O cinema é uma forma bem prática de entendermos melhor as relações próximas de nossa realidade. Quem nunca teve problemas com seu pai ou com sua mãe? Na maioria dos casos, são anos e anos de conflito até conseguirem ter asas e voar para a vida adulta. Eu mesmo tenho uma estremecida relação com meu pai e minha mãe mas busco pelos filmes alguma saída para tentar entende-los de outra forma. Terapias podem ser importante mas o cinema é um complemento. Quem conseguir sugar analogias que saem da tela direto para nossa reflexão sairá fortalecido e com melhor compreensão sobre o poder da relação pais e filhos.
Pensando nisso e longe de ser uma grande receita com fórmula certa
para sua felicidade, seguem abaixo 13 filmes onde o debate sobre esse
relacionamento do título, as vezes nas entrelinhas, as vezes direto, dão boas
reflexões.
Pais e Filhos (Japão)
Depois do maravilhoso trabalho O Que Eu Mais Desejo, o diretor japonês Hirokazu Koreeda volta a falar sobre a relação da família no cativante Pais e Filhos. Usando de uma simplicidade e uma delicadeza impressionante, o filme é uma grande jornada sentimental nas escolhas difíceis que pais e filhos se envolvem. O espectador é alvo fácil de cada palavra, cada sentimento, contidos em todas as linhas desse roteiro.
Na trama, acompanhamos Ryota Nonomiya (interpretado pelo ótimo ator Masaharu Fukuyama), um homem bem resolvido na vida que vive com sua mulher Midori Nonomiya (Machiko Ono) e seu único filho Keita. Muito disciplinador e sempre se decepcionando com seu filho, Ryota faz de tudo para que nada fuja mais do seu controle. Certo dia, o hospital onde Keita nasceu surpreende essa família com a notícia de que o menino não é o filho biológico deles. A partir disso, escolhas difíceis terão que ser tomadas se unindo num mar de razão e emoção complicado de navegar.
O que mais deixa o público envolvido com a história é a construção belíssima do personagem Ryota. Um Workaholic assumido, deixa sua família em segundo plano, assim como seu pai no passado fizera com ele. Perdido em meio ao caos emocional estabelecido pela trágica notícia, Ryoto, a cada passo que tenta dar pra frente se esquece dos pequenos detalhes afetivos e comete uma série de ignorâncias, fruto de sua frieza característica. Quando a mudança se torna eminente, o filme ganha contornos tão emocionantes que fica impossível os olhos não se encherem de água.
A cultura e a disciplina, própria dos orientais, são muito bem exploradas pelas lentes certeiras do diretor. As diferenças no modo em educar uma criança, o paradigma entre o rico e o pobre, as diferenças entre o ser feliz com pouco e o ser infeliz ganhando muito são também algumas das profundidades das ações dos personagens. Pais e Filhos é um filme que de superficial não tem nada. Todas as situações são bem desenvolvidas, o que justifica os deliciosos 120 minutos que o espectador fica refém.
Se você já
teve uma relação difícil com seus pais, esse filme chegará como um cometa
colorido que vai atingir a superfície de seu coração. O poder dessa história,
juntamente com a mágica do cinema, é enorme e pode fazer você querer mudar
certas situações, quem sabe até mesmo perdoar. As lições são inúmeras, esteja
de coração aberto para receber esse lindo trabalho. Sábio, é o pai que conhece
o seu próprio filho. E vice-versa. Não perca esse filme.
Os Cowboys
(França)
Até onde devemos ir por quem amamos mas não querem estar perto com nossa presença? Um dos filmes mais fortes do Festival Varilux de Cinema Francês 2016, sem dúvidas nenhuma, foi o espetacular drama Os Cowboys, protagonizado pelo ótimo ator François Damiens e com uma atuação digna de Oscar do ator britânico Finnegan Oldfield. Ao longo dos tensos 105 minutos de projeção, onde não conseguimos desgrudar os olhos da tela, vamos sendo apresentados a personagem movidos pela angústia e uma série de consequentes ações desesperadas em prol de único objetivo que acaba consumindo e destruindo uma família de classe média francesa. Em seu primeiro longa-metragem como diretor, o cineasta francês Thomas Bidegain brinda o público com uma trama muito bem dirigida e com atuações bem acima da média.
Na trama, conhecemos brevemente toda a família de Alain (François Damiens), um trabalhador de classe média que mora com sua mulher e os dois filhos no leste francês. Alain é um amante da cultura country e sempre vai com sua família a um famoso encontro onde confraterniza com outros amigos. Certo dia, num desses encontros, sua filha Kelly desaparece misteriosamente, levando Alain a uma desesperada busca por informações sobre a jovem. Os anos se passam e somente seu filho Kid (Finnegan Oldfield), que praticamente sacrifica sua adolescência, acredita e ajuda seu pai a tentar encontrar Kelly.
O clima é tenso desde o início. A trilha sonora composta por Moritz Reich (Fique Comigo, 2015) encaixa como uma luva e consegue deixar o público em total sinal de atenção as sequências fortes. François Damiens, na pele de Alain está possuído, embarca em um caminho sem rumo desesperado em busca de sua filha. A angústia é constante e impressionante. Isso obviamente destrói seu relacionamento com o restante de sua família. Essa estrada sem fim é acompanhada de perto por seu filho Kid que é o único que também ainda acredita que eles possam encontrá-la. Os Cowboys é um filme sobre família mas também sobre até onde o ser humano pode ir para defender suas convicções.
O longa é
recheado de surpresas. O porquê do sumiço dela (que não vou contar aqui) é um
dos grandes trunfos do filme que explora muito bem a reação da família ao saber
o que aconteceu com ela. Uma segunda surpresa é a surpreendente troca de
protagonismo já entre o segundo e o terceiro ato, com o mesmo objetivo só que
com um olhar um pouco diferente sob a situação a trama cresce demais nos
últimos 30 minutos de projeção.
Nimby (Finlândia)
A coragem na busca de contar ao mundo quem você ama vs o grito é o primeiro patamar da violência. Quase inédito no mundo todo, o ótimo longa-metragem finlandês Nimby é um drama cômico trágico que busca reflexões mas que gera risos altos. Escrito (também assina Jani Pösö) e dirigido pelo cineasta Teemu Nikki, o filme em um pouco mais de 90 minutos consegue explorar com profundidade conflitos existenciais como: imigração, orientação sexual, religião, política, conflitos familiares entre outros. Os embates dialogados, inclusive com uma linha vertical na tela (cada um no seu quadro) é uma ótima sacada, talvez até mesmo um alerta para prestar atenção à reflexão.
Na trama, conhecemos Marvi e Kata, duas jovens inteligentes que namoram faz um ano, so que ambas ainda não contaram para suas famílias sobre esse relacionamento. Buscando resolver essa situação, aproveitam a ida da mãe de Kata (uma famosa comissária da União Europeia) e de seu pai até a Finlândia para talvez conversar sobre o assunto. Mas nesse meio tempo, Marvi convence a namorada de irem primeiro contar para sua família no interior da Finlândia. Muitas situações acontecem mas as famílias das duas se encontram e precisarão muita compreensão para todos se entenderem.
O roteiro é muito bem elaborado, com ótimas subtramas. O filme se transforma de repente e entramos em um clima inusitado de tensão de vários tipos, principalmente o psicológico. Nos encontros inusitados é onde somos testemunhas de desabafos como se fossem confissões ou uma ida ao consultório do psicólogo. Há muitas doses de hipocrisias camuflados na não aceitação das opções de relacionamento dos pais pela ótica de Mervi. O roteiro contorna com elegância e eficácia todas as polêmicas e sabe como dividir sobre as óticas de cada personagem. Ainda há tempo, nas ótimas divisões de arcos, para tentarmos entender as razões de demitidos de uma fábrica de tintas virarem neonazistas, uma excentricidade camuflada de inconsequência e alimentada pelo preconceito contra o próximo.
Com ritmo intenso, nem vemos os minutos passarem, podemos dizer que Nimby, resumidamente, é a eterna busca pelo entendimento mútuo, mas o mundo nunca foi nem nunca será simples.
Pilatos
(Grécia)
Ninguém mexe nas memórias do
passado. Dirigido pela cineasta Linda Dombrovsky, Pilatos, é um filme húngaro que aborda uma relação conturbada
entre mãe e filha. Com muitos méritos, usa do Simbolismo como referência ao
tempo, principalmente, até mesmo, reflexões em forma de metáforas com curtos
flashbacks sobre épocas passadas vividas por essa família. Delicado, com
harmônicos arcos (Terra, Fogo, Água e Ar), o filme possui duas atuações
destacadas: Ildikó Hámori e Anna Györgyi. A trama é uma adaptação do livro homônimo
da autora húngara Magda Szabó.
Na
trama, conhecemos Anna (Ildikó Hámori), uma
senhorinha de vida simples que acaba de perder o marido. Tentando achar uma
solução para não deixar a mãe sozinha, sua filha Iza (Anna Györgyi), uma importante médica, resolve levar a
mãe para morar com ela. Isso acaba gerando uma série de problemas por conta da
distância e diferente entre as duas, mesmo sendo mãe e filha. Há eminências de
um conflito por todos os arcos.
Parece
uma peça filmada, o ritmo se baseia na belíssima condução dos personagens. Há
uma melancolia em todo canto nos menos de 80 minutos de projeção. Uma batalha
emocional das memórias contra uma filha autoritária que parece desconhecer a
trajetória simples de seus pais. Com diálogos profundos, a difícil tarefa de
dizer adeus ganha luz nas visões de Anna, e um desfecho emblemático surge com
diversas respostas que podem ser dadas para tal. Um filme simples e profundo.
Um bom trabalho.
Capitão
Fantástico (EUA)
Viver é a
coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe. Escrito e
dirigido pelo pouco conhecido ator e também cineasta Matt Ross, Capitão Fantástico é um daqueles filmes que deixam
nosso coração na boca, faz nosso raciocínio brilhar e mexe intensamente com
nosso modo de ver e viver tudo que aprendemos até hoje em nossas vidas. Com uma
atuação brilhante do grande ator Viggo
Mortensen, o longa-metragem de
objetivos 118 minutos é um dos melhores filmes sobre esse tema.
Na trama,
conhecemos Ben (Viggo Mortensen) e
sua família para lá de diferente. Ben e sua esposa resolveram criar os seus
seis filhos em um lugar muito bonito e longe da sociedade, deixando eles
distantes de qualquer contato com as novidades e besteiras do mundo e sua
globalização. Quando sua esposa, que precisou ser hospitalizada por conta de
uma doença terrível, falece, Ben resolve ir até o encontro dela e leva junto
seus filhos. Após o choque natural da criançada com o mundo da maioria das
pessoas que os cercam mais que nunca tiveram contato, o capitão fantástico
desta turma terá que fazer escolhas difíceis e confrontar pessoas que
consideram seu modo de vida prejudicial aos seus filhos.
A educação
exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida. Pensador desse
lema, o protagonista criou seus filhos com rigidez e muita disciplina. Livros
complexos são passados como dever de casa para todas as crianças, não importa a
idade. As verdades são uma só e vários tabus de outras casas, para Ben, são
apenas verdades que precisam ser ditas da única maneira que existe. O ambiente
é de total harmonia, músicas (a cena da família cantando ‘Sweet Child o’Mine’ é
emocionante e arrepia), brincadeiras mas também alguns excessos como exercícios
físicos que não respeitam idade e que podem machucar. O personagem principal é
intenso em seus princípios, a ideia de ter uma família vivendo longe dos vícios
e futilidades, além dos alimentos que só prejudicam, é vivida intensamente mas
falta equilíbrio, no fundo, Ben sabe disso.
No
terceiro arco em diante, a mudança começa a acontecer. Ben, personagem
complicado, de bom coração, interpretado com maestria por Mortensen se vê
cercado de situações que o fazem repensar alguns de seus conceitos. Seus
filhos, sua única riqueza nesse mundo, percebem rapidamente e o ajudam nesse
momento de transição, transformando uma linda história em uma história
inesquecível. Capitão Fantástico é algo
assim, único, um presente para quem gosta de se emocionar com filmes que mexem
com nosso coração. A grande lição que aprendemos com essa fita é que Capitão
Fantástico é qualquer um que acredita que uma boa ideia pode mudar um pouquinho
nosso mundo, ou mesmo que um filme inesquecível faz com que reflitamos sobre
nossa própria existência. Seja o Capitão da sua vida, viva fantasticamente.
Bravo!
Toni Erdmann
(Alemanha)
Sábio é o pai que conhece o seu próprio filho. Depois de um hiato de
sete anos na direção de um longa-metragem, a cineasta alemã Maren Ade volta à telona em grande
estilo com a hilária e doce dramédia Toni Erdmann.
Contando a história de um pai cheio de impulsos cômicos na busca constante pela
atenção de sua sisuda filha, o projeto, indicado a muitos prêmios
internacionais é um daqueles filmes imensos (2 horas e 40 de projeção) mas que
não desejamos que nunca acabe, sempre à espera da próxima gracinha que Toni
Erdmann vai aprontar.
Na trama, acompanhamos a árdua saga de Winfried Conradi (Peter Simonischek), um dedicado pai que
muito se entristece com o distanciamento na relação com sua única filha Ines (Sandra Hüller), essa última, uma jovem
em ascensão na empresa onde trabalha o que a transforma em uma Workholic sem
limites. O problema é que Ines trabalha demais e pouco tempo de sua agenda é
dedicada à sua família. Quando o o cachorrinho de Winfried morre, ele decide
encarar o desafio de ter mais atenção de sua filha e para isso, entre outras
coisas, viaja para vê-la quando ela está a trabalho e desenvolve um personagem,
um Alter ego de nome Toni Erdmann. Não é
preciso nem dizer as inúmeras e hilárias que esses dois vão se meter ao longo
desse complexo processo de melhoramento na relação pai e filha.
Escolhido o Melhor Filme Estrangeiro de 2016 pelos críticos de Nova York, Toni Erdmann navega pelo humor para mostrar o
cotidiano de um relacionamento conturbado entre pai e filha. De personalidades
completamente diferentes, os dois embarcam em uma jornada basicamente de auto
descoberta. Aos poucos, após uma quantidade absurda de insistência, Ines vai
conseguindo se reconectar com seu pai, o que provoca uma cena de desfecho para
lá de emblemática. Mesmo tendo quase três horas de duração o que dificulta sua
entrada no circuito de cinema brasileiros, talvez um dos pontos para nenhuma
distribuidora ter ainda comprado os direitos no filme no Brasil, o filme é uma
delícia de assistir e essas horas passam voando.
O foco no primeiro arco é a personalidade forte de Ines em
paralelo as trapalhadas e atos incompreendidos de Winfried. Tudo começa a fazer
mais sentido, praticamente a virada na trama, quando chega o Sr. Toni Erdmann, com sua peruca para lá de chamativa e
dentes falsos para lá de explícitos. Esse Alter Ego transforma demais a visão
de Ines sobre a personalidade cativante de seu pai. Assim, o longa-metragem
cresce demais em emoção, o inusitado começa a ter sentido e fica num tom cômico
na medida conforme as antes constrangedoras agora com sentido situações. Toni Erdmann, rouba a cena, transforma o mais difícil
dos conflitos paternos em uma aula de amor e afeto.
Querido
Menino (EUA)
Depois de
devastar nossos corações cinéfilos com o drama Alabama Monroe, o cineasta
belga Felix van Groeningen volta a atingir em cheio
nossas emoções com seu novo trabalho, Querido Menino. Baseado nos livros Querido Menino, de David Sheff, e Tweak: Growing up on Methamphetamines, de Nic Sheff, o filme preenche a maioria das lacunas sobre
o sentimento de um pai em busca de uma solução para os problemas de drogas do
filho. Em atuações cativantes e dignas de Oscar, Timothée Chalamet e Steve Carell formam filho e pai nesse projeto
importante também para mostrar essa realidade, para alguns distante para outros
nem tanto, do desespero emocional que passa não só a pessoa que possui problema
com drogas mas também todos que estão ao seu redor.
Na trama,
conhecemos David Sheff (Steve Carell), um
homem de meia idade, bem sucedido em sua profissão pai amoroso que vive em uma
casa confortável com sua atual esposa Karen (Maura Tierney).
David é pai de Nick (Timothée Chalamet) um jovem que com
o passar do tempo começa a ter sérios problemas com as mais diversas drogas que
existem. Ao longo de uma passagem de tempo, vamos acompanhando David, suas
lembranças, e principalmente sua busca em encontrar alguma solução para esse
problema complicado que o filho passa.
O roteiro,
baseado nos livros de pai e filho que são os personagens principais da trama, é
um grande vai e vem entre recordações, solidão, desespero, medo e muitos outros
sentimentos conflituosos que chegam como uma flecha principalmente para David.
Ao longo de um pouco mais de duas horas de duração, conseguimos enxergar a
situação de Nick através não só dos olhos de seu pai, mas também de sua
madrasta (mãe de seus outros dois irmãos pequenos), e de sua mãe que mora em
outra cidade. Em busca de alternativas para curar esse sofrimento que paira
sobre a família, principalmente David embarca em uma jornada de redescobertas,
estudo e desabafo mesmo quando suas forças para lutar estão limitadas.
Há uma
carga de emoção muito grande em tudo que vemos nesse filme, Van Groeningen já mostrou que sabe como nos
atingir desse lado daqui da tela, sua maneira de filmar te embarca para dentro
daqueles cenários, aquelas conversas, que mais difícil que possam parecer, tem
o poder também de conscientizar. Querido Menino não
é um filme fácil, toca bem forte nossos corações. É um forte e marcante filme.
O Tiro que
não Saiu pela Culatra (EUA)
Problemas familiares não tem endereço, a eterna roda gigante da
educação. No final da década de 80, chegou aos cinemas O Tiro que não Saiu pela Culatra,
dirigido por Ron Howard, um drama
com pitadas cômicas que mostra um arranjo familiar complicado com tipos de
educações diferentes. Passando um raio-x em uma família com as mais diversas
crises, o brilhante roteiro da dupla Lowell
Ganz e Babaloo Mandel nos faz
refletir a todo instante. A atriz Dianne
Wiest foi indicado ao Oscar por esse filme e Randy Newman, autor da
trilha sonora, concorreu com a canção I
Love To See You Smile ao Grammy, ao Globo de Ouro e ao Oscar.
Na trama, conhecemos uma família de classe média norte-americana e
seus conflitos diários entre pais, mães, filhos e filhas. Tem o pai que
pressiona na rigidez educacional de uma garotinha (até ler Kafka a garota é
forçada) e a mãe não consegue se impor para evitar a pressão; uma mãe que cria
os dois filhos sozinha e ambos passam por problemas e descobertas e tem
problema com sua autoridade inexistente; Um advogado e sua esposa com três
filhos e um com um deles sendo aconselhado a ir no psicólogo pela escola; O pai
de muitos desses, que até hoje não conseguiu controlar os vícios do filho mais
novo. A biologia, os motores da educação, nada tem muita lógica quando o
assunto é educar. O elenco é ótimo Steve
Martin, Mary Steenburgen, Dianne Wiest, Rick Moranis, Keanu Reeves, Joaquin Phoenix
(em um de seus primeiros filmes), entre outros.
Durante as pouco mais de duas horas, que nem vemos passar, uma
coisa é certa: todos os núcleos tem os seus problemas. Por mais que o
protagonista seja Steve Martin e seu Gil (Os pensamentos futuros, do personagem,
sobre erros e acertos são hilários. Brincar com um tema tão sério não é fácil)
todas as subtramas são muito bem detalhadas pelas lentes de Howard. O ritmo é
recheado de objetividade mas com lacunas a se preencherem talvez até por um
julgamento reflexivo que podemos ter durante os assuntos mostrados. Não há
fórmula para se educar, nunca será como queremos. Um dos filmes mais amplos em
discussões sobre o tema pais e filhos.
Benzinho (Brasil)
Os filhos
são para as mães as âncoras da sua vida. Exibido no importante Festival de
Sundance, Benzinho conta todas as dificuldades de uma família moradora da
região de Petrópolis no Rio de Janeiro, seja no lado financeiro, seja no lado
emocional com a eminente partida do filho mais velho para uma nova oportunidade
na Alemanha. O longa, dirigido por Gustavo Pizzi (do
ótimo Riscado), gira
todo em torno da forte personagem Irene, interpretado magistralmente pela
excelente atriz brasileira Karine Teles. Entre
as dificuldades do cotidiano, o amor não falta nesse grande retrato de família
brasileira.
Na trama,
super elogiada pelos críticos não só no Brasil, conta a saga de Klaus (Otávio Müller) e Irene (Karine Teles), pai e
mãe de quatro filhos que vivem a cada dia tendo que matar um leão para que a
felicidade reine no lar deles. Os negócios de Klaus, que tem uma copiadora, e o
trabalho de vendedora sem dinheiro fixo de Irene, não vão muito bem e associado
a isso, a irmã de Irene, Sonia (Adriana Esteves)
busca refúgio na casa deles após ser agredida pelo marido Alan (César Troncoso). Para completar as variações emocionais
presentes nesse presente da família, o filho mais velho do casal Fernando (Konstantinos Sarris) é chamado para jogar handball
profissionalmente na Alemanha, fato esse que mexe demais com Irene.
Buscando
retratar o cotidiano também de muitas famílias brasileiras, que buscam com
bastante esforço ter o melhor para dar na criação de seus filhos, Benzinho navega com muita profundidade sobre as
angústias, alegrias e surpresas que chegam a eles diariamente. Todos em cena
brilham mas o foco principal fica com Irene e o grande conflito que enfrenta
por não aceitar muito bem a ida de Fernando para longe de casa por tanto tempo.
Mesmo reconhecendo ser uma oportunidade de vida para o filho, Irene não
consegue esconder sua insatisfação. Mas o longa metragem (que poderia ser o
indicado do Brasil ao próximo Oscar tranquilamente) não se prende só a esse
conflito, as razões financeiras e dificuldades de uma vida melhor chegam como
plano de fundo assim como a situação de Sonia que busca refúgio na casa da
irmã.
A emoção
não deixa de estar contida em cada cena, seja nas felicidades, seja nas
tristezas. Benzinho é um retrato muito
bem feito sobre milhares de outras famílias, seus dramas e suas forças para
enfrentar de cabeça erguida as loucuras desse mundo tão cheio de obstáculos em
que vivemos, principalmente aqui no Brasil.
Loveless (Rússia)
Não se
pode viver em desamor. Na era dos selfies e das vitrines matrimoniais que a
sociedade impõe para que a tal da incerteza da normalidade fique evidente e
você não seja alvo de fofocas ou preconceitos, o novo trabalho do excepcional
cineasta russo Andrey Zvyagintsev
(dos excelentes Elena e Leviatã), Loveless, sensação
nos festivais que fora exibido mundo a fora, é um filme que fala sobre acima de
tudo de família. Em uma Rússia dos tempos modernos, repleta de idas e vindas em
relacionamentos, Zvyagintsev faz o
espectador navegar nas emoções mais profundas quando nos sentimos olhando pelo
buraco da fechadura.
Na intensa
trama, conhecemos o casal Zhenya (Maryana
Spivak) e Boris (Aleksey Rozin)
que estão se separando em meio a muitas brigas. Eles tem um filho de 12 anos
chamado Alyosha (Matvey Novikov) que
sofre bastante pelas discussões diárias dos pais. Zhenya tanto Boris já estão
em outros relacionamentos, o segundo inclusive já está esperando um outro filho
com a nova namorada. Em meio a essa tumultuada relação, Alyosha some certo dia
e os pais precisam reunir forças para enfrentar essa difícil situação.
Entendemos
melhor as características emocionais dos personagens nos diálogos profundos que
ambos possuem com seus novos parceiros, principalmente Zhenya, que possui uma
dificuldade de relacionamento com a mãe, nunca amou o ex-marido e se joga
completamente nessa nova relação. Seu cotidiano com o filho é distante e
agressivo, a impaciência e o comportamento distante com o filho são reflexos da
impaciência e solidão que vivia com seu ex-marido. Quando o jovem desaparece,
tanto mãe quanto pai se sentem perdidos e começam a perceber aos poucos o
quanto existia uma barreira entre todos eles.
A frieza
da polícia na condução do início do caso chama a atenção. Durante o pequeno
interrogatório com o grupo de salvação e resgate, fica nítido o grande descaso
e falta de observação dos pais com o próprio filho, principalmente da figura
materna. Alyosha sofria bastante com as brigas e principalmente com o que
escutava dos pais. A ausência de amor, desafeição, desprezo, indiferença eram
algumas das características que distanciavam os pais do filho.
Com
belíssimas cenas de fundo e uma atmosfera melancólica que se envolve
intensamente em pontos importantes, Loveless é um
retrato humano, que assusta mas acontece, das imperfeições na roda familiar.
Zvyagintsev se consagra mais uma vez com suas lentes que conseguem transmitir
com muita intensidade o que acontece entre quatro paredes e nos mostrando os
detalhes como se estivéssemos olhando pelo buraco de uma fechadura.
Belos Sonhos (Itália)
Tudo
aquilo que sou, ou pretendo ser, devo a um anjo, minha mãe. Filme de abertura
da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de anos atrás, a co-produção
Itália/França dirigida pelo marcante cineasta italiano Marco Bellocchio é um daqueles filmes que conseguem chegar bem
fundo em nossas emoções, trazendo um encanto de poesia na relação impactante de
um filho com as lembranças de sua mãe. Profundo, elegante, emotivo, a
produção passa com louvor na avaliação criteriosa dos corações cinéfilos,
principalmente aos que percebem uma analogia extraordinária entre seu enredo e
uma letra famosa escrita por Renato
Russo anos atrás. Belos Sonhos é
sem dúvidas um dos mais belos sobre o tema.
Baseado no
livro Fai Bei Sogni, de Massimo Gramellini, Belos Sonhos, conta
a história de Massimo, um amante do futebol que tempos mais tarde vira
jornalista de um importante jornal que possui um grande trauma, quase uma
lacuna não preenchida sobre as lembranças que cercam o falecimento de sua mãe
quando Massimo era apenas uma criança. Percorrendo uma linha do tempo que vai e
volta, no melhor estilo Bellochio, vamos juntando aos poucos o complexo quebra
cabeça da trajetória emocional de Massimo com muitas surpresas e momentos de
redenções ao longo dos emocionantes 134 minutos de projeção.
Dorme
agora, é só o vento lá fora. O roteiro explora com louvor toda a tempestade de
lembranças que passa o protagonista ao longo de sua tumultuada trajetória de
vida. Desde a infância e os momentos dançantes com sua mãe, até os horrores da
guerra vistas de uma maneira bastante profunda. O trabalho
do ator italiano Valerio Mastandrea (o Michael Fassbender da Itália), que
interpreta Massimo em sua fase adulta, é irretocável, passa uma pureza no olhar
que impressiona. O espectador sai do filme sabendo que assistiu a uma baita
atuação.
Me diz,
por que que o céu é azul? Explica a grande fúria do mundo! Os embates cheio de
cargas emocionais entre o pequeno Massimo e o religioso que lhe ensinava na
escola sobre a origem das coisas é muito interessante e traça um paralelo
certeiro com a história de vida do menino. Há uma saudade que ele sente de tudo
que ele ainda não viu.
Você diz
que seus pais não entendem, mas você não entende seus pais. Um dos mais
marcantes clímax que possui a película, o reencontro do protagonista com seu
pai em uma reunião simbólica para lembrar de jogadores de futebol do time do
Torino que morreram em uma trágico acidente aéreo anos atrás. Já mais velhos e
mais calejados pela vida, o desabafo do pai ao filho ao falar sem mistérios
sobre sua mãe, é bastante emocionante e toda a emoção contida nessas fortes
sequências mexem muito com quem possui fortes ligações com a família.
É preciso
amar as pessoas como se não houvesse amanhã. O filme é tão bem realizado que
prepara o espectador para um gran finale repleto de sentimentos guardados e que
precisavam escapar para que o protagonista seguisse em frente com sua vida.
Lindos momentos, reflexões sobre sua vida. Nesse final de ano, sendo uma gota
d'água ou um grão de areia, veja esse filme e corra para abraçar as pessoas que
você ama.
Seu Filho (Espanha)
Sábio é o
pai que conhece o seu próprio filho. Com uma interpretação de tirar o fôlego do
veterano e excelente ator espanhol Jose Coronado (do
ótimo Não Haverá Paz Para os Malvados), está disponível no
catálogo da Netflix Brasil o suspense Seu Filho, uma grata
surpresa em meio a tantos títulos interessantes nesse streaming. Com um roteiro
composto por um cirúrgico plot twist, vamos acompanhando a saga de um pai que
pensa ter a família perfeita e sua busca sobre as verdades do seu único filho
homem. A força dos personagens é um dos pontos fortes desse intenso filme.
Na trama,
conhecemos o dedicado cirurgião Jaime (Jose Coronado), um
homem já no terço final de sua vida que costuma ter uma relação muito amistosa
com seu filho Marcos (Pol Monen) e um pouco distante com
a filha Sara (Asia Ortega). Em uma certa noite, durante um de seus
plantões, Jaime descobre que seu filho chegou de ambulância completamente
ferido após uma briga em uma boate bastante frequentada no centro da cidade
onde moram. O acontecimento mexe demais com o protagonista que começa uma
investigação por conta própria o que o leva a limite mental e emocional que
desdobrarão consequências para ele e o restante de sua família.
O thriller
camuflado de drama vem com aquela pegada de todo bom filme espanhol dos últimos
tempos. Intenso, impactante, sem previsões ou achismos de como termina as
consequências em que se metem os personagens. Há um mistério correndo envolta
de Jaime, isso o atormenta, entra em conflito com tudo e todos e busca de sua
própria verdade, ou pelo menos a interpretação que deseja para o que aconteceu.
Nem tudo é o que parece ao longo dos 103 minutos de fita. A atuação de Jose Coronado é o alicerce, um ponto cheio de
clímax e repleto de intensidade, nossos olhos não conseguem desgrudar em
descobrir pela ótica do protagonista o que realmente aconteceu naquela noite.
Os arcos
são bem definidos, mesmo que aja um aceleramento descompassado no último,
talvez fruto de uma história cheio de detalhes que precisa ser contada em menos
de duas horas. O roteiro consegue extrair dos personagens toda a força que é
preciso para nunca se perder o ritmo dessa reflexiva história que fala sobre o
amor de pais e filhos e até onde é a linha tênue entre a razão e a emoção do
argumentar ao favor de quem é próximo de nós.
Longe da
Árvore (EUA)
O consenso cultural nem sempre retrata a melhor maneira de
enxergamos como podemos nos amar sendo quem somos. Explorando a montanha russa,
os altos e baixos, da relação de pais e filhos, Longe da Árvore impactante documentário dirigido pelas cineastas Rachel Dretzin e Jamila Ephron, baseado em partes em um livro (Far from the Tree) do escritor Andrew
Solomon, percorre um olhar por dentro da vida de algumas famílias. São
profundos e alguns dolorosos relatos, emocionante em muitos momentos, pais e
filhos e suas descobertas diárias nessa relação que para uns parecem fáceis mas
que sempre vão ter bons e nem tão bons momentos.
São vários os olhares que acompanhamos ao longo de cerca de 90
minutos de projeção. Jason tem síndrome de Down e seus pais sempre enfrentaram
todo o tipo de preconceito com avanços corajosos na educação dele, que, mesmo
com essa deficiência, consegue realizar tarefas básicas como a rápida
matemática de maneira igual aos de sua idade; os relatos emocionados da mãe de
Jack, um dos personagens, um jovem com autismo, sobre todas as maneiras que
buscarão para melhor a situação dele, principalmente na hora de interagir com
os outros; Loini, que sofre por ser diferente e não ter contato com outras como
ela que possuem o nanismo mas acaba se encontrando em uma convenção anual da associação
gente pequena dos Estados Unidos; O idealizador do livro e sua batalha antes perdida
em entender seus pais após anunciar para a família que era gay; Pais que levam
uma culpa para sempre após uma tragédia impactar para sempre as suas vidas.
São registros por meio de vídeos, depoimentos atuais, reflexões
sobre os impactos da criação de uma família. Não é uma escolha os pais amarem
seus filhos. Em Longe da Árvore vamos acompanhar batalhas emocionais, força de
vontade, novas descobertas, desejos, condições, tudo isso de maneira muito
reflexiva e que de alguma forma deixa muitas lições para todos nós.