, explora o conceito da juventude na pré era dos celulares (o filme é ambientado no início dos anos 2000) na visão de uma garota que possui um ar de liberdade mas sem saber direito como chegar aos seus objetivos. Os conflitos entre mãe e filha contornam boa parte dos 90 minutos de projeção e dão a sustentação emocional que a história precisa, um cirúrgico recorte que explica bastante sobre uma família e a visão de toda uma sociedade que os cerca.

 

Greta Gerwig volta a surpreender com um trabalho marcante. Impressiona a maneira como consegue criar universos de histórias que dizem tanto sobre o mundo de hoje, aproximando diversos tipos de público de suas criações. Lady Bird: É Hora de Voar, tirando a breguice que ficou esse subtítulo, o filme é uma delícia, algo para guardarmos em nossos corações cinéfilos. 

 

Pari

A dúvida é o preço a se pagar quando não enxergamos novos caminhos. Até onde você iria para encontrar um filho desaparecido? Co-produção Grécia, França, Holanda e Bulgária, Pari, resumidamente é uma incursão sob sentimentos, perda, dúvidas, tristes situações acopladas, abaladas, por uma falsa sensação de sabedoria sobre o mundo. Escrito e dirigido pelo cineasta iraniano Siamak Etemadi, acompanhamos uma dolorosa busca incessante pelo paradeiro do filho da protagonista que acaba sendo testemunha de diversas transformações, lutas e situações de um submundo num país com costumes diferentes do dela. Destaque para a grande atuação da atriz alemã/iraniana Melika Foroutan.


Na trama, acompanhamos a saga de Pari (Melika Foroutan), uma mulher iraniana de costumes rígidos que viaja com o marido Farrokh (Shahbaz Noshir) para a Grécia para se encontrar o filho. Chegando no destino, o filho não está lá para recebê-los, e assim, sem pistas nenhuma, com um inglês arranhado mas destemida, andando de manhã, tarde e noite, as dúvidas dão lugar as incertezas enquanto ao seu redor, uma cidade em constante transformação e luta se rebela.



Onde ele está ou o que houve com ele? Na trajetória da sofrida personagem principal, muitos dramas a aguardam pelo caminho, não somente o principal em descobrir o paradeiro do seu filho. Passando por situações nunca antes pensada, Pari é introduzida por meio de acontecimentos ou diálogos sobre a situação hoje dos imigrantes (um recorte europeu atual), a um movimento jovem anarquista, a questões de sobrevivência em um submundo sem escrúpulos. Aos poucos vai descobrindo que o universo é muito maior que a sua própria bolha. A cada nova saída que encontra percebemos a angústia de resolver logo a situação. A expressão no olhar da protagonista em cada momento de tensão é algo impactante.

 

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08/11/2020

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13 filmes sobre Pais e Filhos


O cinema é uma forma bem prática de entendermos melhor as relações próximas de nossa realidade. Quem nunca teve problemas com seu pai ou com sua mãe? Na maioria dos casos, são anos e anos de conflito até conseguirem ter asas e voar para a vida adulta. Eu mesmo tenho uma estremecida relação com meu pai e minha mãe mas busco pelos filmes alguma saída para tentar entende-los de outra forma. Terapias podem ser importante mas o cinema é um complemento. Quem conseguir sugar analogias que saem da tela direto para nossa reflexão sairá fortalecido e com melhor compreensão sobre o poder da relação pais e filhos.

Pensando nisso e longe de ser uma grande receita com fórmula certa para sua felicidade, seguem abaixo 13 filmes onde o debate sobre esse relacionamento do título, as vezes nas entrelinhas, as vezes direto, dão boas reflexões.  

 


Pais e Filhos (Japão)


Depois do maravilhoso trabalho O Que Eu Mais Desejo, o diretor japonês Hirokazu Koreeda volta a falar sobre a relação da família no cativante Pais e Filhos. Usando de uma simplicidade e uma delicadeza impressionante, o filme é uma grande jornada sentimental nas escolhas difíceis que pais e filhos se envolvem. O espectador é alvo fácil de cada palavra, cada sentimento, contidos em todas as linhas desse roteiro.


Na trama, acompanhamos Ryota Nonomiya (interpretado pelo ótimo ator Masaharu Fukuyama), um homem bem resolvido na vida que vive com sua mulher Midori Nonomiya (Machiko Ono) e seu único filho Keita. Muito disciplinador e sempre se decepcionando com seu filho, Ryota faz de tudo para que nada fuja mais do seu controle. Certo dia, o hospital onde Keita nasceu surpreende essa família com a notícia de que o menino não é o filho biológico deles. A partir disso, escolhas difíceis terão que ser tomadas se unindo num mar de razão e emoção complicado de navegar.


O que mais deixa o público envolvido com a história é a construção belíssima do personagem Ryota. Um Workaholic assumido, deixa sua família em segundo plano, assim como seu pai no passado fizera com ele. Perdido em meio ao caos emocional estabelecido pela trágica notícia, Ryoto, a cada passo que tenta dar pra frente se esquece dos pequenos detalhes afetivos e comete uma série de ignorâncias, fruto de sua frieza característica. Quando a mudança se torna eminente, o filme ganha contornos tão emocionantes que fica impossível os olhos não se encherem de água.


A cultura e a disciplina, própria dos orientais, são muito bem exploradas pelas lentes certeiras do diretor. As diferenças no modo em educar uma criança, o paradigma entre o rico e o pobre, as diferenças entre o ser feliz com pouco e o ser infeliz ganhando muito são também algumas das profundidades das ações dos personagens. Pais e Filhos é um filme que de superficial não tem nada. Todas as situações são bem desenvolvidas, o que justifica os deliciosos 120 minutos que o espectador fica refém.


Se você já teve uma relação difícil com seus pais, esse filme chegará como um cometa colorido que vai atingir a superfície de seu coração. O poder dessa história, juntamente com a mágica do cinema, é enorme e pode fazer você querer mudar certas situações, quem sabe até mesmo perdoar. As lições são inúmeras, esteja de coração aberto para receber esse lindo trabalho. Sábio, é o pai que conhece o seu próprio filho. E vice-versa. Não perca esse filme.


 

Os Cowboys (França)


Até onde devemos ir por quem amamos mas não querem estar perto com nossa presença? Um dos filmes mais fortes do Festival Varilux de Cinema Francês 2016, sem dúvidas nenhuma, foi o espetacular drama Os Cowboys, protagonizado pelo ótimo ator François Damiens e com uma atuação digna de Oscar do ator britânico Finnegan Oldfield. Ao longo dos tensos 105 minutos de projeção, onde não conseguimos desgrudar os olhos da tela, vamos sendo apresentados a personagem movidos pela angústia e uma série de consequentes ações desesperadas em prol de único objetivo que acaba consumindo e destruindo uma família de classe média francesa. Em seu primeiro longa-metragem como diretor, o cineasta francês Thomas Bidegain brinda o público com uma trama muito bem dirigida e com atuações bem acima da média. 


Na trama, conhecemos brevemente toda a família de Alain (François Damiens), um trabalhador de classe média que mora com sua mulher e os dois filhos no leste francês. Alain é um amante da cultura country e sempre vai com sua família a um famoso encontro onde confraterniza com outros amigos. Certo dia, num desses encontros, sua filha Kelly desaparece misteriosamente, levando Alain a uma desesperada busca por informações sobre a jovem. Os anos se passam e somente seu filho Kid (Finnegan Oldfield), que praticamente sacrifica sua adolescência, acredita e ajuda seu pai a tentar encontrar Kelly.


O clima é tenso desde o início. A trilha sonora composta por Moritz Reich (Fique Comigo, 2015) encaixa como uma luva e consegue deixar o público em total sinal de atenção as sequências fortes. François Damiens, na pele de Alain está possuído, embarca em um caminho sem rumo desesperado em busca de sua filha. A angústia é constante e impressionante. Isso obviamente destrói seu relacionamento com o restante de sua família. Essa estrada sem fim é acompanhada de perto por seu filho Kid que é o único que também ainda acredita que eles possam encontrá-la. Os Cowboys é um filme sobre família mas também sobre até onde o ser humano pode ir para defender suas convicções.


O longa é recheado de surpresas. O porquê do sumiço dela (que não vou contar aqui) é um dos grandes trunfos do filme que explora muito bem a reação da família ao saber o que aconteceu com ela. Uma segunda surpresa é a surpreendente troca de protagonismo já entre o segundo e o terceiro ato, com o mesmo objetivo só que com um olhar um pouco diferente sob a situação a trama cresce demais nos últimos 30 minutos de projeção.  

 


Nimby (Finlândia)


A coragem na busca de contar ao mundo quem você ama vs o grito é o primeiro patamar da violência. Quase inédito no mundo todo, o ótimo longa-metragem finlandês Nimby é um drama cômico trágico que busca reflexões mas que gera risos altos. Escrito (também assina Jani Pösö) e dirigido pelo cineasta Teemu Nikki, o filme em um pouco mais de 90 minutos consegue explorar com profundidade conflitos existenciais como: imigração, orientação sexual, religião, política, conflitos familiares entre outros. Os embates dialogados, inclusive com uma linha vertical na tela (cada um no seu quadro) é uma ótima sacada, talvez até mesmo um alerta para prestar atenção à reflexão.


Na trama, conhecemos Marvi e Kata, duas jovens inteligentes que namoram faz um ano, so que ambas ainda não contaram para suas famílias sobre esse relacionamento. Buscando resolver essa situação, aproveitam a ida da mãe de Kata (uma famosa comissária da União Europeia) e de seu pai até a Finlândia para talvez conversar sobre o assunto. Mas nesse meio tempo, Marvi convence a namorada de irem primeiro contar para sua família no interior da Finlândia. Muitas situações acontecem mas as famílias das duas se encontram e precisarão muita compreensão para todos se entenderem.


O roteiro é muito bem elaborado, com ótimas subtramas. O filme se transforma de repente e entramos em um clima inusitado de tensão de vários tipos, principalmente o psicológico. Nos encontros inusitados é onde somos testemunhas de desabafos como se fossem confissões ou uma ida ao consultório do psicólogo. Há muitas doses de hipocrisias camuflados na não aceitação das opções de relacionamento dos pais pela ótica de Mervi. O roteiro contorna com elegância e eficácia todas as polêmicas e sabe como dividir sobre as óticas de cada personagem. Ainda há tempo, nas ótimas divisões de arcos, para tentarmos entender as razões de demitidos de uma fábrica de tintas virarem neonazistas, uma excentricidade camuflada de inconsequência e alimentada pelo preconceito contra o próximo.


Com ritmo intenso, nem vemos os minutos passarem, podemos dizer que Nimby, resumidamente, é a eterna busca pelo entendimento mútuo, mas o mundo nunca foi nem nunca será simples.

 


Pilatos (Grécia)


Ninguém mexe nas memórias do passado. Dirigido pela cineasta Linda DombrovskyPilatos, é um filme húngaro que aborda uma relação conturbada entre mãe e filha. Com muitos méritos, usa do Simbolismo como referência ao tempo, principalmente, até mesmo, reflexões em forma de metáforas com curtos flashbacks sobre épocas passadas vividas por essa família. Delicado, com harmônicos arcos (Terra, Fogo, Água e Ar), o filme possui duas atuações destacadas: Ildikó Hámori e Anna Györgyi. A trama é uma adaptação do livro homônimo da autora húngara Magda Szabó.

Na trama, conhecemos Anna (Ildikó Hámori), uma senhorinha de vida simples que acaba de perder o marido. Tentando achar uma solução para não deixar a mãe sozinha, sua filha Iza (Anna Györgyi), uma importante médica, resolve levar a mãe para morar com ela. Isso acaba gerando uma série de problemas por conta da distância e diferente entre as duas, mesmo sendo mãe e filha. Há eminências de um conflito por todos os arcos.

 

Parece uma peça filmada, o ritmo se baseia na belíssima condução dos personagens. Há uma melancolia em todo canto nos menos de 80 minutos de projeção. Uma batalha emocional das memórias contra uma filha autoritária que parece desconhecer a trajetória simples de seus pais. Com diálogos profundos, a difícil tarefa de dizer adeus ganha luz nas visões de Anna, e um desfecho emblemático surge com diversas respostas que podem ser dadas para tal. Um filme simples e profundo. Um bom trabalho.

 

 

Capitão Fantástico (EUA)


Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe. Escrito e dirigido pelo pouco conhecido ator e também cineasta Matt Ross, Capitão Fantástico é um daqueles filmes que deixam nosso coração na boca, faz nosso raciocínio brilhar e mexe intensamente com nosso modo de ver e viver tudo que aprendemos até hoje em nossas vidas. Com uma atuação brilhante do grande ator Viggo Mortensen, o longa-metragem de objetivos 118 minutos é um dos melhores filmes sobre esse tema.

 

Na trama, conhecemos Ben (Viggo Mortensen) e sua família para lá de diferente. Ben e sua esposa resolveram criar os seus seis filhos em um lugar muito bonito e longe da sociedade, deixando eles distantes de qualquer contato com as novidades e besteiras do mundo e sua globalização. Quando sua esposa, que precisou ser hospitalizada por conta de uma doença terrível, falece, Ben resolve ir até o encontro dela e leva junto seus filhos. Após o choque natural da criançada com o mundo da maioria das pessoas que os cercam mais que nunca tiveram contato, o capitão fantástico desta turma terá que fazer escolhas difíceis e confrontar pessoas que consideram seu modo de vida prejudicial aos seus filhos.

 

A educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida. Pensador desse lema, o protagonista criou seus filhos com rigidez e muita disciplina. Livros complexos são passados como dever de casa para todas as crianças, não importa a idade. As verdades são uma só e vários tabus de outras casas, para Ben, são apenas verdades que precisam ser ditas da única maneira que existe. O ambiente é de total harmonia, músicas (a cena da família cantando ‘Sweet Child o’Mine’ é emocionante e arrepia), brincadeiras mas também alguns excessos como exercícios físicos que não respeitam idade e que podem machucar. O personagem principal é intenso em seus princípios, a ideia de ter uma família vivendo longe dos vícios e futilidades, além dos alimentos que só prejudicam, é vivida intensamente mas falta equilíbrio, no fundo, Ben sabe disso.

 

No terceiro arco em diante, a mudança começa a acontecer. Ben, personagem complicado, de bom coração, interpretado com maestria por Mortensen se vê cercado de situações que o fazem repensar alguns de seus conceitos. Seus filhos, sua única riqueza nesse mundo, percebem rapidamente e o ajudam nesse momento de transição, transformando uma linda história em uma história inesquecível.  Capitão Fantástico é algo assim, único, um presente para quem gosta de se emocionar com filmes que mexem com nosso coração. A grande lição que aprendemos com essa fita é que Capitão Fantástico é qualquer um que acredita que uma boa ideia pode mudar um pouquinho nosso mundo, ou mesmo que um filme inesquecível faz com que reflitamos sobre nossa própria existência. Seja o Capitão da sua vida, viva fantasticamente. Bravo!

 

Toni Erdmann (Alemanha)


Sábio é o pai que conhece o seu próprio filho. Depois de um hiato de sete anos na direção de um longa-metragem, a cineasta alemã Maren Ade volta à telona em grande estilo com a hilária e doce dramédia Toni Erdmann. Contando a história de um pai cheio de impulsos cômicos na busca constante pela atenção de sua sisuda filha, o projeto, indicado a muitos prêmios internacionais é um daqueles filmes imensos (2 horas e 40 de projeção) mas que não desejamos que nunca acabe, sempre à espera da próxima gracinha que Toni Erdmann vai aprontar.

 

Na trama, acompanhamos a árdua saga de Winfried Conradi (Peter Simonischek), um dedicado pai que muito se entristece com o distanciamento na relação com sua única filha Ines (Sandra Hüller), essa última, uma jovem em ascensão na empresa onde trabalha o que a transforma em uma Workholic sem limites. O problema é que Ines trabalha demais e pouco tempo de sua agenda é dedicada à sua família. Quando o o cachorrinho de Winfried morre, ele decide encarar o desafio de ter mais atenção de sua filha e para isso, entre outras coisas, viaja para vê-la quando ela está a trabalho e desenvolve um personagem, um Alter ego de nome Toni Erdmann. Não é preciso nem dizer as inúmeras e hilárias que esses dois vão se meter ao longo desse complexo processo de melhoramento na relação pai e filha.

 

Escolhido o Melhor Filme Estrangeiro de 2016 pelos críticos de Nova York, Toni Erdmann navega pelo humor para mostrar o cotidiano de um relacionamento conturbado entre pai e filha. De personalidades completamente diferentes, os dois embarcam em uma jornada basicamente de auto descoberta. Aos poucos, após uma quantidade absurda de insistência, Ines vai conseguindo se reconectar com seu pai, o que provoca uma cena de desfecho para lá de emblemática. Mesmo tendo quase três horas de duração o que dificulta sua entrada no circuito de cinema brasileiros, talvez um dos pontos para nenhuma distribuidora ter ainda comprado os direitos no filme no Brasil, o filme é uma delícia de assistir e essas horas passam voando.

 

 O foco no primeiro arco é a personalidade forte de Ines em paralelo as trapalhadas e atos incompreendidos de Winfried. Tudo começa a fazer mais sentido, praticamente a virada na trama, quando chega o Sr. Toni Erdmann, com sua peruca para lá de chamativa e dentes falsos para lá de explícitos. Esse Alter Ego transforma demais a visão de Ines sobre a personalidade cativante de seu pai. Assim, o longa-metragem cresce demais em emoção, o inusitado começa a ter sentido e fica num tom cômico na medida conforme as antes constrangedoras agora com sentido situações. Toni Erdmann, rouba a cena, transforma o mais difícil dos conflitos paternos em uma aula de amor e afeto.

 

 

Querido Menino (EUA)


Depois de devastar nossos corações cinéfilos com o drama Alabama Monroe, o cineasta belga Felix van Groeningen volta a atingir em cheio nossas emoções com seu novo trabalho, Querido Menino. Baseado nos livros Querido Menino, de David Sheff, e Tweak: Growing up on Methamphetamines, de Nic Sheff, o filme preenche a maioria das lacunas sobre o sentimento de um pai em busca de uma solução para os problemas de drogas do filho. Em atuações cativantes e dignas de Oscar, Timothée Chalamet e Steve Carell formam filho e pai nesse projeto importante também para mostrar essa realidade, para alguns distante para outros nem tanto, do desespero emocional que passa não só a pessoa que possui problema com drogas mas também todos que estão ao seu redor.

 

Na trama, conhecemos David Sheff (Steve Carell), um homem de meia idade, bem sucedido em sua profissão pai amoroso que vive em uma casa confortável com sua atual esposa Karen (Maura Tierney). David é pai de Nick (Timothée Chalamet) um jovem que com o passar do tempo começa a ter sérios problemas com as mais diversas drogas que existem. Ao longo de uma passagem de tempo, vamos acompanhando David, suas lembranças, e principalmente sua busca em encontrar alguma solução para esse problema complicado que o filho passa.

 

O roteiro, baseado nos livros de pai e filho que são os personagens principais da trama, é um grande vai e vem entre recordações, solidão, desespero, medo e muitos outros sentimentos conflituosos que chegam como uma flecha principalmente para David. Ao longo de um pouco mais de duas horas de duração, conseguimos enxergar a situação de Nick através não só dos olhos de seu pai, mas também de sua madrasta (mãe de seus outros dois irmãos pequenos), e de sua mãe que mora em outra cidade. Em busca de alternativas para curar esse sofrimento que paira sobre a família, principalmente David embarca em uma jornada de redescobertas, estudo e desabafo mesmo quando suas forças para lutar estão limitadas.

 

Há uma carga de emoção muito grande em tudo que vemos nesse filme, Van Groeningen já mostrou que sabe como nos atingir desse lado daqui da tela, sua maneira de filmar te embarca para dentro daqueles cenários, aquelas conversas, que mais difícil que possam parecer, tem o poder também de conscientizar. Querido Menino não é um filme fácil, toca bem forte nossos corações. É um forte e marcante filme.

 

O Tiro que não Saiu pela Culatra (EUA)


Problemas familiares não tem endereço, a eterna roda gigante da educação. No final da década de 80, chegou aos cinemas O Tiro que não Saiu pela Culatra, dirigido por Ron Howard, um drama com pitadas cômicas que mostra um arranjo familiar complicado com tipos de educações diferentes. Passando um raio-x em uma família com as mais diversas crises, o brilhante roteiro da dupla Lowell Ganz e Babaloo Mandel nos faz refletir a todo instante. A atriz Dianne Wiest foi indicado ao Oscar por esse filme e Randy Newman, autor da trilha sonora, concorreu com a canção I Love To See You Smile ao Grammy, ao Globo de Ouro e ao Oscar.

Na trama, conhecemos uma família de classe média norte-americana e seus conflitos diários entre pais, mães, filhos e filhas. Tem o pai que pressiona na rigidez educacional de uma garotinha (até ler Kafka a garota é forçada) e a mãe não consegue se impor para evitar a pressão; uma mãe que cria os dois filhos sozinha e ambos passam por problemas e descobertas e tem problema com sua autoridade inexistente; Um advogado e sua esposa com três filhos e um com um deles sendo aconselhado a ir no psicólogo pela escola; O pai de muitos desses, que até hoje não conseguiu controlar os vícios do filho mais novo. A biologia, os motores da educação, nada tem muita lógica quando o assunto é educar. O elenco é ótimo Steve Martin, Mary Steenburgen, Dianne Wiest, Rick Moranis, Keanu Reeves, Joaquin Phoenix (em um de seus primeiros filmes), entre outros.

Durante as pouco mais de duas horas, que nem vemos passar, uma coisa é certa: todos os núcleos tem os seus problemas. Por mais que o protagonista seja Steve Martin e seu Gil (Os pensamentos futuros, do personagem, sobre erros e acertos são hilários. Brincar com um tema tão sério não é fácil) todas as subtramas são muito bem detalhadas pelas lentes de Howard. O ritmo é recheado de objetividade mas com lacunas a se preencherem talvez até por um julgamento reflexivo que podemos ter durante os assuntos mostrados. Não há fórmula para se educar, nunca será como queremos. Um dos filmes mais amplos em discussões sobre o tema pais e filhos.

  

Benzinho (Brasil)


Os filhos são para as mães as âncoras da sua vida. Exibido no importante Festival de Sundance, Benzinho conta todas as dificuldades de uma família moradora da região de Petrópolis no Rio de Janeiro, seja no lado financeiro, seja no lado emocional com a eminente partida do filho mais velho para uma nova oportunidade na Alemanha. O longa, dirigido por Gustavo Pizzi (do ótimo Riscado), gira todo em torno da forte personagem Irene, interpretado magistralmente pela excelente atriz brasileira Karine Teles. Entre as dificuldades do cotidiano, o amor não falta nesse grande retrato de família brasileira.

 

Na trama, super elogiada pelos críticos não só no Brasil, conta a saga de Klaus (Otávio Müller) e Irene (Karine Teles), pai e mãe de quatro filhos que vivem a cada dia tendo que matar um leão para que a felicidade reine no lar deles. Os negócios de Klaus, que tem uma copiadora, e o trabalho de vendedora sem dinheiro fixo de Irene, não vão muito bem e associado a isso, a irmã de Irene, Sonia (Adriana Esteves) busca refúgio na casa deles após ser agredida pelo marido Alan (César Troncoso). Para completar as variações emocionais presentes nesse presente da família, o filho mais velho do casal Fernando (Konstantinos Sarris) é chamado para jogar handball profissionalmente na Alemanha, fato esse que mexe demais com Irene.

 

Buscando retratar o cotidiano também de muitas famílias brasileiras, que buscam com bastante esforço ter o melhor para dar na criação de seus filhos, Benzinho navega com muita profundidade sobre as angústias, alegrias e surpresas que chegam a eles diariamente. Todos em cena brilham mas o foco principal fica com Irene e o grande conflito que enfrenta por não aceitar muito bem a ida de Fernando para longe de casa por tanto tempo. Mesmo reconhecendo ser uma oportunidade de vida para o filho, Irene não consegue esconder sua insatisfação. Mas o longa metragem (que poderia ser o indicado do Brasil ao próximo Oscar tranquilamente) não se prende só a esse conflito, as razões financeiras e dificuldades de uma vida melhor chegam como plano de fundo assim como a situação de Sonia que busca refúgio na casa da irmã.

 

A emoção não deixa de estar contida em cada cena, seja nas felicidades, seja nas tristezas. Benzinho é um retrato muito bem feito sobre milhares de outras famílias, seus dramas e suas forças para enfrentar de cabeça erguida as loucuras desse mundo tão cheio de obstáculos em que vivemos, principalmente aqui no Brasil.

 

Loveless (Rússia)


Não se pode viver em desamor. Na era dos selfies e das vitrines matrimoniais que a sociedade impõe para que a tal da incerteza da normalidade fique evidente e você não seja alvo de fofocas ou preconceitos, o novo trabalho do excepcional cineasta russo Andrey Zvyagintsev (dos excelentes Elena e Leviatã), Loveless, sensação nos festivais que fora exibido mundo a fora, é um filme que fala sobre acima de tudo de família. Em uma Rússia dos tempos modernos, repleta de idas e vindas em relacionamentos, Zvyagintsev faz o espectador navegar nas emoções mais profundas quando nos sentimos olhando pelo buraco da fechadura.

 

Na intensa trama, conhecemos o casal Zhenya (Maryana Spivak) e Boris (Aleksey Rozin) que estão se separando em meio a muitas brigas. Eles tem um filho de 12 anos chamado Alyosha (Matvey Novikov) que sofre bastante pelas discussões diárias dos pais. Zhenya tanto Boris já estão em outros relacionamentos, o segundo inclusive já está esperando um outro filho com a nova namorada. Em meio a essa tumultuada relação, Alyosha some certo dia e os pais precisam reunir forças para enfrentar essa difícil situação.

 

Entendemos melhor as características emocionais dos personagens nos diálogos profundos que ambos possuem com seus novos parceiros, principalmente Zhenya, que possui uma dificuldade de relacionamento com a mãe, nunca amou o ex-marido e se joga completamente nessa nova relação. Seu cotidiano com o filho é distante e agressivo, a impaciência e o comportamento distante com o filho são reflexos da impaciência e solidão que vivia com seu ex-marido. Quando o jovem desaparece, tanto mãe quanto pai se sentem perdidos e começam a perceber aos poucos o quanto existia uma barreira entre todos eles.

 

A frieza da polícia na condução do início do caso chama a atenção. Durante o pequeno interrogatório com o grupo de salvação e resgate, fica nítido o grande descaso e falta de observação dos pais com o próprio filho, principalmente da figura materna. Alyosha sofria bastante com as brigas e principalmente com o que escutava dos pais. A ausência de amor, desafeição, desprezo, indiferença eram algumas das características que distanciavam os pais do filho.

 

Com belíssimas cenas de fundo e uma atmosfera melancólica que se envolve intensamente em pontos importantes, Loveless é um retrato humano, que assusta mas acontece, das imperfeições na roda familiar. Zvyagintsev se consagra mais uma vez com suas lentes que conseguem transmitir com muita intensidade o que acontece entre quatro paredes e nos mostrando os detalhes como se estivéssemos olhando pelo buraco de uma fechadura.

 

 

Belos Sonhos (Itália)

 

Tudo aquilo que sou, ou pretendo ser, devo a um anjo, minha mãe. Filme de abertura da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de anos atrás, a co-produção Itália/França dirigida pelo marcante cineasta italiano Marco Bellocchio é um daqueles filmes que conseguem chegar bem fundo em nossas emoções, trazendo um encanto de poesia na relação impactante de um filho com as lembranças de sua mãe.  Profundo, elegante, emotivo, a produção passa com louvor na avaliação criteriosa dos corações cinéfilos, principalmente aos que percebem uma analogia extraordinária entre seu enredo e uma letra famosa escrita por Renato Russo anos atrás. Belos Sonhos é sem dúvidas um dos mais belos sobre o tema.

 

Baseado no livro Fai Bei Sogni, de Massimo Gramellini, Belos Sonhos, conta a história de Massimo, um amante do futebol que tempos mais tarde vira jornalista de um importante jornal que possui um grande trauma, quase uma lacuna não preenchida sobre as lembranças que cercam o falecimento de sua mãe quando Massimo era apenas uma criança. Percorrendo uma linha do tempo que vai e volta, no melhor estilo Bellochio, vamos juntando aos poucos o complexo quebra cabeça da trajetória emocional de Massimo com muitas surpresas e momentos de redenções ao longo dos emocionantes 134 minutos de projeção.

 

Dorme agora, é só o vento lá fora. O roteiro explora com louvor toda a tempestade de lembranças que passa o protagonista ao longo de sua tumultuada trajetória de vida. Desde a infância e os momentos dançantes com sua mãe, até os horrores da guerra vistas de uma maneira bastante profunda.  O trabalho do ator italiano Valerio Mastandrea (o Michael Fassbender da Itália), que interpreta Massimo em sua fase adulta, é irretocável, passa uma pureza no olhar que impressiona. O espectador sai do filme sabendo que assistiu a uma baita atuação.

 

Me diz, por que que o céu é azul? Explica a grande fúria do mundo! Os embates cheio de cargas emocionais entre o pequeno Massimo e o religioso que lhe ensinava na escola sobre a origem das coisas é muito interessante e traça um paralelo certeiro com a história de vida do menino. Há uma saudade que ele sente de tudo que ele ainda não viu.

 

Você diz que seus pais não entendem, mas você não entende seus pais. Um dos mais marcantes clímax que possui a película, o reencontro do protagonista com seu pai em uma reunião simbólica para lembrar de jogadores de futebol do time do Torino que morreram em uma trágico acidente aéreo anos atrás. Já mais velhos e mais calejados pela vida, o desabafo do pai ao filho ao falar sem mistérios sobre sua mãe, é bastante emocionante e toda a emoção contida nessas fortes sequências mexem muito com quem possui fortes ligações com a família.

 

É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. O filme é tão bem realizado que prepara o espectador para um gran finale repleto de sentimentos guardados e que precisavam escapar para que o protagonista seguisse em frente com sua vida. Lindos momentos, reflexões sobre sua vida. Nesse final de ano, sendo uma gota d'água ou um grão de areia, veja esse filme e corra para abraçar as pessoas que você ama.

 

Seu Filho (Espanha)


Sábio é o pai que conhece o seu próprio filho. Com uma interpretação de tirar o fôlego do veterano e excelente ator espanhol Jose Coronado (do ótimo Não Haverá Paz Para os Malvados), está disponível no catálogo da Netflix Brasil o suspense Seu Filho, uma grata surpresa em meio a tantos títulos interessantes nesse streaming. Com um roteiro composto por um cirúrgico plot twist, vamos acompanhando a saga de um pai que pensa ter a família perfeita e sua busca sobre as verdades do seu único filho homem. A força dos personagens é um dos pontos fortes desse intenso filme.

 

Na trama, conhecemos o dedicado cirurgião Jaime (Jose Coronado), um homem já no terço final de sua vida que costuma ter uma relação muito amistosa com seu filho Marcos (Pol Monen) e um pouco distante com a filha Sara (Asia Ortega). Em uma certa noite, durante um de seus plantões, Jaime descobre que seu filho chegou de ambulância completamente ferido após uma briga em uma boate bastante frequentada no centro da cidade onde moram. O acontecimento mexe demais com o protagonista que começa uma investigação por conta própria o que o leva a limite mental e emocional que desdobrarão consequências para ele e o restante de sua família.

 

O thriller camuflado de drama vem com aquela pegada de todo bom filme espanhol dos últimos tempos. Intenso, impactante, sem previsões ou achismos de como termina as consequências em que se metem os personagens. Há um mistério correndo envolta de Jaime, isso o atormenta, entra em conflito com tudo e todos e busca de sua própria verdade, ou pelo menos a interpretação que deseja para o que aconteceu. Nem tudo é o que parece ao longo dos 103 minutos de fita. A atuação de Jose Coronado é o alicerce, um ponto cheio de clímax e repleto de intensidade, nossos olhos não conseguem desgrudar em descobrir pela ótica do protagonista o que realmente aconteceu naquela noite.

 

Os arcos são bem definidos, mesmo que aja um aceleramento descompassado no último, talvez fruto de uma história cheio de detalhes que precisa ser contada em menos de duas horas. O roteiro consegue extrair dos personagens toda a força que é preciso para nunca se perder o ritmo dessa reflexiva história que fala sobre o amor de pais e filhos e até onde é a linha tênue entre a razão e a emoção do argumentar ao favor de quem é próximo de nós.

 

Longe da Árvore (EUA)


O consenso cultural nem sempre retrata a melhor maneira de enxergamos como podemos nos amar sendo quem somos. Explorando a montanha russa, os altos e baixos, da relação de pais e filhos, Longe da Árvore impactante documentário dirigido pelas cineastas Rachel Dretzin e Jamila Ephron, baseado em partes em um livro (Far from the Tree) do escritor Andrew Solomon, percorre um olhar por dentro da vida de algumas famílias. São profundos e alguns dolorosos relatos, emocionante em muitos momentos, pais e filhos e suas descobertas diárias nessa relação que para uns parecem fáceis mas que sempre vão ter bons e nem tão bons momentos.


São vários os olhares que acompanhamos ao longo de cerca de 90 minutos de projeção. Jason tem síndrome de Down e seus pais sempre enfrentaram todo o tipo de preconceito com avanços corajosos na educação dele, que, mesmo com essa deficiência, consegue realizar tarefas básicas como a rápida matemática de maneira igual aos de sua idade; os relatos emocionados da mãe de Jack, um dos personagens, um jovem com autismo, sobre todas as maneiras que buscarão para melhor a situação dele, principalmente na hora de interagir com os outros; Loini, que sofre por ser diferente e não ter contato com outras como ela que possuem o nanismo mas acaba se encontrando em uma convenção anual da associação gente pequena dos Estados Unidos; O idealizador do livro e sua batalha antes perdida em entender seus pais após anunciar para a família que era gay; Pais que levam uma culpa para sempre após uma tragédia impactar para sempre as suas vidas.


São registros por meio de vídeos, depoimentos atuais, reflexões sobre os impactos da criação de uma família. Não é uma escolha os pais amarem seus filhos. Em Longe da Árvore vamos acompanhar batalhas emocionais, força de vontade, novas descobertas, desejos, condições, tudo isso de maneira muito reflexiva e que de alguma forma deixa muitas lições para todos nós.  

 

 

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